23 de junho de 2007

 

ESTÁ NA CARTA CAPITAL: PESQUISA REVELA QUE MÍDIA SE IRRITOU PORQUE LULA DEU CERTO.

Está explicado porque o povo não acredita na mídia brasileira.

A revista Carta Capital que está nas bancas (24 de junho) publica reportagem sobre uma pesquisa do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro) que mostra o comportamento da Folha, do Estadão, do Globo e do JB nas eleições presidenciais de 2006.

O cientista político do Iuperj e coordenador da pesquisa, Marcus Figueiredo, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim (SITE CONVERSA AFIADA) que, em 2006, a maior parte da cobertura da mídia foi contra Lula porque ele “acabou dando certo como Presidente no campo econômico e social”.

Marcus Figueiredo disse que a cobertura da mídia em relação ao presidente Lula foi mais negativa em 2006 do que em 2002. Segundo ele, em 2002 a cobertura da mídia foi negativa até que Lula divulgou a “Carta ao Povo Brasileiro”, onde se comprometeu, por exemplo, a manter compromissos internacionais e a política econômica austera.

Para o professor Figueiredo, o anti-lulismo da grande mídia se deve também ao fato de, como o Presidente Lula deu certo, haver uma alternância de poder, que interrompa o ciclo de governos oligáquicos, que a grande mídia representa.

A pesquisa do professor Figueiredo mostra que o Globo e o Estadão são, numa mídia contra o Presidente Lula, os dois órgãos de imprensa mais anti-Lula. A pesquisa mostra que os editoriais e os colunistas são ainda mais anti-Lula do que o noticiário. O resultado desse sistemático anti-lulismo, segundo o professor Figueiredo, resultará na perda de credibilidade da grande mídia.

LEIA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE MARCUS FIGUEIREDO:

PAULO HENRIQUE AMORIM – Eu vou conversar agora com professor Marcus Figueiredo, ele é cientista político do Iuperj e também é coordenador do Doxa, que é o centro de pesquisas sobre imprensa, opinião pública e meios de comunicação. Professor Figueiredo, o senhor vai bem?

Marcus Figueiredo – Tudo bem, Paulo?

PAULO HENRIQUE AMORIM – Vou bem, obrigado. A revista Carta Capital, que chega hoje às bancas aqui em São Paulo, publica uma pesquisa, uma reportagem com o resultado de uma pesquisa que vocês fizeram no Iuperj sobre o comportamento da imprensa na eleição presidencial de 2006. O senhor poderia resumir os principais resultados dessa pesquisa?

Marcus Figueiredo – Claro, com prazer. Esta é uma linha de pesquisa que estamos fazendo já há alguns anos. Neste ano, sobre as eleições de 2006, ficou absolutamente patente que a grande imprensa, os grandes jornais do Brasil tiveram comportamento muito enviesado contra a candidatura do presidente Lula. As razões pra isso podem ser de várias ordens.

Desde a questão do ponto de vista moral, do ponto de vista das articulações políticas, por conta de os escândalos todos que ocorreram nos últimos dois, três anos. Entretanto, essas são questões que fazem parte da política, que são resolvidas politicamente, foram resolvidas institucionalmente, algumas os principais assessores do presidente foram afastados, alguns foram punidos ou absolvidos pelo próprio Congresso de forma que, do ponto de vista institucional o presidente fez o que podia ser feito.

Entretanto, permaneceu como o tom da grande mídia esta oposição em relação à candidatura do presidente. Agora, chamo a atenção para um detalhe importantíssimo: o excesso e o tom mais alto de críticas era em direção às atividades políticas do presidente e da própria campanha.

Entretanto, quando a gente continua vendo os jornais – todos eles – e vamos pras páginas de economia, só aparecem notícias que são favoráveis ao governo e, obviamente, ao presidente Lula pela condução da economia e também na parte social.

Portanto, o que ficou absolutamente claro é que nós assistimos a uma cobertura que tinham dois lados, eram duas faces da mesma moeda, ou seja, numa face a mídia posicionou-se enviesada contra a candidatura. Na outra face, ela estava inteiramente favorável ao desempenho na área econômica e social do presidente.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Como é que o senhor explica essa esquizofrenia?

Marcus Figueiredo – Eu tenho uma leve impressão, que é extremamente difícil de demonstrar, que houve um total desencantamento com a figura, com o presidente na medida em que ele, pela sua história, acabou dando certo como um presidente.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Entendi. A mídia se irritou porque o Lula deu certo.

Marcus Figueiredo – E ela dando certo significa a possibilidade de uma alternância de poder substituindo as velhas lideranças, as velhas oligarquias, a velha elite que sempre comandou o país e sem conseqüências drásticas. Apenas, evidentemente, uma mudança de rumo na política.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Esse comportamento em 2006 difere em que do comportamento da grande mídia em 2002?

Marcus Figueiredo – A diferença, eu diria, é brutal. Veja bem, em 2002 o comportamento da mídia entre os meses de fevereiro até julho, o tom da crítica à candidatura do Lula era negativa. O saldo era sempre negativo.

A mídia colocou uma pauta e a pauta era o que aconteceria com a política econômica, com os contratos internacionais etc. em relação a uma possível vitória do Lula que se apresentava. A resposta do Lula e da campanha dele foi a edição da Carta ao Povo Brasileiro, comprometendo-se a manter os contratos e sustentar a política econômica, que é hegemônica.

Pois bem, a partir deste momento, isso tem data marcada, foi em meados de julho de 2002, todos os grandes jornais inverteram sua posição e o tom da crítica e a cobertura passou a ter saldo positivo. Ou seja, na medida em que o Lula comprometeu-se em não “botar fogo na casa”, mas manter os compromissos internacionais, manter a política econômica austera etc., a mídia resolveu dizer: “Então, tudo bem. Vamos deixar que ele ganhe a eleição”. Ele ganhou a eleição. Ele manteve a sua palavra, manteve a política econômica e o resultado tem sido nos últimos três anos altamente positivo pra economia brasileira, exceto, todo mundo sabe, problemas na área de pequenos negócios agrícolas e calçados por conta de várias coisas.

Paulo Henrique Amorim – Professor, o senhor analisou também editoriais e colunas? Porque no Brasil o chamado colunismo é um ingrediente importante dos jornais, né?

Marcus Figueiredo – Sim, claro.

PAULO HENRIQUE AMORIM – O senhor chegou a analisar isso?

Marcus Figueiredo – Sim, claro. Essa parte é importantíssima porque é aonde o tom geral aparece. Veja bem, todos os jornais dividem em duas partes a sua cobertura, editorias e colunas, e depois as matérias, as reportagens ....

PAULO HENRIQUE AMORIM – É verdade...

Marcus Figueiredo – As reportagens, de uma maneira geral, elas fazem uma cobertura nos padrões profissionais, internacionais, sem nenhum excesso, digamos assim, de viés com adjetivos, etc, etc. Porém, a parte chamada de opinião, editoriais e de colunas e de artigos, ela é altamente negativa para a candidatura do Presidente em 2006.

A única exceção tem que ser feita e tem que ser dita, foi a Folha de S. Paulo, porque ela tem uma política editorial, quando ela coloca um determinado tema, ela convida articulistas que são a favor e outros que são contra o determinado tema.

Portanto, nesse jornal há um certo equilíbrio. Veja bem, a nossa grande preocupação do ponto de vista analítico e do ponto de vista de avaliação do desempenho, não é nem a busca da “chapa-branca” e nem a busca da oposição sistemática, predatória etc. A nossa busca é o parâmetro do equilíbrio, do pluralismo. Não se trata de negar o direito à crítica.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Entendi.

Marcus Figueiredo – Mas abrir o espaço para a controvérsia. Porque nós trabalhamos com o seguinte conceito: a mídia em geral e a imprensa, inclusive, é um espaço público e, como espaço público, deve estar aberto para a pluralidade das opiniões.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Está certo. Agora, professor, o que o senhor chama de grande mídia? Que órgãos de imprensa o senhor pesquisou?

Marcus Figueiredo – Olha, os jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e o Jornal do Brasil. Compõem o carro-chefe, digamos assim. Por que esses jornais? Porque eles têm grande repercussão na classe política, na classe de formadores de opinião, de maneira geral e na elite.

É claro que é um trabalho, cuja interferência ou efeito no grande público ou no povão é relativamente pequeno... é pequeno porque não é um público leitor assíduo, sistemático e de leitura completa dos jornais. O povão, ele se nutre dos jornais na banca de jornal, a parte que fica pendurada na banca de jornal.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Agora, professor, uma última questão: a eleição do Presidente Lula em 2002 e mais ainda em 2006, nas circunstâncias dramáticas que levaram a eleição para o segundo turno, essa eleição significou uma derrota acachapante da mídia. O que o senhor acha que foi a conseqüência disso?

Marcus Figueiredo – A conseqüência eu acho que... não vi ainda a conseqüência, porque na medida que a mídia não conseguiu, parcialmente eu vou dizer... não conseguiu parcialmente alterar o processo eleitoral, isso deve servir de lição a ela qual é a sintonia dela em relação ao povo brasileiro, em relação à sociedade brasileira, em relação ao povão, que é em última instância aquele que decide.

Quando eu digo que foi uma derrota, no geral, uma derrota, mas parcialmente ela teve um efeito importante é que a vitória no primeiro turno que estava, por todas as projeções, evidenciada não aconteceu. E não aconteceu por causa da sistemática crítica ao comportamento do Presidente durante o primeiro turno.

Justiça seja feita, foram críticas fundadas, não foram críticas inventadas, não foram críticas estapafúrdias. O Presidente reconheceu os erros estratégicos que cometeu no primeiro turno. Mas de qualquer forma, o trabalho da mídia foi como resultado, um dos resultados positivo do ponto de vista da democracia, foi ajudar a forçar a existência do segundo turno quando então Lula se apresentou à população, ao eleitorado de forma correta e não soberba como ele estava no primeiro turno.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Uma outra questão: se analisarmos a mídia agora nos primeiros seis meses do segundo mandato, meio modestamente aqui no âmbito do meu site aqui no iG eu fiz essa pesquisa, a posição da mídia não mudou nada. Ela continua sistematicamente contra o Presidente Lula.

Eu pergunto, à medida que o Presidente Lula tem sucesso na sua política econômica, na sua política social, essa aflição da mídia como representantes dessas oligarquias não tende a se acentuar e não se pode chegar a uma situação política de impasse?

Marcus Figueiredo – Não, eu não acredito nessa possibilidade, porque a experiência da vitória em 2002 com a vitória em 2006 e com as instituições estando funcionando de forma normal, sem nenhum sobressalto, acho extremamente difícil que essa situação caminhe para um impasse de maior monta porque a fonte dessas coisas todas continuam sendo as investigações da Polícia Federal que acabam pegando alguém que está na ante-sala, ou na sala, ou na vizinhança do próprio Presidente.

PAULO HENRIQUE AMORIM - Na vizinhança do presidente?

Marcus Figueiredo – Na vizinhança do próprio presidente. Mas mais uma vez o presidente tem dado, o Lula tem dado demonstração de reconhecimento do que está acontecendo e sem usar o tradicional poder de influencia que ele tem pra orientar esse tipo de coisa.

Exemplo claro o que está ocorrendo com o irmão dele Vavá. O presidente, em momento algum, intercedeu a favor porque nós sabemos que no passado a elite usava sua própria influencia em situações desse tipo de modo que a permanência desta oposição sistemática, de crítica sistemática à atuação política do presidente eu acho que vai acabar minando a credibilidade dos jornais e o público vai se afastando.

Eu tenho exemplos de cancelamentos de assinaturas de jornais e revistas exatamente porque perdeu-se o espaço aonde o debate ocorre. Ao invés do debate o que está havendo é um discurso uníssono contra o governo do presidente.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Tá certo. Professor Marcus Figueiredo, foi um grande prazer captar suas avaliações sobre essa reportagem da Carta Capital.

Marcus Figueiredo – Muito obrigado, Paulo Henrique, fique à vontade. Quando precisar, estamos aqui.

22 de junho de 2007

 

Bahia se inspira na Venezuela e cria orquestras juvenis e infantis

Já estou vendo a reação irracional e exacerbada da revista Veja, da Folha e do Estadão. O Governo da Bahia decidiu criar o Projeto Neojibá (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), inspirado na experiência da Venezuela. Inspirado, e também conveniado com a Fundación del Estado para el Sistema Nacional del Orquestras Juveniles e Infantiles da Venezuela (Fesnojiv).

Trata-se de um projeto inovador, como tudo na Secretaria da Cultura comandada por Márcio Meirelles. Pela primeira vez na história, a Bahia vai executar um projeto de integração social através da prática orquestral. Em agosto, os primeiros monitores seguem para a Venezuela para treinamento pedagógico.

A Agência de Fomento do Estado da Bahia – Desenbahia, sucessora do Desenbanco, foi a primeira instituição a apoiar financeiramente o projeto. Através da Lei Rouanet, a Desenbahia vai direcionar todo o seu imposto de renda relativo a 2007 para o projeto Neojibá.

O pianista Ricardo Castro, gestor artístico da Orquestra Sinfônica da Bahia, sensibilizou a diretoria da instituição de fomento, que também se prepara para financiar microcrédito para artesãos da cultura. O projeto é financiado pelo Governo da Bahia e pela captação de recursos através da Lei Rouanet. A primeira instituição a responder ao apelo foi, portanto, a Desenbahia.

A Secretaria da Cultura não está para brincadeira. O primeiro núcleo vai funcionar a curto prazo no Teatro Castro Alves (TCA) e será formado por jovens que já tocam um dos seguintes instrumentos: clarineta, violino, saxofone, tuba, violoncelo, viola, contrabaixo, flauta, oboé, fagote, trompa, trompete, trombone e percussão.

Os participantes receberão formação pedagógica específica para atuar como monitores, ensinando nas fases seguintes às crianças iniciantes que entrarão nos núcleos. É essa turma que irá à Venezuela.

Para os fanáticos e reacionários antichavistas da mídia brasileira vou logo dando um aviso. Apesar do democrático presidente Hugo Chávez apoiar as orquestras juvenis e infantis, elas existem na Venezuela há pelo menos 31 anos. O intercâmbio entre Brasil e Venezuela será saudável para nossos povos.

Mais informações pelo e-mail neojiba@gmail.com

 

Agradecimentos

Quase nunca agradeço aos comentários. É que não dá tempo para manter essa sadia interatividade. Escrevo e fico torcendo para que os internautas reproduzam as matérias. Fico feliz quando citam e mesmo quando não citam a fonte. Meus textos estão liberados. Mas, tem hora que não dá para resistir. Agradeço ao César pelas várias citações e chamadas e ao Vavá pelo comentário.


César disse:
Coloquei uma chamada da matéria “A idiotice da Folha chega em Paris” no site Animot –animot.blogspot.com


César disse:
Belo trabalho de jornalismo cidadão. Eu não tinha conhecimento desses fatos.

César disse:
Coloquei uma chamada-resumo para essa postagem sobre “Surge uma esperança para Santo Amaro, cidade mais poluída por chumbo do mundo no Blogoleone
Blogoleone.blogspot.com

Vavá disse:
Parabéns pelo blog, já morei em Santo Amaro e sei o que sofre aquele povo. Espero que esteja próxima uma solução para este problema que se arrasta por conta da insensibilidade e irresponsabilidade dos governantes da Bahia.

César disse:
A respeito da matéria “A mídia se coloca a serviço dos militares da ditadura” lembro que Lamarca não desertou assim tão simples como quer o Estadão e os militares. Lamarca fez opção para lutar contra a ditadura.

 

Chávez e a mídia oligárquica

Agência Carta Maior
http://www.cartamaior.com.br/

O jornalista e professor Bernardo Kucinski comenta que ao não renovar a concessão da RCTV, Chávez ganhou tempo. Mas o problema maior continua, permanente, que é a vocação golpista da mídia latino-americana e o grande risco que isso representa para a democracia. A grande mídia já foi colaboracionista na França durante a ocupação nazista, fechou os olhos às violações dos direitos humanos nos EUA, foi leniente com as atrocidades das ditaduras latino-americanas. Não por acaso combate o Governo Lula. Essa é nossa agenda.

LEIA O ARTIGO NA ÍNTEGRA:

Chávez e a mídia oligárquica

Bernardo Kucinski

Será mesmo que Chávez cometeu um erro de cálculo ao não renovar a concessão da RTCV, como diz o jornalista Teodoro Petkoff, na sua entrevista a Gilberto Maringoni, nesta Carta Maior? Pode ser. Mas sugiro que se inverta a questão. Que se discuta em primeiro lugar a vocação golpista da mídia latino-americana.

E por que isso? Porque não é normal grandes jornais ou emissoras de tevê promoverem golpes para derrubar governos. Já as recaídas autoritárias de governantes fazem parte da normalidade política, mesmo na democracia. Kennedy, por exemplo, impediu o New York Times de revelar os preparativos de invasão de Cuba. Um Chávez mandão é o normal na esfera política. Uma mídia golpista é o patológico na esfera da comunicação jornalística. Essa é a aberração que nos cabe discutir. Essa é a nossa agenda. A mídia golpista prefere, é claro, a agenda “Chávez, o autoritário”.

A grande mídia já foi colaboracionista, como se viu na França durante a ocupação nazista, é quase sempre chauvinista em momentos de guerra, fechou os olhos a violações de direitos humanos por necessidades do imperialismo, como fez o New York Times com as atrocidades dos militares em El Salvador, e como faz a CNN agora no Iraque. Foi leniente com as ditaduras latino-americanas na época da Guerra Fria, mesmo as mais atrozes.

A grande mídia levou Nixon à renúncia, no escândalo Watergate. Mas quem estava tramando um golpe ali era Nixon, e não a mídia. Nesse episódio, a mídia americana demonstrou uma notável vocação antigolpista, isso sim. Frustrou uma tentativa de golpe. A grande mídia Ocidental não articula a derrubada de seus próprios governos, democraticamente eleitos.

A grande imprensa Ocidental pode ser em geral conservadora e sem dúvida se constitui no grande mecanismo de domínio pela persuasão. Mas desempenha esse papel de modo contraditório, com altos e baixos, também informa bastante, é critica, e freqüentemente se rebela, passando a exercer uma função contra-hegemônica, como na cobertura da guerra do Vietnã.

Isso de golpe pela mídia só mesmo na América Latina. O conceito nem se aplica à mídia européia ou americana. Mas aconteceu no Chile, em 1973, no Brasil, em 1954, e na Venezuela de Chávez, além de tentativas mal-sucedidas, como o golpe da Globo contra Brizola na eleição para o governo do Rio de Janeiro, e os episódios “paragolpistas” da edição de debate Collor-Lula pela Globo na nossa primeira eleição direta para presidente depois da ditadura.

E por que a grande imprensa latino-americana é golpista? Porque é uma mídia de grandes famílias, originalmente os grandes proprietários de terras. Eles e seus sucessores dominam o aparelho de Estado, definem as políticas públicas, ora repartindo o poder com os bancos, ora com uma incipiente burguesia industrial, mas são sempre eles. Não por acaso, a maior bancada do Congresso Nacional é a bancada ruralista.

Essa elite nutre uma visão de mundo composta por três elementos principais:

1)subserviência ao poder maior, que é o poder dos norte-americanos na região, como forma até mesmo de auto-proteção;

2) resistência a todo e qualquer projeto nacional;

3) desprezo pelo povo. Essa é a burguesia que nos coube na divisão do mundo promovida pelos Europeus durante a expansão mercantil e colonização do Novo Mundo. É a burguesia de uma economia dependente. Atavicamente antinacional e elitista.

Sua imprensa tem função muito mais ideológica do que informativa. Quando surge um governo com propostas de desenvolvimento autônomo e distribuição de renda, faz de tudo para derrubá-lo. Instala-se uma guerra. Primeiro tenta evitar que seja eleito.

Daí o forte engajamento nas campanhas eleitorais contra os candidatos nacionalistas ou portadores de propostas transformadoras. Depois parte para o pau em conluio com militares golpistas. Foi assim com Getúlio, Allende. Até Juscelino, que deu um chega-pra-lá no FMI e tinha um projeto de país, foi bombardeado pela grande imprensa. O que ela quer são governos que privatizam, desnacionalizam, entregam, são entreguistas.

Não por caso, combate ferozmente a política externa de Lula. Preferem a Alca. Chama isso de realismo político, mas é apenas subserviência. Necessidade de ser dependente. Tem pavor de projetos de autonomia nacional e mais ainda de propostas de unidade latino-americana. Nem o Mercosul engoliram.

Nunca aceitaram o Estado que chamam pejorativamente de “populista”. Isso ficou muito claro na Revolução de 30. Mesmo no bojo dessa revolução que deveria marcar o fim da hegemonia agrário-exportadora, Getúlio aplicou a censura prévia, rígida e abrangente, sobre todos os meios de comunicação e produção artística e cultural, a ainda teve a precaução de cooptar a maior cadeia de rádio e de jornais da época, a dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand.

Não foi o autoritarismo de Getúlio, assim como não é o de Chávez, que geram o antagonismo da mídia oligárquica. É o caráter nacional-desenvolvimentista de seus projetos políticos. Tanto é assim que, quando Getúlio voltou ao poder pelo voto, sofreu intenso bombardeio e, de novo, entendeu que o combate à mídia oligárquica era essencial á sua sobrevivência. Apenas mudou de tática. Estimulou Samuel Wainer a fundar a cadeia Última Hora.

O fato é que a grande imprensa tem sido arma recorrente dos golpistas. Usa o pretexto principal da luta contra a corrupção, seduzindo com isso a classe média recalcada, mas seu verdadeiro objetivo tem sido sempre o de derrubar o estado nacional-desenvolvimentista.

Quando toda a região abandona o Consenso de Washington em busca de um novo modelo que alie desenvolvimento com redistribuição de renda, agora com o reforço da unidade continental, a vocação golpista da mídia latino-americana torna-se um dos problemas centrais da democracia.

Chávez deve ter feito esse diagnóstico. E partiu para a guerra. Com as armas que tinha, no contexto atual, dentro das regras do jogo. Dividiu a oligarquia da imprensa, cooptando Cisneros, dono do maior conglomerado de mídia e, não renovando a concessão da RCTV, como que sinalizou aos demais o que lhes pode acontecer se saíram da linha.

Resolveu o seu problema, ou talvez só tenha ganhado tempo. Nós continuamos com o problema maior, permanente, da vocação golpista da mídia latino-americana e o grande risco que isso representa para a democracia. Essa é nossa agenda.

* Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).

21 de junho de 2007

 

Surge uma esperança para Santo Amaro, cidade mais poluída por chumbo do mundo

Santo Amaro da Purificação, terra de Caetano Veloso e Maria Betânia, detém o título de cidade mais contaminada por chumbo de todo o planeta. Durante 33 anos a Companhia Brasileira de Chumbo – Cobrac (controlada pela francesa Peñarroya Oxyde S.A.) despejou ali 490 mil toneladas de rejeitos.

A terra contaminada foi parar nos rebocos das casas, nas vias públicas, no leito do rio Subaé e no corpo das pessoas. O chumbo provocou saturnismo em centenas de trabalhadores e suas famílias.

O saturnismo afina os braços, provoca dores, causa impotência sexual nos homens e aborto nas mulheres. Há registros de um índice elevado de nascituros sem cérebro. Há anos uma Associação das Vítimas Contaminadas por Chumbo, Cádmio, Mercúrio e Outros Elementos Químicos - AVICCA, luta por atenção dos governos.

Com excesso de metais pesados na água e no solo registram-se altos índices de anemia, câncer do pulmão, lesões renais, hipertensão arterial, doenças cérebro-vasculares e alterações psicomotoras. Santo Amaro é um eterno “case” para faculdades de Medicina de São Paulo e da Bahia.

Com o Jaques Wagner surge uma luz no fim do túnel. O Centro de Recursos Ambientais (CRA) acaba de conceder licença para implantação da fábrica Bolland do Brasil, que pretende re-processar os resíduos de metais pesados, lixo tóxico que forma duas montanhas nas franjas da cidade.

Em 2005 estive em Santo Amaro, juntamente com o então deputado estadual Emiliano José (PT). Fomos acompanhar uma equipe de jornalistas franceses. Eles se interessaram pelo assunto instigados pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil.

A LUTA DE SANTO AMARO É ANTIGA

Em plena ditadura militar, um grupo de jornalistas baianos editou um jornal alternativo chamado Invasão. Edição única, com tiragem de cinco mil exemplares, o tablóide saiu no dia 01 de março de 1977, com a manchete CHUMBO NELES e uma foto imensa de um operário negro com as mãos para o alto. O subtítulo completava a informação: A Companhia Brasileira de Chumbo está envenenando o sangue dos operários.

A reportagem, assinada pelos jornalistas Emiliano José, Linalva Maria de Souza, Carlos Navarro Filho, com fotos de Milton Mendes, denunciava a poluição por chumbo e cádmio causada pela fábrica da Companhia Brasileira de Chumbo - Cobrac, em Santo Amaro da Purificação, Bahia.

O texto do jornalista e escritor Emiliano José, registrado no livro “Os Baianos Que Rugem”, alertava: É na boca do forno, no interior da fábrica, que as conseqüências são mais graves, embora sempre as menos difundidas pela imprensa e até pelos técnicos e autoridades acadêmicas que têm se dedicado ao estudo da poluição pelo chumbo e pelo cádmio.

Ali se respira chumbo o dia todo, sem parar. Ali é que se contrai facilmente o saturnismo, ou intoxicação saturnina, exótico nome de uma doença que afina os braços, provoca dores agudas por todo o corpo, causa impotência sexual nos homens e aborto nas mulheres.

Em julho de 2005, na condição de deputado estadual pelo PT, Emiliano José voltou - 28 anos depois de sua reportagem - ao local da famigerada fábrica, a convite de Adailson Pereira Moura, presidente da Associação das Vítimas Contaminadas por Chumbo, Cádmio, Mercúrio e Outros Elementos Químicos - AVICCA, uma ONG local que luta até hoje para a apuração das responsabilidades, defende apoio às famílias, indenização para as vítimas ainda vivas, e se propõe a acionar programas de educação ambiental e proteger as crianças que se expõem à terra e água contaminadas pelo chumbo.

FRANCESES NA BAHIA

Dia 7 de setembro de 2005, jornalistas europeus chegaram a Santo Amaro para conhecer a tragédia humana e ecológica provocada pela empresa francesa Peñarroya que, em 1960, criou a Companhia Brasileira de Chumbo - COBRAC, que passou a se chamar Plumbum Mineração e Metalurgia, depois que foi vendida em 1989 ao Grupo Trevo.

Desativada em 1993, deixou um rastro de poluição e doença, uma herança maldita de 500 mil toneladas de escória de chumbo, o que significa dez mil toneladas do metal espalhado pela cidade e por suas imediações, inclusive a Baía de Todos os Santos, onde deságua o rio Subaé, com sua carga mortal de chumbo e cádmio, ainda nos dias atuais.

Estudos da UFBA classificam Santo Amaro como o município mais contaminado por chumbo do mundo. Apesar de novas e premiadas reportagens, ações no Ministério Público e programas do governo do Estado, a população - principalmente velhos e crianças - continua exposta à poluição por metais pesados.

O deputado Emiliano José (PT), depois da visita a Santo Amaro, onde encontrou pregadas na parede da AVICCA as páginas amareladas de sua reportagem, abordou o assunto na Assembléia Legislativa e fez uma pergunta: por que o governo da Bahia se cala?

Dirigia-se à época ao governador Paulo Souto (DEM). Agora, o governo está falando.

20 de junho de 2007

 

A mídia se coloca a serviço dos militares da ditadura

Alguns jornalistas por ignorância, outros por má-fé e muitos porque se colocam mesmo a serviço do pensamento da direita militar que ainda defende o golpe militar de 1964 e todos os crimes dele decorrentes. Falo do tom das “notícias” sobre a justa indenização à família do capitão Carlos Lamarca, assassinado covardemente no sertão da Bahia em 17 de setembro de 1971.

A mídia dissemina dois pontos da luta ideológica dos militares de direita.

PRIMEIRO, praticamente desconhece a Lei da Anistia de 1979. A Lei da Anistia anistiou os combatentes contra a ditadura, todos, tanto os que estavam presos, como exilados ou ainda na clandestinidade e também os militares torturadores, seqüestradores e homicidas pertencentes aos aparelhos policiais-militares. Não há razão para excluir Lamarca da Lei da Anistia.

SEGUNDO, a Justiça já tinha decidido que Lamarca tinha sido assassinado, cabendo, portanto, à União, a responsabilidade de reparar a malfeitoria dos militares da ditadura. Isso ficou comprovado desde que veio à luz o Laudo Pericial do Instituto Médico-Legal da Bahia, desaparecido durante 25 anos.

O laudo pericial do IML baiano, descoberto em reportagem do jornalista Bernardino Furtado para o jornal O Globo em 1996, comprovou que Lamarca levou três tiros pelas costas, caiu portanto imobilizado, logo depois levou mais quatro tiros pela frente. Três deles na região do peito e um à queima-roupa direto no coração.

Lamarca podia ser preso vivo, mas foi executado. Até nas guerras há respeito por prisioneiros, como todo mundo sabe, menos para o Exército Brasileiro que decepou cabeças, torturou, executou prisioneiros e desapareceu com os corpos.

Não é novidade a posição dos grandes jornais. A Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, entre outros, apoiaram abertamente o golpe militar de 1964 que infelicitou a Nação por 24 anos. Não mudaram. Continuam a serviço do pensamento totalitário da caserna.

Alguns “formadores de opinião” indagam se é correta a pensão à família de Lamarca. Nenhum dinheiro paga uma vida. Os familiares - viúva e dois filhos - foram indenizados em R$ 100 mil cada um. São R$ 300 mil ao todo, mas, ainda assim não pagam uma vida. Já a pensão da viúva calculada em R$ 12.125,00 segue o mesmo critério da pensão paga às viúvas dos militares. Tendo sido anistiado, a família tem o mesmo direito de todos os militares.

Não cabe a discussão desfocada dos crimes de Lamarca. A Lei da Anistia anistiou a todos. A ditadura é que está saindo cara ao país, não as indenizações legítimas. Se o Exército cometeu crimes, a União tem que fazer as reparações. Se a polícia cometeu crimes, a mesma coisa. Por muitos anos ainda o Brasil vai pagar os prejuízos causados pelos militares golpistas.

Eu, por exemplo, por uma questão de foro íntimo, não entrei com processo contra a União por ter ficado quase um ano preso na década de 70. Seis meses na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora (MG) e quatro meses entre o Quartel do Barbalho e a câmara de tortura do DOI-CODI do Recife (PE). Mas tenho direito. Se mudar de idéia é líquido e certo. A lei me garante indenização.

Está faltando jornalismo nas revistas e jornais do Brasil.

 

Continua boataria sobre a morte de ACM

A Bahia só fala na morte do senador ACM. Até 20h22 não tinha se confirmado. Nas repartições públicas, estaduais e municipais, só se falava nisso. Até eu, que não tenho nada com isso recebi telefone para “confirmar” a notícia. Os telefones da TV Bahia não pararam de tocar. Ninguém sabia de nada.

Naturalmente, a boataria se deu porque o senador ACM continua internado no Incor, em São Paulo. É um paciente de risco, é cardíaco, tem diabetes e doença renal.

Chegado da Espanha, o governador da Bahia, Jaques Wagner telefonou à tarde para o senador. Segundo o Terra Magazine eles se falaram por alguns segundos.

Wagner, que é governador de todos os baianos, queria notícias sobre a saúde do senador diante da boataria que se espalhou pelo país. Wagner desejou “pronto restabelecimento” ao senador.

Wagner é generoso. Pronto restabelecimento é impossível diante do estado do velho coronel.

ACM ainda está vivo. O que está morto é o carlismo.

18 de junho de 2007

 

Ex-jornalista da RCTV prova que é possível manter a dignidade

Ex-jornalista da RCTV acusa rede de articular golpe

CARACAS - Andres Izarra vivenciou um dos mais dramáticos episódios do golpe de 11 de abril de 2002, na Venezuela. É um exemplo de que jornalista pode ter dignidade e não vender a alma aos patrões.

Ao perceber o cerco midiático que a Rede Caracas de Televisión (RCTV), da qual era chefe de reportagem, protagonizava, juntamente com outros canais privados, pediu demissão em plena crise institucional.

O jornalista denunciou a articulação entre os meios de comunicação privados e os golpistas. Com a volta de Chávez ao poder, foi nomeado, meses depois, ministro das Comunicações.

Agora, como presidente da Telesur, o canal internacional patrocinado pelos governos da Venezuela, de Cuba, da Argentina e do Uruguai, Izarra faz planos para expandir o alcance da rede. Em Caracas, Andres Izarra concedeu entrevista a Gilberto Maringoni, da Agência Carta Maior:

NA AGÊNCIA CARTA MAIOR VOCÊ ENCONTRA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A RCTV DA VENEZUELA

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Leia a entrevista na Íntegra:

Carta Maior – O que motivou a não renovação da concessão da RCTV?

Andres Izarra – Naqueles dias de abril de 2002, a RCTV mostrou-se como uma grande estruturadora, articuladora, incentivadora e propulsora do golpe de Estado. Defendeu as posições das câmaras empresariais e se colocou como instrumento do blecaute informativo sobre o que ocorria quando o povo foi às ruas exigir o respeito à democracia. Além disso, tornou-se peça chave do que ficou conhecido como um golpe continuado, com distintos capítulos, à medida em que a conjuntura evoluía.

CM – Como assim?

Izarra – Eles participaram do golpe de abril, do paro petroleiro, entre fins de 2002 e começo de 2003, e participaram das guarimbas, que foram manifestações violentas nas ruas. Além disso, conjuntamente com outros canais privados, deixaram de veicular publicidade e passaram a transmitir dezenas de chamadas durante 64 dias, destinadas a desestabilizar o país e provocar um golpe. Esses spots eram da Coordenadoria Democrática [coalizão dos partidos de oposição] e visavam criar uma situação de terrorismo psicológico. Estes tipos de ações seriam inconcebíveis em qualquer outro país. Isso só existe quando há um governo extremamente tolerante e democrático, como o da Venezuela. Chegaram ao cúmulo de transmitir pronunciamentos de militares uniformizados e armados chamando à sublevação e ao não reconhecimento do governo nacional. Agora abraçam o discurso da liberdade de expressão, como se ela não existisse. A RCTV tem todos os seus equipamentos conservados intactos e podem transmitir por cabo o que quiserem.

CM – Por que apenas a RCTV não tem sua concessão renovada, se os outros canais privados também se envolveram no golpe?

Izarra –A Venevisión, a Televén são canais que, depois do referendo [de agosto de 2004], resolveram deixar de fazer política e fazer televisão. Não estou dizendo que se autocensuraram. O canal 10, por exemplo, segue crítico ao governo. Mas eu não sou ministro de Comunicações, sou diretor de um canal. Ele pode lhe responder sobre isso [Carta Maior tentou marcar uma entrevista com William Lara, Ministro das Comunicações, mas não conseguiu].

CM – Por que há tanta repercussão sobre este episódio da RCTV no plano internacional?

Izarra – Há uma campanha. O problema é que o exemplo dado pela Venezuela, mostra que este conglomerado de meios de comunicação não pode impor tudo o que quer. Os donos desses meios, associados à Sociedade Innteramericana de Prensa (SIP), têm a seguinte doutrina: o espaço público é privado e a concessão dura para sempre. Eles precisam saber que aqui não há nada acima do Estado e que na Venezuela se cumpre a lei. O receio é que este exemplo de soberania dado pela Venezuela se multiplique por outros países, nos quais os meios cometem tantos abusos como aqui.

CM – Já houve situações semelhantes, antes do governo Chávez, em relação aos meios de comunicação?

Izarra - O comportamento da RCTV não é novidade. Em 1976, durante o governo de Carlos Andrés Pérez, a lei determinou a suspensão das transmissões por três dias, por difundir notícias falsas e tendenciosas. Em 1980, a RCTV foi fechada por 36 horas por sensacionalismo, no governo de Luís Herrera Campins. Um ano depois, foi suspensa 24 horas, acusada de veicular programação pornográfica. Isso se repetiu em 1984, por ridicularizar o mesmo presidente. Em 1989, a lei determinou nova suspensão, por transmitir publicidade de tabaco. Em 1991, um programa foi tirado do ar, no segundo governo Pérez. Isso não foi no governo Chávez!

CM – O senhor pediu demissão da chefia de reportagem da RCTV no dia seguinte ao golpe de Estado de 2002. Como foi isso?

Izarra – Havia instruções diretas: zero de chavismo na tela e nada relacionado ao governo podia ir ao ar. Havia pressão direta. Quando eu saí, denunciando essas práticas, ninguém falou que era censura, ninguém se solidarizou, nem sindicatos, nem a SIP, nem os Repórteres Sem Fronteiras, nem a Federação Internacional de Jornalistas e nem ninguém. Isso diz muito sobre quem é essa gente. Hipócritas! Falsos! Medíocres! Baratos! Para mim, não merecem nenhum respeito.

CM – Como estão as perspectivas de Telesur?

Izarra – A Nicarágua acaba de se incorporar à rede e esperamos que o Equador também venha. Continuamos crescendo muito, pois há bastante demanda. Vamos lançar agora o sinal em português, juntamente com o governo do Paraná. O governador Roberto Requião tem sido um entusiasta da Telesur e um aliado importante e estratégico. Nosso sinal é aberto e gratuito a quem queira retransmití-lo. Em setembro, nosso sinal chegará a Europa. E estamos incrementando produções locais em cada país, além da rede de correspondentes. Já temos sucursais nos Estados Unidos, México, Cuba, Nicarágua, Peru, Equador, Colômbia, Bolívia, Brasil, Buenos Aires, Uruguais, entre outras. Temos também muitas dificuldades por sermos um canal anti-hegemônico. Somos como a Al-Jazira, que nas invasões do Afeganistão e Iraque mostrava o ponto de vista dos bombardeados e não dos que lançavam as bombas. Acabo de regressar do Equador, onde uma equipe nossa foi ameaçada de morte. Há um ano, nosso correspndente na Colômbia foi preso, injustamente acusado de estar ligado aos narcotraficantes. As redes de distribuição a cabo tentam nos impedir de crescer. Os monopólios Televisa, no México, Clarín, na Argentina, Globo, no Brasil, entre outros, nunca cederão espaço a Telesur.

CM – A nova rede, a TVes fará parte da rede Telesur?

Izarra – Não. Penso que TVes, a nova televisão de serviço público, é o maior desafio deste governo. É um projeto em construção. É prematuro avaliar seus resultados, pois levará um tempo até ser abraçada pelo público, sobretudo quando se pensa numa programação distinta da existente, evitando-se colocar lixo no ar. Não é difícil fazer uma televisão melhor que a RCTV. Ao mesmo tempo não será fácil fazer uma emissora popular realmente de qualidade.

 

Bahia democratiza Beethoven, Chopin e Debussy

Beethoven a um real no Teatro Castro Alves

Domingo (17) desviei minha rota da praia e fui ao Teatro Castro Alves, na Sala Principal, muito bem acompanhado. O pianista Ricardo Castro, gestor musical da Orquestra Sinfônica da Bahia se apresentou em Recital. Beethoven, Chopin e Debussy. A um real a entrada. Foi um espetáculo de diversas linguagens. Domingo no TCA é uma promoção conjunta da secretaria de Cultura do Estado da Bahia e Fundação Cultural. Os cambistas dançaram, porque ingressos só foram vendidos na hora. Vi a classe média no público, com crianças bem-comportadas, mas, também senti cheiro de povo.

Ricardo Castro apresentou o recital “Sonhos” e interpretou Beethoven, Chopin e Debussy em companhia de convidados. Com Lucas Robatto, primeiro-flautista da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), interpretou Prélude à l'après-midi d'un Faune (Prelúdio à Tarde de um Fauno), um Poema Sinfônico de Claude Debussy; Também executou Noturno de Chopin Op. 55 n. 1 com participação de dançarinos da Companhia Gicá do Projeto Axé, sob direção de Lia Robatto. A abertura da ópera Xerxes, de Handel, foi interpretada pela cantora Silvane Rosa e integrantes da Bandaxé fazendo voz e percussão.

Ricardo Castro fez ainda uma homenagem a Franz Liszt, criador do recital de piano. Ao final, Ricardo Castro explicou ao público seu projeto social para a Orquestra Sinfônica da Bahia. Ainda deu tempo para projetar um documentário sobre projeto semelhante que existe na Venezuela, com apoio da Unesco e entidades internacionais. Cameratas nos bairros populares, nas escolas públicas, envolvem talentos saídos do povo. Este será o destino da Orquestra Sinfônica da Bahia.

Márcio Meirelles veio para fazer uma revolução na cultura da Bahia.

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