5 de julho de 2013
Wagner: a classe política foi chacoalhada
O governador da Bahia, Jaques Wagner, em entrevista
concedida ao jornal A Tarde, considerou que os estudantes que foram às ruas
protestar não visavam especificamente o PT e sim todo o sistema político. Achou
normais as vaias dirigidas ao governo no trajeto do desfile do 2 de Julho. “Houve
muito protesto, mas também muito aplauso. Ninguém é 100%”. Ele avaliou que as
ruas contestaram a política, mas não viu ninguém negando a caminhada que o
Brasil fez nos últimos 28 anos de democracia.
Neste período, após a redemocratização, o Brasil conquistou
a estabilidade macroeconômica, construiu um sistema de proteção social jamais
visto. Não supervalorizou os movimentos de rua. Não foi o primeiro nem será o
último, disse. “Nós fizemos as Diretas Já, movimento maior que o atual, depois
houve o Fora Collor, semelhante a esse. Acho que vivemos um momento novo de
consolidação da democracia, mas não dá para prever o futuro”.
Wagner não se intimidou com a insistência da jornalista
Patrícia França em tentar conduzir a entrevista para a crítica ao PT. “O PT
está no governo, e Lula ganharia de todo mundo no primeiro turno, segundo a
pesquisa Datafolha. Assim, a tentativa de associar os protestos a um eventual
desgaste do PT cai por terra”. “Mas Lula é Lula e o PT...” pergunta a
jornalista e Wagner responde: “Não, Lula é o PT”. Ele acha que o candidato de
Lula é Dilma e a falha da crítica ao PT é que não considera que Lula é o
símbolo maior do PT.
Wagner, ao falar da proposta do plebiscito feita por Dilma
Rousseff, disse que é a primeira vez que vê numa democracia o pessoal achar
ruim a participação popular através do voto. Acho que cada vez mais plebiscitos
são bem-vindos. Afinal, é o povo dizendo o que acha. Ele crê que a reforma
política é a mãe de todas as reformas porque a política precisa ter uma cara
nova para a população. “Reforma é fundamental e espero que o Congresso Nacional
ouça o clamor das ruas”. Cada partido político tem que ter o tamanho que
merece, o tamanho é dado pelo povo nas ruas. Se não tiver voto não pode ocupar
tempo de televisão e gastar dinheiro público.
Wagner defende o voto facultativo. Sendo obrigatório, o povo
vai às urnas e na ordem de 27% votam nulo. Ninguém pode obrigar ninguém a ser
cidadão e a tentativa de negar a política é inútil, porque não existe nada para
se por no lugar. Ditadura não. E se essa democracia vai ser melhorada só pode
ser através da manifestação na rua. “Melhoramos muito, e quem tentar zerar esta
caminhada do Brasil está cometendo grande injustiça”.
“Não podemos ser apressados nas conclusões. Acho que Dilma
vai recuperar rapidamente a popularidade. Eu me lembro que o presidente Lula
estava com níveis baixos de avaliação popular em 2005, chamou Dilma e ganhou a
eleição em 2006”. Não viu erosão na imagem da presidenta. Para ele, aconteceu
que foi um momento que o povo foi às ruas a partir de um questionamento sobre
transporte público. “Achei ótimo. Acho que a classe política foi chacoalhada e
tem que responder. Neste momento, acho que a melhor resposta é a reforma
política, com o fim da coligação proporcional e o financiamento público de
campanha. Este é um grande momento para se fazer uma política mais
transparente. Não tomei susto (com as manifestaçõesd) porque acho que a
política é uma soma de política representativa com política direta”.
Wagner não viu ninguém crescendo significativamente com as
manifestações. Marina Silva cresceu um pouco, Joaquim Barbosa apareceu, mas, de
modo geral, todo mundo caiu. Alckmin, Haddad, Sérgio Cabral. O único que se
manteve foi o presidente Lula. O senhor considera o seu governo padrão FIFA?,
pergunta a jornalista. E ele responde: Esta é uma referência ruim, não vou me
espelhar na FIFA, até porque a FIFA trabalha para um espetáculo e eu pela
população. Mas acho que temos obrigação de buscar sempre a excelência e os
melhores padrões na gestão pública. Não é fácil porque a máquina pública é
muito viciada.