1 de setembro de 2011
Em Salvador, uma conspiração pela verdade
Autor: José Carlos Zanetti
Comitê Baiano pela Verdade
O evento na Rua Jorge Leal Gonçalves foi surpreendente, um verdadeiro ato de conspiração pela Verdade. Uma invenção meio de última hora a propósito dos 32 anos da Anistia e 10 da Comissão da Anistia.
Precisávamos fazer algo. Então veio esta idéia. A gente nem sabia quantos iriam topar, nem como a população iria entender e aceitar. Mas teve uns lances que deu liga. A CESE acompanha vários grupos em Itapagipe, eu em particular.
Há alguns anos acompanho redes sociais, como a CAMMPI que congrega umas 40 organizações. Convidei algumas lideranças e elas fizeram o meio de campo - conheciam a rua e alguns moradores.
No comitê, nossa meta era juntar 30 pessoas, entre os mais próximos - amigos, parentes, moradores. Juntamos 49. Primeira surpresa: o carrinho de som adaptado, acho que a partir do chassi de algum fusca - o Trio Elétrico Mal Assombrado - de um desses propagandistas de bairro que, com nossa chegada, logo aderiu na base da empatia à primeira vista.
Fomos caminhando em volta do trio distribuindo panfletos - o Mal Assombrado tinha um som potente e dispunha de microfone sem fio que ficou com a gente - pronto, agitadores com picolé na mão, não teve pra quem quis - a Diva, o Joviniano, a Eliana e mais o Reginaldo - liderança de uma associação de moradores e que viveu o período - foi a gota.
Aí apareceram alguns jovens ligados na memória - um filmando, e lá nós com uma placa de acrílico a tiracolo – “Jorge Leal Gonçalves - 1938 - 1970 – Engenheiro Baiano - desaparecido político" com a idéia de fixar junto à placa oficial da rua.
A rua, pequena artéria logo depois do Largo do Papagaio em forma de "L" – tem uns 300 metros e termina num larguinho. Havia três placas de sinalização - uma ótima, no meio do trecho em lugar bem visível. Subindo uma escadinha lateral, a parede – ideal para pôr a placa de acrílico.
Bem, a liderança de um grupo de jovens que nos acompanhava, conhecia os proprietários - blá e blá, autorizaram. Eu já tava com minha furadeira e extensão engatilhadas. No final da rua, no larguinho, o Saraiva, do Gérmen, levou um pé de Pau Brasil e um saquinho de terra vegetal - na barraca, a turma da cerveja se responsabilizou em plantar.
Quando chegamos no final da travessia, ao som do Trio Mal Assombrado, a plantinha já tava na jardineira e o Reginaldo - aquele da associação de moradores, com o bocão no microfone delegou pr'um parceiro de cerva a responsa de cuidar da bichinha. Aplausos, falação - quem foi Jorge Leal? Como era a ditadura? Por que estávamos lembrando disso?
Diva leu a triste lista de baianos desaparecidos. Anistia? Comitê Baiano Pela Verdade. Um convite geral para a Sessão Especial do dia 5/9 na Assembléia Legislativa. Lá estavam duas irmãs de Jorge Leal e um primo-afilhado - felicíssimos. O afilhado, uma peça - sabia tudo de Roberto Carlos. Louvamos a plantinha de Pau Brasil. Nome do Largo: Afro-Brasil - tudo combinando, contaminado.
Fizemos meia-volta para, enfim, fixar a placa - cadê uma escada, uma cadeira, uma chave de fenda? Na hora tudo acontece - a placa ficou lindona. Agora um círculo humano de mãos entrelaçadas tomava a rua lamacenta.
Ruinha até ajeitada - até um shoppinzinho tinha! Pronto, lá vai o primo propor uma canção em homenagem à Santíssima Nossa Senhora - pensei: êta um católico carismático. Nada, foi a música de Roberto Carlos - o vozeirão ao microfone e sem violão - todo mundo acompanhando, os ateus...
Cubra-me com seu manto de amor / Guarda-me na paz desse olhar / Cura-me as feridas e a dor me faz suportar / Que as pedras do meu caminho / Meus pés suportem pisar - Nossa Senhora me dê a mão /Cuida do meu coração /Da minha vida, do meu destino... Por fim, um Hino Nacional sofrível - um completando o outro.
O Jorge se criou por lá e por lá havia uma senhora que o conhecia, amiga das irmãs - falou com simplicidade politizada - sobre a vida e a coragem, a bondade de Jorge. Depois, a convite da Lúcia, uma das irmãs, fomos todos à Sorveteria Sabor do Céu que fica num dos labirintos da Massaranduba - uma bola pra cada um - quanta animação, cara! Que ato, que ato!
Domingo, 28 de agosto de 2011
Península de Itapagipe, Salvador
Comitê Baiano pela Verdade
O evento na Rua Jorge Leal Gonçalves foi surpreendente, um verdadeiro ato de conspiração pela Verdade. Uma invenção meio de última hora a propósito dos 32 anos da Anistia e 10 da Comissão da Anistia.
Precisávamos fazer algo. Então veio esta idéia. A gente nem sabia quantos iriam topar, nem como a população iria entender e aceitar. Mas teve uns lances que deu liga. A CESE acompanha vários grupos em Itapagipe, eu em particular.
Há alguns anos acompanho redes sociais, como a CAMMPI que congrega umas 40 organizações. Convidei algumas lideranças e elas fizeram o meio de campo - conheciam a rua e alguns moradores.
No comitê, nossa meta era juntar 30 pessoas, entre os mais próximos - amigos, parentes, moradores. Juntamos 49. Primeira surpresa: o carrinho de som adaptado, acho que a partir do chassi de algum fusca - o Trio Elétrico Mal Assombrado - de um desses propagandistas de bairro que, com nossa chegada, logo aderiu na base da empatia à primeira vista.
Fomos caminhando em volta do trio distribuindo panfletos - o Mal Assombrado tinha um som potente e dispunha de microfone sem fio que ficou com a gente - pronto, agitadores com picolé na mão, não teve pra quem quis - a Diva, o Joviniano, a Eliana e mais o Reginaldo - liderança de uma associação de moradores e que viveu o período - foi a gota.
Aí apareceram alguns jovens ligados na memória - um filmando, e lá nós com uma placa de acrílico a tiracolo – “Jorge Leal Gonçalves - 1938 - 1970 – Engenheiro Baiano - desaparecido político" com a idéia de fixar junto à placa oficial da rua.
A rua, pequena artéria logo depois do Largo do Papagaio em forma de "L" – tem uns 300 metros e termina num larguinho. Havia três placas de sinalização - uma ótima, no meio do trecho em lugar bem visível. Subindo uma escadinha lateral, a parede – ideal para pôr a placa de acrílico.
Bem, a liderança de um grupo de jovens que nos acompanhava, conhecia os proprietários - blá e blá, autorizaram. Eu já tava com minha furadeira e extensão engatilhadas. No final da rua, no larguinho, o Saraiva, do Gérmen, levou um pé de Pau Brasil e um saquinho de terra vegetal - na barraca, a turma da cerveja se responsabilizou em plantar.
Quando chegamos no final da travessia, ao som do Trio Mal Assombrado, a plantinha já tava na jardineira e o Reginaldo - aquele da associação de moradores, com o bocão no microfone delegou pr'um parceiro de cerva a responsa de cuidar da bichinha. Aplausos, falação - quem foi Jorge Leal? Como era a ditadura? Por que estávamos lembrando disso?
Diva leu a triste lista de baianos desaparecidos. Anistia? Comitê Baiano Pela Verdade. Um convite geral para a Sessão Especial do dia 5/9 na Assembléia Legislativa. Lá estavam duas irmãs de Jorge Leal e um primo-afilhado - felicíssimos. O afilhado, uma peça - sabia tudo de Roberto Carlos. Louvamos a plantinha de Pau Brasil. Nome do Largo: Afro-Brasil - tudo combinando, contaminado.
Fizemos meia-volta para, enfim, fixar a placa - cadê uma escada, uma cadeira, uma chave de fenda? Na hora tudo acontece - a placa ficou lindona. Agora um círculo humano de mãos entrelaçadas tomava a rua lamacenta.
Ruinha até ajeitada - até um shoppinzinho tinha! Pronto, lá vai o primo propor uma canção em homenagem à Santíssima Nossa Senhora - pensei: êta um católico carismático. Nada, foi a música de Roberto Carlos - o vozeirão ao microfone e sem violão - todo mundo acompanhando, os ateus...
Cubra-me com seu manto de amor / Guarda-me na paz desse olhar / Cura-me as feridas e a dor me faz suportar / Que as pedras do meu caminho / Meus pés suportem pisar - Nossa Senhora me dê a mão /Cuida do meu coração /Da minha vida, do meu destino... Por fim, um Hino Nacional sofrível - um completando o outro.
O Jorge se criou por lá e por lá havia uma senhora que o conhecia, amiga das irmãs - falou com simplicidade politizada - sobre a vida e a coragem, a bondade de Jorge. Depois, a convite da Lúcia, uma das irmãs, fomos todos à Sorveteria Sabor do Céu que fica num dos labirintos da Massaranduba - uma bola pra cada um - quanta animação, cara! Que ato, que ato!
Domingo, 28 de agosto de 2011
Península de Itapagipe, Salvador