1 de março de 2013

 

Jornalista reclama da democratização na publicidade


Fernando Rodrigues é um inteligente articulista da Folha de São Paulo. Ele afirma que a democracia aperfeiçoou a publicidade criada na ditadura (27/02/2013, página A10). Confunde propositadamente a propaganda ufanista da ditadura militar do “Brasil Grande” com a publicidade pós Constituição de 1988, que considera uma obrigação do governo informar os cidadãos.

O inacreditável é que, em tom de reclamação, informa que quando Lula assumiu 499 veículos da mídia estavam habilitados a receber propaganda federal. Em 2011 já eram 8.519 veículos da mídia. Ele cita o fato de o PT ter democratizado a distribuição das verba publicitária.

Mas questiona:

O Brasil precisa mesmo gastar mais de R$ 1 bilhão em propaganda ao ano?

Será que os veículos de pequeno porte pelo país afora conseguem se manter independentes quando a fonte de suas receitas é majoritariamente estatal?

As duas perguntas revelam a verdadeira intenção de sua “análise”. Ele fala pela mídia hegemônica, ele fala como porta voz das famílias proprietárias daqueles 499 veículos que sempre mamaram nas verbas dos governos.

Os grandes veículos da mídia estão revoltados com a democratização da distribuição das verbas de propaganda, nos dois governos Lula e agora com Dilma Rousseff. Eles querem exclusividade.

Acham um absurdo o governo Dilma e os governos Lula terem dividido o “dinheiro deles”. Isso explica porque a mídia ataca sistematicamente o PT, Lula e Dilma.

Até parece que o jornalista Fernando Rodrigues não sabe de onde sai o salário que a Folha lhe paga. Não é também da publicidade oficial?

26 de fevereiro de 2013

 

Política e democracia


Cláudio Carvalho, psicanalista, professor de história e filosofia, publicou o artigo "Política e democracia" no jornal A Tarde:

Política e democracia

Com o fim do poder político-teológico, o mundo ocidental inclinou-se na direção de novas formas de organização social e política não mais baseadas numa verticalidade do poder, mas, sim, na horizontalidade política.

Se para o mundo pré-moderno os laços de sangue e o lugar de nascimento cimentavam a ordem social, com o advento da modernidade, a liberdade individual e a passagem de súdito a cidadão promoveram um empuxo à participação dos indivíduos na atividade política da polis.

Democracia foi a palavra a condensar os anseios por uma maior participação dos indivíduos nas decisões coletivas antes as questões sociais emergentes em mundo mais complexo. A erosão do poder piramidal aumentou a responsabilidade e a angústia dos sujeitos confrontados a cada manhã com questões antes adormecidas pela transferência de um   suposto saber a um poder transcendente, encarnado na figura do rei ou do papa, a ocupar esse lugar de exceção no exercício do poder soberano.

Essa dispersão do poder teve início com a modernidade e continua em curso em nossa época, num movimento descontínuo, a nos interrogar.

Se nos desembaraçamos do poder soberano, fundamentado na ficção político-teológica, não podemos nos desvencilhar desse espaço terceiro, a casa vazia, do lugar de exceção.

Mas a quem cabe, hoje, habitar este vazio?

Como podemos reconhecer a legitimidade do poder numa sociedade configurada em rede, horizontalmente e assentada sob o princípio da igualdade?

Penso que essa resposta só pode estar do lado do exercício da política e do trabalho infinito de aprofundamento e consolidação da democracia – única forma de governo a levar em  consideração o lugar de exceção como vazio, não pertencente a ninguém em particular, por estar sujeito à renovação periódica através do confronto de idéias e projetos assumidos na cena política.

Em tempos onde a pauta monocórdia da corrupção predomina nos noticiários políticos, onde a proposta de criação de siglas partidárias anódinas é marcada pela indigência ideológica, urge assumir a política como caminho para defender e consolidar a democracia.
 
(Publicado originalmente em A Tarde (26/02/2013) Página A3 – Opinião).

25 de fevereiro de 2013

 

Steven Spielberg mostra como Lincoln libertou 4 milhões de negros nos EUA


Steven Spielberg, com seu majestoso filme “Lincoln”, mostra como o religioso presidente dos Estados Unidos usou a guerra civil, que matou mais de 600 mil cidadãos, para acabar com a escravidão e libertar 4 milhões de negros. Considerado o mais correto e puro político da pátria, Abraham Lincoln, o 16º presidente dos EUA, mandou, literalmente, comprar 20 votos que faltavam no Congresso, para completar os dois terços necessários para aprovação, em 1865, da 13ª Emenda à Constituição que rezava: “Todos os homens são iguais perante a lei”.
Sem falso moralismo, orientou seu Secretário de Estado a encontrar “homens sem escrúpulos” para identificar 64 parlamentares “patinhos” (hoje chamados de baixo clero) e entre eles conseguir os 20 votos necessários que faltavam entre os congressistas do Partido Democrata.  Valia todo tipo de mensalão: promessas de altos cargos na República, fazendas, dinheiro em espécie.  Lincoln também usou a mentira, simples assim, ao informar ao Congresso que não havia comitiva de emissários das forças confederadas rebeldes em negociação com o governo da União. E havia. Portanto, para abolir a escravidão sujeitou-se ao risco de impeachment.

Lincoln, interpretado magistralmente por Daniel Day-Lewis, foi um fenômeno político. Eleito e reeleito presidente, num país conflagrado em sangrenta guerra civil, conversava pessoalmente com soldados, negros e brancos, ganhava tempo com seus próprios correligionários republicanos contando histórias e citando metáforas, e possuía enorme capacidade de fazer alianças políticas com escravocratas republicanos e democratas, radicais e moderados. Aos abolicionistas radicais, orientou evitar o discurso da “igualdade entre os homens”, responsável pela derrota da 13ª Emenda na primeira tentativa dois anos antes. A expressão era considerada um “insulto a Deus e contrária à Lei Natural”, mesmo entre republicanos.
É impressionante como o perfil do ex-presidente Lula se parece com o do presidente Lincoln. Ambos, não sabiam de nada. Ambos, eram amados pelo povo. Ambos, vieram das classes trabalhadoras. Ambos, tinham coragem e força moral para tomar decisões.  Ambos, enfrentaram a imprensa. Ambos possuíam uma admirável capacidade de conversar e fazer alianças com adversários.

Para libertar 4 milhões de escravos negros, Lincoln manipulou o fim da guerra civil como arma política. Enfrentou os jornais da época – o Herald o acusava de se intrometer indevidamente no Legislativo. Religioso, correto, íntegro, Lincoln governou com o poder da Lei Marcial que a Constituição lhe conferia e confiscava milhares de “propriedades” dos sulistas  escravocratas alistando os negros “deles” no exército da União.

O filme “Lincoln” é uma lição de política. Ensina como tomar decisões que provocam mudanças, que mudam o destino de gerações.  Spielberg é um gênio.
Incrível como nossos críticos de cinema emudeceram!

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