30 de junho de 2007

 

O dia em que as igrejas celebraram Lamarca como mártir e herói nacional

Dom Frei Luíz Flávio Cappio, bispo da Diocese de Barra, aquele da greve de fome contra a transposição das águas do rio São Francisco, em setembro de 2001, organizou no sertão da Bahia um movimento para resgatar a memória de Lamarca, Zequinha, Otoniel e Santa Bárbara, todos assassinados pelo Exército em 1971, como mártires da igreja e da luta de libertação do povo brasileiro.

O jornalista e escritor Emiliano José (PT), à época vereador por Salvador foi convidado e participou do culto ecumênico celebrado na caatinga. Registrei o acontecido no Boletim do Mandato 49, de outubro de 2001. Acompanhei a romaria e nunca consegui que a imprensa registrasse o acontecido. Afinal, duas mil pessoas, vindas de 19 paróquias da Diocese de Barra, em romaria com uma cruz na caatinga, eram um fato inusitado. Nada, nem uma linha.

SEGUE O TEXTO DO BOLETIM DO MANDATO:

Para resgatar a memória e passar a limpo a história de terror vivida pelo povo da região de Brotas de Macaúbas, onde há 30 anos Lamarca e seus companheiros foram executados pelos militares, no auge da ditadura, a Diocese de Barra organizou um ato ecumênico chamado "Vidas pelas Vida", convidou pastores evangélicos, o MST e ongs dedicadas à organização do povo.

A celebração ecumênica aconteceu dia 29 de setembro (sábado), num altar montado na carroceria de um caminhão, estacionado no meio da praça do pequeno povoado de Pintada, município de Ipupiara.

"A causa é que faz o mártir" (Santo Agostinho)

O texto do informativo "Vidas pela Vida", distribuído pela Diocese de Barra, aos presentes citou Santo Agostinho: "A causa é que faz o mártir" para explicar que "quem foi morto defendendo a causa da justiça, da democracia e da reforma agrária é um mártir, mesmo que sua militância não seja dentro da igreja ou religião. Queremos celebrar a vida e a morte de nossos mártires, como um reconhecimento de seu exemplo e como compromisso com a causa pela qual derramaram o sangue".

Mártires da Igreja

Bem cedo pela manhã, dom Frei Luíz Flávio, bispo da Diocese de Barra, o pastor Djalma Torres, da Igreja Batista Nazareth, de Salvador, e o pastor João Dias Araújo, da Igreja Presbiteriana Unida, de Feira de Santana, iniciaram o culto com o anunciado propósito de "resgatar a memória dos mártires da Diocese". Coube à Irmã Marina a leitura da Bíblia Sagrada: "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos que ama" (João, 15). Seguida do cântico que dizia "prova de amor maior não há".

Quem são os mártires?

Os mártires celebrados são o capitão Carlos Lamarca, apresentado como um herói nacional; José Campos Barreto (Zequinha), que morreu em Pintada junto com Lamarca; seu irmão Otoniel Campos Barreto, que morreu fuzilado pelas costas tentando a fuga; Luíz Antônio Santa Bárbara, que se “suicidou” para não cair nas mãos dos militares. Outros dois militantes da luta pela terra na Bahia foram lembrados: Manoel Dias, assassinado em 1982 pelo grileiro Leão Diniz e 30 pistoleiros, em Boa Vista do Procópio, e Josael de Lima (Jota), assassinado em 1986, com um tiro no peito, a mando do grileiro Leão Diniz.

Ofertório de forte simbolismo

Na celebração, homens e mulheres ofertaram um punhado da terra colhida no local onde Lamarca, com as forças exauridas e imobilizado, foi metralhado a sangue frio. Uns ofertaram beiju, frutas, hortaliças, militantes do MST ofertaram a bandeira vermelha dos sem-terra, a bandeira do Brasil, a Constituição Brasileira e flores. Emiliano José ofertou um exemplar do livro "Lamarca, O Capitão da Guerrilha".

Familiares e testemunhas presentes

Foram momentos de forte emoção. D.Zefa, viúva de Jota, leu uma carta enviada na época em solidariedade à família, por Emiliano José. João Pedro Stédile, dirigente nacional do MST, leu uma mensagem do ator Paulo Betti, que representou o capitão no filme "Lamarca", de Sérgio Rezende. Irmã Marina leu um poema enviado por dom Pedro Casaldáliga. Osvaldo Dias falou sobre o irmão assassinado, César Benjamin leu uma mensagem enviada do Rio de Janeiro pela viúva de Lamarca, Maria Pavan, e seus filhos César e Cláudia.

Olderico Campos Barreto, irmão de Zequinha, sobrevivente do tiroteio e das torturas, falou das mutilações sofridas pelos irmãos mortos, de como seu velho pai foi dependurado de cabeça para baixo. Olderico lembrou Iara Iavelberg, companheira de amor e luta de Lamarca, morta em Salvador, pouco antes do sangrento desfecho no sertão. Lá estavam D. Maria Santa Bárbara e Luíz, mãe e irmão de Luíz Antônio Santa Bárbara.

A palavra das igrejas

Palavras do bispo dom Frei Luíz:

"Irmãos e irmãs, neste momento a Diocese de Barra abre solenemente a celebração "Vidas pela Vida". Quando idealizamos esta celebração tínhamos em mente três grandes motivos.

Em primeiro lugar, pedir perdão a Deus pela grande injustiça que cometemos tirando a vida de homens que lutavam pela justiça. O sangue de nossos heróis deve ser lavado, nosso primeiro grande motivo é penitencial.

O segundo grande motivo é de ação de graças. Queremos agradecer a Deus por nos ter dado a graça de conhecermos pessoas tão grandes, tão importantes, que nos deram um exemplo maravilhoso de terem tido a coragem de derramar seu sangue, doarem suas vidas, para a construção de um mundo mais humano, mais justo, mais fraterno, mais solidário.

O terceiro motivo que nos une é aprender com eles uma grande lição de vida. Os mártires são pedras vivas da construção da Igreja, da construção do mundo, são eles as pedras angulares do novo tempo. E somente no resgate do passado, no passar a limpo o passado, teremos condições de construir o futuro com mais consciência e espírito cidadão.

Palavras do pastor Djalma Torres

"A mim coube comentar a leitura da Bíblia, mas antes quero agradecer a honra e privilégio de estar presente a esta celebração, parabenizar a Diocese de Barra, na pessoa de seu bispo dom Frei Luíz, pela coragem e pelo desafio que nos apresenta, a todos nós, católicos e protestantes, para que nos juntemos em ato de clamor, numa convocação a todo o povo de Deus, para que neste país se estabeleça o império da justiça".

Palavras do pastor João Dias

"Estamos alegres, porque nos reunimos para celebrar hoje a vitória de Nosso Senhor Jesus Cristo, expressa na vida dos mártires desta terra, aqueles que morreram, que tombaram na luta em favor de dias melhores para o povo. O sangue dos mártires é a sementeira da História. Estes nossos irmãos que tombaram nesta terra seguiram o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, que deu sua vida em favor de todos nós. Vamos todos seguir os exemplos de Jesus e dos mártires para prosseguirmos na luta pela libertação de todo o povo".

"Lamarca não morreu, Lamarca vive"

Terminada a celebração, em romaria, a multidão seguiu um camponês que, em penitência, carregou nos ombros a pedra em que Lamarca repousou a cabeça antes da morte. Com orações, cânticos, palmas e velas acesas, todos caminharam até o pé da ressequida baraúna, em cuja sombra Lamarca e Zequinha descansaram seus últimos momentos, depois seguiram em direção a uma enorme cruz, erguida no meio da caatinga, poucos metros adiante, no exato local onde Zequinha caiu varado de balas. E os militantes do MST repetiam: "Lamarca não morreu, Lamarca vive".

As palavras de Emiliano José
(À sombra da baraúna no lugar onde Lamarca tombou)

Esta celebração “Vidas pela Vida” teve para mim, pessoalmente, uma importância muito grande. Há quase 30 anos eu acompanho a história de Lamarca. Na época da ditadura militar, eu e Olderico Campos Barreto, estivemos presos juntos na Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador.

Na prisão, eu ouvia fascinado os relatos de Olderico sobre a luta que se travou nesta região. Ao sair da prisão, continuei pesquisando e, em parceria com o jornalista Oldack Miranda, lancei em 1981 o livro “Lamarca, O Capitão da Guerrilha”, que já inspirou os filmes “Portas de Fogo”, do cineasta Edgard Navarro, e “Lamarca”, de Sérgio Rezende.

É com muita emoção que vejo o resgate da pessoa de Lamarca, Zequinha e seus companheiros. Lamarca aqui era nome maldito, fruto do trabalho de terror das forças militares e das elites locais. Aqui houve tempo que só se falava de Lamarca com medo, as pessoas tremiam.

Agora é diferente, graças à coragem de dom Frei Luíz, ao denodo de Adriano Martins, do Centro de Assessoria de Assuruã, às presenças dos pastores Djalma Torres e João Dias. Graças também ao trabalho dos agentes pastorais, dos religiosos, dos líderes comunitários locais, não vamos nos lembrar dos assassinos, dos terroristas militares, dos que aqui plantaram sementes de ódio e medo, mas vamos nos lembrar, sim, dos mártires, dos que plantaram sementes de esperança.

É bom lembrar que tudo aquilo que Lamarca dizia da região continua existindo. A fome, a dureza da seca, a migração, a inexistência da reforma agrária, a terra que não é repartida, então, quando lembrarmos de nossos mártires, devemos dizer que a luta continua".

 

Indenização à família de Lamarca desperta ódio de classe

A revista Istoé abriu espaço para o coronel Jarbas Passarinho afirmar que faria “tudo de novo”. Ou seja, censura, seqüestros, torturas, prisões, desaparecimentos e mortes de opositores. A TV Globo tratou o tema de forma jocosa, invertendo as coisas, mentindo. A revista Veja e o Estadão extrapolaram. Pareciam panfletos do Comando de Caça aos Comunistas do regime militar. O blog do Reinaldo Azevedo espumava, com velhos chavões anticomunistas. Para fazer a luta ideológica vale tudo para essa gente, mentir e falsear os fatos. Muito ódio de classe. Tudo foi provocado pela justa indenização à família do capitão Carlos Lamarca, assassinado pela repressão militar.

LEIA O ARTIGO DE ALTAMIRO BORGES:

Caso Lamarca

Adital – A decisão da Comissão de Anistia do governo Lula, de fazer uma justiça histórica ao promover para o posto de general o capitão Carlos Lamarca e de indenizar sua família, gerou uma brutal reação da mídia burguesa, que não perde a oportunidade para demonstrar o seu truculento caráter de classe. A revista IstoÉ trouxe uma inoportuna entrevista com o coronel reformado Jarbas Passarinho, ex-ministro dos governos do ditadura, atacando a medida e afirmando, com todas as letras, que "eu faria tudo de novo" - golpe, prisões, torturas e assassinatos de patriotas.

Já a TV Globo divulgou a decisão sempre de forma jocosa, como se o guerrilheiro morto na Bahia fosse um monstro e seus algozes fossem os heróis que evitaram a "ditadura comunista".

As reações mais hidrófobas, entretanto, partiram da revista Veja (sempre ela!) e do jornalão conservador O Estado de S.Paulo. Com o título "bolsa-terrorismo", o panfleto da famiglia Civita parece ter sido escrito por algum fanático do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) remanescente do período do regime militar.

O texto é totalmente editorializado, não tem nada de informativo, e revela uma saudade mórbida da ditadura - talvez como gratidão pelos subsídios estatais que viabilizaram a construção do império midiático da Editora Abril. Já no seu blog da Veja, Reinaldo Azevedo, um raivoso mentor "intelectual" do PSDB, abusa dos adjetivos e chavões para atacar as indenizações às vitimas da ditadura militar previstas na Lei da Anistia.

Blog fascista de Reinaldo Azevedo

"Os terroristas não sabiam, mas estavam investindo em seu patrimônio. Ou da família. Até gente que nunca atirou uma pedra com estilingue recebeu indenizações milionárias como ‘vitimas da ditadura’. Lula é um pensionista, imaginem", debocha o articulista da "nova direita", esquecendo-se de citar seus amigos tucanos que também foram incluídos na Lei da Anistia.

Após confessar que é "anticomunista, o que só pode ser uma doença", achincalha com a biografia heróica do guerrilheiro. "Lamarca desertou do Exército em 1969 para integrar uma facção terrorista. Abriu mão de ser um militar. Morreu [não diz que foi assassinado] em 1971. Mas a comissão do Ministério da Justiça resolveu ‘promovê-lo’. Promoção por quê? Por ele ter tentado implantar no Brasil um regime que, em caso de sucesso, não teria matado menos de alguns milhões?".

Reinaldo Azevedo encerra seu texto na Veja, intitulado "a bilionária bolsa-terrorismo paga pelo Brasil", de maneira infame: "O Brasil não deve nada a esses caras, incluindo a democracia, que eles tanto detestavam".

Esta mentira histórica descarada é um desrespeito a todos que lutaram contra a ditadura militar e merecia a abertura de processos jurídicos de suas vítimas. Até lideranças do PSDB, que tiveram o reconhecido mérito de lutar pela redemocratização do país, deveriam protestar contra este "jornalista" que a mídia apresenta como "mentor tucano". Do contrário, elas serão cúmplices das sandices deste provocador fascistóide.

Ranço anticomunista do Estadão

Com o mesmo rancor, mas sem se esconder atrás do falso ecletismo das matérias jornalísticas ou dos bem pagos colunistas, o Estadão expôs sua opinião direitista já no editorial "prêmio ao facínora desertor". Nele o jornalão conservador afirma que "a decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, concedendo pensão equivalente ao soldo de general-de-brigada à viúva do capitão desertor Carlos Lamarca, ultrapassa todos os limites do bom senso".

Após citar outro intelectual vinculado ao PSDB (baita companhia), Leôncio Martins Rodrigues, que afirma que a indenização "é uma recompensa a quem queria instaurar uma ditadura socialista", o editorial tenta se colocar acima dos poderes da República, como autêntico "partido da direita".

Além de criticar o Superior Tribunal de Justiça (STJ), "que considerou, de forma arbitrária e descabida, que Lamarca teria chegado ao posto se tivesse continuado na carreira militar", o jornal condena as declarações do ministro Tarso Genro, que avaliou como "juridicamente correto e politicamente adequado a concessão do benefício" e chamou Lamarca de "um símbolo da ‘resistência radical’ á ditadura militar".

Lembrando o sombrio período pré-golpe de 64, quando conclamou a indisciplina dos militares, o Estadão afirma que "a promoção póstuma, verdadeiro prêmio ao facínora desertor, constitui uma provocação às Forças Armadas". Preocupado com o futuro, o jornalão conservador teme a carga simbólica da decisão na juventude brasileira:

Cinismo e ódio de classe

"As sociedades precisam de seus heróis, de figuras históricas que se tornam modelos de comportamento por seus atos de coragem, generosidade e descortino em defesa de valores fundamentais ao interesse coletivo. Tentar colocar o terrorista Carlos Lamarca nessa categoria histórica é pura aberração. Muitos foram os que lutaram contra a ditadura militar... Seguramente, entre esses não estavam Carlos Lamarca, Yara Iavelberg e seus companheiros da VPR ou do MR-8. O que eles queriam era derrubar uma ditadura e implantar outra, mais cruel e liberticida. Reconhecer a exemplaridade da figura de Carlos Lamarca é fazer reconhecimento de valor de seus métodos de luta pelo poder. É particularmente alarmante que isso ocorra no momento crítico em que o uso da violência dos chamados ‘movimentos sociais’ é não só tolerado, mas enaltecido".

Nada mais revelador da postura direitista e hipócrita da mídia burguesia.

Primeiro tenta negar que Lamarca, que abdicou de uma carreira militar meteórica para lutar contra ditadura, seja um exemplo de "coragem e de generosidade" - o que é exatamente o seu caso e não dos amigos fascistas do Estadão.

Segundo, o editorial tenta se apossar cinicamente da história dos que lutaram pela democracia - exatamente o mesmo jornal que conclamou o golpe militar de 1964 e silenciou diante das torturas. E, de quebra, ainda ataca os movimentos sociais da atualidade, revelando o ódio de classe da oligárquica família Mesquita aos os que lutaram, ontem e hoje, contra a opressão e a injustiça. Na prática, o Estadão tem saudades da paz do cemitério da ditadura.

Mentiras da mídia golpista

Num texto carregado de justa indignação, o editor-chefe da Carta Maior, Flávio Aguiar, contesta todos os falaciosos argumentos apresentados pela mídia contra a decisão da Comissão de Anistia.

"O primeiro é de que Lamarca era um desertor, um traidor, portanto. Estava fora do exército. Ora, este argumento esbarra na ilegalidade e na ilegitimidade do Estado instalado com o regime de 1964... O regime nazista instituiu o mal como virtude.
Em outra escala, é verdade, o regime brasileiro de 1964 fez o mesmo: passaram a ser virtudes a delação, a perseguição, a tortura, a eliminação dos adversários, a censura, a prisão arbitrária... Quantas pessoas tiveram de deixar suas atividades, seus empregos, suas comodidades, por questões de consciência? Lamarca não foi um desertor. Seu gesto foi extremo, é verdade, mas foi motivado em primeiro lugar pelo estado de ilegalidade e ilegitimidade que o país inteiro vivia".

"O segundo argumento é o de que Lamarca ‘morreu em combate’, e isso é dos azares de quem optou pela luta armada. Ele não estava preso, como, por exemplo, o jornalista Vladimir Herzog, outro ‘suicidado’ pela ditadura. O argumento foge completamente ao espírito de qualquer anistia, mesmo a parcial imposta pela ditadura. Ainda assim ele esbarra na constatação óbvia de que o fim de Lamarca fora decretado antes, como fica evidente pelo modo como ele foi morto, sem chance de defesa nem de fuga, até com dificuldade para andar... Lamarca foi varado por sete tiros ‘ao se levantar’, deitado que estava, prostrado pela exaustão. Em nenhum momento falou-se em qualquer reação, o que mostra que a sentença já estava lavrada".

"O terceiro levanta dúvidas sobre a natureza da luta de Lamarca. Ele não estaria lutando ‘pela democracia’, mas para instalar uma ‘república socialista’, ou seja, a famosa ou famigerada ditadura do proletariado. Mas este argumento morde o próprio rabo. Fossem quais fossem suas convicções, Lamarca lutava por elas sim, mas lutava também pelo direito dos cidadãos brasileiros terem convicções e poderem exercê-las.

A presunção de que isso levaria a tal ou qual beco sem saída ou com outras saídas da história é apenas e nada mais que isso: uma presunção. Havia uma ditadura de fato, a que conhecemos e que hoje qualquer brasileiro de bem deve execrar... Não se pode julgar alguém pelo crime que não teve oportunidade de cometer".

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).

29 de junho de 2007

 

Santo Amaro, a cidade mais poluida por chumbo do mundo, está perto de se livrar da contaminação

Empresa Bolland explica como vai livrar Santo Amaro do chumbo que adoece trabalhadores e assusta a classe média

A Bolland do Brasil, empresa que vai trabalhar na retirada dos resíduos de metais pesados deixados pela antiga Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac), em Santo Amaro, vai recuperar da escória três metais: zinco, ferro e chumbo. Santo Amaro é considerada a cidade mais contaminada por chumbo, no mundo inteiro.

Só é possível entender a importância da chegada da Bolland do Brasil quando lembramos que foram 33 anos de contaminação, passando por toda a ditadura militar, em conseqüência das atividades da Cobrac, subsidiária da empresa francesa Peñarroya Oxide S. A., uma das líderes mundiais na produção de óxidos de chumbo.

Você pode achar que é exagero vincular a atividade da Peñarroya à ditadura militar. Não é exagero não. A Mineração Boquira, controlada pela empresa francesa, chegou a ser base de apoio para as operações de cerco ao capitão Carlos Lamarca, assassinado em 1971 há poucos quilômetros de Boquira, em Pintada, localidade do município de Ipupiara. Mas isso é outra história.

RASTRO DE DESTRUIÇÃO

A multinacional produziu e comercializou 900 mil toneladas de liga de chumbo e gerou um passivo ambiental de 3 milhões de toneladas de rejeitos e cerca de 300 mil toneladas de escória com alta concentração de chumbo.

Quando a empresa encerrou as atividades, em 1993, deixou para trás um rastro de destruição e doenças. A escória exposta a céu aberto espalhou chumbo pelas ruas, pelos rebocos das residências, no solo e na água do rio Subaé, que arrastou o metal pesado para a Baía de Todos os Santos.

Durante aqueles anos mandava na Bahia o hoje moribundo senador Antônio Carlos Magalhães.

Os danos causados ao meio ambiente tiveram como conseqüência a contaminação da população santamarense, principalmente os ex-trabalhadores e moradores do entorno da fábrica.

Surgiu então o saturnismo, uma doença que afina os braços, paralisa as mãos, provoca dores agudas, causa impotência sexual nos homens e aborto e má formação fetal nas mulheres.

Por causa do excesso de metais na água e no solo, outras doenças como anemia, câncer de pulmão, lesões renais, hipertensão arterial, doenças cérebro-vasculares e alterações psicomotoras também foram identificadas.

A CLASSE MÉDIA NÃO QUERIA OUVIR

Desde 2003, Adailson Pereira Moura, presidente da Associação das Vítimas da Contaminação de Chumbo, Cádmio, Mercúrio e outros elementos químicos (Avicca), lidera a luta das famílias contaminadas pela Cobrac/Peñarroya. Ele próprio trabalhou na antiga fábrica e contraiu doenças. Nunca conseguiu indenização do INSS por conta do saturnismo que não é reconhecido como doença ocupacional.

Durante todos estes anos D. Canô, matriarca da família Veloso manteve-se em silêncio. A lembrança da contaminação da cidade por chumbo sempre incomodou a classe média, atrapalhava o turismo religioso. Apenas Caetano Veloso se preocupou em “mandar os malditos embora”.

BOLLAND EXPLICA PROJETO

O supervisor de Mineração da empresa, Alberto Azevedo, explicou que o projeto será realizado a partir de um método de circuito fechado, o que afastará a possibilidade de nova contaminação. “A emissão de gases é muito pequena e contaremos com filtros para a captação de partículas sólidas.

O local onde será feito o tratamento será todo coberto com resinas sólidas, para evitar infiltrações”, destacou. O projeto está sendo orçado em R$ 20 milhões e deverá gerar 90 empregos diretos.

As explicações foram dadas á população durante um seminário realizado dia 28 de junho, em Santo Amaro, para comunicar à população como será feito o reprocessamento da escória de chumbo que faz da cidade uma das mais poluídas do mundo por metais pesados.

A expectativa é que, a partir do início das operações, em 50 meses sejam retiradas 150 mil toneladas da escória, principal passivo ambiental da cidade.

TRAGÉDIA AMBIENTAL

De acordo com o superintendente da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Wagner, Paulo César Bastos, há cerca de 50 anos a cidade vem sendo vítima de uma verdadeira tragédia ambiental.

Uma das primeiras ações do Governo da Bahia foi a identificação de uma fábrica com a metodologia apropriada para a purificação, que inicialmente será feita na área da antiga fábrica”.

Bastos destaca que a Bolland já conta com a licença ambiental do Centro de Recursos Ambientais (CRA) e deverá iniciar suas operações a partir de 2008.

“Enquanto isso, estamos verificando estudos da Ufba para a purificação das áreas contaminadas de rua, já que boa parte da escória foi utilizada na pavimentação do município”, completa.

 

Luiz Caetano, prefeito de Camaçari, fala sobre a Operação Navalha

Entrevista concedida à Assessoria de Imprensa do PT da Bahia.

- Por que o Sr. foi preso pela Polícia Federal?

Luiz Caetano - Meu caro, sinceramente, até agora não sei por quê. A prefeitura de Camaçari não tem contrato com a Gautama, muito menos qualquer ordem de serviço. A Gautama venceu uma licitação no governo anterior, enquanto Tude era o prefeito. Eu cancelei o contrato. Por essa razão, havia muito assédio por parte de Zuleido e de seus funcionários.

- Houve excessos na Operação Navalha, especialmente na sua prisão?

Luiz Caetano - Foi uma tremenda injustiça comigo. O Teotônio Vilela (governador de Alagoas) pagou R$ 70 milhões à Gautama e não foi preso. Eu não paguei um centavo. Minha prisão foi desnecessária. Acho que foi uma armação, mas ainda não posso falar. Não tenho como provar nada.

- Se a Prefeitura de Camaçari não tem nenhum envolvimento com a Gautama, então porque o Sr. afastou o secretário de Obras, Iran Ferreira?

Luiz Caetano - Como te disse, Camaçari não tem nenhum envolvimento com esta empresa. Olha, antes é preciso dizer que acredito na inocência do meu pessoal. Agora, afastei Iran e um de seus assessores para garantir a lisura do processo de investigação e para que eles possam preparar a defesa deles. É assim na democracia. Existem indicativos de que eles foram procurados e que tiveram contato com funcionários da Gautama. Mas, até que se prove o contrário, acredito na inocência deles.

- Durante os seis dias em que o Sr. ficou detido na carceragem da PF em Brasília, passou por sua cabeça que o Sr. podia perder o mandato ou ser execrado pela opinião pública?

Luiz Caetano - Em nenhum momento me preocupei com o meu mandato. Isso realmente não passou por minha cabeça. Minha preocupação era provar minha inocência, sair da prisão. Não sabia como o povo de minha terra tinha encarado a situação. Via sempre na TV meu nome associado ao de uma quadrilha. Fiquei muito triste. Muito revoltado. Mas, o povo de Camaçari foi solidário e acredita na minha inocência.

- Como foi o seu depoimento à ministra Eliana Calmon, responsável pelos mandatos de prisão da Operação Navalha, na qual o Sr. foi enquadrado?

Luiz Caetano - De minha parte foi muito tranqüilo, agora não posso dizer o mesmo dela. Quando a ministra me perguntou: prefeito, como vai a obra lá em sua cidade? Vi uma preocupação no olhar da ministra quando respondi que não havia obra. Ela ficou com o semblante de inquietação. Ficou meio desconcertada e descobriu a injustiça que tinha cometido.

- Prefeito, o Sr. declarou ou não os 142 mil reais e os três mil dólares à Receita Federal? Sonegação de imposto não é crime?

Luiz Caetano - Antes tenho que te dizer que aquele dinheiro foi resultado de anos de economias pessoais, tanto minhas quanto de minha esposa. Também recentemente estive na Europa, portanto tive que trocar Real por Dólar, isso foi feito no Banco do Brasil. Não há crime em guardar dinheiro em casa. Tenho registro em minha carteira de trabalho como farmacêutico, trabalhei como professor de cursinho, já fui vereador. Todo dinheiro é resultado do meu suor. Mas, é verdade que eu não declarei. Assim que recebê-lo de volta farei isso.

- A Executiva Estadual do PT foi solidária ao Sr.?

Luiz Caetano - O Partido dos Trabalhadores não me abandonou. Todo mundo, inclusive o presidente do PT na Bahia, Marcelino Galo, foi solidário e acredita em minha inocência. Também tive apoio de Nelson Pelegrino, da deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), dos vereadores da Camaçari, todo mundo. Foi realmente emocionante descobrir que sou benquisto por tanta gente. Olha, foi isso que me deu força pra segurar a barra.

- O Sr. acha que sofreria um processo de impeachment se não tivesse maioria na Câmara Municipal?

Luiz Caetano - Não, porque houve um engano da Polícia Federal. Minha prisão foi um equívoco, pra não falar outra coisa. Não acredito que haveria impeachment. Até porque a Câmara Municipal montou uma comissão especial mista para analisar a situação. Eles constataram que não houve nenhuma ilicitude, não houve nada de errado entre a Prefeitura de Camaçari e a Gautama. Portanto, não foi um apoio gratuito. Os vereadores me apoiaram depois de investigar exaustivamente o caso. O que eu quero é isso, que antes de me julgar, todos possam analisar a situação.

- Houve algum prejuízo político para o Sr. nesse episódio? Como reverter essa situação?

Luiz Caetano - Mas é claro que houve! Você tem alguma dúvida disso? Minha imagem foi desgastada, foi jogada na lama. A todo tempo a minha imagem foi relacionada a uma quadrilha que fraudava licitações. Lá na carceragem da PF, em Brasília, eu via pelas grades na TV a notícia de que o prefeito de Camaçari foi preso em sua casa por associação com a Gautama e a quadrilha de Zuleido. Isso foi demais! Foi muito difícil! Imagina um homem inocente ouvir isso em rede nacional? Não desejaria isso para meu pior inimigo. Aliás, para ninguém, que nem inimigo eu tenho. Sei que será necessário tempo para que todos possam entender o que realmente houve. O que eu posso fazer é isso: continuar falando com a imprensa livre de nosso Estado, continuar conversando com o povo e, principalmente, abrir as contas da prefeitura pra quem quiser ver. As contas, os documentos, está tudo aqui disponível pra quem quiser ver. Repito mais uma vez com convicção: Camaçari não tem nada a ver com a Gautama, pelo menos durante meu governo.

- Com a proximidade das eleições municipais, o Sr. pensa em reeleição?

Luiz Caetano - Sei lá! Isso tudo me deixou meio transtornado. Mas, posso lhe dizer o seguinte: tenho 35 anos de vida pública. Não posso deixar que esse episódio acabe comigo. A população de minha cidade tem um carinho especial por mim. Eles sabem o trabalho que nós temos realizado. Eles reconhecem o que Camaçari era antes e o que ela é hoje. Portanto, esse é um assunto que vou pensar com calma. Muita calma!

Assessoria de Imprensa - PT/Ba

 

Ex-presidente da ex-RCTV está no Brasil e mente cinicamente

Leia registro do blog do zé Dirceu. Não é preciso dizer mais nada:

O cinismo de Granier

O ex- presidente da RCTV da Venezuela, Marcel Granier, está no Brasil. Ontem (28), em São Paulo, na FIESP, segundo a Folha, ele disse que não houve golpe de estado na Venezuela em 2002, e sim "um vazio de poder". Por essa declaração dá para entender porque o Presidente Hugo Chávez não renovou a concessão da RCTV. Não há nada mais cínico e mentiroso.

É uma afirmação de uma falsidade histórica inacreditável. Que, aliás, a Folha deixou passar batida, numa matéria que aproveita para dar vazão às críticas de Granier a Gustavo Cisneros que não segue a linha golpista e ilegal da RCTV, apesar de ser oposição ao governo de Hugo Chávez.

Marcel Granier tinha um convite do Senado para ir à Comissão de Relações Exteriores. Adiou. Vamos ver como sustenta lá essa tese absurda de que não houve golpe de estado em 2002 na Venezuela, golpe do qual a RCTV participou ativamente, apoiou e sustentou, fora as campanhas abertas pela derrubada do governo e mesmo o assassinato do Presidente Hugo Chávez.

Também espero que, tanto a FIESP, como o Senado da República, convidem autoridades do governo venezuelano para explicar a decisão, legal e constitucional, do Presidente Chávez e de seu governo de não renovar a concessão da RCTV.

 

Juíza do STJ retira prefeito Luiz Caetano, de Camaçari, da Operação Navalha

Deu na primeira página do jornal Tribuna da Bahia: “Juíza do STJ retira Caetano da Operação Navalha”. Na página de dentro replica a manchete: “STJ recomenda Justiça baiana a analisar caso Caetano”.

Segue o texto da Tribuna da Bahia:

A pedido do Ministério Público Federal, a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), decidiu EXCLUIR do processo principal da Operação Navalha os fatos relativos a Camaçari, principalmente no que se refere ao prefeito Luiz Caetano.

Ela determinou que o caso seja apreciado pelo Tribunal de Justiça da Bahia, como diz no despacho, baseada no artigo 29, inciso X da Constituição Federal.

A decisão da ministra comprova o que sempre foi dito, ou seja, na atual administração NUNCA houve licitação com a participação da Gautama, NÃO Foi firmado contrato com a construtora, NÃO foi expedida ordem de serviço e NUNCA foi feito qualquer pagamento à empreiteira.

Na decisão, a ministra afirma que “NÃO houve incorporação de verba federal ao patrimônio municipal” e considera o Tribunal de Justiça da Bahia “competente para o exame dos fatos”. Ela também autoriza o compartilhamento dos dados sigilosos colhidos no curso das investigações.

A ministra Eliana Calmon tomou a decisão com base em requerimento encaminhado ao STJ pelo Ministério Público Federal, que pede o desmembramento do processo, com o envio das peças para o Tribunal Regional Federal, sob o argumento de que “não houve consumação de dano aos cofres públicos.

NOTA DO BLOG: Daqui, desde o primeiro dia denunciamos a prisão ilegal do prefeito Luiz Caetano, de Camaçari. Criticamos o açodamento da mídia, famélica atrás de manchetes e culpados. Criticamos a decisão precipitada da juíza Eliana Calmon. Criticamos até as informações truncadas passadas pela Controladoria-Geral da União. Sobretudo, criticamos a ação espetaculosa da Polícia Federal, cuja investigação afinal revelou-se incompetente. Que país é este?

LEIA O QUE BAHIA DE FATO ESCREVEU

Quinta-feira, Maio 17, 2007

E se Caetano for inocente? Como fica a PF? E a ministra do STJ?

Se as explicações dos advogados de Camaçari estiverem corretas, quem vai ter muito que se explicar ao Brasil é a ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon. Ou, na pior das hipóteses, os delegados que redigiram o relatório da Polícia Federal sobre o suposto envolvimento do prefeito de Camaçari, Luis Caetano, no esquema montado pela construtora Gautama, para fraudar licitações públicas.

A questão é que os advogados alegam que a administração anterior, de José Tude, do PFL, é que mantinha contrato com a Gautama, que teria expirado em 2004. Ora, Luiz Caetano tomou posse em 2005. Como poderia estar envolvido?

Um contrato com a construtora Gautama pela administração do PFL, derrotada pelo candidato do PT, Luiz Caetano, faz sentido, já que o presidente da empresa, Zuleido Veras, foi diretor da OAS. José Tude, PFL, OAS, Gautama, tudo a ver.

Basta lembrar que a Gautama teve como cliente a prefeitura de Salvador, na Era Imbassahy, o Governo da Bahia, na Era Paulo Souto, a prefeitura de Ilhéus (do PFL) a prefeitura de Nazaré (do PFL). Por que nada disso veio à tona?

O esquema legal da Operação Navalha começou a furar quando o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu a prisão preventiva do governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), tendo a ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon, se recusado a determinar a prisão em sua decisão. Não havia base legal.

Se não acreditasse na inocência de Luiz Caetano, o PT da Bahia não teria divulgado uma nota pública tão decidida e forte. Pela nota do PT, realmente há grande possibilidade de um erro no relatório da Polícia Federal, que pode ter induzido a ministra do STJ a uma decisão equivocada.

Se também não tivesse certeza, jamais o governador da Bahia, Jaques Wagner, teria afirmado à Agência Brasil não acreditar no envolvimento em corrupção do prefeito de Camaçari. E mais, acreditar que Luis Caetano vai provar sua inocência.

O que a Polícia Federal tem contra Caetano? Ele é acusado de participar do esquema assinando convênios e contratos com o Governo Federal. Em troca teria recebido convites para o camarote da Gautama, em Salvador, passeios de lancha, passagens aéreas e hospedagem na cidade. A Polícia Federal vai ter que apresentar provas mais consistentes, porque tudo isso é bobagem. Principalmente se o contrato da Gautama com Camaçari tiver sido mesmo assinado em 1999, na gestão do PFL. Que fraude em licitação?

Na verdade, não será Luiz Caetano que terá que provar inocência coisa nenhuma. É a Polícia Federal que terá que provar a culpa do prefeito. Caso contrário, será mais uma operação desmoralizada, como é tradição no Brasil.

O direito brasileiro considera todos inocentes até que se prove o contrário. Tenho dúvidas se há inocentes na Polícia Federal e no STJ.

Ter dúvidas não é crime, não é?

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LEIA O QUE BAHIA DE FATO ESCREVEU:

Governador da Bahia não acredita que Caetano esteja envolvido com corrupção. Caetano vai provar sua inocência afirma Wagner.

O governador da Bahia, Jaques Wagner, disse hoje à Agência Brasil acreditar que as investigações da Polícia Federal concluirão pela inocência do prefeito de Camaçari, Luiz Caetano, preso hoje (17) durante a Operação Navalha. Companheiros de partido (PT), Wagner também iniciou a história política em Camaçari, sua principal base eleitoral. O governador apoiou Caetano na campanha para prefeito em 2004.

"Até que provem o contrário eu considero todos inocentes, particularmente o prefeito Luiz Caetano", comentou Wagner, após elogiar as atuações da PF, que "tem sido positiva no sentido de redundar na diminuição do desvio do dinheiro público".

O governador disse que a informação a que teve acesso é que prefeitura não tem, atualmente contrato com a construtora Gautama, sediada em Salvador e que está sendo investigada. Segundo Wagner havia um contrato assinado na gestão anterior à do prefeito Luiz Caetano, que não foi renovado porque o próprio prefeito não aceitou.

"Por todos os elementos que eu tenho, até agora eu acho que o prefeito não tem nenhum envolvimento". Wagner disse que acompanhará as investigações com tranqüilidade, esperando que todas as indagações se resolvam. "É claro que se a Polícia Federal e o Ministério público pediram que ele seja interrogado, quero crer que exista alguma coisa na investigação que eu tenho convicção, será esclarecido".

Jaques Wagner, que está em Brasília, afirmou ter tomado conhecimento da Operação Navalha apenas hoje pela manhã. Nesta tarde, Wagner se reuniu com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir a ampliação da capacidade de investimento do estado.

O advogado pessoal do prefeito de Camaçari, Maurício Vasconcelos, nega o envolvimento de Luiz Carlos Caetano com a Empresa Gautama. Segundo ele, a prefeitura não tem nenhum contrato atual com a empresa e o contrato que tinha foi feito na gestão passada.

Vasconcelos está a caminho de Brasília para falar à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre as dificuldades que está enfrentando para ter acesso ao seu cliente e aos presos na operação. O advogado disse ainda, que as pessoas envolvidas no esquema serão transferidas para a capital federal na semana que vem e que os depoimentos começam na segunda-feira (21).

Fonte: Agência Brasil

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LEIA O QUE BAHIA DE FATO ESCREVEU:

Prisão de Luiz Caetano de Camaçari é escandalosamente ilegal e abusiva

O PT da Bahia divulgou nota de solidariedade ao prefeito de Camaçari, Luis Caetano, preso pela Operação Navalha. A nota do PT explica que Luis Caetano tomou posse em 2005 e o contrato com a Gautama, celebrado pela administração anterior, do PFL, venceu em 2004. Luis Caetano não tem contrato com a Gautama. Como poderia ser corrompido? A prisão de Caetano é escandalosamente ilegal e abusiva. Este blog tem afirmado que a Operação Navalha é o início da campanha eleitoral de 2008. Cheira malandragem política.

LEIA A NOTA DO PT DA BAHIA:

O Partido dos Trabalhadores da Bahia manifesta total apoio ao prefeito de Camaçari Luiz Caetano, que na manhã de hoje (17) recebeu mandado de prisão expedida pela Ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon, para atender a Operação Navalha que foi deflagrada na manhã de hoje, com o objetivo de desarticular organizações criminosas que atuam desviando recursos públicos federais em alguns estados, dentre eles a Bahia.

A operação é realizada nos Estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Sergipe, Pernambuco, Piauí, Maranhão, São Paulo e no Distrito Federal e visa punir os responsáveis pelos desvios de recursos públicos federais.

No caso do prefeito Luiz Caetano, a ordem partiu do STJ de maneira abusiva e ilegal, pois não há denúncia formulada contra o mesmo e nenhuma prova que o condene.

O prefeito de Camaçari está sendo acusado de participar, ilegalmente, de um processo licitatório que envolve a empresa Gautama, do empresário Zuleido Veras, contratada em 1999 ainda na gestão PFL. O contrato com a referida empresa venceu em 2004 e o prefeito Caetano tomou posso no ano seguinte e não renovou o contrato da Gautama.

O presidente do PT na Bahia, Marcelino Galo e o Secretário de Comunicação do Partido, Ivan Alex Teixeira, estão acompanhando todo o processo junto com o prefeito que aguarda alvará de soltura que deverá ser expedido ainda esta tarde pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ).

O Partido dos Trabalhadores acredita piamente na idoneidade do Luiz Caetano e reafirma seu apoio ao prefeito reiterando que o mesmo desconhecia a ilegalidade do processo licitatório que foi firmado ainda na gestão anterior e que não foi renovado pelo mesmo.

Fonte: Assessoria de Imprensa - PT/Ba

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LEIA O QUE BAHIA DE FATO REGISTROU:

OAB afirma que prisão de Luis Caetano é ilegal

O advogado do prefeito de Camaçari, Maurício Vasconcelos, afirmou logo cedo que a Polícia Federal estava impondo obstáculos ao acesso dos advogados a seu cliente. O presidente da OAB-Ba, Saul Quadros, que esteve na sede da PF, disse que o que aconteceu foi ilegal e que ele próprio falou com o ministro da Justiça, Tarso Genro, sobre a situação.

A PF, por sua vez, disse que num primeiro momento houve um stress muito grande o que gerou um mal-entendido. Saul disse ainda que os presos devem deixar a sede da PF no final da tarde, e que seguirão para Brasília em um avião da FAB.

A operação "Navalha", desencadeada pela Polícia Federal a partir de mandados de prisão, busca e apreensão, assinados pela ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a baiana Eliana Calmon, é de imensa complexidade. Uma engrenagem de ilícitos envolvendo propina, tendo como geradora a empresa Gautama, do empresário Zuleido Veras.

Diversas autoridades de vários estados estão envolvidas, dentre elas o filho do governador de Sergipe, João Alves Neto, os sobrinhos do governador do Maranhão, Alexandre Lago e Francisco Lima Jr., dentre outros. Da Bahia, estão envolvidos e presos, além do prefeito de Camaçari, Luis Caetano, o secretário de Obras do município, Iran César de Araújo Filho, o empresário Vicente Coni, o assessor do secretário de Obras de Camaçari, Edílio Pereira Neto e o subsecretário, Everaldo José Alves.

Sobre Luis Caetano, o processo do STJ informa: "O prefeito do município de Camaçari, juntamente com outros servidores públicos do Município, foi corrompido pelo grupo e estava à frente dos atos criminosos nos episódios de direcionamento de recursos federais do Ministério das Cidades para a execução de obras naquele município, com fraude à licitação e ao convênio com o Ministério das Cidades que favoreceu a empresa Gautama [...]".

Fonte: www.samuelcelestino.com.br

 

Ecos do passado: artigo sobre Lamarca repercute

O artigo Ecos do Passado, relatando a verdade sobre o assassinato do capitão Lamarca, da autoria do jornalista e escritor Emiliano José, publicado originalmente na página de Opinião do jornal A Tarde (25/06/07) ganhou corpo na Internet. Já foi publicado pela revista Terra Magazine (http://terramagazine.terra) no site da Liderança do PT da Bahia (www.liderancadoptbahia.com), no site do próprio Emiliano José (www.emilianojose.com.br) e neste blog Bahia de Fato.

O artigo desmascara a versão mentirosa dos militares, difundida pela mídia, com honrosas exceções a exemplo da revista Carta Capital.

 

Blog do Galinho reconhece Blog Bahia de Fato

Sou um néscio. Nem sequer conhecia o Blog do Galinho. Acabo de receber um post me dando conhecimento de que acabo de ser “linkado”. Então fui dar uma espiada. Paulo Galo é o paulistano mais baiano que já vi. No bom sentido. Os textos sobre a cultura baiana são profundos. Falam do dialeto, dos políticos e do modo baiano de encarar o tempo. Vou incorporar o Blog do Galinho entre os meus favoritos. Na minha relação só tem blog inteligente.

VÁ AO BLOG DO GALINHO:

http://blogdogalinho.blogspot.com/

26 de junho de 2007

 

Painel da Folha inventa nota

Segunda-feira, 25, a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, publicou uma nota intitulada “All business”, afirmando que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, queixou-se ao Palácio do Planalto porque Zé Dirceu, quando vai à Venezuela “só quer tratar de negócios”. Ora, agora em julho vai completar um ano que o ex-ministro da Casa Civil não vai à Venezuela. É fácil conferir. Claro que é uma mentira de Renata Lo Prete. Sem falar que, evidentemente, Chávez nunca sairia de seus cuidados para esse tipo de bobagem. Como a redatora não disse que era uma piadinha de mau-gosto, na edição do dia seguinte, fica a impressão que você pode estar sempre comprando gato por lebre no Painel da Folha.

Com licença da palavra. Boa bosta o “jornalismo” da Folha.

 

Mesmo com jornalismo-baixaria da Folha, caso Vavá e crise aérea não afetaram imagem de Lula

Com 64% de aprovação, a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi afetada pelos episódios da crise aérea nem pelo indiciamento de seu irmão mais velho, Genival Inácio da Silva, o Vavá, pela Polícia Federal.

Para o diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, a estabilidade da economia e os programas sociais estão sustentando a imagem positiva do presidente. O registro é da Folha de S. Paulo. O redator poderia acrescentar: não foi afetada mesmo com a tentativa da Folha de colar o noticiário à imagem de Lula. A Folha falhou na sua missão auto-imposta.

"A pesquisa revela um cenário positivo e estável para o presidente. A figura do presidente está isenta de alguns episódios. As âncoras são a estabilidade da economia e os programas sociais", disse O diretor do Instituto Sensus.
A aprovação do presidente Lula atingiu 64% em junho, o segundo melhor resultado desde 2005. Na pesquisa anterior, realizada em abril, 63,7% disseram aprovar o presidente.

 

Laudo do IML da Bahia provou que Lamarca foi assassinado, como Che Guevara

“Lamarca e os ecos do passado”. Esse foi o título do artigo do jornalista Emiliano José, publicado na página de Opinião, do Jornal A Tarde (25/06/2007). Emiliano José se reporta ao laudo necroscópico, assinado pelo legista Charles Pittex, do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, que desvendou as circunstâncias da morte do capitão Carlos Lamarca.

O essencial é que o laudo 148262 do IML da Bahia revela que Lamarca recebeu três tiros pelas costas, de pé, quando se levantou: um na região glútea, um na face dorsal da mão direita, um na região braquial esquerda. Tiros não-fatais que certamente provocaram sua queda. Nesse momento, era dever dos agentes públicos – para pensar em legalidade - prestar socorro e prendê-lo.

Mas, não. A ditadura era assassina, como da sua natureza, como da natureza dos militares que comandavam a operação. No chão, Lamarca leva mais quatro tiros, todos de cima para baixo, de duas direções, de mais de uma arma militar. Três tiros na região peitoral e um tiro fatal, que entra pelo úmero direito, atravessa o tórax, atingindo o pulmão e o coração.

Lamarca foi assassinado, a União é responsável.

LEIA O ARTIGO NA ÍNTEGRA:

Lamarca e os ecos do passado

Emiliano José*

Com algum esforço, tentando evitar as implicações emocionais, a indignação contra uma ditadura militar que torturou, matou, seqüestrou, fez desaparecer pessoas, quero repor algumas verdades sobre o caso Lamarca, que tanta celeuma causou nos últimos dias. Lamarca, vamos acentuar, para além de quaisquer outros julgamentos, e olhe que os tenho e estão registrados no livro que eu e Oldack Miranda escrevemos, foi assassinado friamente pela ditadura militar. E assassinato é assassinato, não pode ser chamado de outro nome.

Nosso livro registra o assassinato, e foi escrito a quente, em 1980, quando as fontes eram escassas. O importante, se não fosse o nosso livro a abrir as picadas da investigação, é aquilo que o jornalista Bernardino Furtado, do jornal O Globo, com quem estive aqui em Salvador, ter desvendado de uma vez por todas tal assassinato. Ele teve à mão documentos que restaram clandestinos durante 25 anos, e que revelavam a atitude da ditadura quanto ao militar que eles consideravam um traidor.

Os documentos eram assinados pelo legista Charles Pittex – tratava-se do laudo necroscópico, um álbum de fotos de necropsia e de identificação, e mais o Relatório da Operação Pajussara (que já tivéramos em mão quando da feitura do livro), cartas trocadas por Lamarca e Yara Yavelberg e um álbum com impressões digitais.

O importante – essencial – é que o laudo 148262 do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues da Bahia revela que Lamarca recebeu três tiros pelas costas, de pé, quando se levantou: um na região glútea, um na face dorsal da mão direita, um na região braquial esquerda. Tiros não-fatais que certamente provocaram sua queda. Nesse momento, era dever dos agentes públicos – para pensar em legalidade, em humanidade – prestar socorro e prendê-lo.

Mas, não. A ditadura era assassina, como da sua natureza, como da natureza dos militares que comandavam a operação. No chão, Lamarca leva mais quatro tiros, todos de cima para baixo, de duas direções, de mais de uma arma militar. Três tiros na região peitoral e um tiro fatal, que entra pelo úmero direito, atravessa o tórax, atingindo o pulmão e o coração. Tudo isso está no trabalho jornalístico de Bernardino Furtado e revelado também pelo livro de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio, Dos filhos deste solo (da Fundação Perseu Abramo e Boitempo Editorial).

Curiosa toda essa reação contra a decisão que agora reafirma a responsabilidade do Estado brasileiro quanto ao assassinato do capitão Carlos Lamarca. São ecos de um passado que nós não queremos esquecer. Não porque seja bom lembrá-lo, mas porque não esquecê-lo é sinal de sanidade, sinal de que não queremos mais ver repetida uma ditadura como aquela. Mas o passado tem a mania de voltar.

São vozes fantasmagóricas, que parecem não se conformar com os novos tempos democráticos, tempos que pretendem exumar o cadáver da ditadura – cadáver que lembra sempre dor, morte, tortura, sangue, tristeza, ausência de lei, arbítrio absoluto. Mesmo como fantasma, mesmo como espectro, temos de enfrentar esses ecos. Para dizer que o Brasil precisa encarar esse passado. Para não repeti-lo. Nunca mais.

*Jornalista e escritor. Email: emiljose@uol.com.br. Site: www.emilianojose.com.br.

 

Na revista Teoria e Debate Emiliano entrevista ministro Franklin Martins

Está circulando a edição de maio/junho da revista Teoria e Debate, da Fundação Perseu Abramo. Em entrevista concedida aos jornalistas Emiliano José e Ricardo de Azevedo, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins, fala das ações de comunicação do Governo Lula e compartilha reflexões que o fizeram abandonar a militância política da década de 70, dedicar-se ao jornalismo nos últimos trinta anos e, agora, retornar à ação política.

Ele aposta que, se Lula conseguir melhorar sua relação com o Congresso Nacional e assumir uma relação profissional com a imprensa, ao término de seu mandato terá conseguido mudar a face do país.

Na mesma edição, o economista Paul Singer explica os efeitos da legislação sobre os direitos do trabalhador. José Zuquim, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo fala sobre a crise aérea. Os idosos no Brasil, que chegam a 10% da população brasileira, foram alvo de pesquisa da Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc. Prioridade no primeiro mandato do governo Lula, mas encontrando resistência de alguns setores, a transposição do Rio São Francisco até o momento não saiu do papel. A jornalista Tereza Rozowykwiat ouviu as opiniões dos diversos setores envolvidos dando um panorama sobre como anda o projeto.

Luciano Zica, secretário nacional de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, do Ministério do Meio Ambiente, discorre sobre a importância do etanol no contexto latino-americano. A Rodada Doha e o governo brasileiro é tema de artigo do economista Adhemar Mineiro, da Rede Brasileira pela Integração dos Povos, e a derrota da esquerda nas eleições francesas é analisada pelo jornalista Giancarlo Summa.

O especialista em ação cultural, Danilo Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo, Toni Venturi, comenta o mais recente filme de Silvio Da-Rin, Hércules 56, sobre o episódio do seqüestro do embaixador americano no Brasil, e Bruno Magrani de Souza nos conta o que viu na Nigéria, o maior produtor mundial de filmes.

25 de junho de 2007

 

HISTÓRIA FUZILADA. A MÍDIA MENTE E FALSEIA SOBRE LAMARCA

Para criticar a indenização à família de Lamarca, a grande mídia se vale de tudo, até distorcer os fatos e reviver o linguajar da repressão. Mas, a revista Carta Capital repõe a verdade histórica, em reportagem do jornalista Sérgio Lírio, para desgosto dos proprietários de jornal, jornalistas vendidos e militares saudosos dos horrores da ditadura.

A matéria não está na Carta Capital On Line. Quem quiser ler tem que comprar a versão impressa. O jornalista recupera os textos da Folha de S. Paulo e do Estado de S. Paulo. Poderiam ser textos de 1971, quando eles saudaram a morte de Carlos Lamarca entregando a alma aos torturadores dos quartéis. Mas, não. São textos atuais.

O repórter me perguntou sobre o episódio. Eu respondi: “Foi uma execução”. E expliquei que olhando assim à distância parecia uma insanidade, loucura, terrorismo. Mas, o regime era tão insano, louco e terrorista que era um caldeirão favorável ao surgimento das teses da luta armada. Tanto que após a redemocratização tais propostas desapareceram.

Eu entrei na matéria porque junto com o jornalista e escritor Emiliano José escrevi o livro Lamarca, O Capitão da Guerrilha. Ocorreu até uma pequena imprecisão de data. O repórter de Carta Capital afirmou que o livro foi escrito em 1989. Na verdade, foi em 1980, sendo lançado em 1981. Isso tem grande diferença porque em 1989 o país já tinha reconquistado a democracia e em 1981 era ditadura terrorista ainda. Foi duro lançar o livro. Ameaças, processos, pressões.

A matéria de Carta Capital repõe a verdade que a grande mídia – leia-se Folha, Estadão, O Globo, Jornal do Brasil e revistas semanais – insiste em distorcer, mentir e falsear.

Não houve combate. O laudo da necrópsia, assinado pelo legista Charles Pittex, do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, de Salvador, desaparecido durante 25 anos, provou que Lamarca foi executado.

Levou três tiros não-fatais pelas costas, e outros quatro tiros pela frente, na região do peito, sendo um direto no coração, à queima-roupa. O hoje general de pijama, Nilton Cerqueira, deveria ter vergonha e não se vangloriar. É crime matar um prisioneiro. Até na guerra.

O repórter enriquece a matéria ouvindo a historiadora Wilma Antunes Maciel, autora do livro “Capitão Lamarca e a VPR: Repressão Judicial no Brasil”. Também lembra que a reabilitação do guerrilheiro foi fruto de um trabalho da Comissão de Desaparecidos Políticos da Câmara de Deputados, em 1997, sob comando de Nilmário Miranda, ex-Secretário Nacional dos Direitos Humanos.

Em suma. Se Lamarca foi executado, a União tem que pagar. A indenização à família além de legal é justa. Dinheiro algum paga uma vida.

24 de junho de 2007

 

Mino Carta comenta assassinato de Lamarca pela matilha de perseguidores do Exército Brasileiro

O Blog do Mino – leia-se Mino Carta – comenta que, pela reação da mídia à indenização dada à viúva do capitão Carlos Lamarca pela Comissão da Anistia, o tempo não passou. Os artiguetes e editoriais evidenciam o sabujismo tradicional da mídia em relação às Forças Armadas.

Já foi provado que Lamarca foi fuzilado à sombra de uma árvore por uma matilha de perseguidores comandada pelo capitão Nilton Cerqueira, hoje general. Os primeiros três tiros o atingiram pelas costas e mais quatro o alvejaram quando já estava caído e sem ação. Não houve combate, houve um frio assassinato. O post de Mino Carta é brilhante.

http://blogdomino.blig.ig.com.br/

Só falta convocar a Marcha

por Mino Carta

As reações da mídia à indenização dada à viúva de Lamarca pela Comissão de Anistia mostram que o tempo não passou

Memórias dos tempos idos. Estamos em 1971, dirijo a redação de Veja e Octavio Ribeiro, o Pena Branca por obra de uma mecha que logo acima da testa sulca-lhe o cabelo preto, recebe de um oficial do Cenimar, no Rio de Janeiro, cópias de cartas manuscritas de Carlos Lamarca à namorada Iara Iavelberg. Naquele momento ambos já morreram, assassinados por agentes da ditadura.

Ela antes dele, suicida segundo as autoridades de plantão, de verdade, como ficará provado, morta por uma bala que jamais poderia ter disparado. Lamarca foi fuzilado à sombra de uma das ralas árvores da caatinga, por uma matilha de perseguidores, comandada por um capitão, Nilton Cerqueira, hoje general.

Lamarca vinha de uma fuga de centenas de quilômetros pelo sertão, os primeiros três tiros o atingiram pelas costas e mais quatro o alvejaram quando já estava caído e sem ação. Dos 16 companheiros que o seguiram inicialmente, sobrara um apenas. Combate não houve, mas o frio assassínio.

As cartas foram publicadas, 36 anos atrás, e trechos de uma delas saíram na capa de Veja. Eram textos exaltados, da lavra de alguém disposto inexoravelmente a mergulhar em ilusões.

A Veja naquele tempo ia às bancas na segunda-feira e, ao meio-dia, três janízaros à paisana invadiram minha salinha e me carregaram para uma C-14, o veículo preferido pelo DOI-Codi. Primeiro fui conduzido até a sede da PF do bairro de Higienópolis, onde permaneci por umas duas horas em companhia de meliantes de medíocres calibres. Depois fui transferido para o QG do II Exército, não sem antes ouvir da boca de um censor conhecido nos tempos em que dirigia o Jornal da Tarde, sussurrada a frase no meu ouvido enquanto deixava a delegacia: “Desta vez é grave”.

Fiquei em uma cela forrada de aço escovado por mais um punhado de horas, até ser levado à presença de um coronel de aspecto teutônico e de sobrenome Herar. Perguntou: “O senhor sabe por que se encontra aqui?” Respondi ignorar. Disse: “A revista que o senhor dirige publicou material subversivo”. Retruquei: “Fornecido a um repórter da sucursal carioca por um colega seu do Cenimar”.

Olhou-me intrigado. Insisti, e sugeri que ligasse para o próprio. Pediu cortesmente licença e retirou-se por um tempo. Voltou e admitiu: “É verdade, o senhor pode retirar-se em liberdade”. Eram nove horas da noite e fui tomar canja no restaurante do Giovanni Bruno. Até hoje me pergunto quais foram as razões do homem do Cenimar ao entregar as cartas ao Pena Branca. De quem me lembro com saudade. Foi-se há muito tempo, era figura excelente e repórter de primeira.

Tempos difíceis, aqueles, sobretudo para jornalistas sob censura. Não perco, aliás, a oportunidade de lembrar que a maioria não estava. De todo modo, corte para os dias de hoje. Li na sexta passada o editorial da Folha de S.Paulo, intitulado “O caso Lamarca”. Li no sábado o editorial do Estadão, intitulado “Prêmio ao facínora desertor”. Li um breve texto de Veja, intitulado “O Bolsa Terrorismo”.

Segundo a Folha, a decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça representa um prêmio à deserção, a qual, se bem interpreto, justificaria o fuzilamento. É da percepção até do mundo mineral que Lamarca não foi desertor. Se quiserem, amotinado. A quem sustenta que a pena de morte se condiz a desertores, sugiro, em dias de lazer, a visão de um filme de Stanley Kubrick, Glória Feita de Sangue. Conta uma história de deserção da Primeira Guerra Mundial.

Segundo o Estado, o propósito de Lamarca desertor, terrorista, torturador e assassino, era implantar no Brasil uma ditadura mais cruel e liberticida do que a que desabara sobre nós com o golpe de 1964. O jornal chega a evocar com simpatia adversários do regime militar que “contribuíram para o processo de redemocratização” e define como “memorável” o movimento das Diretas Já. Esquece ter implorado o golpe e condenado o movimento.

A Veja atinge o paroxismo. Lamarca “foi morto em combate por militares que cumpriam o dever de detê-lo”, mas o “terrorista” é agora “transubstanciado” em mártir nacional. Papa Ratzinger gostaria deste verbo, transubstanciar. Quanto à Comissão de Anistia, “parece movida pela ideologia de esquerda”.

Em geral, os editoriais e o artiguete de Veja evidenciam o sabujismo tradicional em relação às Forças Armadas. E algo mais. A forma e o conteúdo, o tom e a letra, mostram que o tempo não passou.

Não se trata de tomar o partido da ditadura ou de Lamarca. Bastaria, quem sabe, admitir que este foi resultado daquela. E que a ditadura, a ser condenada in limine por espíritos autenticamente democráticos, foi um monstruoso passo atrás na história brasileira, pelo qual pagamos até hoje. Ocorre, porém, a julgar pelas reações da chamada grande imprensa, que os chavões oligárquicos continuam alerta. Só falta convocar a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade.

 

O que dirá a mídia no grande funeral?

O que dirá a mídia quando ACM morrer? Sabe-se que TVs e jornais já aprontaram o "material". Circulam na Internet sugestões de pauta.

Fonte: http://blogdoonipresente.blogspot.com/

Anotações sobre o provável necrológio da mídia sobre ACM

(...) Lembrei-me de contar essa história ao saber do agravamento da saúde do senador Antonio Carlos Magalhães, hospitalizado mais uma vez em São Paulo. É um caso típico. Com várias internações em curto período, idade avançada e complicações causadas por diabetes e coração já safenado, a essa altura o necrológio de ACM deve estar prontinho nas redações.

Mas a grande questão é saber o que dirão as emissoras sobre o candidato a morto?

Será que destacarão sua contribuição civil ao golpe de 64 e o apoio irrestrito aos governos militares, o que lhe valeu governar a Bahia duas vezes por nomeação?

E os vários escândalos em que se envolveu em sua longa vida pública serão relembrados, como o caso da manipulação do painel eletrônico do Senado, para quebrar o sigilo dos votos dos parlamentares?

E o célebre caso da escuta telefônica ilegal na Bahia, quando mandou grampear os telefones de vários adversários políticos?

Entre 1985 e 1990, ACM foi Ministro das Comunicações do governo Sarney e aí foi uma festa. Foi como botar a raposa para tomar conta do galinheiro.

Com a ajuda do amigo Roberto Marinho, construiu um poderoso império de comunicação na Bahia com várias emissoras de TV, todas afiliadas da Rede Globo, rádios e o Correio da Bahia. Com isso, a oposição na Bahia ficou praticamente sem presença na mídia do estado.

São dezenas as histórias que se contam de Toninho Malvadeza. Histórias de perseguições e agressões físicas a parentes que dele discordassem, a jornalistas e adversários, aos quais ameaçava com a divulgação de dossiês sobre a vida pessoal de cada um.

Será que as emissoras de TV, especialmente a Globo, darão uma dimensão real a uma biografia tão rica?

Ou será que vai prevalecer o princípio do perdão, pelo qual todo mundo vira santo depois de morto?

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