14 de junho de 2007
A mídia do ódio tem que ser banida em nome da paz
Ignácio Ramonet critica a mídia do ódio. Esse tipo de mídia é irresponsável e causa instabilidade social e guerras. Em Ruanda, a Rádio Mil Colinas defendia o genocídio contra os tutsis. Foi um massacre. Na França, a TV Al Manar, do Hezbolla libanês, pregava a violência. Foi cassada. Na Croácia e na Bósnia-Herzegovina canais de TV e rádios pregaram a “limpeza étnica”. Foram condenados pela ONU. Na Venezuela, a RCTV, que participou ativamente do golpe militar de 2002, vinha despertando na opinião pública instintos primários pela difusão da pornografia e pregando abertamente a guerra civil – típica mídia do ódio. Todas foram fechadas, com justiça.
LEIA ARTIGO NA ÍNTEGRA:
Agência Carta Maior
http://www.cartamaior.com.br/
A MÍDIA DO ÓDIO
Por que ninguém protestou quando a RCTV foi fechada em 1976, por difusäo de notícias falsas, ou quando foi lacrada em 1980, por sensacionalismo, ou quando fechada em 1981, por difusão de programas pornográficos, ou quando condenada em 1981, por ter ridicularizado o presidente?
Ignacio Ramonet
Chego a Caracas para participar de uma jornada sobre “O Direito cidadão de estar informado”, encontro organizado pela Telesur. Participam personalidades da envergadura de Tariq Ali, Danny Glover, Richard Gott, Fernando Solanas, Miguel Bonasso. O ambiente está marcado pelo assunto da não renovacão da concessão da Radio Caracas Televisión (RCTV), expirada no dia 27 de maio próximo passado.
Assisto a uma manifestação do Presidente Chávez, recentemente reeleito com 63% dos votos. Ele explica que a decisão está amparada no Direito, e que não significa nenhuma arbitrariedade, nem ilegalidade. Acrescenta que, na Venezuela, onde 80% das estações de televisão são usadas pelo setor privado, a absorção dos meios de comunicação por grandes empresas converteu o direito de informar mais num privilégio empresarial do que num legítimo direito cidadão.
Converso com Francisco Farruco Sesto, galego nascido em Vigo, que chegou a Caracas com 12 anos de idade e hoje é nada mais nada menos que o ministro da Cultura. De modo simples e tranqüilo, Farruco me explica que toda essa barulhada internacional é um pretexto para atacar o presidente Chávez. “Por que razão”, me diz, “a Venezuela está hoje no olho do furacão, quando governos anteriores aplicaram a censura a torto e a direito, e para cá nunca vieram Repórteres sem Fronteira, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), nem a Corte Interamericana de Direitos Humanos?
Por que ninguém protestou quando essa mesma RCTV foi fechada durante vários dias em 1976, por "difusão de notícias falsas", ou quando foi lacrada em 1980, por "sensacionalismo", ou quando de novo foi fechada em 1981, por "difusão de programas pornográficos", ou quando foi condenada em 1981, por ter ridicularizado o presidente da República?”.
Tudo isso aconteceu antes da primeira eleição do presidente Chávez, em 1998. E nenhuma organizacäo internacional condenou estes “abusos” naquela ocasião. “Assim como não condenaram o fechamento do Diário de Caracas, ou o desligamento massivo de jornalistas do Globo, ou de Nuevo País. Se hoje há condenacões, é só para perseguir o presidente e desmerecer o programa da Revolucão Bolivariana”.
O amigo Farruco tem razão. Abundam exemplos, em diversos países, de concessões não renovadas a canais de televisão, sem que provoquem protestos. Para não ir muito longe, em 2004 na Franca se suspendeu a concessäo da TV Al Manar, porque se considerou que este canal do Hezbolla libanês “pregava o ódio”.
Na Inglaterra, Margaret Thatcher cancelou a concessão de uma das grandes cadeias de televisão por ter difundido notícias não gratas, ainda que verídicas. No mesmo Reino Unido as autoridades dispuseram, em marco de 1999, o fechamento temporário de Med-TV-Canal 22; em agosto de 2006 revogaram a licença da One TV; em novembro do mesmo ano, a da StarDate TV 24 e em dezembro a do canal de televendas Auction World.
Organizações independentes, como o Observatório Global de Mídia, denunciaram com provas cabais que a RCTV participou da conjuntura midiática que propiciou o golpe de estado de 11 de abril de 2002. Este canal, mediante manipulações e envenenamentos, difundiu falsidades e calúnias para fomentar a execração e a birra contra o presidente Chávez e seus partidários.
Um comportamento semelhante foi condenado em outras latitudes. Por exemplo, o Tribunal Internacional sobre o Genocídio em Ruanda condenou, em 1994, os promotores da Rádio Mil Colinas por cumplicidade com o extermínio dos tutsis. Na ex-Iugoslávia, o informe do representante da ONU, Tadeusz Mazowiecki, condenou o papel das “mídias do ódio” nas operações de “limpeza étnica” levadas a cabo na Croácia e na Bósnia-Herzegovina.
Na Venezuela, a RCTV tem sido uma típica “mídia do ódio”, despertando na opinião pública instintos primários e promovendo uma violência tal que poderia desembocar numa guerra civil. A que então se deve todo esse barulho a seu favor? À solidariedade do poder midiático internacional, que vê na decisão do presidente Chávez uma ameaça contra sua atual dominação ideológica. Mas a guerra não acaba aqui.
Publicado originalmente no jornal El Pais, 08/06/2007
Traducão: Flávio Aguiar
LEIA ARTIGO NA ÍNTEGRA:
Agência Carta Maior
http://www.cartamaior.com.br/
A MÍDIA DO ÓDIO
Por que ninguém protestou quando a RCTV foi fechada em 1976, por difusäo de notícias falsas, ou quando foi lacrada em 1980, por sensacionalismo, ou quando fechada em 1981, por difusão de programas pornográficos, ou quando condenada em 1981, por ter ridicularizado o presidente?
Ignacio Ramonet
Chego a Caracas para participar de uma jornada sobre “O Direito cidadão de estar informado”, encontro organizado pela Telesur. Participam personalidades da envergadura de Tariq Ali, Danny Glover, Richard Gott, Fernando Solanas, Miguel Bonasso. O ambiente está marcado pelo assunto da não renovacão da concessão da Radio Caracas Televisión (RCTV), expirada no dia 27 de maio próximo passado.
Assisto a uma manifestação do Presidente Chávez, recentemente reeleito com 63% dos votos. Ele explica que a decisão está amparada no Direito, e que não significa nenhuma arbitrariedade, nem ilegalidade. Acrescenta que, na Venezuela, onde 80% das estações de televisão são usadas pelo setor privado, a absorção dos meios de comunicação por grandes empresas converteu o direito de informar mais num privilégio empresarial do que num legítimo direito cidadão.
Converso com Francisco Farruco Sesto, galego nascido em Vigo, que chegou a Caracas com 12 anos de idade e hoje é nada mais nada menos que o ministro da Cultura. De modo simples e tranqüilo, Farruco me explica que toda essa barulhada internacional é um pretexto para atacar o presidente Chávez. “Por que razão”, me diz, “a Venezuela está hoje no olho do furacão, quando governos anteriores aplicaram a censura a torto e a direito, e para cá nunca vieram Repórteres sem Fronteira, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), nem a Corte Interamericana de Direitos Humanos?
Por que ninguém protestou quando essa mesma RCTV foi fechada durante vários dias em 1976, por "difusão de notícias falsas", ou quando foi lacrada em 1980, por "sensacionalismo", ou quando de novo foi fechada em 1981, por "difusão de programas pornográficos", ou quando foi condenada em 1981, por ter ridicularizado o presidente da República?”.
Tudo isso aconteceu antes da primeira eleição do presidente Chávez, em 1998. E nenhuma organizacäo internacional condenou estes “abusos” naquela ocasião. “Assim como não condenaram o fechamento do Diário de Caracas, ou o desligamento massivo de jornalistas do Globo, ou de Nuevo País. Se hoje há condenacões, é só para perseguir o presidente e desmerecer o programa da Revolucão Bolivariana”.
O amigo Farruco tem razão. Abundam exemplos, em diversos países, de concessões não renovadas a canais de televisão, sem que provoquem protestos. Para não ir muito longe, em 2004 na Franca se suspendeu a concessäo da TV Al Manar, porque se considerou que este canal do Hezbolla libanês “pregava o ódio”.
Na Inglaterra, Margaret Thatcher cancelou a concessão de uma das grandes cadeias de televisão por ter difundido notícias não gratas, ainda que verídicas. No mesmo Reino Unido as autoridades dispuseram, em marco de 1999, o fechamento temporário de Med-TV-Canal 22; em agosto de 2006 revogaram a licença da One TV; em novembro do mesmo ano, a da StarDate TV 24 e em dezembro a do canal de televendas Auction World.
Organizações independentes, como o Observatório Global de Mídia, denunciaram com provas cabais que a RCTV participou da conjuntura midiática que propiciou o golpe de estado de 11 de abril de 2002. Este canal, mediante manipulações e envenenamentos, difundiu falsidades e calúnias para fomentar a execração e a birra contra o presidente Chávez e seus partidários.
Um comportamento semelhante foi condenado em outras latitudes. Por exemplo, o Tribunal Internacional sobre o Genocídio em Ruanda condenou, em 1994, os promotores da Rádio Mil Colinas por cumplicidade com o extermínio dos tutsis. Na ex-Iugoslávia, o informe do representante da ONU, Tadeusz Mazowiecki, condenou o papel das “mídias do ódio” nas operações de “limpeza étnica” levadas a cabo na Croácia e na Bósnia-Herzegovina.
Na Venezuela, a RCTV tem sido uma típica “mídia do ódio”, despertando na opinião pública instintos primários e promovendo uma violência tal que poderia desembocar numa guerra civil. A que então se deve todo esse barulho a seu favor? À solidariedade do poder midiático internacional, que vê na decisão do presidente Chávez uma ameaça contra sua atual dominação ideológica. Mas a guerra não acaba aqui.
Publicado originalmente no jornal El Pais, 08/06/2007
Traducão: Flávio Aguiar