8 de agosto de 2008

 

A Universidade Nova na Bahia

Como fazer a universidade pública politicamente responsável, socialmente inclusiva e reafirmar a excelência acadêmica?

O revolucionário reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar de Almeida Filho, responde à pergunta em artigo publicado na Folha de S. Paulo (08/08/2008)na página Opinião A3.

Segue o texto na ÍNTEGRA:

A CRISE da universidade pública brasileira continua, latente. O maior desafio de sua história persiste, resumido nesta cadeia de impasses: como fazê-la politicamente responsável, socialmente inclusiva e, ao mesmo tempo, reafirmar a excelência acadêmica que a define como instituição plena de autonomia e criatividade? Como fomentar eficiência e economicidade pertinentes à gestão pública e, ao fazê-lo, incutir valores do "zeitgeist" contemporâneo?

A solução desses dilemas não pode mais ser adiada. Não cabe sustentar a torre de marfim na conjuntura atual, nesta era de mundialização, aquecimento global, realidade virtual, movimentos sociais expandidos e democracia em tempo real.
Precisamos ser criativos para descobrir saídas e responsáveis para concretizar transformações.

Na UFBA (Universidade Federal da Bahia), alcançamos um primeiro sucesso ao implantar o programa de ações afirmativas em 2004. Avaliações demonstram que não houve decréscimo no nível dos alunos e na qualidade da formação.
Decidimos então aprofundar a transformação. Concebemos um modelo de arquitetura curricular que ganhou o nome de Universidade Nova.

Trata-se de uma estrutura modular, flexível e progressiva. Mobilidade intra e interinstitucional, regime de ciclos de formação, compatível com o modelo europeu de Bolonha e o "college" norte-americano. Incorpora o bacharelado interdisciplinar (BI) em grandes áreas do conhecimento: humanidades, artes, ciências e tecnologias, saúde. Esse modelo foi aprovado por nosso Conselho Acadêmico, sem votos contrários.
O Reuni viabilizou nossos projetos de ampliação e renovação. Com apoio do MEC, cresceremos 83% em quatro anos. Projetamos 42 mil matrículas em 2012, em cerca de 180 cursos de graduação e pós-graduação. Nos próximos anos, vamos contratar 1.500 novos servidores docentes e técnicos.

Serão implantadas estruturas compartilhadas de formação, como arenas multiuso, pavilhões de laboratórios, auditórios modulados, centro de idiomas e outros.
Para atender à nova realidade, nosso Consuni aprovou por unanimidade o Plano Diretor Físico-Ambiental da UFBA, dentro do conceito de campus ecossustentável, ao qual o acesso deverá ser feito a pé ou por meio de "biobus" e bicicletas.

Com isso tudo, além de reculturalizar a formação universitária, queremos superar práticas pedagógicas passivas e ineficientes.

Essa luta não será fácil. Em um livro revolucionário intitulado "Por uma Geografia Nova", Milton Santos escreveu: "O apego às velhas idéias parece uma enfermidade incurável.

(...) Caímos naquele defeito de considerar velhas formas de pensar como inevitáveis. Ao invés de perseguir um saber novo, preferimos deliciar-nos com a reprodução do saber velho. (...) O novo é, de certa forma, o desconhecido e só pode ser conceitualizado com imaginação, e não com certezas".

Gilberto Gil também nos provoca a reflexão. Sua canção diz: A Novidade "veio dar à praia / Na qualidade rara de sereia / Metade, o busto de uma deusa maia / Metade, um grande rabo de baleia / A novidade era o máximo / Do paradoxo estendido na areia / Alguns a desejar seus beijos de deusa / Outros a desejar seu rabo pra ceia".
Mas, num "mundo tão desigual (...) de um lado este carnaval / Do outro a fome total / E a novidade que seria um sonho / O milagre risonho da sereia / Virava um pesadelo tão medonho / Ali naquela praia, ali na areia / A novidade era a guerra / Entre o feliz poeta e o esfomeado / Estraçalhando uma sereia bonita / Despedaçando o sonho pra cada lado".

Vale aqui parodiar o poeta, compreendendo sua sensível advertência: a universidade tem a qualidade rara de sereia, criatura de enigmas e sonhos, traz o máximo do paradoxo, desperta desejos e fomes, milagre risonho, não pode ser despedaçada por guerras entre poetas e famintos.

Compartilhamos o projeto político do sábio geógrafo baiano: o novo não pode ser um fim em si mesmo, a novidade tem que ter sentido social e histórico, para banir a fome total, transformando este mundo tão desigual.

Por isso, nosso projeto de mudança quer, sem preconceitos e com imaginação, tornar a universidade uma instituição radicalmente pública, de fato popular. Eis a questão crucial: popularizar sem vulgarizar, pactuar famintos e poetas, pagar a dívida social da educação brasileira sem estraçalhar nosso sonho de universidade.

Aproveito para concluir com um convite: docentes e pesquisadores que desafiam as velhas formas de pensar, venham construir conosco a Universidade Nova na Bahia.

NAOMAR DE ALMEIDA FILHO, 55, doutor em epidemiologia, pesquisador do CNPq, é professor titular do Instituto de Saúde Coletiva e reitor da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

 

Pirataria não incomoda Mônica Salmaso

Mônica Salmaso é uma maravilhosa intérprete. Voz afiadíssima. Conheci a arte de Mônica Salmaso quando ela fez uma "participação especial" no CD autoral "Abrapalavra" do cantor e compositor mineiro Vítor Santana, filho do ex-ministro Nilmário Miranda. Depois a ouvi no Teatro Castro Alves em Salvador.

Belíssima voz. Há pouco tempo, Mônica Salmaso deu uma declaração a um jornalista carioca que virou manchete: "Mônica Salmaso adora pirataria". Não foi bem assim. Ela declarou que para o tipo de carreira que ela faz a pirataria não a incomoda. Ninguém encontra os CDs dela nos camelôs. A "pirataria" que ela sofre não é a da venda, mas a pirataria da divulgação. Mônica Salmaso quer que as pessoas escutem suas músicas, de graça. Os acessos pela internet às músicas dela são uma forma de divulgação. Como ela não pode fazer isso no próprio site, por ser ilegal, contratos etc, ela acha lindo quem baixa músicas suas. Fica feliz quando alguém diz que copiou uma música para um amigo. Pirataria é problemão para quem comercializa música pela novela das oito, não para Mônica Salmaso, que não toca na novela, não vende no camelô...mas a história musical dela é uma viagem por Baden Powel, Vinicius, Clementina, Chico, Caymmi, Tom Jobim, Carlinhos Lyra, Chico César, Pixinguinha...

Assunte a letra de "Contraste", da autoria de Vitor Santana, cantada por Mônica Salmaso:

Ah!, o contraste de ter seu amor sem você/ que não vi de manhã e deixou pelo ar/ a poesia sem nome, um sem nome de mundos,/ que você criou
Essa poesia dois pontos, e o resto é em branco/ em letras garrafais/ imaginei o encontro do meu catavento com seu girassol/ em pleno esplendor
Entendi que você no seu sonho/ com medo de amar no escuro/ Fugiu desse jeito imaturo/ pois cansou de esperar pelo amanhecer...

Uma entrevista maravilhosa com Mônica Salmaso está em TERRA MAGAZINE

7 de agosto de 2008

 

Ex-governador Waldir Pires recebe título na Assembléia Legislativa da Bahia

Com a presença do governador Jaques Wagner, Waldir Pires, ex-governador da Bahia e ex-ministro de Estado recebeu (quinta, 7), em Sessão Especial na Assembléia Legislativa da Bahia, o título de “Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social João Mangabeira”. Criado em 1993, o título é concedido aos baianos reconhecidamente dedicados às causas nobres, humanas e sociais que tenham resultado no desenvolvimento político e sócio-econômico da Bahia.

Waldir Pires proferiu um longo e emocionado discurso, lamentou a ausência da esposa, Yolanda Pires, morta em 2005 e com quem foi casado por 54 anos. “A mulher da minha vida, que costumo dizer que foi a minha sorte grande”.

Na entrevista concedida aos jornalistas, disse ser um dia de emoção. “Estou em paz, não me arrependo de nada que fiz na política porque sempre pratiquei uma política de diálogo para a convivência e o bem estar do meu povo”, afirmou o político de 82 anos.

Para o governador Jaques Wagner, Waldir Pires é uma referência. “Foi uma merecida e bonita homenagem nestes tempos de aridez, porque como cidadão e como homem público ele sempre pensou no bem coletivo e não em vantagens pessoais. Eu não poderia estar ausente”.

O Plenário da Assembléia Legislativa estava lotado. Dezenas de pessoas, entre parentes, amigos, ex-colaboradores e contemporâneos de Waldir Pires, foram à Sessão Especial, além de admiradores como o governador, um dos convidados a entregar o título, juntamente com o filho do ex-governador, Francisco Pires, o jornalista Emiliano José e a deputada estadual Marizete Pereira, autora da proposição. O único candidato a prefeito presente foi Walter Pinheiro (PT).

“A vida de Waldir Pires encerra todos os argumentos para a concessão da medalha João Mangabeira. Ele sempre foi incansável na sua luta pela liberdade e justiça social”, justificou a deputada se referindo ao ex-governador como um dos mais ilustres filhos da Bahia.

Waldir Pires nasceu em 21 de outubro de 1926, na cidade de Acajutiba (BA). Em 1954, iniciou sua vida parlamentar como deputado estadual. A convite do presidente João Goulart, assumiu em 1963 o cargo de Consultor-geral da República, elaborando a Lei de Remessa de Lucros e Dividendos e a Lei de Reforma Agrária. Paralelamente, era professor de Direito Constitucional da Universidade de Brasília. Com o golpe militar de 1964, foi para o exílio no Uruguai e de lá para França, onde voltou a exercer o ofício de professor de Direito.

Em 1974, em plena ditadura, retornou ao Brasil e em 1985 foi nomeado ministro da Previdência Social no governo Sarney ( que sucedeu ao presidente Tancredo Neves) , zerando as contas da Previdência. Em 1986 foi eleito governador da Bahia. Com a vitória de Lula em 2002, foi convidado para assumir a Controladoria-Geral da União (CGU), criando o Portal da Transparência, onde o cidadão pode acompanhar e fiscalizar os gastos públicos. Em 2006, assumiu o Ministério da Defesa.

 

Democracia e trabalho no mundo real

O seminário “Democracia e Trabalho no Mundo Real”, programado para 14 de agosto, às 17h, no Teatro Vila Velha, vai trazer a Salvador o professor Boaventura de Souza Santos, da Universidade de Coimbra, o professor Giuseppe Cocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o ministro Tarso Genro. O seminário é uma iniciativa do programa de pós-graduação em Ciências Sociais e do Departamento de Ciência Política, ambos da Universidade Federal da Bahia (UFBA). É quente.

O sociólogo português Boaventura de Souza Santos desde 1970 transita pelo Brasil, embora tenha se tornado um cidadão do mundo. Ele defende que a ciência e o saber acadêmico podem ser valiosos parceiros das lutas sociais. É um militante intelectual que faz reflexões brilhantes sobre economia, movimentos sociais e democracia. Em particular, ele critica o conceito de “sociedade civil” hegemônico e vinculado ao mercado e às privatizações. E defende uma “sociedade civil” baseada na solidariedade, voluntariado e reciprocidade.

Giuseppe Cocco, além de professor da UFRJ, é membro do corpo editorial da revista francesa Multitudes. Ele avança no conceito de “renda mínima” e fala em “renda universal”. Vê o trabalho se separando da clássica relação de emprego. Trabalho tem tudo a ver com cidadania. Cocco fala em biopoder na linha de Foucalt e de Antonio Negri. A questão não é mais como "socializar" o trabalho, mas como reconhecer essa socialização de uma maneira que não seja a que o mercado e o biopoder pretendem impor. A renda universal é um desses instrumentos fundamentais. No auge do linchamento do presidente Lula pela mídia a partir de 2005 uma expressão dele ganhou as páginas dos jornais: “Lula é muitos”, criticando os formadores de opinião.

 

Waldir Pires (PT) recebe homenagem da Assembléia Legislativa da Bahia

Waldir Pires será homenageado hoje (quinta,7 de agosto) na Assembléia Legislativa da Bahia. O ex-governador vai receber o título de “Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social João Mangabeira” em Sessão Especial, às 15h, no Plenário.

Waldir Pires tem um longo currículo de luta. Foi quatro vezes deputado federal (1955-1959, 1959-1963, 1991-1995 e 1999-2003) e exerceu o cargo de governador da Bahia entre 1987 e 1989. Também foi ministro da Controladoria-Geral da União (2003-2006), ministro da Previdência e Assistência Social (1985-1986) e secretário no governo baiano (1951-1953). Como professor de direito constitucional, trabalhou na Universidade Católica da Bahia e na Universidade de Brasília (UnB). Exilado em Paris deu aulas para sobreviver.

O site do escritor, jornalista e ex-deputado Emiliano José conta a história de Waldir Pires a partir do golpe militar de 1964. Já está no capítulo 40 da obra “Lembranças do Mar Cinzento – 3”.

É fácil e é difícil falar de Waldir Pires. Era Consultor-Geral da República em 1964. Na noite do golpe, ele e o então chefe da Casa Civil, Darcy Ribeiro, tentaram resistir no Palácio do Planalto, enquanto o Congresso Nacional, dominado, declarava vago o cargo de presidente.

Waldir foi exilado e teve os direitos políticos cassados pela ditadura. Morou no Chile e no Uruguai e retornou ao Brasil em 1974, sob risco de ser preso, cinco anos dantes da anistia. Começou então uma trajetória de luta pela redemocratização do país. Hoje Waldir Pires é do PT. Mas foi no PMDB que enfrentou a luta pela redemocratização

Foi emblemático, quando o presidente Lula nomeou Waldir Pires para o Ministério da Defesa, exatamente 42 anos depois que o golpe depôs o presidente João Goulart. Um dos últimos sobreviventes do governo derrubado pelos militares passava a comandar um efetivo de 300 mil homens. Foi o primeiro político de esquerda a assumir o Ministério da Defesa.

Antes, Waldir Pires exercia o cargo de ministro do Controle e Transparência, titular da Controladoria-Geral da União (CGU), que iniciou uma verdadeira operação mãos limpas no país. Tudo que vemos hoje de operações da Polícia Federal, fiscalização de verbas públicas federais, tem origem no trabalho de limpeza proposto por Waldir Pires no Governo Lula.

Quando Waldir Pires foi eleito governador da Bahia em 1986, pelo PMDB, impôs uma das mais acachapantes derrotas ao falecido ACM, com mais de um milhão de votos de frente.

6 de agosto de 2008

 

Waldir Pires será homenageado com a Medalha João Mangabeira

A Assembléia Legislativa da Bahia realiza amanhã, quinta-feira (7)às 15 horas, Sessão Especial de outorga do título de Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social João Mangabeira ao ex-governador Waldir Pires, por proposta da deputada Marizete Pereira, do PMDB. Faz sentido. Waldir Pires é do PT, mas foi no PMDB que enfrentou a luta pela redemocratização.

"A vida de Waldir Pires encerra todos os requisitos para a concessão da Medalha João Mangabeira. De sua defesa incessante da democracia, do Estado de Direito, ao compromisso com as transformações sociais do Brasil". Dessa forma, a deputada Marizete Pereira defendeu, na justificativa do projeto de resolução apresentado por ela na Assembléia Legislativa, a concessão do título.

Para a peemedebista, a homenagem a Waldir Pires ainda teria outro efeito, pois o vincularia a João Mangabeira, líder socialista brasileiro, que tem em comum com Waldir o idêntico idealismo, o ânimo de lutar, sem descanso, pela construção de um país sem injustiças – sociais, políticas e humanas.

 

Técnicas do jornalismo salafrário da Folha de S. Paulo

O blog “Amigos do Presidente Lula”, pilotado pela guerreira Helena Sthephanowitz, publica um artigo da autoria de Mauro Carraro desancando o jornalismo da Folha de S. Paulo e desmontando a “técnica” malabarista usada pela redação para relativizar e distorcer qualquer informação positiva sobre o Governo Lula. Uma espécie de jornalismo lesa-leitor. Realmente, a Folha se superou ao perguntar ao leitor “você concorda?” a respeito das pesquisas do IPEA e da FGV, que são instituições de credibilidade. A Folha contrapõe simples opiniões pessoais a pesquisas científicas e metodologicamente estruturadas. Patifaria pura.

SEGUE O TEXTO:

A Folha de S. Paulo lembra uma octogenária vaidosa e fútil, freqüentadora assídua das clínicas de cirurgia plástica, mas sempre ignorante e maledicente. Os incautos a vêem envernizada de modernidades cosméticas. Por dentro da bela viola, entretanto, não há mais que pão bolorento.

Neste dia 5 de Agosto, ao noticiar os resultados de estudos do Ipea e da FGV, o gelado jornal dos Frias tentou novamente lesar o leitor-consumidor. Na capa do UOL, o jornalismo de pocilga esforçou-se em malabarismo para desvalorizar as evidentes conquistas do governo do metalúrgico.

Na numeralha, há um dado espetacular, e que mereceria o título da matéria: entre 2.003 e 2.008, segundo o Ipea, o percentual de pessoas pobres caiu de 35% para 24,1%. Pronto. Se restasse inteligência e algum pingo de honestidade na redação da Barão de Limeira, pinçar-se-ia daí a boa chamada.

O método salafrário (e burro por opção) da Folha de S. Paulo, entretanto, preferiu estampar o seguinte: "Número de ricos cresce e classe média avança". Agora, vale verificar qual foi este avanço. Segundo o estudo, o número de indivíduos com renda mensal igual ou superior a 40 salários mínimos cresceu de 0,8% para 1%.

Então, "psite do sofá", o que matematicamente e logicamente é mais relevante? Qualquer cidadão lúcido diria que é a formidável redução no número de pobres. Sim, mas não para a Folha de S. Paulo, uma "acta" cuja missão é destacar e exagerar tudo que é negativo no Brasil, assim como minimizar e esconder todas as conquistas do atual governo.

Em seguida, o jornal se utiliza de um artifício barato para desqualificar os dois estudos. Dessa forma, apresenta mais uma de suas enquetes destinadas à propaganda política de oposição. O enunciado é: "Pesquisas mostram que a pobreza diminui no país. Você concorda?"

A pergunta mal esconde a patifaria. O "você concorda?" sugere que existe dúvida sobre a lisura do trabalho científico. Logo abaixo da manchete, numa prática golpista travestida de populismo interativo, o diário imprensaleiro sugere sutilmente que tudo é uma farsa, mentira, invenção do governo.

Logicamente, do ponto de vista epistemológico, a enquete é um absurdo, pois reduz à experiência individual a chance de validação para uma pesquisa nacional.

Como sempre, manifestam-se, em massa, três tipos de "leitores". Os boateiros-interneteiros assalariados do PSDB e do DEM, que iniciam a desqualificação do trabalho e disciplinadamente fecham seus textos com agressões ao presidente Lula.

Em seguida, em coro, aparecem os interneteiros independentes que passam a vida diante do computador para destilar venenos sociais e semear a discórdia pública.

Por último, expressam-se com rancor as pessoas que, isoladamente, vivem (ou fingem viver) problemas financeiros. Estes costumam argumentar que "lá em casa" nada mudou. Outros se esforçam em traçar um quadro catastrófico do país, no qual todos seus amigos e parentes figuram como endividados em desespero.

Trata-se de uma técnica de distorção dos fatos (não choveu porque eu estava dormindo) que a própria Folha usaria, se pudesse, mas cuja autoria – por razões óbvias – entrega a seus colaboradores-leitores, pagos ou voluntários, muitos deles movidos por um mortal ódio de classe.

A empresa que publica o jornal gelado – aquele que só tem notícias frias -, já foi pior. Mantinha uma corja de pervertidos cafajestes na redação da Folha da Tarde. Além disso, emprestava suas kombis para que os torturadores do regime militar levassem pessoas para os porões da morte. Hoje, envernizada e maquiada, a empresa faz menos: resigna-se a viver de um jornalismo cada vez mais desacreditado, mas ainda salafrário.

Por Mauro Carrara

 

IPEA mostra que Governo Lula reduziu pobreza e indigência

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou terça-feira (05/08/08), um estudo elaborado com base nos dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnad), onde informa que a taxa pobreza caiu de 35%, em 2003, para 27,1% em 2006.

A estimativa do IPEA é de que este número chegue aos 24,1% em 2008. Entre 2002 e 2008, a projeção é de que 3 milhões de pessoas saiam da pobreza - nas regiões pesquisadas. Os dados do IPEA consideram seis regiões metropolitanas do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre. A "amostragem" representa 25% da população do país e 2/5 do Produto Interno Bruto (PIB).

"Uma redução de quase um terço da pobreza em termos proporcionais", informa o IPEA. O estudo informa ainda que a "indigência" deverá cair ainda mais do que a pobreza entre 2003 e 2008 (projeção): 48,3%. "A indigência segue no mesmo ritmo e, em termos nominais, sua participação na população cai para a metade", diz o documento.

O documento define como "pobre" todas as pessoas com renda per capita igual ou inferior a meio salário, isto é, R$ 207,50. Indigentes, por sua vez, são aqueles que recebem menos de 1/4 do salário mínimo, ou R$ 103,75. Pessoas ricas, segundo o IPEA, são aquelas pertencentes a famílias cuja renda seja igual, ou maior, do que 40 salários mínimos, ou R$ 16,6 mil por mês.

Os considerados "ricos", por outro lado, mantiveram um patamar estável entre 2003 e 2006, informa o estudo do IPEA. Em 2003, o percentual de pessoas pertencentes às famílias ricas caiu de 1% para 0,8%, uma queda de 20%. Em 2007, estava no mesmo patamar de 0,8% e, segundo o IPEA, deve manter essa participação neste ano.

A maior queda na pobreza, neste caso entre 2002 e 2008 (projeções), segundo o documento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, foi observada na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), onde o número de pessoas pobres cairá de 38,3% da população em 2002 para 23,1% da população em 2008 - segundo estimativas.

"As regiões metropolitanas que apresentam as maiores taxas de pobreza no período analisado foram as regiões de Recife e Salvador, onde a estimativa para 2008 indica, respectivamente, 43,1% e 37,4% de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza", informa o estudo do IPEA. Segundo o documento, São Paulo e Porto Alegre estão na outra ponta, ou seja, com as menores taxas de pobreza estimada para 2008: de 20,7% e 20% respectivamente.

O estudo informa ainda que, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas, o percentual de pobreza caiu de 18,6% em 2003 para 16,8%, do total do país, em 2006. Ao mesmo tempo, os considerados "ricos" mantiveram seu percentual no total do país entre 2003 e 2006: 42,6%.

Com agências

5 de agosto de 2008

 

Mídia baiana ignora conferência de comunicação social

A última sessão plenária preparatória à 1ª Conferência de Comunicação Social da Bahia foi realizada sábado (02/08/08), em Salvador. O auditório da Escola Parque, na Caixa D’água, recebeu estudantes, profissionais de comunicação e representantes da sociedade civil para debater a construção de políticas públicas que garantam o acesso à informação como direito básico do ser humano. A plenária elegeu ainda uma delegação de 76 representantes que estarão no encontro estadual nos dias 14 a 16 de agosto, em Salvador. Naturalmente, a democratização dos meios de comunicação foi a principal bandeira dos grupos de debates.

A Bahia é o primeiro estado brasileiro a fazer uma conferência de comunicação. O projeto está sendo discutido há quase dois anos por um grupo de trabalho, criado pelo governo do estado e composto por agentes governamentais e da sociedade civil. De acordo com Robson Almeida, assessor geral de Comunicação da Bahia, a Conferência nasceu da necessidade de garantir que as pessoas tenham o acesso à informação da mesma que têm à educação, saúde e transporte.

A plenária foi marcada pelo silêncio total da grande mídia sobre o encontro. Três jornais, cinco emissoras de televisão e cerca de 20 rádios comerciais nada disseram sobre o evento. Os blogueiros também se calaram. Quem tem, tem medo.

 

Coligação "Guanambi de Todos Nós" enfrenta o ricaço Nilo Coelho

O vereador Paulo Costa, do PCdoB, é o candidato da coligação "Guanambi de Todos Nós" que reúne PMDB, PT, PSB, PV, PSDB e representa a unidade da oposição no município, para enfrentar o atual prefeito e ex-governador, Nilo Coelho (PP), que disputa a reeleição. O vice é o Dr Som, do PV. No dia 1º de agosto aconteceu o primeiro comício. No palanque estavam Péricles de Souza, presidente do PCdoB da Bahia, Dr Ariovaldo Boa Sorte, presidente do PV de Guanambi, Ivana Bastos, presidenta do PMDB local, o deputado federal Daniel Almeida (PCdoB), deputados estaduais Javier Alfaya (PCdoB) e João Bonfim (PRP). Elias Dourado representou o titular da Secretaria Estadual do Trabalho, Nilton Vasconcelos. Presentes representantes da ANP, chefiada por Haroldo Lima, da FETAG, do PSDB e o ex-deputado federal Prisco Viana. Também presente Alfredinho Boa Sorte, da Secretaria Estadual da Saúde

Paulo Costa representa Lula e Wagner. As lideranças locais aproveitaram para destacar os investimentos que os governos federal e estadual têm feito em prol do crescimento de Guanambi, como a conclusão da Barragem do Poço do Magro, os Programas Sociais (Água para Todos, Luz para Todos, Bolsa Família e Pronaf), a estação de tratamento e esgotamento sanitário, a ampliação da Escola Técnica Federal de Guanambi, a recuperação de 300 Km de estradas vicinais; o SAMU-192; e a estadualização do Hospital Regional de Guanambi. Praticamente todas as forças políticas progressistas de Guanambi se juntaram para enfrentar o atual prefeito e ex-governador Nilo Coelho.

A política em Guanambi precisa mudar. Está na hora.

NB - O PDT avisa que não faz parte da coligação. Correção está feita acima.

 

A valentia do torturador capitão Homero acabou

Eles eram violentos, arrogantes, truculentos. Torturavam e matavam como se a ditadura nunca fosse acabar. O capitão Homero foi assim. Torturou o jornalista Marco Antônio tavares Coelho, em 1975. Dr Homero torturou o publicitário baiano Carlo Sarno e sua companheira Jurema Valença, em 1970. O capitão Homero César Machado torturou tão barbaramente o frei dominicano que o levou ao suicídio. As famílias de Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier, desaparecidos políticos, citam o nome do militar do DOI-CODI. Homero, capitão Homero, Dr Homero, Homero César Machado são os nomes de guerra do hoje coronel Homero César Machado. Ele aparece em sete processos dque estão no Superior Tribunal Militar. É citado em 16 casos de tortura e morte. Covarde, ele tenta negar o passado criminoso. Foi um dos principais torturadores do DOI-CODI paulista nos anos de chumbo. Crimes contra a humanidade não são anistiáveis. Estes carniceiros todos devem ser punidos. O tema é tratado pela revista CartaCapital (06/08/2008).

4 de agosto de 2008

 

Selo comemorativo, com foto da resistência à ditadura, celebra cem anos do Centro Acadêmico Afonso Pena em Belo Horizonte

O Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) completa 100 anos no dia 16 de agosto de 2008. Em celebração ao evento, o CAAP promove em Belo Horizonte uma semana de eventos. Os organizadores estão produzindo um selo comemorativo. A ilustração do selo do centenário é o cartaz impresso em 1998, por ocasião da celebração dos 30 anos de resistência ao Ato Institucional 5, que radicalizou a ditadura militar iniciada com o golpe de 1964.

O cartaz, que vai virar selo comemorativo, reproduz uma foto histórica de 1968. Para se refugiar da violenta repressão policial-militar, durante uma passeata de protesto contra a ditadura, os estudantes ocuparam o anexo da Faculdade de Direito, em construção. O prédio foi ocupado durante todo o dia, à noite, até as 4h da madrugada, sob cerco total. Após nervosas negociações os estudantes desocuparam o anexo sem nenhuma prisão.

Eu estava lá, 20 anos, “armado” de pedras contra a polícia da ditadura. A foto documenta o momento exato em que um grupo de estudantes respondia com pedradas as bombas de efeito moral da repressão. Na foto estão Oldack Miranda (Direito), sem camisa, magrelo, Nilmário Miranda (Economia), que anos depois virou deputado e ministro dos Direitos Humanos, Edson Gonçalves (Engenharia), que virou prefeito de Teófilo Otoni (MG) e Leovegildo Leal (Direito), que virou professor de História. Há um quinto protagonista que nunca foi identificado. O cartaz ilustrou carteira nacional da UNE em 98. Agora se transforma em selo comemorativo.

Dia 13 de agosto o CAAP entrega a Medalha José Carlos da Matta Machado ao ex-prefeito de Belo Horizonte e atual Ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Zé Carlos foi assassinado na tortura pelo Exército Brasileiro. A homenagem engrandece as celebrações.


LEIA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA:

Sábado, 09/08, 15h
Local: Câmara Municipal
Sessão solene em homenagem ao centenário do CAAP.

Segunda, 11/08, 11h
Local: Auditório Alberto Deodato (Faculdade de Direito)
Homenagem ao prof. Washington Albino, criador da cadeira de Direito Econômico.
Palestra do ministro do STF Eros Grau (prof. titular de Direito Econômico da USP).

Segunda, 11/08, 20h
Local: Assembléia Legislativa
Reunião Especial em homenagem ao centenário do CAAP.

Terça, 12/08, 11h
Local: Auditório Alberto Deodato (Faculdade de Direito)
Debate Emendas ou Remendas – Reconstitucionalização?, com os professores Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira e José Luiz Borges Horta.

Terça, 12/08, 18h
Local: Auditório Alberto Deodato (Faculdade de Direito)
Homenagem ao ex-presidente da República e fundador da Faculdade de Direito da UFMG Afonso Pena, com a presença de Afonso Pena (bisneto).
Debate 1968, 1988 e 2008: Reformas ou Revoluções? - O papel do estudante na política brasileira, com Fátima Anastasia, Plínio Arantes e Edval Nunes Caja.

Quarta, 13/08, 11h
Local: a definir
Inauguração do monumento em homenagem ao centenário do Caap, pelo vice-governador Antônio Augusto Anastasia.

Quarta, 13/08, 18h
Local: Auditório Alberto Deodato (Faculdade de Direito)
Entrega da medalha José Carlos da Matta Machado e palestras de ex-caapianos: Sepúlveda Pertence (ex-presidente do STF), Antônio Augusto Anastasia (vice-governador de Minas), Patrus Ananias (ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e Raimundo Cândido Júnior (presidente da OAB/MG).

Sábado, 16/08, 16h
Local: Igreja São José (Centro)
Missa em Ação de Graças pelo centenário do Caap e cinqüentenário da Divisão de Assistência Judiciária (DAJ) da Faculdade de Direito da UFMG.

 

A pista da direita é livre...

São 14h30, segunda-feira, 4 de agosto. Salvador está difícil. Tento chegar ao trabalho. No encontro da avenida Paulo VI com avenida Antônio Carlos Magalhães, bem ao lado do Hiperposto, o semáforo demora uma eternidade. Mas a pista à direita é livre para quem trafega em direção ao Shopping Center Iguatemi.

De repente explode um prolongado buzinaço. Quase que por instinto, levo minha mão à buzina. Paro e penso: por que vou estragar minha bateria e meu humor com isso? Estico o pescoço para ver o que há. Uma Kombi branca, placa de Camaçari, JMC 4475, equipada com um som irritante, decidiu bloquear a pista livre da direita para furar a fila do semáforo. O buzinaço aumenta. Um senhor de paletó e gravata sai do carro e dá uma bronca no impertinente.

O motorista não está nem aí. Continua tocando o jingle da campanha eleitoral de ACM Neto para prefeito de Salvador, continua bloqueando o trânsito. Os adesivos no pára-choque não deixavam dúvida: ACM Neto prefeito. De tanto freqüentar o comitê eleitoral do DEM, o dono da Kombi deve ter se contaminado com o vírus da truculência e da arrogância.

É assim que ACM Neto quer administrar a cidade? Fiquei pensando com meus botões. O buzinaço retoma o ritmo. Se ali tivesse um “big brother bairro”, a câmara para vigiar as ruas das periferias de Salvador, o inconseqüente motorista do DEM poderia ser flagrado violando as regras do trânsito. É promessa de campanha de ACM Neto, não para ordenar o trânsito, mas, para inibir a violência. Não adianta dizer que economicamente isso é inviável. Demagogia. Como colocar câmaras em todas as ruas?

Tenho que aumentar minha campanha voluntária para Walter Pinheiro, do PT, penso ali parado, com meus botões. Já pensou ACM Neto na prefeitura? A volta do caixa 2? A volta do dinheiroduto ligado aos cofres da TV Bahia, do Correio da Bahia. Ninguém merece. Acho que também vou aderir ao buzinaço. O semáforo abriu. Enfim sigo adiante, em direção ao trabalho.

 

Revista Veja assume a versão de sua irmã colombiana “Câmbio” como era previsível

Não há surpresa na postura da revista Veja. Como era previsível, ela assumiu a versão da revista Câmbio, da extrema-direita da Colômbia. Até Eliane Catanhêde, colunista da Folha de S. Paulo (domingo, 3 de agosto) percebeu em seu comentário intitulado ‘Fantasmas” que, ao espremer os tais e-mails supostamente retirados do computador do chanceler das FARC, Raul Reyes, não sobra muita coisa. Os e-mails não têm conteúdo prático, não são provas de nada, embora tenham um componente político: o governo do narco-presidente Álvaro Uribe está tentando constranger o Brasil. A extrema-direita quer endurecer a política guerreira do governo da Colômbia.

Toda vez que há eleições no Brasil a revista Veja desenterra o tema “ligações das FARC com o governo Lula e o PT”. Há três anos, a revista Veja publicou matéria semelhante: “Os tentáculos das FARC no Brasil”, era a “reportagem” de capa. A coisa é tão grosseira que não dá para levar a sério a revista Veja. Essa gente é perigosa.

 

Quem herda o espólio de ACM? pergunta a revista CartaCapital

A revista CartaCapital (06/08/08) dedica a capa ao tema “Quem herda o espólio de ACM?”. Para responder à pergunta-manchete-de-capa há que se considerar vários vários aspectos:

1) O carlismo deixou à deriva cerca de 300 prefeituras. A derrocada do carlismo abriu a brecha para o PMDB do ministro Geddel Vieira Lima que, em menos de dois anos atraiu 150 dos prefeitos adesistas. Outros 300 prefeitos preferiram aderir ao governador Jaques Wagner, distribuídos em pelo menos 14 partidos. Ou seja, o espólio político na base municipal dividiu-se entre Geddel e Wagner. Pouquíssimos prefeitos aceitam fazer “oposição”.

2) O espólio dos bens materiais, avaliado em cerca de R$ 300 milhões, é disputado por filhos, netos e genros, num escândalo que já chegou às páginas dos jornais. A famiglia chegou a comandar seis geradoras de TV aberta e 311 retransmissoras, todas afiliadas à Rede Globo. Os familiares disputam na Justiça apartamentos, rádios, jornal, gráfica e até uma vasta coleção de imagens sacras, de origem duvidosa.

3) Finalmente, existe a herança política pessoal. Quem vai encarnar o sucessor político do falecido ACM? Ninguém quer. Nem o deputado ACM Neto, que como candidato a prefeito de Salvador, pelo DEM, trai abertamente a memória do avô, repete a toda hora que representa o “novo”, nada de continuar a política autoritária e arrogante do avô. Claro que é por puro oportunismo eleitoral. ACM Neto passa por uma fase esquizofrênica. De um lado, deseja se firmar como herdeiro político do avô. De outro, em plena eleição, descarta bater no presidente Lula e no governador Wagner. Uma típica manobra eleitoreira herdada no antigo PFL. O desafio é se livrar da imagem de truculência do avô. Mas está no DNA dele. Lembram-se que outro dia mesmo, do alto de seu 1 metro e 60 cms ameaçava “dar um murro no presidente Lula?”.

3 de agosto de 2008

 

Governo do narco-presidente da Colômbia Álvaro Uribe tortura e mata

A "democracia" de Álvaro Uribe, que a mídia brasileira tanto defende, tortura e mata na Colômbia. Leia o registro da Agência Adital.

Estado é o principal torturador de colombianos

Agência Adital - A Coalizão Colombiana Contra a Tortura divulgou, em julho, o relatório "Tortura: Colômbia padece um Regime Torturador - Violência sexual como estratégia do Terror Estatal", em que revela a triste realidade enfrentada pelos colombianos. Os dados, obtidos durante o ano de 2007, mostraram 97 casos de tortura, sendo que em 90,1% do total o Estado colombiano participa.

Segundo o informe, 27 vítimas foram torturadas e deixadas com vida, enquanto que em 43 casos, as vítimas foram torturadas e logo após assassinadas. Do total, 11 eram crianças e 18 mulheres. A participação do Estado por ação direta de seus agentes ocorreu em 70,4% dos casos; 19,7% deles foram mediante uso de estratégia paramilitar.

São listados alguns exemplos de casos de tortura que ocorreram no ano de 2007. Em um deles, um menino de 10 anos foi espancado por membros do Exército Nacional por mais de 15 minutos. Os uniformizados ameaçaram em cortar seus dedos e em matá-lo, acusando-o de ser guerrilheiro. O rosto e a cabeça do menino ficaram destroçados.

"Os casos anteriores fazem parte dos 97 que puderam ser documentados pela Coalizão que são uma parte ínfima das cifras reais, já que muitas vítimas se abstêm de denunciar devido às dificuldades para acessar a justiça, o temor diante dos torturadores e a ausência de mecanismo de proteção a vítimas e a testemunhas, como também a invisibilidade desse crime em âmbito nacional", afirma o documento.

A Coalizão Colombiana Contra a Tortura é integrada pela Associação de Familiares de Detidos Desaparecidos (Asfaddes), Associação Minga, Coletivo de Advogados José Alvear Restrepo, Comissão Colombiana de Jurista, Corporação Avre, Corporação Reiniciar, Fundação Comitê de Solidariedade com Presos Políticos (FCSPP), Organização Mundial Contra a Tortura (OMCT) e Terre des Hommes.

 

Em Minas, Centro Acadêmico Afonso Pena celebra 100 anos

O Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, celebra 100 anos agora em agosto. Foi um século de participação ativa na vida política de Minas e do Brasil. Pessoalmente, testemunhei ali parte da luta contra a ditadura militar de 1964. Em 1966, fui calouro de José Carlos da Matta Machado, assassinado pelos criminosos e torturadores do Exército Brasileiro. Ouvia maravilhado as aulas do professor Edgard da Matta Machado. Em 1968, com o advento do Ato Institucional 5, e com mandado de prisão decretado, fui obrigado a entrar na clandestinidade e abandonei o curso de Direito.

Das articulações políticas do Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP) nasceram muitas das passeatas estudantis que tomaram de assalto as avenidas de Belo Horizonte. Numa delas, em 1968, os estudantes sob violenta repressão policial-militar se refugiaram no anexo em construção da Faculdade de Direito. Eu estava lá. Ocupamos o prédio durante todo o dia, a noite, até 4h da madrugada, sob cerco total. Após muitas negociações, desocupamos o prédio sem nenhuma prisão.

Trinta anos depois, em 1998, celebrando a resistência estudantil ao AI-5, o Centro Acadêmico Afonso Pena criou um cartaz, pregado em toda a cidade, com a foto de alguns estudantes “armados” de pedras enfrentando a repressão. Lá estavam Oldack Miranda, sem camisa, magrelo, Nilmário Miranda (da Escola de Economia), que mais tasrde virou deputado e ministro dos Direitos Humanos, Edson Gonçalves (Engenharia) e Leovegildo Leal, colega de Direito. Há um quinto protagonista na foto nunca identificado. O mesmo cartaz virou ilustração da carteira nacional da UNE, naquele ano.

Há poucos dias, a estudante Nayara Atayde Gonçalves, integrante da “Comissão CAAP 100 anos”, responsável pelas comemorações do centenário, gentilmente me telefonou. O cartaz vai fazer parte da exposição fotográfica que será montada. Em particular, fico emocionado pelas homenagens que serão prestadas ao companheiro assassinado José Carlos da Matta Machado.

Em 1973, depois de quase três anos embrenhado nas matas do Vale do Pindaré-Mirim, no Maranhão, livre da Penitenciária de Linhares (Juiz de Fora) e com vida legal em Salvador, Bahia, eu me vi na obrigação de receber Zé Carlos em minha casa. Ele foi traído pelo próprio cunhado e fomos todos presos novamente. Uma tragédia. Os torturadores do DOI-CODI executaram Zé Carlos e Gildo Lacerda com requintes de perversidade.

Militamos, eu, Zé Carlos, Gildo Lacerda, Anatólio Aranha, Joaquim Martins, Plínio Arantes, Mateus Pinto Filho, na organização revolucionária Ação Popular, que na década de 1960 era formada pela esquerda católica. Quase todos tínhamos militado na Juventude Estudantil Católica (JEC) ou na Juventude Universitária Católica (JUC). Entrar para a Ação Popular era um passo natural. Em nossos balanços, muitas vezes feitos na casa do professor Edgard da Matta Machado, pai do Zé, bem ali no bairro Funcionários, chegamos a identificar 62 militantes da AP somente na Faculdade de Direito.

Sei que nomes ilustres passaram pelo CAAP. Ministros do STF como Sepúlveda Pertence e Francisco Resek, o ministro e ex-prefeito Patrus Ananias, o atual vice-governador de Minas, Antônio Augusto Anastásia, o atual diretor da Faculdade de Direito, Joaquim Carlos Salgado, muitos deputados, vereadores e grandes juristas.

Mas, uma coisa é certa. Nos anos 60, a história política do CAAP e da Faculdade de Direito da UFMG passa pela história da Ação Popular, a organização revolucionária criada com o documento-base do Padre Vaz.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?