19 de outubro de 2012
Em Carta Aberta, professor da UFBA pede a ACM Neto a Bahia de volta
É um pedido impossível. Em carta
aberta ao candidato do DEM à Prefeitura do Salvador, ACM Neto, o professor
Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia, faz uma reflexão e traz à tona
memórias do império imposto ao longo de duas décadas do 'carlismo'; o professor
baiano oferece seu voto ao neto do "imperador", o falecido Antônio
Carlos Magalhães (ACM), em troca de que o jovem herdeiro democrata lhe
"devolva" a Bahia.
COM
SARCASMO MODERADO
O portal Bahia247, onde pesquei a matéria, ressalta que o
professor da UFBA, escreve a carta com
sarcasmo moderado e com dose extrema de inteligência. O
professor baiano oferece seu voto ao neto do "imperador" baiano, em
troca de que o jovem herdeiro democrata lhe "devolva" a Bahia. O
texto, em si, faz um apanhado da 'marca' Magalhães espalhada por todo o estado
com nomes de ruas, edifícios públicos e o que até hoje gera debates entre os
carlistas conservadores (os poucos que restam) e a esquerda, que, liderada pelo
PT, governa a Bahia há seis anos, a mudança do nome do aeroporto de Salvador.
ACM (o avô) conseguiu aprovar
na Assembleia Legislativa a mudança do nome do terminal aeroviário que
carregava toda a história da Bahia no letreiro situado na entrada do espaço, o
2 de Julho, data que marca a independência do estado. Hoje o nome oficial é
Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães, em homenagem ao filho
do então senador que faleceu depois de uma parada cardíaca ao fim de uma
caminhada.
LEIA A INTEGRA DA CARTA DE
WILSON GOMES
http://www.brasil247.com/pt/247/bahia247/83392/Em-carta-a-ACM-Neto-professor-pede-a-Bahia-de-volta.htm
Carta aberta de Wilson Gomes a ACM Netohttp://www.brasil247.com/pt/247/bahia247/83392/Em-carta-a-ACM-Neto-professor-pede-a-Bahia-de-volta.htm
Caro Antonio Carlos Magalhães Neto, sei que pode parecer não fazer falta
para o seu estoque, mas como os seus votos estão minguando nesta "reta
final", considere a possibilidade de contar com o meu voto. É magrinho,
mas é limpinho. Entretanto, como o meu DNA calvinista me impede de dar alguma
coisa, assim, do nada, proponho uma barganha. Eu te dou o meu voto e a sua
família devolve a minha Bahia.
Explico. Não é por nada, mas é que me incomoda o fato de a sua família
ter marcado a Bahia inteira, como fazem os bichos territoriais que vejo no
Animal Planet, com o seu cheiro...digo, nome. É difícil achar qualquer coisa
pública criada nos últimos vinte anos nesta Província - viaduto, avenida,
município, aeroporto, escola... monumento nem se fala - sem o nome de alguém da
sua família ou de pessoas a ela consorciadas.
Quer prova? Dê um google. Se até mesmo a vovó (a sua) Arlete Magalhães,
que ao que me resulta nunca recebeu um voto popular na Bahia, é nome de umas 15
escolas e centros de educação infantil e de umas três ruas no estado... Nem vou
falar de vovô (o seu!) que deu mais nome a logradouros e edifícios públicos na
Bahia que Luís XIV, o Rei Sol, foi capaz de dar ao Estado Francês durante os
anos da sua glória. Titio (o seu, sempre o seu) nem se fala, não é mesmo?
Começa pelo mausoléu em Pituaçu, guardado pela nossa força militar, com
bandeira sempre tremulante e pira eternamente acesa, que daria uma pontinha de inveja
a Shah Jahan, o imperador mongol que mandou fazer o Taj Mahal. Sem mencionar a,
horror dos horrores!, usurpação do nome sagrado do Dois de Julho, trocado pelo
de Dom Eduardo Magalhães, no aeroporto desta Cidade de São Salvador. E ainda
tem outro monumento fúnebre, na Av. Garibaldi, para um sujeito cujo grande
mérito público foi ter sido o candidato de ACM e morrido durante a campanha.
Pois é.
Sei que tudo isso parece natural à sua família. Que talvez ainda ache
pouco, e só lamente que essa porção de terra onde vivemos não seja oficialmente
reconhecida como uma Capitania Hereditária dos Magalhães. Sei que eu estou me
queixando de barriga cheia e que já dou sorte porque não deu tempo de
estabelecer um Império Caronlígio Tropical - já que Carlos por Carlos, por que
Carlos Magno estabeleceu uma dinastia e Antonio Carlos, não? Só por que o
franco foi magno não quer dizer que o bahiense seja mínimo, não é mesmo?
Reconheço isso tudo, embora um documentário que vi no Discovery tenha
dito, para minha surpresa, que aquele Estreito de Magalhães lá do finzinho da
América do Sul se refere a um obscuro navegador português e não a algum pródigo
argonauta da sua família. Esse Discovery deve ser meio petista. Liga não.
Por outro lado, que sorte a de Antonio Vieira, Joana Angélica, Maria
Quitéria, Ruy Barbosa e Castro Alves, heim? Já imaginou se tivessem morrido
depois da instauração do direito feudal dos Magalhães de colocar o próprio nome
em tudo o que é público? Não iria sobrar nada para os coitadinhos.
Preocupa-me um pouco, claro, o fato de ter mais coisas na Bahia em nome
de Dona Arlete do que de Raul Seixas, Glauber Rocha e Jorge Amado, mas são
ossos do ofício, não é? Matriarca é uma coisa, artista é outra. Inda mais
quando uma está viva e os outros, mortos. Agora o que me incomoda mesmo é que
não sobre nada, nadica, para a gente perpetuar a memória de Caetano, João
Ubaldo, Gilberto Gil e outros baianos sabidos que há por aí. É que gosto
desses, sabe? Apego besta, sei que não são Magalhães, mas, coitados, isso não é
dado a todos.
Fico com medo de que ACM Bisneto
ou ACM Tetraneto usem tudo quanto for logradouro, prédio, monumento, quiçá a
própria Bahia, para colocar os nomes dos filhos de Luis Eduardo, do seu
próprio, suas esposas, amigos, primos e apaniguados.
Bem era isso. Nem precisa que o Sr. devolva o nome dos logradouros e
edifícios já recobertos pela honra do nome da sua família. Proponho quotas. Sei
que é uma palavra petista aos seus ouvidos, mas não se assuste, pois, como vê,
estou usando a grafia clássica. Uma quota de, digamos, 75% para os Magalhães e
25% para os demais, baianos e não-baianos, já me deixaria satisfeito. Mas
também faço por 20% e não se fala mais nisso.
Pense com carinho. Qualquer coisa, me procure até o dia 7.
Pense com carinho. Qualquer coisa, me procure até o dia 7.
Atenciosamente.
Seu, humilíssimo, WG.