9 de setembro de 2006

 

Vitor Hugo comenta Marilena Chaui no blog do Noblat

Em artigo no blog do Noblat e na página de opinião do jornal A Tarde (09/09/06), o jornalista Vitor Hugo comentou a conferência da filósofa Marilena Chauí, sobre Mídia e Poder, em Salvador, a convite do candidato a deputado federal, Emiliano José (PT). “Chauí mostrou que, uma vez rainha, sempre majestade. Lotou o auditório da Faculdade Visconde de Cairu e muita gente teve de voltar da porta, ou contentar-se em vê-la e escutar suas palavras através de quatro telões postos na instituição particular de ensino”.

Vitor Hugo escreveu: “Cult como sempre, retornou à Bahia como seus fãs petistas adoram. Verbo azeitado para falar sobre “Mídia e poder”, tema sob encomenda para ela cutucar imprensa e jornalistas e defender o governo Lula com garras e dentes de pantera. Na apresentação, o deputado e jornalista Emiliano José lembrou matéria da revista Veja em que a professora, comparada com a rainha do funk carioca, é chamada de Tati Quebra-Barraco da Academia. O auditório repleto de estudantes, professores e intelectuais quase vem abaixo de aplausos para a filósofa, contente com a comparação”.

LEIA A ÍNTEGRA DO ARTIGO DE VITOR HUGO:

A campanha e a guerra das estrelas
Vitor Hugo 09/09/2006

O tempo ferve na campanha presidencial e incendeia a empanada do circo dos intelectuais e das chamadas “celebridades” do País. A exemplo de quase todas as batalhas travadas em universo de estrelas, onde os egos são mais inflados por natureza, esta guerra também é movida a gasolina azul de aviação superinflamável. O combustível se espalha dos palanques dos candidatos e impregna outros cenários e tribunas, à medida que se aproxima o momento de saber quem de fato tem batata para vender.

As mais recentes pesquisas de intenção de voto derramam euforia sobre quem vai na frente. Exacerba no candidato Lula a tentação de calçar sapatos de salto Luís XV, mais escorregadios que as travas das chuteiras usadas por Ronaldinho Gaúcho. Os números despejam também pressão e desespero sobre quem derrapa sem sair do lugar, como o tucano Geraldo Alckmin. E mágoas sobre os que perdem fôlego na reta de chegada, como a guerreira das alagoas, Heloísa Helena, do nanico PSOL, sem falar nos que nem deram o arranque, como Cristóvam Buarque, do PDT.

Com toques de virulência, hipocrisia ou bom humor, a guerra das estrelas rendeu lances surpreendentes nos últimos dias, dois deles em Salvador. O primeiro aparentemente sem ligação direta com o pleito, mas de inegável significado político e comportamental, aconteceu domingo passado na V Parada Gay da Bahia, evento que levou cerca de 200 mil pessoas às ruas do centro da capital, entre elas políticos e candidatos de múltiplas plumagens partidárias. Em um dos vários trios elétricos que animaram a manifestação desfilou a ardida Preta Gil, filha do ministro da Cultura, Gilberto Gil.

Eleita musa da festa deste ano, ela “mandou ver” ao lado do criador do pioneiro Grupo Gay da Bahia (GBB), o antropólogo da Ufba Luiz Mott, que exortou artistas baianos a “tirar as máscaras dos desfiles de mascarados no Carnaval, sair do armário e empunhar a bandeira do ‘não à homofobia’”, lema da Parada 2006. Preta atiçou mais a chama: “Eu sou totalflex, funciono bem a álcool ou a gasolina”. E mais não disse, nem precisava para disseminar grossa polêmica pelos quatro cantos da terra de Gregório de Mattos Guerra, o Boca de Brasa. Brasa que deve queimar até depois da eleição de outubro e ainda ferver no Carnaval do ano que vem.

Mas quem aterrissou também na Bahia esta semana foi a filósofa da USP Marilena Chauí, depois da fase do “silêncio dos intelectuais”, período de muda que coincidiu com os escândalos envolvendo emplumados petistas e a crise política 2005-06. Chauí mostrou que, uma vez rainha, sempre majestade. Lotou o auditório da Faculdade Visconde de Cairu e muita gente teve de voltar da porta, ou contentar-se em vê-la e escutar suas palavras através de quatro telões postos na instituição particular de ensino.

Cult como sempre, retornou à Bahia como seus fãs petistas adoram. Verbo azeitado para falar sobre “Mídia e poder”, tema sob encomenda para ela cutucar imprensa e jornalistas e defender o governo Lula com garras e dentes de pantera. Na apresentação, o deputado e jornalista Emiliano José lembrou matéria da revista Veja em que a professora, comparada com a rainha do funk carioca, é chamada de Tati Quebra-Barraco da Academia. O auditório repleto de estudantes, professores e intelectuais quase vem abaixo de aplausos para a filósofa, contente com a comparação.

Iniciado no Rio de Janeiro, a partir do encontro de Lula com artistas e intelectuais no apartamento de Gilberto Gil, o fuzuê chegou à Bahia, que não podia ficar de fora. Desde o tempo de Getúlio e seu ministro Gustavo Capanema, não se tem notícia de tamanha quantidade de roupa lavada em público. Em volta da pia, brigam artistas, intelectuais, jornalistas: Wagner Tiso, Paulo Betti, Zeca Pagodinho, Diogo Mainardi, Mino Carta, Dines, Jabor e muitos mais. Caetano Veloso, sem candidato desta vez, entrou também na guerra das celebridades: “Não voto para reeleger Lula”.

Uns fuzilam, outros são fuzilados. Uns ficam em cima do muro, outros, dentro do armário. Nada de novo, como registra Denis Moraes no texto brilhante "Graciliano, literatura e engajamento", sobre as cíclicas tensões nas relações dos intelectuais com a política: “Os intelectuais equilibram-se numa corda bamba entre os ideários estéticos, as convicções filosóficas e as dificuldades de sobrevivência em um país onde as suas atividades prosperam em torno da vida acadêmica, da mídia e dos órgãos e apoios governamentais”. Nada como uma campanha política para trazer à tona todas essas tensões.

Vitor Hugo Soares - Jornalista, é editor de Opinião de A TARDE
E-Mail: vitors.h@uol.com.br

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