3 de agosto de 2008

 

Em Minas, Centro Acadêmico Afonso Pena celebra 100 anos

O Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, celebra 100 anos agora em agosto. Foi um século de participação ativa na vida política de Minas e do Brasil. Pessoalmente, testemunhei ali parte da luta contra a ditadura militar de 1964. Em 1966, fui calouro de José Carlos da Matta Machado, assassinado pelos criminosos e torturadores do Exército Brasileiro. Ouvia maravilhado as aulas do professor Edgard da Matta Machado. Em 1968, com o advento do Ato Institucional 5, e com mandado de prisão decretado, fui obrigado a entrar na clandestinidade e abandonei o curso de Direito.

Das articulações políticas do Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP) nasceram muitas das passeatas estudantis que tomaram de assalto as avenidas de Belo Horizonte. Numa delas, em 1968, os estudantes sob violenta repressão policial-militar se refugiaram no anexo em construção da Faculdade de Direito. Eu estava lá. Ocupamos o prédio durante todo o dia, a noite, até 4h da madrugada, sob cerco total. Após muitas negociações, desocupamos o prédio sem nenhuma prisão.

Trinta anos depois, em 1998, celebrando a resistência estudantil ao AI-5, o Centro Acadêmico Afonso Pena criou um cartaz, pregado em toda a cidade, com a foto de alguns estudantes “armados” de pedras enfrentando a repressão. Lá estavam Oldack Miranda, sem camisa, magrelo, Nilmário Miranda (da Escola de Economia), que mais tasrde virou deputado e ministro dos Direitos Humanos, Edson Gonçalves (Engenharia) e Leovegildo Leal, colega de Direito. Há um quinto protagonista na foto nunca identificado. O mesmo cartaz virou ilustração da carteira nacional da UNE, naquele ano.

Há poucos dias, a estudante Nayara Atayde Gonçalves, integrante da “Comissão CAAP 100 anos”, responsável pelas comemorações do centenário, gentilmente me telefonou. O cartaz vai fazer parte da exposição fotográfica que será montada. Em particular, fico emocionado pelas homenagens que serão prestadas ao companheiro assassinado José Carlos da Matta Machado.

Em 1973, depois de quase três anos embrenhado nas matas do Vale do Pindaré-Mirim, no Maranhão, livre da Penitenciária de Linhares (Juiz de Fora) e com vida legal em Salvador, Bahia, eu me vi na obrigação de receber Zé Carlos em minha casa. Ele foi traído pelo próprio cunhado e fomos todos presos novamente. Uma tragédia. Os torturadores do DOI-CODI executaram Zé Carlos e Gildo Lacerda com requintes de perversidade.

Militamos, eu, Zé Carlos, Gildo Lacerda, Anatólio Aranha, Joaquim Martins, Plínio Arantes, Mateus Pinto Filho, na organização revolucionária Ação Popular, que na década de 1960 era formada pela esquerda católica. Quase todos tínhamos militado na Juventude Estudantil Católica (JEC) ou na Juventude Universitária Católica (JUC). Entrar para a Ação Popular era um passo natural. Em nossos balanços, muitas vezes feitos na casa do professor Edgard da Matta Machado, pai do Zé, bem ali no bairro Funcionários, chegamos a identificar 62 militantes da AP somente na Faculdade de Direito.

Sei que nomes ilustres passaram pelo CAAP. Ministros do STF como Sepúlveda Pertence e Francisco Resek, o ministro e ex-prefeito Patrus Ananias, o atual vice-governador de Minas, Antônio Augusto Anastásia, o atual diretor da Faculdade de Direito, Joaquim Carlos Salgado, muitos deputados, vereadores e grandes juristas.

Mas, uma coisa é certa. Nos anos 60, a história política do CAAP e da Faculdade de Direito da UFMG passa pela história da Ação Popular, a organização revolucionária criada com o documento-base do Padre Vaz.

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