5 de setembro de 2006

 

Marilena Chaui fala hoje em Salvador

O jornalista e professor universitário Emiliano, candidato a deputado federal pelo PT da Bahia, está mudando o caráter da campanha eleitoral, ao convidar a filósofa Marilena Chaui para uma conferência sobre Mídia e Poder. Marilena Chaui vai proferir sua conferência hoje, dia 5 de setembro, às 19h30min, na Faculdade Visconde de Cayru. A idéia é provocar o debate. Elevar o nível da campanha eleitoral. Uma grande expectativa se instalou em Salvador, extrapolando os limites acadêmicos. Daqui prá frente não será mais possível fazer campanha eleitoral sem reflexão e conteúdo.

Polêmica, a filósofa desfaz o mito da sociedade brasileira “ordeira e pacífica”, argumenta que a violência está presente na invasão do público pelo privado, no monopólio da mídia e no paternalismo branco. É claro que ela fala isso em relação ao Brasil, mas é a cara da Bahia, onde há décadas o estado vem sendo assaltado pela famiglia que detém o poder, pelo monopólio da mídia e pela prática do paternalismo branco, que faz com que o povo se submeta às oligarquias, esmolando favores.

“Numa sociedade democrática, eu procuro o meu representante e digo as minhas reivindicações, de grupos e classe sociais. No Brasil, você vai, pede licença para entrar no gabinete do político, senta numa cadeira, espera quando der na veneta dele para ser atendido e pede um favor. Ou seja, o representante se torna superior a você, mandante do qual você recebe favores e ao qual você obedece. Isso é uma calamidade!” (...) “A noção republicana de representação é o contrário: a fonte de poder somos nós e o representante recebeu de nós um mandato. Por isso não podemos ter com ele uma relação de clientela e subordinação”.

“A sociedade brasileira é violenta, autoritária, vertical, hierárquica e oligárquica, polarizada entre a carência absoluta e o privilegio absoluto. No Brasil há bloqueios e resistências à instituição dos direitos econômicos, sociais e culturais. Os meios de comunicação de massa e os setores oligárquicos nos fazem crer que a sociedade brasileira é ordeira acolhedora, pacífica, e que a violência é um momento acidental, um surto, uma epidemia, um acidente, algo temporário que, se bem tratado, desaparece. E que pode ser combatido por meio da repressão policial. Mas, na verdade, a violência é o modo de ser da sociedade brasileira”.

MARILENA CHAUI ENUMERA EXEMPLOS DA VIOLÊNCIA ESTRUTURAL

- a esfera pública nunca chega a se constituir verdadeiramente como pública, porque é definida pelas exigências do espaço privado. No Brasil, há uma indistinção entre o público e o privado. Não só se pratica corrupção dos recursos públicos, mas a coisa púbica é regida por valores privados e também não há percepção dos direitos à privacidade e intimidade;

- a sociedade bloqueia a opinião de classes diferenciadas, com os meios de comunicação monopolizando a informação. O consenso é confundido com unanimidade e a discordância, com ignorância;

- as classes populares carregam o estigma da suspeita, da culpa e da incriminação permanente. A sociedade brasileira é uma sociedade em que a classe dominante exorciza o horror às contradições, promovendo a ideologia da união nacional a qualquer preço. Se recusa a trabalhar os conflitos, porque eles negam a idéia mítica da boa sociedade pacifica e ordeira;

- as leis são armas para preservar privilégios, jamais tendo definido direitos possíveis para todos. Os direitos, na prática, são concessões e outorgas que dependem da vontade do governante. Em vez de figurarem um pólo público de poder e regulação dos conflitos, as leis aparecem como inúteis e inócuas, feitas para serem transgredidas e não transformadas. Uma situação violenta é transformada num traço positivo quando a transgressão é elogiada como um “jeitinho brasileiro”;

- os indivíduos são divididos entre mandantes e obedientes, e todas as relações tomam a forma de tutela, de dependência e de favor. As pessoas não são vistas como sujeitos autônomos e iguais, como cidadãos portadores de direitos.

- E o paternalismo branco, refletido na forma do clientelismo e do favoritismo, é considerado “natural”, às vezes até exaltados como características positivas do caráter nacional.

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