28 de novembro de 2013

 

SUPREMO TAPETÃO FEDERAL

O título indica a perda de credibilidade de uma instituição fundamental para a democracia e o estado de direito. O título SUPREMO TAPETÃO FEDERAL (STF) não foi dado por ninguém do PT. Foi usado pelo jornalista Ricardo Melo, que toda segunda-feira escreve no jornalão Folha de S. Paulo e alimenta total divergência com o PT. Segundo ele, a teoria do domínio do fato é o abrigo dos covardes. Pode provar tudo, ou nada. Não ousaram processar Lula porque ele poderia mobilizar o povo. Num país em que Maluf e o torturador Brilhante Ustra estão soltos e Dirceu e Genoíno estão presos, até cego dá para ver que as coisas estão fora de lugar.

LEIA NA ÍNTEGRA:

SUPREMO TAPETÃO FEDERAL
Derrotada nas eleições, a classe dominante brasileira usou o estratagema habitual: foi remexer  nos compêndios do “Direito” até encontrar casuísmos capazes de preencher as idéias que lhe faltam nos palanques. Como se diz no esporte, recorreu  ao tapetão.

O casuísmo da moda, o domínio do fato, caiu como uma luva. A critério de juízes, por intermédio dele é possível provar tudo, ou provar nada. O recurso é também o abrigo dos covardes. No caso do mensalão, serviu para condenar José Dirceu, embora não houvesse uma única evidência material quanto á sua participação cabal em delitos. A base da acusação: como um chefe da Casa Civil desconhecia o que estava acontecendo?
A pergunta seguinte atesta a covardia do processo: por que então não incluir Lula no rol dos acusados? Qualquer pessoa percebe ser impossível um presidente da República ignorar um esquema como teria sido o mensalão.

Mas, mexer com Lula, pêra aí! Vai que o presidente decide mobilizar o povo. Pior ainda quando todos sabem que outro presidente, o tucano Fernando Henrique Cardoso, assistiu à compra de votos a céu aberto para garantir a reeleição e nada lhe aconteceu. Por mais não fosse, que se mantivessem as aparências. Estabeleceu-se então que o domínio do fato vale para todos, à exceção, por exemplo, de chefes de governo tucanos encrencados com licitações trapaceadas.
A saída foi tentar abater os petistas pelas bordas. E aí o espetáculo que se viu. Políticos são acusados de comprar votos que já estavam garantidos. Ora o processo tinha que ser fatiado, ora tinha que ser examinado em conjunto; situações iguais resultarem em punições diferentes, e vice-versa.

Os debates? Quantos momentos edificantes. Joaquim Barbosa, estrela da companhia, exibiu desenvoltura midiática inversamente proporcional à capacidade de lembrar datas, fixar penas coerentes e respeitar o contraditório. Paladino da justiça, não pensou duas vezes para mandar um jornalista chafurdar no lixo e tentar desempregar a mulher do mesmo desafeto. Belo exemplo.
O que virá pela frente é uma incógnita. Para o PT, ficam algumas lições. Faça o que quiser, apareça em foto com quem quer que seja, elogie algozes do passado, do presente e do futuro – o fato é que o partido nunca será assimilado pelo status quo enquanto tiver suas raízes identificadas com o povo. Perto dos valores dos escândalos que pululam por aí, o mensalão não passa de gorjeta e mal daria para comprar um vagão superfaturado do metrô. Mas, como foi obra do PT, cadeia neles.

É a velha história: se uma empregada pega escondida uma peça de lingerie da patroa para ir a uma festa pobre, certamente será demitida, quando não encarcerada – mesmo que a tenha devolvido. Agora, se a amiga da mesma madame levar “por engano” um colar milionário após um regabofe nos jardins, certamente será perdoada pelo esquecimento e presenteada com mimo.
Nunca morri de admiração por militantes como José Dirceu, José Genoíno e outros tantos. Ao contrário: invariavelmente tivemos posições diferentes em debates sobre os rumos da luta por transformações sociais. Penso até que muitas das dificuldades do PT resultam de decisões equivocadas por eles defendidas. Mas, num país onde Paulo Maluf e Brilhante Ustra estão soltos, enquanto José Dirceu e José Genoíno dormem na cadeia, até um cego percebe que as coisas estão fora de lugar.

Ricardo Melo é jornalista e escreve toda segunda-feira  na Folha de S. Paulo. Publicado em 18/11/2013.

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