14 de julho de 2008

 

Creuza, líder das trabalhadoras domésticas, se candidata à Câmara Municipal de Salvador

No último sábado (12), o candidato a prefeito de Salvador pelo PT, Walter Pinheiro, e sua vice Lídice da Mata (PSB) participaram no bairro Mata Escura, da inauguração do Comitê Eleitoral de Creuza Maria Oliveira, líder das trabalhadoras domésticas da Bahia, candidata a vereadora de Salvador.

Os escassos registros de blogs, sites e jornais não deram a importância que o evento merecia. Creuza é sindicalista, fundadora do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas, presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, membro do Conselho Nacional da Promoção da Igualdade, premiadíssima nacional e internacionalmente por sua luta pelos direitos das domésticas do Brasil. Coerente, escolheu seu bairro onde é integrada à Associação dos Moradores da Mata Escura. Creuza é a estrela negra do PT.

Creuza merece ser vereadora de Salvador. Seria uma honra para a Câmara Municipal de Salvador recebê-la. Para se ter uma pequena idéia da importância da luta que Creuza lidera há anos, mais de 70% do total de 500 mil trabalhadores domésticos da Bahia atuam na informalidade, sem direito a férias, 13º salário e aposentadoria, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego. A maioria ignora seus próprios direitos.

Por conta do simbolismo da candidata, os adversários de Walter Pinheiro (PT) vigiam seus passos. Uma notinha plantada na imprensa alertou outro dia que o candidato do PT à prefeitura de Salvador não deveria participar de um seminário organizado pela Delegacia Regional do trabalho (DRT), evento em que compareceria a candidata Creuza. Pinheiro havia programado uma breve parada em seu trajeto do domingo (13) para saudar os integrantes do seminário programado para o Fiesta Convention Center.

A candidatura da militante negra me faz lembrar da ameaça do candidato do DEM, ACM Neto, de reduzir de 18 para 10 as secretarias municipais. O candidato neoliberal ameaça acabar com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) que para ele representa despesa, gasto inútil, desnecessário.

Mas, também, me faz lembrar como consolo que a candidata a vice-prefeita, deputada federal Lídice da Mata (PSB) acaba de conseguir liberação de duas emendas ao Orçamento da União que drenam recursos, no total de R$ 200 mil, para o combate à violência contra a mulher e contra a discriminação racial.

Uma emenda beneficiou o Centro de Referência Loreta Valadares, da Superintendência Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) da prefeitura de Salvador, a outra beneficia a própria Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi).

A candidatura da militante negra me faz também lembrar o apelo do promotor de Justiça, Almiro Soares Sena Filho, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate à Discriminação (Gedis).

Durante o seminário "A relevância das Questão Étnico-Racial para a Gestão Pública no Município de Salvador", promovido pelo Ministério Público Estadual, o promotor, com base na Constituição Federal, exortou os candidatos a prefeito a implementar políticas públicas afirmativas e oferecer reais oportunidades aos afrodescendentes. A ameaça do candidato do DEM de "cortar despesas" é recorrente.

Para apresentar Creuza Maria Oliveira aos eleitores nada melhor que reproduzir uma "Moção de Aplauso" apresentada pelo então deputado estadual Emiliano José (PT) na Assembléia Legislativa da Bahia em março de 2004, por ocasião da abertura do seminário "América do Sul, África e Brasil", que tratou de acordos e compromissos com a promoção da igualdade racial e combate a todas as formas de discriminação.

Também é bom lembrar que em 2003 Creuza Maria foi premiada pela revista Cláudia e pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, da Presidência da República, por seu trabalho em defesa dos direitos dos trabalhadoes e trabalhadoras domésticas. Creuza é fundadora da Associação Profisional das Domésticas, do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas, integrou a Comissão Especial do Trabalho Infantil Doméstico e participou da Terceira Conferência Mundial Contra o Racismo, na África.

LEIA A MOÇÃO DE APLAUSO À BAIANA CREUZA

MOÇÃO de aplauso à baiana Creuza Maria Oliveira, por sua posse no Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

Venho requerer, na forma regimental, que seja inserido nos Anais desta Casa Legislativa, voto de aplauso a Creuza Maria Oliveira, em face de sua posse no Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

A baiana Creuza Maria Oliveira preside a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas e é valorosa companheira filiada ao Partido dos Trabalhadores. No ano passado foi premiada pela revista Cláudia e pela Secretaria Especial de Direitos Humanos por seu trabalho em defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras domésticas no País.

Negra e pobre, aos 10 anos Creuza deixou a roça, no sertão da Bahia, para engrossar as estatísticas da mão-de-obra infantil ao ir trabalhar como doméstica em Santo Amaro da Purificação, a 84 km de Salvador. Por cinco anos cuidou de crianças, cozinhou, limpou e lavou roupas em troca de comida e roupas usadas. Cumpriu uma jornada de mais de 12 horas, de segunda a segunda, sem receber nenhum salário.

Remuneração - ainda que irrisória - ela só teve aos 15 anos. Carteira assinada e direito a folga quinzenal obteve apenas quando fez 21 anos. Há 20 anos (em 1983), ela deu uma guinada em sua vida, ao ingressar na luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas. Participou da fundação da Associação Profissional das Domésticas, em 1986, e foi umas das criadoras do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia, em 1990.

Hoje, aos 44 anos, preside a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas e é representante da Comissão Especial do Trabalho Infantil Doméstico. Em dezembro, Creuza Maria Oliveira recebeu o Prêmio Cláudia 2003 na categoria Trabalho Social.

Ao retornar da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, na África, no ano passado, Creuza opinou sobre o assunto: “O racismo aqui é velado. Se diz que todos são iguais, mas sabemos que isso não é verdade. Os negros estão na periferia, no subemprego e na penitenciária em um número muito maior do que os brancos. As crianças negras são vítimas de chacinas, jovens de 14 a 35 anos são exterminados na Bahia e mulheres negras são laqueadas sem o seu consentimento. Não há um investimento sério nas escolas públicas, onde os negros são maioria, e nem condições para as nossas crianças crescerem com sonhos e horizontes a alcançar”.

Creuza Maria Oliveira foi, portanto, uma das personalidades empossadas no Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR). A cerimônia ocorreu ontem (22 de março), no auditório Wladimir Murtinho do Palácio do Itamaraty, em Brasília, por ocasião da abertura do Seminário América do Sul, África e Brasil 2004 - “Acordos e Compromissos com a Promoção da Igualdade Racial e Combate a Todas as Formas de Discriminação”, iniciativa da Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial.

Sala das Sessões, 22 de março de 2004.
Emiliano José, Deputado Estadual – PT

Comments:
Meu nome é Maciel Henrique Silva. Estudo as relações entre as domésticas e seus senhores patrões no final do século XIX, nas cidades de Salvador e Recife. Sou pernambucano. Tenho interesse em conhecer Creuza, pelo seu trabalho e sua luta. Posso adquirir seus contatos? Telefone/e-mail? Abraços.
 
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