2 de abril de 2009

 

A CPI da Fogueira, a volta da Inquisição

Está circulando na Internet o artigo da socióloga Lícia Peres: A CPI da Fogueira

Não bastasse todo o absurdo que nos últimos dias ocupou o noticiário nacional com a excomunhão pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, dos profissionais envolvidos e da mãe da menina de nove anos estuprada pelo padrasto, grávida de gêmeos e que, sob risco de vida, teve a gravidez interrompida, agora surge a tentativa de instalar-se a CPI da Fogueira no Congresso Nacional.

Os grupos fundamentalistas não dão trégua.

Ao tomar como pretexto a denúncia do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que divulgou a estimativa de 1 milhão de abortos realizados por ano no Brasil, alertando para a gravidade do problema e suas consequências para a saúde e a vida das mulheres em razão da clandestinidade, os deputados autodenominados “defensores da vida” querem agora a instalação de uma CPI para execrar as mulheres que decidiram interromper a gravidez, ampliando o ocorrido em Mato Grosso do Sul, onde, com o fechamento de uma clínica, houve a apreensão do prontuário médico de quase 10 mil mulheres para “investigação”.

Buscam, assim, repetir os métodos da Inquisição, que condenou milhares de mulheres à fogueira: a Idade Média em pleno século 21.

A ameaça é séria.

O deputado federal Luiz Bassuma (PT-BA) – autor de projeto que restringe ainda mais o direito à interrupção da gravidez, retirando até aquela decorrente de estupro – encaminhou dia 11 mais um pedido para que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará os abortos clandestinos no país inicie imediatamente seus trabalhos.

A moção foi aprovada durante o 2º Encontro Brasileiro de Legisladores e Governantes pela Vida (essa foi a denominação da reunião). A CPI do Aborto chegou a ser instalada em dezembro pelo então presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP), mas devido à não-indicação dos integrantes pelos líderes partidários, não pôde iniciar os trabalhos.

Pelo visto, houve apenas uma pequena trégua, antes de nova e furiosa investida.

Após acompanhar durante muitos anos os trabalhos no Congresso Nacional, a representante do CFemea, Natália Mori, declarou ser este um dos momentos mais medievais que já presenciou. O movimento de mulheres condena a instauração de uma comissão com tal finalidade, ao mesmo tempo em que defende a descriminalizaçã o do aborto.

Para tanto, precisamos contar com uma grande e importante aliada: a opinião pública. Foi seu repúdio à excomunhão e à complacência demonstrada em relação ao estuprador, no episódio da menina pernambucana, que levou a própria Igreja Católica, através da CNBB, a desautorizar o arcebispo e declarar que “ninguém foi excomungado”.

É grande o número de fiéis que se afastam dos cultos por discordar das posições conservadoras adotadas, situadas na contramão do progresso e das questões do cotidiano, a exemplo da condenação às pesquisas com células-tronco embrionárias e ao uso de preservativos.

É preciso um constante esclarecimento à sociedade de que criminalizar o aborto representa mortes e prejuízos à saúde feminina. Em razão disso, é cada vez maior o número de países a optar pela legalização.

A opinião pública é nossa grande trincheira e com seu apoio desmontaremos a fogueira alimentada pelo ultraconservadorism o, que pretende atingir as mulheres cujo “pecado” é defender o direito de decidir e a autonomia sobre seu próprio corpo.

30 de março de 2009

 

Para a Folha, a culpa é sempre do Lula e do PT

É quase uma doença. Maurício Dias, jornalista que assina a coluna “Rosa dos Ventos”, na revista CartaCapital, levantou a lebre. Embora o PT não tenha sido citado entre os partidos que teriam recebido contribuição financeira da empreiteira Camargo Correa, a Folha de S. Paulo manipula a notícia para tentar incluir o PT, de qualquer forma.

Maurício Dias lembra que na coluna Painel, da Renata Lo Prete, “há três notas, a de abertura inclusive, onde se afirma que o PT teme ser investigado nesse episódio”. Já não é mais questão de jornalismo, é a mais pura mediunidade. “O redator, talvez por privilégios mediúnicos, manifesta temor de um partido que até agora NÃO está na lista divulgada, que inclui PSDB, DEM e PPS”.

Como diz o presidente Lula, ler jornal pela manhã dá azia! Ler a Folha dá vômito.

 

Geraldo Walter virou nome de praça em Salvador

Foi uma bela homenagem. A nata da publicidade baiana, muitos com carreira nacional e internacional, estava presente à reinauguração da Praça Geraldo Walter, sábado, 28, plantada à rua Almirante Barroso, em Salvador. Foi uma homenagem de amigos, não do poder público municipal. Cláudio Barreto, Sydney Rezende e Nizan Guanaes, pesos-pesados da publicidade, bancaram a construção do “logradouro”. Os amigos falaram, os familiares falaram.

Mas, um detalhe no texto do panfleto intitulado “Geraldo, quem diria, virou praça”, da autoria do publicitário Marco Gavazza me incomodou bastante. A certa altura do texto, enumerando as memoráveis campanhas de Geraldão, Gavazza escreveu: “Waldir Pires entrou como candidato, saiu como Governador da Bahia e primeiro demolidor do carlismo. É verdade que depois, bem, esse depois já passou”.

Não entendi a piadinha. Não entendi o ”depois, bem, esse depois já passou”. A qual “depois” o redator do panfleto estaria se referindo? Ao fato de Waldir Pires (inconformado com a ameaça de eleição, à presidência da República, do ladravaz Fernando Collor de Mello) ter renunciado ao governo da Bahia e se candidatado como vice na chapa do Sr. Diretas, Ulisses Guimarães? A mídia conservadora, replicando o discurso da direita baiana, foi introjetando na sociedade a crítica ao sacrifício de Waldir Pires. A tal ponto que, mesmo numa homenagem ao publicitário Geraldo Walter, que comandou as campanhas 1986 (Waldir Pires) e de Ulisses Guimarães em 1989, um redator publicitário faz o “reparo” político.

Ainda bem que ex-governador Waldir Pires, estando no Rio de Janeiro com a família, não compareceu ao ato. Sei que Waldir Pires nada diria, do alto de sua sabedoria. Mas eu não estou mais engolindo isso não. Difícil imaginar que um redator de publicidade talentoso “errasse” no texto. Essa versão fantasiosa, introjetada na sociedade pela mídia conservadora - e em grande parte pela mídia da famiglia ACM - parece estar introjetada também na cabeça do publicitário – consciente ou não, foi um “reparo” político com endereço certo. Aquela turma do natimorto movimento “cansei” também alimentava esse papo.

Aliás, a inadequada referência do redator Marco Gavazza acaba se voltando contra o próprio homenageado. Afinal, depois das belas campanhas cidadãs, Geraldo Walter comandou as campanhas de Fernando Henrique Cardoso. Eu poderia dizer o mesmo. Os governos neoliberais, entreguistas, corruptos e privatistas de FHC afundaram o Brasil. "Mas isso foi um depois", eu poderia dizer . “E, bem, esse depois já passou”. No mais, o texto de Marco Gavazza é uma linda homenagem a Geraldo Walter. Ele merece.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?