18 de junho de 2007

 

Ex-jornalista da RCTV prova que é possível manter a dignidade

Ex-jornalista da RCTV acusa rede de articular golpe

CARACAS - Andres Izarra vivenciou um dos mais dramáticos episódios do golpe de 11 de abril de 2002, na Venezuela. É um exemplo de que jornalista pode ter dignidade e não vender a alma aos patrões.

Ao perceber o cerco midiático que a Rede Caracas de Televisión (RCTV), da qual era chefe de reportagem, protagonizava, juntamente com outros canais privados, pediu demissão em plena crise institucional.

O jornalista denunciou a articulação entre os meios de comunicação privados e os golpistas. Com a volta de Chávez ao poder, foi nomeado, meses depois, ministro das Comunicações.

Agora, como presidente da Telesur, o canal internacional patrocinado pelos governos da Venezuela, de Cuba, da Argentina e do Uruguai, Izarra faz planos para expandir o alcance da rede. Em Caracas, Andres Izarra concedeu entrevista a Gilberto Maringoni, da Agência Carta Maior:

NA AGÊNCIA CARTA MAIOR VOCÊ ENCONTRA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A RCTV DA VENEZUELA

http://www.cartamaior.com.br/

Leia a entrevista na Íntegra:

Carta Maior – O que motivou a não renovação da concessão da RCTV?

Andres Izarra – Naqueles dias de abril de 2002, a RCTV mostrou-se como uma grande estruturadora, articuladora, incentivadora e propulsora do golpe de Estado. Defendeu as posições das câmaras empresariais e se colocou como instrumento do blecaute informativo sobre o que ocorria quando o povo foi às ruas exigir o respeito à democracia. Além disso, tornou-se peça chave do que ficou conhecido como um golpe continuado, com distintos capítulos, à medida em que a conjuntura evoluía.

CM – Como assim?

Izarra – Eles participaram do golpe de abril, do paro petroleiro, entre fins de 2002 e começo de 2003, e participaram das guarimbas, que foram manifestações violentas nas ruas. Além disso, conjuntamente com outros canais privados, deixaram de veicular publicidade e passaram a transmitir dezenas de chamadas durante 64 dias, destinadas a desestabilizar o país e provocar um golpe. Esses spots eram da Coordenadoria Democrática [coalizão dos partidos de oposição] e visavam criar uma situação de terrorismo psicológico. Estes tipos de ações seriam inconcebíveis em qualquer outro país. Isso só existe quando há um governo extremamente tolerante e democrático, como o da Venezuela. Chegaram ao cúmulo de transmitir pronunciamentos de militares uniformizados e armados chamando à sublevação e ao não reconhecimento do governo nacional. Agora abraçam o discurso da liberdade de expressão, como se ela não existisse. A RCTV tem todos os seus equipamentos conservados intactos e podem transmitir por cabo o que quiserem.

CM – Por que apenas a RCTV não tem sua concessão renovada, se os outros canais privados também se envolveram no golpe?

Izarra –A Venevisión, a Televén são canais que, depois do referendo [de agosto de 2004], resolveram deixar de fazer política e fazer televisão. Não estou dizendo que se autocensuraram. O canal 10, por exemplo, segue crítico ao governo. Mas eu não sou ministro de Comunicações, sou diretor de um canal. Ele pode lhe responder sobre isso [Carta Maior tentou marcar uma entrevista com William Lara, Ministro das Comunicações, mas não conseguiu].

CM – Por que há tanta repercussão sobre este episódio da RCTV no plano internacional?

Izarra – Há uma campanha. O problema é que o exemplo dado pela Venezuela, mostra que este conglomerado de meios de comunicação não pode impor tudo o que quer. Os donos desses meios, associados à Sociedade Innteramericana de Prensa (SIP), têm a seguinte doutrina: o espaço público é privado e a concessão dura para sempre. Eles precisam saber que aqui não há nada acima do Estado e que na Venezuela se cumpre a lei. O receio é que este exemplo de soberania dado pela Venezuela se multiplique por outros países, nos quais os meios cometem tantos abusos como aqui.

CM – Já houve situações semelhantes, antes do governo Chávez, em relação aos meios de comunicação?

Izarra - O comportamento da RCTV não é novidade. Em 1976, durante o governo de Carlos Andrés Pérez, a lei determinou a suspensão das transmissões por três dias, por difundir notícias falsas e tendenciosas. Em 1980, a RCTV foi fechada por 36 horas por sensacionalismo, no governo de Luís Herrera Campins. Um ano depois, foi suspensa 24 horas, acusada de veicular programação pornográfica. Isso se repetiu em 1984, por ridicularizar o mesmo presidente. Em 1989, a lei determinou nova suspensão, por transmitir publicidade de tabaco. Em 1991, um programa foi tirado do ar, no segundo governo Pérez. Isso não foi no governo Chávez!

CM – O senhor pediu demissão da chefia de reportagem da RCTV no dia seguinte ao golpe de Estado de 2002. Como foi isso?

Izarra – Havia instruções diretas: zero de chavismo na tela e nada relacionado ao governo podia ir ao ar. Havia pressão direta. Quando eu saí, denunciando essas práticas, ninguém falou que era censura, ninguém se solidarizou, nem sindicatos, nem a SIP, nem os Repórteres Sem Fronteiras, nem a Federação Internacional de Jornalistas e nem ninguém. Isso diz muito sobre quem é essa gente. Hipócritas! Falsos! Medíocres! Baratos! Para mim, não merecem nenhum respeito.

CM – Como estão as perspectivas de Telesur?

Izarra – A Nicarágua acaba de se incorporar à rede e esperamos que o Equador também venha. Continuamos crescendo muito, pois há bastante demanda. Vamos lançar agora o sinal em português, juntamente com o governo do Paraná. O governador Roberto Requião tem sido um entusiasta da Telesur e um aliado importante e estratégico. Nosso sinal é aberto e gratuito a quem queira retransmití-lo. Em setembro, nosso sinal chegará a Europa. E estamos incrementando produções locais em cada país, além da rede de correspondentes. Já temos sucursais nos Estados Unidos, México, Cuba, Nicarágua, Peru, Equador, Colômbia, Bolívia, Brasil, Buenos Aires, Uruguais, entre outras. Temos também muitas dificuldades por sermos um canal anti-hegemônico. Somos como a Al-Jazira, que nas invasões do Afeganistão e Iraque mostrava o ponto de vista dos bombardeados e não dos que lançavam as bombas. Acabo de regressar do Equador, onde uma equipe nossa foi ameaçada de morte. Há um ano, nosso correspndente na Colômbia foi preso, injustamente acusado de estar ligado aos narcotraficantes. As redes de distribuição a cabo tentam nos impedir de crescer. Os monopólios Televisa, no México, Clarín, na Argentina, Globo, no Brasil, entre outros, nunca cederão espaço a Telesur.

CM – A nova rede, a TVes fará parte da rede Telesur?

Izarra – Não. Penso que TVes, a nova televisão de serviço público, é o maior desafio deste governo. É um projeto em construção. É prematuro avaliar seus resultados, pois levará um tempo até ser abraçada pelo público, sobretudo quando se pensa numa programação distinta da existente, evitando-se colocar lixo no ar. Não é difícil fazer uma televisão melhor que a RCTV. Ao mesmo tempo não será fácil fazer uma emissora popular realmente de qualidade.

Comments:
Oldack,

Novamente, parabéns pelo excelente jornalismo praticado diariamente no seu blog. Em pouco tempo de existência, o "Bahia de Fato" tornou-se referência de jornalismo confiável.

Por isto mesmo, o escolhemos para veicular importante carta-denúncia (transcrita abaixo).

Com esperança de que nossa denúncia tenha a visibilidade necessária, agradecemos o apoio.

Maria Alice Bittencourt e outros.
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Carta-Denúncia

Somos ex-empregados da empresa I&G INFORMÁTICA E GESTÃO, estabelecida no mercado de educação à distância como OPEN-SCHOOL, cuja proprietária é a empresária MÁRCIA TEREZA RANGEL. A gestão da empresa mencionada, embora existam outros sócios, está a cargo da senhora citada acima e do administrador de empresas e professor universitário, SÉRGIO HAGE FIALHO.

Esta carta tem o intuito de expor nossa indignação e aflição à comunidade baiana. Somos mais de 40 ex-empregados, ex-trabalhadores assalariados, transformados em mão-de-obra escrava, que ficamos, em alguns casos, por irresponsabilidade, descaso e improbidade dos administradores mencionados, até dois anos sem receber salário.

Apesar de havermos ajuizado diversas ações trabalhistas em face da OPEN-SCHOOL e seus sócios, mesmo tendo renegociado os valores, prazos e parcelado os pagamentos em até 13 vezes, desde o ano de 2005 até hoje, não conseguimos receber o valor devido. E continuamos sem nenhuma garantia, ou compromisso real, por parte dos seus diretores, de que nossas dívidas trabalhistas serão pagas.

Nós sempre acreditamos que, de fato, estávamos construindo coletivamente uma empresa promissora, com cuja missão nos identificávamos. Fomos encorajados pelos diretores da empresa a acreditar nesse ideal e que seríamos, em pouco tempo, ressarcidos não só pelo tempo trabalhado sem remuneração, mas por outros benefícios que seriam oferecidos pela empresa.
Cabe o registro que a OPEN-SCHOOL não padece de falta de clientela; ao contrário, tem em seu portfólio empresas e Órgãos Públicos do gabarito do INSS, SEBRAE e PREFEITURA MUNICIPAL DE SALVADOR que desde o ano de 2006 tem um produto da SMEC - Secretaria Municipal de Educação e Cultura, denominado de UNICED - Universidade Aberta da Educação e Cultura (http://www.open-school.com/uniced/). E, vale ressaltar, apesar de não pagarem os salários dos empregados, a empresa parece estar recebendo regularmente dos seus clientes. Mas, tentam todas as peripécias possíveis para que os pagamentos sejam realizados de maneira indireta com o fito de burlar as ordens de bloqueio expedidas pela Justiça do Trabalho.
Entretanto, o que nos causa maior estranheza é o fato de, ainda assim, órgãos públicos (municipais, estaduais e federais) continuarem contratando essas pessoas que não têm qualquer compromisso, sequer, com o pagamento de seus empregados. Não entendemos como eles têm conseguido burlar a Lei de Licitações e Contratos que proíbe a contratação de inadimplentes ante a Justiça do Trabalho e Previdência Social.

Apostam, de forma cada vez mais evidente, no Estado burocrático e na morosidade da Justiça para continuar lesando os ex-empregados e, provavelmente, acumulando cada vez mais capital.

Queremos, por meio desta, apresentar nossa situação à população baiana e pedir aos gestores desses órgãos públicos que exijam explicações acerca das denúncias apresentadas e que façam cumprir a lei, exigindo dos denunciados a pronta solução dos litígios trabalhistas citados.

Saudações,

Ex-empregados da OPEN-SCHOOL

1) Maria Alice Bittencourt de Miranda
Profissão: Jornalista
Função na Open-School: Editora de conteúdo WEB
CPF: 090.430.205-91
RG: 700.145

2) Clarice Val de Jesus Silva
Profissão: Jornalista
Função na Open-School: Webmarketing e editora de conteúdo WEB
CPF: 569.699.005-68
RG 5929942-87.

3) Saint Clair Dias Ribeiro
Profissão: Secretária Executiva
Função na Open-School: Secretária
CPF: 630.933.405-00
RG: 03780880-09

4) Juliana Alves Braga
Profissão: Bibliotecária
Função na Open-School: Editora do guia da ferramenta desenvolvida pela empresa e suporte de conteúdo WEB
CPF: 918.226.615-87
RG: 66170

5) Bianca Santos de Andrade
Função na Open-School: Suporte
CPF: 789.994.215-20
RG: 07109586 17 SSP/BA

6) Cândida Valéria de Oliveira Guerra
Profissão: Desenvolvedora WEB
Função na Open-School: Desenvolvedora WEB
CPF: 72759984591
CI: 0537446591

7) Manuela Fraga Torres
Profissão: Pedagoga
Função na Open-School: Pedagoga Jr.
CPF 94944717504
RG 0531375072

8) Renie Gusmão Silva Costa
Função na Open-School: Webdesigner
CPF: 64812928591
RG: 635462567

9) Soraya de Azevedo Monteiro
Profissão: Publicitária
Função na Open-School: Gerente de Projetos
CPF: 914.956.795-00
RG: 05098359 88 SSP/BA

10) Daniela Bacellar e Silva
Profissão: Analista de Sistemas
CPF: 776.595.895-04
RG: 523253265

11) Bruno Barretto
Função na Open-School: 1º período: Executivo de vendas
2º período: Supervisor de Suporte
CPF: 895.528.905-78
RG: 05.917.667-95 SSP- BA

12) Alexandre de Magalhães Dourado
Profissão: Analista de Sistemas
Função na Open-School: Analista de Sistemas
RG: 05743949-40
CPF: 918592635-34

13) Vitor Tunes Gerbase
Profissão: Analista de Sistemas
Função na Open-School: Analista de Sistemas
CPF: 874.218.365-00
RG: 4.256.456-57 SSP/BA

14) Cristian Jungwirth
Profissão: Publicitário
Função na Open-School: Webdesigner
CPF: 922.147.205-10
RG: 07111839-02 SSP/BA

15) Eduardo Pedreira de Loureiro Maior
Função na Open-School: Suporte
CPF: 016.947.715-04
RG: 08507353 94 SSP/BA

16) Daniela Soares Feitosa
Função na Open-School: Suporte
CPF: 014.775.335-08
RG: 08412413 09 SSP/BA

17) Paula Antunes
Profissão: Analista de sistemas
Função na Open-School: Estagiária em desenvolvimento de sistemas
CPF: 805.022.375-20
RG: 7338325

18) Antonio Igor Queiroz Brandão
Profissão: Analista de sistemas
Função na Open-School: Analista de Sistemas
CPF: 975.835.455-87
RG: 09516553 37

19) Amanda da Silva Gonçalves
Profissão: Desenvolvedora Web
Função na Open-School: Webdesigner
CPF: 806773715-00
RG: 07617380-10

20) Paulino Batista Reis Junior
Profissão: Analista de Sistemas
Função na Open-School: Analista de Sistemas
CPF: 64479710504
RG: 051058227
 
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