31 de maio de 2010

 

Cai a República da Barraca do Luciano

O publicitário e jornalista Diogo Tavares (ou será o contrário?) fez circular o seguinte texto sobre a demolição odiosa, arbitrária (embora acobertada pela judicialização que acomete o País), anti-popular e estranha. Faço minhas as suas palavras. E não me venham falar em favelização da Orla de Salvador, já que sob ameaça de ir ao chão ninguém se arriscaria mesmo a investir em conservação e melhorias. Os senhores do capital conseguiram desalojar os barraqueiros, coisa que nenhum prefeito conseguiu, manipulando uma arcaica lei que fala de "domínios de Marinha".

SEGUE O TEXTO:

“BARRACA NÃO VENDE CERVEJA, VENDE ILUSÕES”
(Luciano, em carta indignada à cervejaria, que queria saber quantos engradados da bebida ele vendia).

Dono de uma das barracas de praia que marcaram época em Salvador, Luciano completou ontem 60 anos. A festa foi no Aconchego da Zuzu, no fim de linha do Garcia, pois a barraca do aniversariante está sendo desmontada. Atingido pela sanha reguladora e careta que assola a capital baiana, Luciano recebeu a intimação de que tudo será demolido em dez dias.

Para evitar o que ocorreu na primeira leva de demolições, com comerciantes tendo produtos, móveis e eletrodomésticos jogados na rua, o proprietário iniciou o desmonte.

Falar da Barraca do Luciano, em Pituaçu, é falar de um reduto de artistas, intelectuais e profissionais liberais que sempre encontraram ali um lugar ao sol, com abrigo para os olhos, para o paladar e não seria exagero dizer para o coração.

Tanto que, com a liderança do primeiro-ministro Nivaldo Lariú, autor consagrado do Dicionário de Baianês, a barraca ganhou uma Constituição e foi elevada à condição de República. Numa das bienais literárias, eu mesmo cheguei a relançar um livro no espaço cultural praiano.

Mas nem todo serviço prestado à cultura soteropolitana, a legalidade e a Constituição puderam evitar a queda da República. As alternativas de continuar no lugar, com a licitação e a possível restrição de espaço (pensam em colocar as barracas no canteiro central da avenida) deixaram Luciano um pouco desanimado, pensando em partir para um plano B.

Enquanto isso não acontece, restou aos muitos amigos comemorar as seis décadas de Luciano. Para marcar a data, Lariú e a artista-plástica Janete Kislansky fizeram e distribuíram um livrinho para os convidados com frases do aniversariante.

É uma prova de que, além de membro da Confraria do Chapéu, nosso caro amigo é um poeta que se esqueceu de escrever versos. E que venha o plano B, pois, se os palestinos não desistiram até hoje, não vão ser os cidadãos da República da Barraca do Luciano que vão se dar por vencidos.

PS -

"A beleza natural é infinita, mas cabe à beleza poética fazer a junção entre a natureza e o humano"

(Luciano, observando o horizonte após a demolição das barracas).

http://pautapariu.zip.net/

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