6 de julho de 2013
Alguém perguntou sobre os livros de Emiliano José?
O
livro que o ex-deputado, professor doutor em comunicação, jornalista e escritor
Emiliano José (PT) vai lançar na próxima quinta-feira, 11 de julho, na Livraria
Cultura do Shopping Salvador, a partir das 18h, é o décimo de sua lavra. Alguém
me perguntou quais eram os outros nove livros. Minha memória falhou, então fui
aos arquivos. Está tudo no site dele. Aqui são 10 itens porque o livro sobre
Padre Renzo, mesma obra, tem uma edição em italiano, publicada pela editora
oficial do Vaticano. Na verdade, Emiliano tem tantos ensaios que dariam 20
livros. Ele não para de publicar em A Tarde, CartaCapital, Teoria e Debate,
entre tantos outros veículos. No momento, trabalha na biografia de Waldir
Pires. Seguem os atuais títulos:
LAMARCA, O CAPITÃO DA GUERRILHA - Escrito em 1980,
em parceria com o jornalista Oldack de Miranda, já está na 16ª edição revista e
ampliada. Editado pela Global Editora (SP), o livro conta a história do capitão
do Exército Brasileiro que optou pela luta armada contra a ditadura militar iniciada
com o golpe militar de 1964. Os autores traçam o perfil de Carlos Lamarca, seus
amores, idéias, ações de combate, as circunstâncias das mortes da guerrilheira
Iara Iavelberg, em Salvador, e de Lamarca e seus companheiros no sertão da
Bahia, em 1971. O livro foi transformado em filme, dirigido por Sérgio Rezende,
em 1994, estrelado por Paulo Betti, no papel de Lamarca, e Carla Camuratti no
papel de Iara Iavelberg. Foi escrito em plena ditadura com dificuldades de
fontes e sob ameaças. Muitos episódios foram descobertos depois e surgiram
questionamentos sobre os supostos suicídios de Iara Iavelberg e o professor
Santa Bárbara, em Brotas de Macaúbas.
NARCISO NO FUNDO DAS GALÉS – COMBATE POLÍTICO ATRAVÉS
DA IMPRENSA - Lançado em 1992, esgotado nas bancas, é uma coletânea de artigos de
Emiliano José publicados em jornais da Bahia e na Folha de S. Paulo. Aborda
diversos temas, entres os quais: democracia, luta pela terra, ordem econômica
mundial, leilão das estatais e MST. O conteúdo do livro está integral no site
dele.
GALERIA F: LEMBRANÇAS DO MAR CINZENTO – PARTE III – É um resgate da
história de Victor Meyer, cuja trajetória marcante é representada por duros
tempos da ditadura, militância e sua dedicação ao mundo e à humanidade.
Publicado em 2008, pela Caros Amigos Editora, o livro tem prefácio de Nilmário
Miranda, hoje deputado federal (PT-MG), jornalista e à época presidente do PT
de Minas Gerais.
MARIGUELLA: O INIMIGO NÚMERO UM DA DITADURA MILITAR - Escrito em 1997, e na segunda edição, Editora Sol & Chuva - Editora Casa Amarela (SP). Partindo da cena em que Carlos Marighella é emboscado e executado, por policiais comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, Emiliano José traça o perfil do revolucionário que se tornou o inimigo número um da ditadura militar. Descreve o clima de terror do período e o esforço das entidades de direitos humanos e familiares em resgatar a história e a imagem das pessoas mortas pelos militares e dadas como desaparecidas, sem esquecer o lado afetivo do militante, também poeta, dirigente do PCB a maior parte da vida e depois comandante da ALN
Pesquisa IPEA revela falta de médicos no Brasil. Mas acho que falta Ética também
A pesquisa Radar do IPEA revela que de todas as 48 carreiras
incluídas no topo do ranking, a Medicina é aquela onde há maior escassez de
mão-de-obra. A movimentação de parte dos médicos brasileiros contra a
contratação de médicos estrangeiros, para atendimento às populações do interior
profundo do País, não encontra fundamento na pesquisa. Não há desemprego de
médicos. Os salários são altos. Faltam médicos. Logo, posso concluir que, do
ponto de vista da Ética, os médicos deveriam apoiar a contratação de médicos
estrangeiros para cobrir a carência e atender a população. Não é o que
acontece. Prevalecem o corporativismo irracional, o interesse eleitoreiro de
sindicalistas e a ignorância dos médicos formados em escolas de ensino
deficiente.
A Medicina é a carreira de nível superior com maior
desempenho trabalhista, considerando os fatores salário, jornada de trabalho,
nível de ocupação e cobertura previdenciária. Na média brasileira, os médicos
ganham R$ 6.940,12 e trabalham 42,03 horas por semana. A taxa de ocupação é de
91,81% e a de proteção trabalhista é de 90,72%. Estes índices fazem parte da
publicação “Perspectivas profissionais – nível técnico e superior”, da revista
Radar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
A Medina está à frente em um ranking de 48 formações de
nível superior, como Odontologia, Engenharia Civil, Engenharia Mecânica e
Metalurgia etc. Na parte de baixo do ranking, com pior desempenho trabalhista, estão
Religião, Filosofia, Educação Física e Turismo. A conclusão é óbvia: as
carreiras no topo do ranking têm indicadores que refletem escassez de
profissionais. Se a jornada é alta, é um sinal claro de que faltam
trabalhadores, o que prejudica o bem-estar dos profissionais. Se todos os
indicadores são altos, faltam profissionais. Esse é um “bom problema”, pois o
contrário desemprego.
Os médicos corporativistas contrapõem a falta de um plano de
carreira à contratação de médicos estrangeiros. É um sofisma. Mesmo com plano
de carreira, os médicos de classe média, acostumados à vida urbana das
capitais, continuariam a recusar trabalho nas pequenas cidades. Também afirmam que prefeituras atraem com
altos salários e depois deixam de pagar, gerando causas judiciais. Pois o plano
do Ministério da Saúde é exatamente para neutralizar isso, já que os salários
seriam pagos pelo Governo Federal. Sindicalistas desinformados chegam a argumentar que não falta mão de obra e sim condições de trabalho. É falso. Tanto faltam mão-de-obra quanto condições de trabalho. Tem argumento estúpido como comparar a contratação de médico estrangeiro a uma republiqueta. Ora, a Inglaterra importa 40% de seus médicos. Que republiqueta?
Os médicos e estudantes de Medicina, massa de manobra de sindicalistas, deveriam ouvir a opinião do Doutor Leandro Barreto, professor de Medicina da UFBA e presidente da Associação Baiana de Medicina de Família e Comunidade: “Sou a favor, enquanto provisório. Precisamos de mais médicos e se esperarmos por novos médicos demoraremos 20 anos para chegar ao nível de países como o Reino Unido”. Em outras palavras, a longo prazo estaremos todos mortos, diriam as famílias que residem nos 100 municípios baianos sem médicos.
5 de julho de 2013
Wagner: a classe política foi chacoalhada
O governador da Bahia, Jaques Wagner, em entrevista
concedida ao jornal A Tarde, considerou que os estudantes que foram às ruas
protestar não visavam especificamente o PT e sim todo o sistema político. Achou
normais as vaias dirigidas ao governo no trajeto do desfile do 2 de Julho. “Houve
muito protesto, mas também muito aplauso. Ninguém é 100%”. Ele avaliou que as
ruas contestaram a política, mas não viu ninguém negando a caminhada que o
Brasil fez nos últimos 28 anos de democracia.
Neste período, após a redemocratização, o Brasil conquistou
a estabilidade macroeconômica, construiu um sistema de proteção social jamais
visto. Não supervalorizou os movimentos de rua. Não foi o primeiro nem será o
último, disse. “Nós fizemos as Diretas Já, movimento maior que o atual, depois
houve o Fora Collor, semelhante a esse. Acho que vivemos um momento novo de
consolidação da democracia, mas não dá para prever o futuro”.
Wagner não se intimidou com a insistência da jornalista
Patrícia França em tentar conduzir a entrevista para a crítica ao PT. “O PT
está no governo, e Lula ganharia de todo mundo no primeiro turno, segundo a
pesquisa Datafolha. Assim, a tentativa de associar os protestos a um eventual
desgaste do PT cai por terra”. “Mas Lula é Lula e o PT...” pergunta a
jornalista e Wagner responde: “Não, Lula é o PT”. Ele acha que o candidato de
Lula é Dilma e a falha da crítica ao PT é que não considera que Lula é o
símbolo maior do PT.
Wagner, ao falar da proposta do plebiscito feita por Dilma
Rousseff, disse que é a primeira vez que vê numa democracia o pessoal achar
ruim a participação popular através do voto. Acho que cada vez mais plebiscitos
são bem-vindos. Afinal, é o povo dizendo o que acha. Ele crê que a reforma
política é a mãe de todas as reformas porque a política precisa ter uma cara
nova para a população. “Reforma é fundamental e espero que o Congresso Nacional
ouça o clamor das ruas”. Cada partido político tem que ter o tamanho que
merece, o tamanho é dado pelo povo nas ruas. Se não tiver voto não pode ocupar
tempo de televisão e gastar dinheiro público.
Wagner defende o voto facultativo. Sendo obrigatório, o povo
vai às urnas e na ordem de 27% votam nulo. Ninguém pode obrigar ninguém a ser
cidadão e a tentativa de negar a política é inútil, porque não existe nada para
se por no lugar. Ditadura não. E se essa democracia vai ser melhorada só pode
ser através da manifestação na rua. “Melhoramos muito, e quem tentar zerar esta
caminhada do Brasil está cometendo grande injustiça”.
“Não podemos ser apressados nas conclusões. Acho que Dilma
vai recuperar rapidamente a popularidade. Eu me lembro que o presidente Lula
estava com níveis baixos de avaliação popular em 2005, chamou Dilma e ganhou a
eleição em 2006”. Não viu erosão na imagem da presidenta. Para ele, aconteceu
que foi um momento que o povo foi às ruas a partir de um questionamento sobre
transporte público. “Achei ótimo. Acho que a classe política foi chacoalhada e
tem que responder. Neste momento, acho que a melhor resposta é a reforma
política, com o fim da coligação proporcional e o financiamento público de
campanha. Este é um grande momento para se fazer uma política mais
transparente. Não tomei susto (com as manifestaçõesd) porque acho que a
política é uma soma de política representativa com política direta”.
Wagner não viu ninguém crescendo significativamente com as
manifestações. Marina Silva cresceu um pouco, Joaquim Barbosa apareceu, mas, de
modo geral, todo mundo caiu. Alckmin, Haddad, Sérgio Cabral. O único que se
manteve foi o presidente Lula. O senhor considera o seu governo padrão FIFA?,
pergunta a jornalista. E ele responde: Esta é uma referência ruim, não vou me
espelhar na FIFA, até porque a FIFA trabalha para um espetáculo e eu pela
população. Mas acho que temos obrigação de buscar sempre a excelência e os
melhores padrões na gestão pública. Não é fácil porque a máquina pública é
muito viciada.Tocantins tem experiência exitosa com médicos cubanos
O melhor texto sobre médicos estrangeiros li no Brasiliana.org, blog do Luis Nassif. A jornalista Maria Fernanda Ziegler assina a reportagem “Eles defendem a vinda de médicos estrangeiros para os rincões do País. Ela conta a experiência do estado do Tocantins com a contratação de médicos cubanos, quando o cirurgião dentista Eduardo Medrado era secretário da Saúde. Entre 1995 e 2002, vieram 90 médicos de Cuba. Foi uma experiência muito boa. No Tocantins, as casas eram de palha. “Qual médico brasileiro de classe média iria morar numa casa de palha?” perguntou sorrindo. Já Marco Aurélio da Rosa, doutor em Educação e Saúde pela Sorbonne é mais direto: “a questão não se resume á falta de interesse dos médicos brasileiros, na verdade, nossos médicos estão mal preparados e tem medo de ir para o interior, pois lá não encontram a mesma infraestrutura dos hospitais da capital. A questão está no tipo de Medicina ensinado, com base em alta tecnologia apenas e não no exame clínico. “Nossos médicos não sabem mais fazer uma boa clínica e baseiam seus atendimentos apenas em exames”, afirma o professor de Medicina. O problema não é dinheiro, já que existem salários de até R$ 20 mil.
LEIA NA
ÍNTEGRA:
Eles defendem a vinda de médicos
estrangeiros para os rincões do País.Por Maria Fernanda Ziegler
"
Nossos médicos não são bons clínicos e se baseiam só em exames. Não dá para equipar um hospital no interior com tantos equipamentos", diz doutor em Saúde
De sua
casa em Araguaína, interior de Tocantins, Eduardo Medrado, cirurgião geral
aposentado de 67 anos, observa a polêmica da vinda dos médicos estrangeiros ao
Brasil com atenção.
Em 1995,
então secretário estadual de Saúde, (do Tocantins) ele firmou um acordo com
Cuba para trazer médicos cubanos para o interior do Tocantins. “A ideia inicial
era ‘importar’ 200 médicos, mas, no fim, vieram 90 médicos distribuídos em
várias etapas entre 1995 e 2002”, diz.
“Foi
uma experiência muito boa. O médico cubano tinha formação socialista. Aqui no
Tocantins a maioria das casas era de palha. Qual é o médico brasileiro, de
classe média, que vai querer morar numa casa de palha?”, questiona Medrado,
com uma leve risada.
Marco
Aurélio da Rosa, doutor em Educação e Saúde pela Universidade de Sorbonne, na
França, e com pós-doutorado na Universidade de Bologna, Itália, também é
favorável à vinda de cubanos para os rincões do País. Para ele a questão não
se resume apenas à falta de interesse dos profissionais brasileiros em irem
para o interior, mas está relacionada principalmente com a má formação do
médicos no Brasil.
“Os
nossos médicos estão mal preparados e têm medo de ir para o interior, pois lá
eles não encontram a mesma infraestrutura que encontram em hospitais das
capitais do País”, diz o gaúcho, que atualmente é professor aposentado da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Rosa
também afirma que já foi comprovado que o problema não é dinheiro, pois muitas
prefeituras do interior oferecem altos salários, alguns chegam a R$ 20 mil.
Para ele,
o problema está no tipo de medicina ensinado, baseado apenas em exames de
alta tecnologia e não no exame clínico, que torna a oferta de emprego no
interior descolada da expectativa profissional dos recém-formados.
“Nossos
médicos não sabem mais fazer uma boa clínica e baseiam os seus atendimentos
apenas em exames. Não dá para equipar um hospital no interior do País com
tantos equipamentos assim para fazer exames”, disse.
Marco
Aurélio da Rosa, no entanto, é contra a vinda de médicos portugueses ou
espanhóis para o Brasil. “Os médicos da Espanha ou de Portugal vêm para cá para
disputar mercado com os nossos médicos nos grandes centros do País, pois não há
mais mercado para eles na Europa. Eles também não vão querer ir para o interior
do Brasil. Quem vai para lá é o médico cubano que recebe esta formação social e
a ideia é que eles fiquem por um período apenas”, disse.
De acordo
com o Rosa, o Brasil tem dois milhões de brasileiros em áreas sem atendimento
médico.
“Temos
6.602 unidades construídas e que estão sem médico, só com enfermeiro,
principalmente em regiões da Amazônia, interior do Nordeste. O que se pretende
fazer com isto? Quem topa ir para a Amazônia?”
De acordo
com o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto D'Ávila, há 1,8
médicos para cada mil habitantes no País. Porém, ele reconhece que há
desigualdade entre as regiões.
Experiência
no Tocantins
No
projeto do Tocantins, os médicos cubanos passavam um mês estagiando no Hospital
Público de Doenças Tropicais de Araguaína.
“Neste
estágio eles se atualizavam sobre vacinação e doenças imunopreveníveis. De
malária, por exemplo, eles não sabiam nada, mas como tinham boa formação em
fisiopatologia aprenderam rápido.”
No projeto
do Tocantins, os médicos cubanos passavam um mês estagiando no Hospital Público
de Doenças Tropicais de Araguaína.
“Neste
estágio eles se atualizavam sobre vacinação e doenças imunopreveníveis. De
malária, por exemplo, eles não sabiam nada, mas como tinham boa formação em
fisiopatologia aprenderam rápido.”
Medrado
conta que os médicos cubanos recebiam o mesmo salário que os brasileiros. “O
salário era de 8 mil ou 10 mil, uma fortuna para eles. O governo cubano cobrava
30% do que eles ganhavam independentemente se fosse do hospital público ou do
particular. E eles pagavam. Claro, o governo deu a educação.”
O
cirurgião-geral aposentado conta que o problema da falta de médico no Tocantins
foi solucionado, na época, “a partir da complementaridade” entre brasileiros e
cubanos.
“Não
tínhamos médicos brasileiros de todas as especialidades que precisávamos. Com a
vinda dos cubanos, os 17 hospitais ficaram com todas as especialidades”, disse. Ele conta que, antes
do projeto, conseguiam preencher apenas 50% das vagas com brasileiros. As
principais carências eram especialistas em ortopedia, anestesista e cirurgia.
De acordo
com Medrado, em 1995, havia apenas 64 leitos em todo o Estado – que tem 139
municípios. ”Com os cubanos foi para 2.640”, afirma.
O entrosamento
entre os médicos dos dois países não foi imediato. “É uma formação diferente.
Um é socialista o outro capitalista”, brinca o médico que teve a vida política iniciada
no PC do B, quando ainda era estudante de medicina na Universidade Federal da
Bahia (UFBA).
Medrado
conta também que logo os brasileiros passaram a atuar nas clínicas
particulares, enquanto os cubanos permaneciam no SUS.
“Porém o
dermatologista cubano é melhor que o brasileiro, né? E todo mundo ia se
consultar no SUS. Com o tempo os cubanos foram trabalhar também nas clínicas
particulares.”
Idioma e
doenças locais
Uma das
principais críticas do Conselho Federal de Medicinal para o atual projeto de
“importação” de médicos estrangeiros é rebatida por Medrado. Ele afirma que a
diferença de idioma entre médico e paciente no programa realizado no Tocantins
não era problema.
“É melhor
ter um médico que fale espanhol do que nenhum. Precisávamos resolver o problema
de falta de opção."
... http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-defesa-da-vinda-dos-medicos-estrangeiros
Tocantins tem experiência exitosa com médicos cubanos
O melhor texto sobre médicos estrangeiros li no Brasiliana.org, blog do Luis Nassif. A jornalista Maria Fernanda Ziegler assina a reportagem “Eles defendem a vinda de médicos estrangeiros para os rincões do País. Ela conta a experiência do estado do Tocantins com a contratação de médicos cubanos, quando o cirurgião dentista Eduardo Medrado era secretário da Saúde. Entre 1995 e 2002, vieram 90 médicos de Cuba. Foi uma experiência muito boa. No Tocantins, as casas eram de palha. “Qual médico brasileiro de classe média iria morar numa casa de palha?” perguntou sorrindo. Já Marco Aurélio da Rosa, doutor em Educação e Saúde pela Sorbonne é mais direto: “a questão não se resume á falta de interesse dos médicos brasileiros, na verdade, nossos médicos estão mal preparados e tem medo de ir para o interior, pois lá não encontram a mesma infraestrutura dos hospitais da capital. A questão está no tipo de Medicina ensinado, com base em alta tecnologia apenas e não no exame clínico. “Nossos médicos não sabem mais fazer uma boa clínica e baseiam seus atendimentos apenas em exames”, afirma o professor de Medicina. O problema não é dinheiro, já que existem salários de até R$ 20 mil.
LEIA NA
ÍNTEGRA:
Eles defendem a vinda de médicos
estrangeiros para os rincões do País.Por Maria Fernanda Ziegler
"
Nossos médicos não são bons clínicos e se baseiam só em exames. Não dá para equipar um hospital no interior com tantos equipamentos", diz doutor em Saúde
De sua
casa em Araguaína, interior de Tocantins, Eduardo Medrado, cirurgião geral
aposentado de 67 anos, observa a polêmica da vinda dos médicos estrangeiros ao
Brasil com atenção.
Em 1995,
então secretário estadual de Saúde, (do Tocantins) ele firmou um acordo com
Cuba para trazer médicos cubanos para o interior do Tocantins. “A ideia inicial
era ‘importar’ 200 médicos, mas, no fim, vieram 90 médicos distribuídos em
várias etapas entre 1995 e 2002”, diz.
“Foi
uma experiência muito boa. O médico cubano tinha formação socialista. Aqui no
Tocantins a maioria das casas era de palha. Qual é o médico brasileiro, de
classe média, que vai querer morar numa casa de palha?”, questiona Medrado,
com uma leve risada.
Marco
Aurélio da Rosa, doutor em Educação e Saúde pela Universidade de Sorbonne, na
França, e com pós-doutorado na Universidade de Bologna, Itália, também é
favorável à vinda de cubanos para os rincões do País. Para ele a questão não
se resume apenas à falta de interesse dos profissionais brasileiros em irem
para o interior, mas está relacionada principalmente com a má formação do
médicos no Brasil.
“Os
nossos médicos estão mal preparados e têm medo de ir para o interior, pois lá
eles não encontram a mesma infraestrutura que encontram em hospitais das
capitais do País”, diz o gaúcho, que atualmente é professor aposentado da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Rosa
também afirma que já foi comprovado que o problema não é dinheiro, pois muitas
prefeituras do interior oferecem altos salários, alguns chegam a R$ 20 mil.
Para ele,
o problema está no tipo de medicina ensinado, baseado apenas em exames de
alta tecnologia e não no exame clínico, que torna a oferta de emprego no
interior descolada da expectativa profissional dos recém-formados.
“Nossos
médicos não sabem mais fazer uma boa clínica e baseiam os seus atendimentos
apenas em exames. Não dá para equipar um hospital no interior do País com
tantos equipamentos assim para fazer exames”, disse.
Marco
Aurélio da Rosa, no entanto, é contra a vinda de médicos portugueses ou
espanhóis para o Brasil. “Os médicos da Espanha ou de Portugal vêm para cá para
disputar mercado com os nossos médicos nos grandes centros do País, pois não há
mais mercado para eles na Europa. Eles também não vão querer ir para o interior
do Brasil. Quem vai para lá é o médico cubano que recebe esta formação social e
a ideia é que eles fiquem por um período apenas”, disse.
De acordo
com o Rosa, o Brasil tem dois milhões de brasileiros em áreas sem atendimento
médico.
“Temos
6.602 unidades construídas e que estão sem médico, só com enfermeiro,
principalmente em regiões da Amazônia, interior do Nordeste. O que se pretende
fazer com isto? Quem topa ir para a Amazônia?”
De acordo
com o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto D'Ávila, há 1,8
médicos para cada mil habitantes no País. Porém, ele reconhece que há
desigualdade entre as regiões.
Experiência
no Tocantins
No
projeto do Tocantins, os médicos cubanos passavam um mês estagiando no Hospital
Público de Doenças Tropicais de Araguaína.
“Neste
estágio eles se atualizavam sobre vacinação e doenças imunopreveníveis. De
malária, por exemplo, eles não sabiam nada, mas como tinham boa formação em
fisiopatologia aprenderam rápido.”
No projeto
do Tocantins, os médicos cubanos passavam um mês estagiando no Hospital Público
de Doenças Tropicais de Araguaína.
“Neste
estágio eles se atualizavam sobre vacinação e doenças imunopreveníveis. De
malária, por exemplo, eles não sabiam nada, mas como tinham boa formação em
fisiopatologia aprenderam rápido.”
Medrado
conta que os médicos cubanos recebiam o mesmo salário que os brasileiros. “O
salário era de 8 mil ou 10 mil, uma fortuna para eles. O governo cubano cobrava
30% do que eles ganhavam independentemente se fosse do hospital público ou do
particular. E eles pagavam. Claro, o governo deu a educação.”
O
cirurgião-geral aposentado conta que o problema da falta de médico no Tocantins
foi solucionado, na época, “a partir da complementaridade” entre brasileiros e
cubanos.
“Não
tínhamos médicos brasileiros de todas as especialidades que precisávamos. Com a
vinda dos cubanos, os 17 hospitais ficaram com todas as especialidades”, disse. Ele conta que, antes
do projeto, conseguiam preencher apenas 50% das vagas com brasileiros. As
principais carências eram especialistas em ortopedia, anestesista e cirurgia.
De acordo
com Medrado, em 1995, havia apenas 64 leitos em todo o Estado – que tem 139
municípios. ”Com os cubanos foi para 2.640”, afirma.
O entrosamento
entre os médicos dos dois países não foi imediato. “É uma formação diferente.
Um é socialista o outro capitalista”, brinca o médico que teve a vida política iniciada
no PC do B, quando ainda era estudante de medicina na Universidade Federal da
Bahia (UFBA).
Medrado
conta também que logo os brasileiros passaram a atuar nas clínicas
particulares, enquanto os cubanos permaneciam no SUS.
“Porém o
dermatologista cubano é melhor que o brasileiro, né? E todo mundo ia se
consultar no SUS. Com o tempo os cubanos foram trabalhar também nas clínicas
particulares.”
Idioma e
doenças locais
Uma das
principais críticas do Conselho Federal de Medicinal para o atual projeto de
“importação” de médicos estrangeiros é rebatida por Medrado. Ele afirma que a
diferença de idioma entre médico e paciente no programa realizado no Tocantins
não era problema.
“É melhor
ter um médico que fale espanhol do que nenhum. Precisávamos resolver o problema
de falta de opção."
... http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-defesa-da-vinda-dos-medicos-estrangeiros