6 de setembro de 2006

 

Jorge Bastos Moreno bota a mão no fogo por Paulo Betti

Fonte: Blog do Moreno – http://oglobo.globo.com/online/blogs/moreno

Gente,
Eu vou botar a mão no fogo. Vou botar porque conheço e acredito nele. Estou falando do ator Paulo Betti. Eu boto a minha mão no fogo pelo Paulo Betti porque, graças a Deus, tem gente de bem neste país. E não são poucos não. Se eu estivesse escrevendo uma matéria para o jornal não poderia dizer isso. Não é um comportamento adequado: repórter não julga, apura.

Reproduzo duas conversas minhas distintas com Fernando Henrique e Lula sobre o ator:

COM FHC:

- Presidente, o senhor recebeu o Anthony Quinn. Sobre o que conversaram?
- Gozado, ele me contou ter ficado entusiasmado com o talento do Paulo Betti. Disse que o Betti não fica devendo nada a nenhum dos astros com os quais já trabalhou. Eu disse que estava à vontade para concordar com ele até porque o Betti faz campanha contra mim. E realmente o Paulo Betti é um grande ator. E eu separo a sua condição de garoto-propaganda do PT da de grande ator que ele é.

COM LULA:

- O senhor não ficou magoado de ver o seu amigo Paulo Betti fazendo críticas ao comportamento do PT?
- De jeito nenhum. Ele tem todo o direito de fazer isso como ator e como cidadão. Eu não vou exigir que os artistas sejam do PT. Não é assim que se procede. Quero que eles sejam bons artistas. Quero respeitá-los como artistas. Obviamente que se algum deles disser que vota no PT, tanto melhor. Por exemplo, uma das artistas do teatro e da televisão que eu mais admirava — digo no passado porque faz tempo que não a vejo — era Marília Pêra. Houve um incidente com ela aqui em São Paulo, por ocasião da campanha do Collor, que eu nem estava presente, mas que possivelmente ela deve ter ficado com trauma. Eu não perdi a admiração pela Marília Pêra porque ela votou ou não no Collor. A Cláudia Raia, que trabalhou para o Collor, foi mais visível isso, tem o direito de ter o pensamento político que quiser, sem nunca deixar de ser a grande atriz que é. Eu não misturo as coisas, se não a gente fica uma pessoa amarga a vida toda. Eu respeito os artistas do jeito que eles são. Outro dia mandei um recado para o Paulo Betti, que eu considero um grande ator, embora o meu ídolo maior seja Sérgio Mambert. Eu mandei dizer: olha Paulo, eu gosto de você pelo que você já fez e não pelo que você vai fazer. E vou lá deixar de gostar e admirar o Paulo Betti porque ele fez crítica a mim? De jeito nenhum. Esse é o meu jeito de ser. Este coração velho aqui não tem lugar para mágoa. Acordo todo dia pensando que aquele dia só vai valer a pena para mim se eu não tiver ódio e mesquinharia no coração.

Um desabafo para o blog do Moreno.

Caro Moreno,

é impressionante repercussão das duas frases que o Globo editou. "Não se faz política sem sujar as mãos" e "é impossível fazer política sem colocar a mão na merda".
É evidente que no contexto que falei, saindo de uma reunião de artistas com o presidente Lula, eu queria condenar essa prática. Nem mesmo o mais corrupto dos políticos diria aos jornalistas para dizer que achava isso maravilhoso.
Porque eu disse?

Porque, na saída, fui cobrado pelos jornalistas o apoio que estava dando ao Lula. Eles estavam na porta, devem ter ficado lá um tempão, estavam na chuva, deviam estar irritados.

Eu falei as duas frases, mas disse muito mais. Disse que dramaturgos como Brecht e Sartre já haviam escrito sobre a questão da ética e da falta de limpeza na política.
Que meu voto em Lula era pelos méritos do governo dele e não pelo erros.
Porque excluíram a fala que condeno a pratica da sujeira? Todo mundo sabe o que houve.

Porque interessava naquele momento a quem editou o jornal provocar o escândalo?
Não acredito. Saiu uma matéria pequena no Globo. Logo no outro dia saiu uma matéria maior na Folha, repercutindo a do Globo. Essa já um pouco maior.

Imediatamente mandei carta para o Globo e para a Folha que publicaram. Na carta eu dizia que minhas frases foram uma constatação, não uma defesa da prática.
Mas aí já havia se criado a bola de neve.

O Estado fez dois editoriais. Além de ter publicado um monte de cartas dos leitores. Em nenhum momento publicou minha carta. Escrevi ao jornal duas vezes. Recebi resposta que a carta seria enviada à direção do jornal. A direção de jornal precisa autorizar a publicação de uma carta de três linhas?

Que limpeza é essa que permite um jornal publicar editoriais citando seu nome mas não permite a publicação de uma carta nos seguintes termos:

Prezados senhores:
Em respeito ao leitor do Estado, do qual sou assinante, quero explicar que, no contexto em que disse que "política se faz com as mãos sujas", eu estava fazendo uma constatação e não aprovando uma prática.
A frase, retirada de sua circunstância e incompleta, lamentavelmente, provocou uma enorme polêmica.

Quero reiterar meu compromisso com a verdade e deixar claro que condeno todas as práticas ilícitas, não só as políticas.
Quero mais justiça, trabalho e melhor distribuição de renda para todos.

Atenciosamente,
Paulo Betti
Ator

Mandei duas vezes! Só me resta cancelar a assinatura. É uma constatação do jogo sujo que se faz defendendo a ética, a liberdade de imprensa e etc.
O Chico Buarque deu a seguinte declaração: "Entendi não como uma posição pessoal deles, descartando a ética, mas como a política ´´e feita na realidade do Brasil. E essa é a realidade do Brasil. Essa é a realidade política."

Será que só ele poderia ter entendido o contexto?

Será que não houve má vontade e jogo sujo? Tenho certeza que sim.
É só observar o comportamento do Estado. Pode ser até que eles publiquem a carta amanhã. Mesmo assim poderiam ter publicado uma semana atrás.Uma cartinha, não muda nada diante das manchetes e artigos em profusão.

Eu fiz a Campanha pela Ética, do saudoso Betinho. Por que me pegaram para Cristo?
Porque ainda sou identificado pela imprensa como a cara do PT. Por todas as vezes que apareci na tv falando do partido e contrariando aqueles que hoje descontam me agredindo.

O poema do Fernando Pessoa me consola: Poema em linha reta: "Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo."
Não vou ficar grilado com o que meus colegas disseram. Talvez eles também tenham sido editados.

Temos que refletir sobre a responsabilidade da imprensa. Você pega uma frase e reproduz? Sem consultar aquele que escreveu cartas nos jornais dizendo que tinha dito condenando?

É assim? Os "pilares" do jornalismo político tem o direito de usar seu nome para expressar suas opiniões e suas posições diante do jogo político?
Querem atacar o presidente Lula e seu governo e me usam.

É óbvio que eu preferia não ter falado com a imprensa aquela noite. Mas não consigo passar reto e deixar o pessoal fazendo perguntas no ar. Acho falta de educação. Daqui pra frente terei que rever esse meu comportamento.
Mas não deixarei de pensar que nossa política precisa de uma reforma urgente.
Óbvio que não tenho a menor pretensão de ter sido o primeiro a colocar o dedo nessa ferida.

Temos que olhar de frente para nossa política. Ela é suja sim! E não vamos limpá-la apenas condenando um ator que fez essa constatação.

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