5 de dezembro de 2013
Comissão Estadual da Verdade promove ato na reitoria da UFBA
A Tarde (Patrícia França) – “Era cinco de abril de
1964. Cheguei em casa, no Campo Grande, e encontrei a rua cercada por dois
caminhões militares com holofotes enormes. Indaguei a uma pessoa o que estava
acontecendo. Estão prendendo o prefeito, respondeu. MKe dirigi então ao Quartel
da Mouraria e o general que me deu ordem de prisão disse: “você está preso
porque somos cristãos”.
O relato faz parte do depoimento que o ex-prefeito de
Salvador, Virgildásio de Senna, empossado em abril de 1963 e deposto pelo golpe
militar de 1964, deu, ontem (04/12/2013) em audiência da Comissão Estadual da
Verdade. A sessão foi realizada no salão nobre da reitoria da UFBA.
Também prestaram depoimentos o juiz aposentado do
trabalho em Recife (PE) Theodomiro Romeiro dos Santos, que entrou para a
história do Brasil como o primeiro condenado à morte durante a República; o
engenheiro e ex-dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Luiz
Contreiras; e o artista plástico Juares Paraíso.
A Comissão Estadual da Verdade, coordenada pelo
sociólogo Joviniano Neto, vai ouvir, ao todo, dez vítimas de violações de
direitos na ditadura militar (1964-1985).
Na audiência de hoje, marcada para as 14h, serão
ouvidos o ex-deputado federal Emiliano José (PT), que foi preso e torturado, e
a jornalista Mariluce Moura, viúva de Gildo Macedo Lacerda, seqüestrado na
Bahia e morto aos 24 anos em dependências so estado brasileiro. O corpo ainda
está desaparecido.
DEPOIMENTOS
Virgildásio de Senna que não tinha nem um ano como
prefeito, disse que foi cassado por um bilhete do general Mendes Pereira
enviado à Câmara Municipal comunicando que ele deveria ser afastado do cargo. “Só
dois vereadores defenderam meu mandato, Luis Leal e Luis Sampaio”, informou.
Os depoimento seguintes emocionaram os ouvintes.
Theodomiro Romeiro disse que soube da prisão que seria condenado à pena de
morte antes dfe ser julgado e relatou as torturas que sofreu no quartel do
Barbalho. Um de seus algozes foi o capitão hemetério Chaves Filho, então
comandante da Polícia do Exército. “O isolamento era grande, sem água, jornal,
o dia inteiro fechado, éramos submetidos aoregime de preso em castigo”, disse.
O comunista Luiz Contreiras foi preso na Operação
Radar, que tinha o objetivo de dizimar os líderes do Partidão (PCB). Ele
confirmou que foi torturado em Alagoinhas pelo coronel Brilhante Ustra,
ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, um dos órgãos atuantes da repressão, e o
delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) Sérgio Paranhos
Fleury.
Já o artista plástico Juarez Paraíso foi preso por
organizar a Bienal da Bahia, em 1968. “Era parte de um golpe orquestrado pelos
militares para derrubar o governador Luiz Viana Filho”, disse ele. (A Tarde
04/12/2013).