14 de junho de 2013

 

O rentável negócio das igrejas evangélicas deve pagar imposto. É justo.


Não tenho preconceito contra os evangélicos. Cresci e me formei culturalmente em Teófilo Otoni, cidade plantada no nordeste de Minas Gerais, à beira da rodovia Rio-Bahia, colonizada por imigrantes germânicos. Meus vizinhos, colegas de escola e melhores amigos eram luteranos, presbiterianos e, claro, católicos. Minha mãe, de formação católica, convivia e mantinha profundos laços de amizade com famílias luteranas, a ponto de participar das iniciativas assistenciais em favor dos trabalhadores rurais de origem “alemã”.
Mas as coisas mudaram, o Brasil foi invadido por igrejas evangélicas pentecostais eletrônicas, cujos instrumentos de pregação religiosa passaram a ser o rádio e a televisão. Tais igrejas evangélicas se transformaram em negócios milionários, isentos de impostos, com acumulação capitalista baseada  na exploração da fé. Ainda assim acho que oferece seu dízimo quem quiser, com liberdade. O que não dá mais para aceitar é a isenção de impostos dessas multinacionais da religião.

Fiquei entusiasmado quando soube que o governo de Angola baniu boa parte das igrejas evangélicas pentecostais originadas do Brasil. O governo angolano considera que elas praticam propaganda enganosa, se aproveitam das fragilidades do povo angolano, se instalam como negócio, vendem “milagres” em verdadeiro estelionato. Exatamente igual às igrejas pentecostais do Brasil. E a ganância produz tragédias. Em 31 de dezembro de 2012, num culto da Igreja Universal do Reino de Deus, com 150 mil pessoas, 16 cidadãos angolanos morreram asfixiados e esmagados. O tema do culto era “O Dia do Fim”.
A Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Mundial do Poder de Deus, a Igreja Renovada Mundial do Poder de Deus, a Igreja Evangélica Pentecostal Nova Jerusalém, todas brasileiras,  foram fechadas. O governo angolano tem uma responsabilidade com seu povo, muito além da que nosso governo oferece. Lá, uma igreja só pode funcionar com fiscalização dos ministérios do Interior, Cultura e Direitos Humanos, além da Procuradoria-Geral da República. E não venham me dizer que é uma ditadura. O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) está realmente no poder desde que ganhou a guerra civil em 1975. Mas, o presidente José Eduardo dos Santos foi eleito, em eleição fiscalizada por organismos internacionais. Sem falar que país nenhum é obrigado a seguir o modelo da “democracia ocidental e cristã”.

Aqueles pastores de igrejas evangélicas brasileiras, que elegeram o povo angolano para se enriquecer, cometem um crime conhecido publicamente: transferem ilegalmente dinheiro dos crentes para fora do país. O dinheiro de Angola,  cambiado em dólares, vem para o Brasil, o dinheiro do Brasil, transformado em dólares, vai para EUA e Europa. Um casal de pastores evangélicos conhecido não foi preso exatamente por isso?
Não se pode falar em perseguição religiosa em Angola. O governo do MPLA proibiu a presença das igrejas evangélicas com licenças provisórias, mas, ainda assim renovou a licença para o funcionamento da Igreja Universal do Reino de Deus. É que as outras igrejas brasileiras nada oferecem ao país, além da exploração da fé do povo ingênuo. Uma verdadeira lavagem na poupança popular. Mas, a Universal levou a TV Record, jornal, além dos templos. Não é só recolhimento de dinheiro. Há investimento. E não se pode falar em autoritarismo. Em Angola há denominações protestantes não brasileiras, incluindo metodistas, adventistas, Assembléia de Deus e Batista. Lá existem denominações cristãs africanas, duas mulçumanas e uma maioria de católicos.  Em Angola, há liberdade de religião, o que o governo não aceita é a exploração comercial da fé popular e o tráfico de dinheiro oriundo da poupança popular para fora do país.

Em resumo, o Brasil precisa regulamentar e fiscalizar a atuação das igrejas comerciais evangélicas pentecostais, que vendem milagres, recolhem milhões sem pagar impostos, praticam a agiotagem fundam faculdades de teologia caça-níqueis, funcionam como partidos políticos e traficam os lucros para fora do país. Não é difícil, basta exigir nota fiscal para as "contribuições" dos fiéis. É pedir muito?
 

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