17 de novembro de 2008

 

A revista “Muito” do jornal A Tarde surpreende pela excelência

A revista “Muito” do jornal A Tarde, de Salvador, é como muitas revistas dominicais encartadas nos jornais impressos. O objetivo é vender produtos com uma certa finesse. Daí vem uma certa antipatia por elas, de modo geral. Confesso que a revista “Muito” me tem surpreendido. Comecei a me interessar por ela com a edição de 19 de outubro, com a top baiana Rojane Fradique, beleza negra, na capa. O ensaio fotográfico (Rejane Carneiro) de moda lingerie é belíssimo, provocante, sensual. Cumpre com classe o objetivo de vender as marcas, vestindo um corpo negro estonteante.

Mas a revista “Muito” não passaria de mais uma revista dominical bem editada destinada a vender lingerie e jeans, se não tivesse um conteúdo de boa leitura. A mesma edição de 19 de outubro publica uma entrevista com a cientista política Ana Alice Alcântara Costa, diretora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher (NEIM), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com lucidez, ela opina sobre a homofobia baiana, a eleição da transexual Leo Kret para a Câmara Municipal, a fragilidade da lei de cotas para candidaturas femininas, o avanço na licença-maternidade de seis meses, a exploração da sexualidade feminina na sociedade capitalista. Ela detona o papa “que deveria ser processado por genocídio” por condenar o uso de preservativos...e por aí vai.

Desde então passei a observar a revista “Muito”. Na edição de 2 de novembro, outro belo ensaio fotográfico (Rejane Carneiro) para vender terno para homens. Márcio Victor, cantor da banda de pagode Psirico, virou modelo no ensaio Negro Gato. Já o entrevistado foi o pesquisador, doutor, ensaísta, professor livre-docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, capoeirista e obá do Opô Afonjá, Muniz Sodré, que ora exerce o cargo de presidente da Fundação Biblioteca Nacional.

O que sustenta a popularidade do presidente Lula? Pergunta o repórter Marcos Dias. A resposta de Muniz Sodré: “Não é apenas o pobre, não. Acho que a classe média também. É um fenômeno que tratei no meu livro “As estratégias sensíveis”, sobre estética e política. Uma coisa desconsiderada pelos teóricos tradicionais da política que é cada vez mais forte: o lugar do sensível, do emocional e do afetivo na política. Os partidos não valem mais coisa nenhuma em termos ideológicos. São máquinas burocráticas que estão ali para cumprir ritos eleitorais, aglutinar gente no parlamento para terem poder, mas como idéia, como doutrina, não representam mais coisa alguma. O presidente conseguiu esse índice de popularidade que eu nunca vi em presidente nenhum, que é de 80%. Para esse sensível concorrem mídia e empatia. Uma coisa maior que o PT hoje é o lulismo (...)Lula entra no imaginário da classe média também, mas, principalmente do povo pobre, claro, por causa de coisa concreta, o Bolsa-Família (...)

Em suma, a revista “Muito” é muito boa. Ainda assim, não consegue evitar o racismo contido na publicidade que veicula. A família do anúncio do King Market é branca, a modelo do anúncio do novo shopping Paseo Itaigara é branca, o casal da propaganda da agência de viagem CVC é branco, a mesma agência anuncia em outra edição e a família feliz que viaja é branca, até o garotinho sorridente do anúncio da EscolaCriação é branco e louro, a cara da Bahia. Mas, aí a ideologia racista é das agências de publicidade e dos publicitários, não é culpa da revista.

Comments:
A Muito pode ser boa em várias coisas, mas a coluna de Aninha Franco, espinafrando injustamente a brilhante política cultural do estado, capitaneada por Márcio Meirelles, não dá pra engolir.

Comentei sobre isso no meu blog O Último Baile dos Guermantes. Passe lá para dar uma olhada. O post chama-se "A Arauto da Mediocridade".

Aliás: o Jornal Já-vai-Tarde é um jornal que já foi anti-carlista, e hoje tornou-se anticarlista-pras-negas-dele.
 
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