12 de julho de 2009

 

Emiliano José, no livro “Galeria F – Lembranças do Mar Cinzento – Parte 2” resgata a vida e a luta de Mário Lima o líder petroleiro

Abaixo o Capítulo 20:

Em fevereiro de 1958 a Refinaria de Mataripe, da Petrobrás, abriu concurso para operadores. Mário Lima, 23 anos, passa em 14o lugar. No dia 17 de março do mesmo ano é contratado como estagiário. Deveria, então, fazer um curso e o estágio para só então ingressar ou não na empresa. Ao final de seis meses, outro exame e ele passa em 1o lugar. Está na Petrobrás até hoje. Já durante o curso, Mário Lima era sempre chamado para falar com a chefia quando surgiam problemas – comida, instalações, alojamento. Foi afirmando-se como liderança. E com 24 anos já era operador-chefe.

Uma noite, 2hs da madrugada, a comida veio estragada e Mário Lima reclamou com o restaurante. Nada podia ser feito, disseram os funcionários. A dispensa estava fechada. “Então abre”, disse Mário Lima, acrescentando que se não o fizessem seriam responsabilizados por quaisquer problemas que pudessem surgir. Afinal, os operadores são os que controlam a refinaria, como se fossem os motoristas dela. Não podiam. Só acordando o chefe da administração, e eles os trabalhadores da cozinha não se dispunham a fazer isso. Tinham medo do homem.

O homem chamava-se Castro Neves. Mário Lima disse então que caso não o chamassem ele tocaria o alarme e aí não tinha jeito: ele seria acordado e seria muito pior. Um funcionário então ligou e passou o telefone para Mário Lima. A voz do outro lado da linha era de poucos amigos, grosseira. Mário Lima explicou que a comida viera estragada. “Como o senhor sabe que a comida está estragada?”. Pacientemente, explicou-lhe que bastou a primeira garfada para perceber. A nova comida chegou por volta das 3,30hs. E a repercussão da atitude de Mário Lima foi grande. Ninguém ousara até ali confrontar-se com chefe da administração. E a liderança ia crescendo.

Já existia a Associação Profissional dos Trabalhadores na Indústria de Destilação de Petróleo, cujo presidente era Osvaldo Marques de Oliveira. Osvaldo era um negro forte, que havia feito CPOR, liderança respeitada, conhecido por dois apelidos: Tenente e Lumumba. Numa das encrencas em que se meteu, Mário Lima foi suspenso.

Estava no alojamento esperando o momento de pegar o ônibus e foi procurado por Wilson Maranhão, um operador. “Você deveria ajudar a fundar o sindicato”. E foi parar numa reunião preparatória da fundação do sindicato em Candeias.

Osvaldo disse-lhe que há havia ouvido falar dele e que precisava de ajuda. “Já que está suspenso, terá tempo de ir ao Rio de Janeiro para ver como vamos trazer a nossa carta sindical”. Foi. E voltou com o Diário Oficial da União debaixo do braço, com o reconhecimento do sindicato, assinado pelo ministro Parcival Barroso, ministro do Trabalho de Juscelino Kubitschek Foi uma alegria enorme para todos. O próprio Mário Lima reconhece que isso não revelava mais competência que os demais companheiros. É que a suspensão lhe dera mais tempo. Era abril de 1960. Marcou-se a eleição para maio.

Chapa único, Osvaldo Oliveira na cabeça, Mário Lima como secretário. Osvaldo era muito querido, respeitado por todos, inclusive pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Já havia o sindicato da extração (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Petróleo do Estado da Bahia - Stiep) tido como acomodado. Houve a eleição e tudo correu bem. Estava constituído o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Destilação e Refinação de Petróleo do Estado da Bahia. Agora era marcar a data da posse.

Acontece que 15 dias antes da posse, Mário Lima discutiu com um superior da refinaria e foi demitido. Osvaldo protestou e foi demitido também. Tomaram posse sem emprego. Curiosamente, o governador Juracy Magalhães compareceu à solenidade sindical, realizada em Candeias. Talvez porque soubesse que os dois não pertenciam aos PCB. A presença do governador naturalmente teve repercussão.

Em julho, Kubitschek viria a Salvador inaugurar as novas unidades da Refinaria de Mataripe. O cerimonial do governo federal queria um trabalhador saudando o presidente da República. “Nós só iremos se uma pessoa do sindicato puder saudar o presidente”, informou Osvaldo Oliveira quando consultado. “E o nosso orador será Mário Lims”. O presidente da Petrobrás, general Idálio Sardenberg, desembarcou na Bahia para tentar contornar o problema. Mandou chamar Mário Lima para conversar. “Você vai se referir às demissões”, perguntou o general. “Vou”, respondeu Mário Lima, sem pestanejar. Os dois foram readmitidos, Mário Lima saudou o presidente e então começou a funcionar a primeira diretoria do Sindipetro.

Mário Lima nasceu no dia 19 de fevereiro de 1935, em Glória, nordeste da Bahia. Veio para Salvador em outubro de 1947. Estudou no Severino Vieira, onde fez os quatro anos de ginásio...

NB – O atual deputado federal (PT-BA), Emiliano José, é jornalista, autor de Galeria F - Lembranças do Mar Cinzento, uma série que resgata a história de ex-presos políticos da ditadura militar.

A história de Mário Lima está disponível no site do deputado federal EMILIANO JOSÉ

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