20 de junho de 2007

 

A mídia se coloca a serviço dos militares da ditadura

Alguns jornalistas por ignorância, outros por má-fé e muitos porque se colocam mesmo a serviço do pensamento da direita militar que ainda defende o golpe militar de 1964 e todos os crimes dele decorrentes. Falo do tom das “notícias” sobre a justa indenização à família do capitão Carlos Lamarca, assassinado covardemente no sertão da Bahia em 17 de setembro de 1971.

A mídia dissemina dois pontos da luta ideológica dos militares de direita.

PRIMEIRO, praticamente desconhece a Lei da Anistia de 1979. A Lei da Anistia anistiou os combatentes contra a ditadura, todos, tanto os que estavam presos, como exilados ou ainda na clandestinidade e também os militares torturadores, seqüestradores e homicidas pertencentes aos aparelhos policiais-militares. Não há razão para excluir Lamarca da Lei da Anistia.

SEGUNDO, a Justiça já tinha decidido que Lamarca tinha sido assassinado, cabendo, portanto, à União, a responsabilidade de reparar a malfeitoria dos militares da ditadura. Isso ficou comprovado desde que veio à luz o Laudo Pericial do Instituto Médico-Legal da Bahia, desaparecido durante 25 anos.

O laudo pericial do IML baiano, descoberto em reportagem do jornalista Bernardino Furtado para o jornal O Globo em 1996, comprovou que Lamarca levou três tiros pelas costas, caiu portanto imobilizado, logo depois levou mais quatro tiros pela frente. Três deles na região do peito e um à queima-roupa direto no coração.

Lamarca podia ser preso vivo, mas foi executado. Até nas guerras há respeito por prisioneiros, como todo mundo sabe, menos para o Exército Brasileiro que decepou cabeças, torturou, executou prisioneiros e desapareceu com os corpos.

Não é novidade a posição dos grandes jornais. A Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, entre outros, apoiaram abertamente o golpe militar de 1964 que infelicitou a Nação por 24 anos. Não mudaram. Continuam a serviço do pensamento totalitário da caserna.

Alguns “formadores de opinião” indagam se é correta a pensão à família de Lamarca. Nenhum dinheiro paga uma vida. Os familiares - viúva e dois filhos - foram indenizados em R$ 100 mil cada um. São R$ 300 mil ao todo, mas, ainda assim não pagam uma vida. Já a pensão da viúva calculada em R$ 12.125,00 segue o mesmo critério da pensão paga às viúvas dos militares. Tendo sido anistiado, a família tem o mesmo direito de todos os militares.

Não cabe a discussão desfocada dos crimes de Lamarca. A Lei da Anistia anistiou a todos. A ditadura é que está saindo cara ao país, não as indenizações legítimas. Se o Exército cometeu crimes, a União tem que fazer as reparações. Se a polícia cometeu crimes, a mesma coisa. Por muitos anos ainda o Brasil vai pagar os prejuízos causados pelos militares golpistas.

Eu, por exemplo, por uma questão de foro íntimo, não entrei com processo contra a União por ter ficado quase um ano preso na década de 70. Seis meses na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora (MG) e quatro meses entre o Quartel do Barbalho e a câmara de tortura do DOI-CODI do Recife (PE). Mas tenho direito. Se mudar de idéia é líquido e certo. A lei me garante indenização.

Está faltando jornalismo nas revistas e jornais do Brasil.

Comments:
Há mais um aspecto importante nesta discussão, como mostrou La Vieja: em 1/4/1964, "nacionalistas" capitalizados pelos EUA tomaram o poder à força, e, como Rousseau bem mostrou, não nasce direito da força, e aquele que a obedece o faz enquanto precisa porque tem juízo, retomando o que é seu de direito, o poder, tão logo possa. Ora, Lamarca agiu de acordo com tais princípios, lutando contra a usurpação do poder. Ou seja, além do aspecto legal da discussão, há o aspecto político, segundo o qual Lamarca estava agindo da maneira apropriada, e não simplesmente "desertando", como sugere o jornal FolhEstado de São Paulo, aparelho da oligarquia brasílica.
 
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