2 de março de 2012

 

Governo da Bahia decreta luto oficial pela morte do comunista Fernando Sant`Anna

Viva a democracia, abaixo a ditadura. Os fascistas de pijama reunidos nos Clubes Militares não vão gostar. Eles matavam comunistas e desapareciam com os corpos. O governador Jaques Wagner, da Bahia, decretou luto oficial de três dias pela morte do ex-deputado constituinte comunista, Fernando Sant´Anna, aos 96 anos de idade, ocorrida ontem (01/03/2012) à tarde, vítima de infarto fulminante.

Considerado um comunista histórico, o ex-deputado deixou um legado inestimável na luta pela redemocratização do país. "Fernando Sant'anna entrou para a história da Bahia e do Brasil. Ele dedicou o melhor dos seus esforços para ajudar o país a sair das agruras da ditadura e entrar definitivamente na era das liberdades democráticas. A Bahia se entristece com sua morte, mas se orgulha por tê-lo entre seus filhos", disse Wagner.

Wagner e sua esposa, Fátima Mendonça, prestam solidariedade a todos os familiares e amigos do ex-deputado e expressam o sentimento de saudade e orgulho de todo o povo baiano, que perdeu este grande guerreiro da democracia, ressalta a NOTA DE PESAR divulgada pelo governo baiano.

Engenheiro civil de formação, Fernando Sant´Anna começou sua carreira política como deputado federal pelo antigo Partido trabalhista Brasileiro (PTB), em 1958, e teve destacada atuação contra a ditadura militar de 1964, quando já integrava os quadros do Partido Comunista Brasileiro, popularmente conhecido como “Partidão”.

O camarada estava internado no Hospital Português e era considerado um dos últimos comunistas históricos vivos. Ele retomou a carreira parlamentar após a reabertura democrática, elegendo-se deputado federal em 1983 e em 1987, tendo feito parte da Assembléia Nacional Constituinte.

Foi contemporâneo de praticamente todas as gerações de comunistas do Brasil, nos últimos 60 anos. Era um exemplo de homem inspirado, por suas idéias. Firme em seus ideais, com forte ligação com a idéia de defesa dos intersses nacionais e um vigilante dos anseios do povo brasileiro, uma rara figura. Assim foi o comentário presidente regional do PCdoB da Bahia, Daniel Almeida.

Natural de Irará, nascido em 1915, estava incluído na relação dos primeiros opositpres ao golpe militar de 1964. Segundo a senadora Lídice da Mata (PSB), ele era uma referência ética de um tempo em que se fazia política baseado nas idéias. “Ele era uma legenda para a Bahia. Um comunista que atuou contra o status quo dominante de uma época”, disse a senadora. (Com informações da SECOM/BA e A Tarde).


1 de março de 2012

 

Imprensa baiana esconde anistia a 110 operários do Pólo Petroquímico

Fiquei melhor informado lendo o Diário Oficial do Estado (01/03/2012), página 3, o site da Prefeitura de Camaçari e o jornal paulista Valor (29/02/2012) do que repassando os três jornais da Bahia, sobre a Caravana da Anistia, do Ministério da Justiça, que em Camaçari realizou quarta-feira (29/02) sua 54ª Sessão de Julgamento. A imprensa baiana não deu importância ao julgamento de 120 processos de ex-operários do Pólo Petroquímico, perseguidos por participação na greve de 1985 e outros demitidos durante a ditadura militar.

O governador Jaques Wagner, que era presidente do Sindiquímica à época, foi representado pelo Chefe da Casa Civil, Rui Costa. O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Júnior, agradeceu a recepção pelo Estado da Bahia. “Vivemos um momento único porque estamos vendo sonhos realizados. Hoje, o dever do Estado Brasileiro é promover a compensação dos reflexos da ditadura militar. A Caravana reafirma o direito à reparação moral e econômica desses cidadãos. Vir à Bahia representa o peso deste movimento operário para o Brasil”.

MOMENTOS DE EMOÇÃO
Segundo o site da Prefeitura de Camaçari, “a emoção pela oportunidade da restituição da verdade e da dignidade de 121 pessoas demitidas durante a greve do Pólo Petroquímico de Camaçari, em 1985, tomou conta do Teatro da Cidade do Saber”. Um ex-operário gritou com a voz embargada: “Depois de 85 nunca mais fomos os mesmos". A manifestação representou o sentimento de todos os demitidos presentes, muitos deles sequer conseguiram voltar a atuar na área por conta da perseguição política que sofreram.

Organizada pela Comissão Nacional da Anistia do Ministério da Justiça e pelo Grupo Tortura Nunca Mais, a ação tem o objetivo de reparar injustiças e atentados contra os direitos humanos, praticados pelo regime ditatorial. A paralisação durou 16 dias e é considerada a primeira greve geral de um Pólo Petroquímico do mundo.

Para o deputado federal Emiliano José, que integra a Comissão de Mortos e Desaparecidos, na Câmara dos Deputados, as caravanas de anistia e, mais recentemente, a aprovação da Comissão Nacional da Verdade representam a possibilidade do país resgatar sua história. "A presidenta Dilma afirmou que cada país possui a sua história e as suas características, enfrentando correlações de forças diferentes, portanto nem sempre as coisas são tão rápidas, como a gente gostaria. Mas agora, nós teremos a chance de ter à mesa e de modo transparente o que foi este período de terror e de sombras que nós vivemos em 21 anos", destacou.

O prefeito Luiz Caetano, que participou ativamente de diversos movimentos em defesa da democracia, da anistia e das diretas, afirmou: "O estado democrático é fruto da luta dos brasileiros contra a ditadura instaurada no Brasil".

NILMÁRIO MIRANDA
Autor do projeto que criou a Comissão de Direitos Humanos e conselheiro da Comissão, o ex-deputado federal e ex-ministro dos Direitos Humanos do primeiro governo Lula, Nilmário Miranda, participou dos julgamentos e ressaltou a importância da Caravana da Anistia para recontar, agora de forma oficial, a História do Brasil na época da ditadura militar. "O trabalho da comissão é importantíssimo para a democracia brasileira", ressaltou.

Um dos autores do livro “Dos filhos deste solo”, que trata justamente da luta dos brasileiros pela democracia, Nilmário Miranda falou ainda da importância do Memorial da Anistia Política do Brasil, previsto para ser entregue no final de 2013 e que vai abrigar os cerca de 70 mil processos de anistia já abertos.

COMO FOI O CASO
Apesar da greve de 1985 ter sido considerada legal pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho), cerca de 200 pessoas foram demitidas. Deste conjunto, 171 perderam todos os direitos ao serem sido demitidas por “justa causa”. O julgamento dos casos de Camaçari iniciou-se em 2008, quando foram apreciados 69 processos.

Em 2009, foram realizados outros dois julgamentos e, com estes 121 processos, o Ministério da Justiça concluiu a apreciação dos casos dos demitidos por participarem da greve. Os julgamentos foram feitos de forma pública e transparente. Os casos foram apreciados um a um e o parecer foi dado na hora. Após a leitura do processo, o requerente ou representante manifestava-se e, na seqüência, os conselheiros avaliavam e concediam ou não a anistia.

Dentre os casos julgados está o do Ouvidor Geral do Estado, Jones Carvalho. Apesar de ser dirigente sindical, ele foi perseguido politicamente por ter participado da greve de 85. Foi impedido, inclusive, de exercer a profissão de analista químico. O processo dele inclui ainda a perseguição sofrida de forma individualizada, por ter integrado movimentos políticos contra a repressão.

Para Jones Carvalho, a anistia tem um valor simbólico muito forte por representar o reconhecimento de que a greve de 85 foi uma luta política que defendeu os direitos democráticos e humanos. "Agora é que se estabelece a verdade e será possível ver quem era perseguido e quem eram os perseguidores", concluiu. Os trabalhadores chegaram a ser incluídos numa “lista negra” que lhes fechou o mercado de trabalho.

GREVE LANÇOU WAGNER
O jornal paulista Valor (29/02) registrou em manchete: “Comissão da Anistia analisa greve de Camaçari, que lançou Wagner à política”. A reportagem salienta que o caso da greve de 1985 é considerado pelo governo como um dos marcos da união entre as lutas do movimento sindical e a da resistência à ditadura. Também afirma: “o caso tem também um componente político mais contemporâneo: a base sindical e a trajetória política do governador da Bahia, Jaques Wagner – o mais próximo da presidente Dilma Rousseff – e de alguns de seus aliados tiveram origem no episódio”.

 

Jornal A Tarde abre espaço para a hanseníase

Minha carta ao jornal A Tarde saiu no Espaço do Leitor (28/02/2012):

“Li com grande satisfação a matéria sobre a hanseníase. De início pensei que encontraria resposta para um mistério baiano. Há uma lei federal que indeniza portadores os portadores de hanseníase, os antigamente chamados leprosos, que foram internados em leprosários contra a vontade deles, pelo Estado.

Até hoje alguns estão vivos e sendo localizados para a devida reparação. O movimento chama-se Mohan. Minas Gerais está em adiantado processo de indenizações. Agora, o Estado do Rio de Janeiro acaba de aprovar uma lei estadual de reparação. Na Bahia não se ouve nada.

Acho que a reportagem está ótima e chega a citar a internação compulsória. Parabéns à repórter Juliana Brito. Eles eram compelidos a trabalhar de graça nos hospitais-colônias. Faziam curativos, limpeza e cozinhavam. E ainda eram chamados de leprosos e assim feitos prisioneiros em leprosários. Os já aposentados receberão um salário mínimo por 10 anos. Mesmo quando não havia mais a internação compulsória, o Estado criou uma embromação chamada labor-terapia para fazê-los trabalhar sem remuneração ou ganhar menos de um salário mínimo.

O MOHAN abriu espaço para que a mesma reparação seja feita em outros estados. Na Bahia havia muitos hospitais-colônias, leprosários, não apenas o Asilo de Quintas.”

29 de fevereiro de 2012

 

Privataria tucana é tema de audiência em Salvador

Privatizações, escândalos e graves denúncias. Estes são alguns dos ingredientes do livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. A obra, que a essa altura já é um best seller, volta a ganhar destaque na Bahia. O livro será tema de uma audiência pública que acontece nesta quinta-feira, 01, às 17h30, no Hotel Fiesta, com as presenças do autor, do publisher da Geração Editorial, Luiz Fernando Emediato, dos deputados federais Emiliano José – uma das fontes de informação da obra, Protógenes Queiroz (PcdoB), proponente da CPI da Privataria no Congresso Nacional, e do deputado estadual Joseildo Ramos, que propôs o debate. Na ocasião, haverá, ainda, o lançamento do livro.


Fenômeno de vendas, A Privataria Tucana - resultado de dez anos de um minucioso trabalho investigativo sobre os bastidores da era das privatizações - esgotou sua primeira edição em apenas 24h e está há 10 semanas entre os mais vendidos do país. Todos os fatos narrados na obra estão reforçados em documentos oficiais, obtidos em juntas comerciais, cartórios, no Ministério Público, e na Justiça. Na Bahia, dois temas chamam atenção no livro: A privatização da Coelba e o caso da doação de terrenos na Ilha do Urubu, em Porto Seguro, amplamente denunciado pelo deputado federal Emiliano José (PT-BA).


O escândalo da Ilha do Urubu

O livro faz uma série de denúncias, por exemplo, contra José Serra e seu primo, o espanhol naturalizado brasileiro, Gregório Marin Preciado. Na página 172, ele cita exaustivamente a denúncia de Emiliano José - em reportagem intitulada "Ilha do Urubu, o paraíso traído", publicada na revista Carta Capital em 2009. O título do capítulo 8 do livro é "O primo mais esperto de José Serra". Ele conta como se deu o perdão de uma dívida milionária de Gregório Preciado no Banco do Brasil, no tempo de FHC, o apoio do banco estatal na privataria, a compra de três estatais por Preciado na era do presidente tucano e os "altos negócios com um paraíso natural da Bahia". O primo de Serra conseguiu reduzir 109 vezes o valor da pendência com o BB, uma dívida de R$ 448 milhões por irrisórios R$ 4,1 milhões. O caso foi revelado pelo jornalista Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo.

A chave mágica se abriu para Gregório Marin Preciado em 1983, quando foi nomeado por Serra para o Conselho do Banespa. Os tucanos nem eram ainda tucanos. Em agosto de 1993, Preciado, o primo de Serra, toma um empréstimo de US$ 2,5 milhões na Agência Rudge Ramos. Não consegue arcar com a dívida, e os cofres do Banco do Brasil é que vão pagar. Quando FHC inaugurou a era da "privataria", Preciado aparece na Bahia como representante da Iberdrola espanhola, que adquiriu três estatais, entre elas a Coelba, a Cosern, do Rio Grande do Norte e a Celpe de Pernambuco. Marin tornou-se proprietário de uma mansão de R$ 1 milhão em Trancoso, paradisíaco recanto do sul da Bahia. O mesmo Oásis em que a família Serra buscou recuperar-se da labuta. Foi lá que Serra passou o réveillon de 2010.

A reportagem "A Ilha do Urubu" compromete ainda o ex-governador Paulo Souto. Ao ser derrotado por Jaques Wagner, Souto esvaziou as gavetas do Palácio de Ondina e foi à forra contra os eleitores da Bahia, despachando um "saco de bondades" custeadas pelos cofres do estado, incluindo a outorga a particulares de 17 propriedades rurais, 12 imóveis e 1.042 veículos. "É o que revelou a denúncia do deputado Emiliano José, ampliada na imprensa", afirma Amaury Jr. Das terras outorgadas, uma foi a Ilha do Urubu, considerada uma das áreas mais valorizadas do litoral do Atlântico. Ainda no capítulo 8, Amaury Jr. desce também a detalhes de como foi a operação. No começo de 2010, um parecer da Procuradoria Geral do Estado declarou nula a doação da terra. As relações perigosas entre Serra, seu primo Gregório Marin Preciado e o ex-governador Paulo Souto foram desfeitas.


28 de fevereiro de 2012

 

BAHIA DE FATO presta homenagem a Nise de Oliveira

Neste mês de março, mês da mulher, o blog BAHIA DE FATO presta homenagem a Dra Nise de Oliveira, alagoana, a primeira mulher a se formar em Medicina na Universidade Federal da Bahia, em 1926. Médica psiquiatra, foi aluna de Carl Jung. Se viva fosse faria 107 anos. Faleceu há 13 anos. O machismo exacerbado da sociedade da época a impediu de exercer a Medicina Psiquiátrica. Foi obrigada a trabalhar como enfermeira, antes de conseguir, em 1933, um estágio na Clínica Neurológica Antonio Austregésilo. Depois de fazer concurso federal ingressou no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelho (Rio), décadas depois rebatizado como Hospital Pinel.

Nise de Oliveira rebelou-se contra as torturas e choques elétricos como eram tratados os “loucos”. Em 1936, Nise de Oliveira foi presa por um ano e meio, na Ditadura Vargas, acusada de ser comunista. Com o trauma, anulou-se como psiquiatra durante sete anos. Ao ser reintegrada ao Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, foi rebaixada a “Terapeuta Ocupacional”, vista à época como uma função inferior. Rejeitando o choque elétrico e os demais procedimentos violentos, criou o “Espaço do Amor”, adotando a arte como método alternativo de tratamento, com ateliês de pintura, desenho, modelagem e oficinas de jardinagem, bordado, dança e teatro.
Assim, revolucionou a Psiquiatria convencional, foi transformadora, ao provocar o renascimento de cada ser humano. É reconhecida por ter introduzido no Brasil a psicologia analítica desenvolvida por Carl Jung. Fundou o Grupo de Estudos C. G. Jung.

A atriz Mariana Terra está resgatando sua história na peça teatral “Nise de Oliveira – Senhora das Imagens”, no Teatro Eva Herz (SP). Vai virar filme protagonizada por Glória Pires.

 

Toda executiva bem-sucedida precisa ler

Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou.

Deu um gemido e apagou.
Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso Portal.

Ainda meio zonza, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas.Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava acontecendo, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:

- Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque meu convênio médico é classe A, e isto aqui está me parecendo mais um pronto-socorro. Onde é que nós estamos?

- No céu.

- No céu?...

- É.

- Tipo assim... o céu, CÉU...! Aquele com querubins voando e coisas do gênero?

- Certamente. Aqui todos vivemos em estado de gozo permanente.

Apesar das óbvias evidências nenhuma poluição, todo mundo sorrindo, ninguém usando telefone celular, a executiva bem-sucedida custou um pouco a admitir que havia mesmo apitado na curva.

Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana ela iria receber o bônus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.

E foi aí que o interlocutor sugeriu:

- Talvez seja melhor você conversar com Pedro, o síndico.

- É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?

- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.

- Assim? (...)

- Pois não?

A executiva bem-sucedida quase desaba da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.

Mas, a executiva havia feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu rapidinho:

- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...

- Executiva... Que palavra estranha. De que século você veio?

- Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo 'executiva'?

- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.

Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.

- Sabe, meu caro Pedro. Se você me permite, eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, só batendo papo e andando a toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.

- É mesmo?

- Pode acreditar, porque tenho PHD em reengenharia. Por exemplo, não vejo ninguém usando crachá. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?

- Ah, não sabemos.

- Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar virando uma anarquia. Mas nós dois podemos consertar tudo isso rapidinho implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.

- Que interessante...

- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.

- !!!...???...!!!...???...!!!

- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Acionista... Ele existe, certo?

- Sobre todas as coisas.

- Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, me parece extremamente atrativo.

- Incrível!

- É óbvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho certeza de que você vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar em um Turnaround radical.

- Impressionante!

- Isso significa que podemos partir para a implementação?

- Não. Significa que você terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque você acaba de descrever, exatamente, como funciona o Inferno...

Max Gehringer  (Revista Exame).  Enviado por Carlos verçosa.



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