5 de junho de 2013

 

Não esperem revoluções provocadas pelo facebook

O sociólogo Manuel Castells entende que novos movimentos, nascidos da internet, estão recriando a democracia, entretanto, ressalva que não basta um manifesto no facebook para mobilizar milhares de pessoas na vida real. O alcance real depende das condições culturais e da vontade de quem lê os manifestos. Há muitos exemplos de protestos, organizados por milhares de pessoas no facebook, que se transformam em menos de uma centena nas ruas. Assim, a internet é uma condição necessária, mas não suficiente para que existam movimentos sociais. O essencial para a mudança social é que a mudança já tenha ocorrido na cabeça das pessoas.

Manuel Castells vem ao Brasil no dia 10 de junho, em Porto Alegre, e no dia 11 em São Paulo para o Ciclo de Conferências Fronteiras do Pensamento. Ele sempre faz referência ao conceito de jornalismo em rede. E define rede como o lugar onde se produz e distribui informação, o que não diminui o papel do jornalista profissional. “Ao contrário, alguém tem que interpretar toda essa massa de informação em tempo real, e isso só com um profissional preparado, com independência e critério”.
Professor da Universidade Aberta da Catalunha e da Universidade do Sul da Califórnia, professor emérito da Universidade de Berkeley, ele assina livros importantes como “O Poder da comunicação”, muito lido nas universidades brasileiras. Diante do desprestígio crescente dos políticos, partidos e parlamentos e de uma imprensa mediada por empresários com suas alianças e interesses próprios, ele aponta dois fatores que podem garantir a liberdade de comunicação: o profissionalismo dos jornalistas e a rede.

AMEAÇAS À DEMOCRACIA – Vejo uma conexão entre as posições do sociólogo Manuel Castells e o discurso de um importante filósofo canadense, Charles Taylor. Professor de filosofia e ciências políticas na Universidade McGil, no Canadá, Taylor comenta as ameaças que pairam sobre as democracias liberais. No caso da Europa, a crise econômica e a incapacidade da sociedade européia enxergar que os imigrantes são necessários. Quem vai, afinal, pagar as aposentadorias da população que envelheceu?  Taylor é autor da obra “Ética da autenticidade” (Editora É Realizações) na qual defende o valor das ideias para mudar a sociedade e insiste que é impossível vivermos sem política. “Atualmente, o desafio da democracia liberal é continuar sendo democracia liberal”.
Será possível que não precisemos mais de democracia? Segundo Taylor, não podemos viver sem ela, porque nossas vidas são dominadas pelo poder político. A idéia de que seria possível ignorar simplesmente a política é uma ilusão. Pode haver revoluções no facebook? Ele responde que revoluções no facebook podem ter um efeito imediato, e podem ser de fato importantes, mas não são algo que possa servir de base para mudanças, porque elas não produzem “liga social”. Liga social acontece quando na sociedade surge um forte sentimento de solidariedade, um senso forte de identidade nacional, de identidade comum.  Não há nenhuma razão para que o mito nacional seja capturado pela direita. “Para se ter capacidade de resistência é preciso ter organização política”.

Voltando a Castells, a rede da internet é incontrolável, mesmo por ditaduras. Na China, os hackers fazem do controle do Estado um “tigre de papel”, como diria Mao Tse Tung, o fundador da República chinesa. O controle da internet se faz com robôs que utilizam palavras-chaves, então, basta que eles não usem tais palavras. Não há como controlar milhões de blogs individuais, que são onde se gera o debate. Seria um grave erro cobrar por informação na rede. Qualquer tentativa de utilizar as pessoas levará a uma competição entre centenas de outras. Os leitores simplesmente migram para outros canais informativos e de debate. Quem não tem boa perspectiva são os meios de comunicação tradicionais, a menos que se reconvertam ao “jornalismo em rede”.

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