19 de janeiro de 2011

 

A despedida de meu tio Waldemar Dapieve

Meu irmão Nilmário Miranda foi hoje ao enterro de nosso tio Waldemar Dapieve, em Barbacena, Minas. Ele faleceu ontem (18), às 7h da manhã, aos 86 anos, de causas naturais. Era o último dos irmãos Dapieve. O primeiro a ir embora foi Artur, depois Fernando e depois D. Nelly, nossa mãe. Agora, o caçula Waldemar.

Tenho boas e gratas lembranças de meus tios. Artur e Waldemar me receberam em Barbacena em 1972. Estava cumprindo pena imposta pela ditadura militar na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora. Os advogados fizeram um acordo e cumpri parte da pena em liberdade condicional em Barbacena, trabalhando na mercearia dos tios e comparecendo todo dia na delegacia de polícia. Na verdade, não comparecia porque o delegado era amigo dos tios.

Já tio Fernando de vez em quando fazia contato. Em tempos passados tinha sido dirigente do PCB em Barbacena. Os tios contavam que nas manifestações anti-italianas em Barbacena (como em todo o Brasil), na época da 2ª Guerra, populares ameaçaram invadir o hotel do meu avô Adão Dapieve, por ser italiano. Apenas a presença do tio Fernando na porta do hotel impediu a invasão. O povo respeitava os dirigentes do PCB.

Em seu blog, Nilmário lembra que esteve com Waldemar em setembro do ano passado, em sua casa à Rua Silva Jardim, nº 74, mesmo endereço em que fiquei hospedado, em liberdade condicional.

Tio Waldemar reclamou em tom de galhofa do filho Henrique, que ficou com ele, tratando-o com extraordinário carinho e afeto. "Henrique não me deixa sair sozinho mais!". Ao que Henrique me explicava: "é que ele já caiu duas vezes na rua e não enxerga quase nada, e quer ir só ao INSS". Tudo da boca para fora, porque o filho cuidou dele como poucos cuidam dos pais.

Fiquei lembrando de minha mãe. Durante a ditadura ela deve ter se lembrado muito da militância comunista do irmão Fernando. Em 1964, meu pai, Oldack Caetano Miranda, baiano radicado em Teófilo Otoni,Minas, foi preso pelos militares golpistas de 1964.

Dias de terror. Eu e Nilmário, ameaçados de prisão por causa do movimento estudantil, pouco podíamos fazer, a não ser manter a família unida. E a mãe lá firme em seu sofrimento silencioso.

Em 1974, ela teve que se desdobrar para visitar Nilmário, encarcerado no Presídio Tiradentes, em São Paulo, e eu, novamente preso, em Salvador, numa conjuntura terrível, pois os militares haviam matado José Carlos Mata Machado, colega de escola que havia se hospedado em nossa casa em Salvador. Foi uma guerreira.

A família Dapieve tem a cultura da solidariedade forjada a ferro e fogo.

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