14 de março de 2008
Litoral Norte da Bahia: o que fazer?
Por Everaldo de Jesus
A rodovia Linha Verde, que liga a Estrada do Coco à divisa do estado de Sergipe pelo litoral norte baiano, foi inaugurada em 1993 sob grande expectativa. O projeto visava sobretudo desenvolver uma vasta região da Bahia com muitas carências sociais e com alto potencial econômico para a agricultura e para o turismo. Terras agricultáveis abundantes, uma costa belíssima, várias pequenas cidades com razoável estrutura, eram algumas das características da região antes da rodovia que atravessou pelo litoral os municípios de Mata de São João, Entre Rios, Esplanada, Conde e Jandaíra.
Acompanhei o processo de construção da rodovia, pois morava na região, e recordo-me das esperanças trazidas pelo empreendimento. Não havia dúvidas do impacto extraordinário que causaria. Quinze anos após, retorno ao litoral norte e pude observar alguns aspectos, que agora relato.
São inegáveis os benefícios trazidos. Facilitou a circulação de pessoas, produtos e serviços. As distâncias entre regiões produtoras e consumidoras foram encurtadas, o acesso a serviços públicos (escolas, hospitais, etc.) tornou-se possível para os moradores de distritos rurais e costeiros.
A rodovia continua em excelente estado. Provocou um boom imobiliário e multiplicou o número de hotéis e pousadas. Implantou-se o Costa do Sauípe e o Iberostar, hotelaria de grande porte. Atualmente há sobre-oferta de leitos. Os núcleos habitacionais das praias cresceram nessa busca pelos recantos paradisíacos. Hoje há muito mais estabelecimentos comerciais. A vida melhorou para os moradores de Imbassahy, Diogo, Porto do Sauípe, Subaúma, Baixios, Palame, Sítio do Conde e outros núcleos habitacionais da região.
Reconhecidos os acertos da construção da Linha Verde, é preciso lançar luzes para questões ainda não resolvidas no objetivo maior do empreendimento que era desenvolver a vasta região.
O projeto, grandioso por natureza, não foi acompanhado de outros complementares. O perfil agrícola continua marcado pelo cultivo de subsistência e já se verifica uma nova onda de êxodo rural. A única atividade econômica de aproveitamento de terras que cresce de maneira vertiginosa é a produção de eucaliptos. As áreas plantadas para fins de extração de madeira cobrem boa parte das terras no entorno da Linha Verde, em ritmo crescente.
No vácuo da inexistência de projetos agrícolas para consumo humano, as empresas de reflorestamento têm ampliado suas áreas de plantio com oferta de “arrendamento” para pequenos e médios proprietários de terra. Regiões com infra-estrutura já instalada, como água potável, energia elétrica e estradas, experimentam a redução da ocupação populacional. Terras boas para moradia e cultivo agrícola dão lugar à monocultura extrativista com alto impacto de desertificação e esgotamento de mananciais.
No lombo de animais
As estradas que ligam a BR 101 à Linha Verde, únicas vias de acesso das sedes dos municípios a seus distritos agrícolas e praias, estão quase todas interditadas. Durante a construção da rodovia litorânea essas estradas receberam ‘pó de asfalto’, um engodo que não demorou a ser percebido. Não resistiram ao uso nem às chuvas e ‘derreteram’. Ficaram piores do que antes, quando não eram asfaltadas.
Atualmente, para se fazer o percurso que liga o município de Entre Rios aos distritos de Subaúma, Porto de Sauípe e Massarandupió, é preciso se aventurar em trilhas por dentro dos eucaliptos. As empresas de ônibus e ‘topiqueiros’ que transportavam os moradores da região deixaram de fazer a linha. É como se o tempo andasse para trás. Há moradores das zonas rurais que precisam caminhar por horas a pé ou no lombo de animais para chegar até uma rodovia com transporte público.
Condições ruins de acesso às praias a partir das cidades próximas contribuem para a baixa ocupação de pousadas e hotéis, principalmente fora do verão. No município de Conde, onde se verifica a melhor oferta de leitos do litoral norte, é baixa a presença de visitantes nesta época do ano. É uma região que depende e muito das boas condições de circulação pela estrada que vem da BR 101 até a praia de Sítio do Conde, atravessando a Linha Verde. Está em má conservação e com muitos buracos na maioria dos trechos. Por ali transitam os ‘turistas internos’, as pessoas que moram nas cidades próximas como Alagoinhas e Feira de Santana, que se desencantam por terem que trafegar em estradas ruins. Com a redução do acesso de veículos pelas estradas de ligação à Linha Verde, o movimento na rodovia caiu acentuadamente.
Um plano conjunto de desenvolvimento do turismo e ocupação hoteleira pelas prefeituras é necessário. Pelo que vi, o sistema adotado pelos secretários de turismo dos municípios do litoral norte é o de ‘cada um por si’. Ao mesmo tempo, donos de restaurantes, bares e hotéis não parecem engajados em manter o interesse dos visitantes pelo ‘retorno’, com a oferta de serviços de qualidade e preços adequados. É caro se hospedar na Linha Verde, assim como é caro almoçar ou jantar lá.
Creio que nesse aspecto, o governo do estado da Bahia pode intervir, em benefício dos próprios municípios. A região praieira que vai de Porto do Sauípe até Mangue Seco é encantadora por sua beleza natural e pela tranqüilidade. São locais perfeitos para o turismo da terceira idade, que inclusive conta com apoio do Ministério do Turismo, através de projeto específico. Para isso, é preciso entretanto um pouco de modéstia aos empresários locais. Cobrar R$ 55 por uma moqueca de peixe é fora de propósito, da mesma forma que pedir R$ 70 por um quarto simples de pousada diminui o interesse do turista de fim de semana.
Uma parceria do estado com os municípios pode estimular o giro econômico no litoral norte, tanto no desenvolvimento da agricultura de consumo, quanto na divulgação da região como local de turismo. Com a participação dos interessados, população, prefeitos, donos de restaurantes, bares, pousadas e hotéis. Ganha a Bahia, com a geração de emprego e renda, ganham os municípios com aumento de divisas e impostos, ganhamos nós, caçadores de recantos perdidos em busca de paz e harmonia.
A rodovia Linha Verde, que liga a Estrada do Coco à divisa do estado de Sergipe pelo litoral norte baiano, foi inaugurada em 1993 sob grande expectativa. O projeto visava sobretudo desenvolver uma vasta região da Bahia com muitas carências sociais e com alto potencial econômico para a agricultura e para o turismo. Terras agricultáveis abundantes, uma costa belíssima, várias pequenas cidades com razoável estrutura, eram algumas das características da região antes da rodovia que atravessou pelo litoral os municípios de Mata de São João, Entre Rios, Esplanada, Conde e Jandaíra.
Acompanhei o processo de construção da rodovia, pois morava na região, e recordo-me das esperanças trazidas pelo empreendimento. Não havia dúvidas do impacto extraordinário que causaria. Quinze anos após, retorno ao litoral norte e pude observar alguns aspectos, que agora relato.
São inegáveis os benefícios trazidos. Facilitou a circulação de pessoas, produtos e serviços. As distâncias entre regiões produtoras e consumidoras foram encurtadas, o acesso a serviços públicos (escolas, hospitais, etc.) tornou-se possível para os moradores de distritos rurais e costeiros.
A rodovia continua em excelente estado. Provocou um boom imobiliário e multiplicou o número de hotéis e pousadas. Implantou-se o Costa do Sauípe e o Iberostar, hotelaria de grande porte. Atualmente há sobre-oferta de leitos. Os núcleos habitacionais das praias cresceram nessa busca pelos recantos paradisíacos. Hoje há muito mais estabelecimentos comerciais. A vida melhorou para os moradores de Imbassahy, Diogo, Porto do Sauípe, Subaúma, Baixios, Palame, Sítio do Conde e outros núcleos habitacionais da região.
Reconhecidos os acertos da construção da Linha Verde, é preciso lançar luzes para questões ainda não resolvidas no objetivo maior do empreendimento que era desenvolver a vasta região.
O projeto, grandioso por natureza, não foi acompanhado de outros complementares. O perfil agrícola continua marcado pelo cultivo de subsistência e já se verifica uma nova onda de êxodo rural. A única atividade econômica de aproveitamento de terras que cresce de maneira vertiginosa é a produção de eucaliptos. As áreas plantadas para fins de extração de madeira cobrem boa parte das terras no entorno da Linha Verde, em ritmo crescente.
No vácuo da inexistência de projetos agrícolas para consumo humano, as empresas de reflorestamento têm ampliado suas áreas de plantio com oferta de “arrendamento” para pequenos e médios proprietários de terra. Regiões com infra-estrutura já instalada, como água potável, energia elétrica e estradas, experimentam a redução da ocupação populacional. Terras boas para moradia e cultivo agrícola dão lugar à monocultura extrativista com alto impacto de desertificação e esgotamento de mananciais.
No lombo de animais
As estradas que ligam a BR 101 à Linha Verde, únicas vias de acesso das sedes dos municípios a seus distritos agrícolas e praias, estão quase todas interditadas. Durante a construção da rodovia litorânea essas estradas receberam ‘pó de asfalto’, um engodo que não demorou a ser percebido. Não resistiram ao uso nem às chuvas e ‘derreteram’. Ficaram piores do que antes, quando não eram asfaltadas.
Atualmente, para se fazer o percurso que liga o município de Entre Rios aos distritos de Subaúma, Porto de Sauípe e Massarandupió, é preciso se aventurar em trilhas por dentro dos eucaliptos. As empresas de ônibus e ‘topiqueiros’ que transportavam os moradores da região deixaram de fazer a linha. É como se o tempo andasse para trás. Há moradores das zonas rurais que precisam caminhar por horas a pé ou no lombo de animais para chegar até uma rodovia com transporte público.
Condições ruins de acesso às praias a partir das cidades próximas contribuem para a baixa ocupação de pousadas e hotéis, principalmente fora do verão. No município de Conde, onde se verifica a melhor oferta de leitos do litoral norte, é baixa a presença de visitantes nesta época do ano. É uma região que depende e muito das boas condições de circulação pela estrada que vem da BR 101 até a praia de Sítio do Conde, atravessando a Linha Verde. Está em má conservação e com muitos buracos na maioria dos trechos. Por ali transitam os ‘turistas internos’, as pessoas que moram nas cidades próximas como Alagoinhas e Feira de Santana, que se desencantam por terem que trafegar em estradas ruins. Com a redução do acesso de veículos pelas estradas de ligação à Linha Verde, o movimento na rodovia caiu acentuadamente.
Um plano conjunto de desenvolvimento do turismo e ocupação hoteleira pelas prefeituras é necessário. Pelo que vi, o sistema adotado pelos secretários de turismo dos municípios do litoral norte é o de ‘cada um por si’. Ao mesmo tempo, donos de restaurantes, bares e hotéis não parecem engajados em manter o interesse dos visitantes pelo ‘retorno’, com a oferta de serviços de qualidade e preços adequados. É caro se hospedar na Linha Verde, assim como é caro almoçar ou jantar lá.
Creio que nesse aspecto, o governo do estado da Bahia pode intervir, em benefício dos próprios municípios. A região praieira que vai de Porto do Sauípe até Mangue Seco é encantadora por sua beleza natural e pela tranqüilidade. São locais perfeitos para o turismo da terceira idade, que inclusive conta com apoio do Ministério do Turismo, através de projeto específico. Para isso, é preciso entretanto um pouco de modéstia aos empresários locais. Cobrar R$ 55 por uma moqueca de peixe é fora de propósito, da mesma forma que pedir R$ 70 por um quarto simples de pousada diminui o interesse do turista de fim de semana.
Uma parceria do estado com os municípios pode estimular o giro econômico no litoral norte, tanto no desenvolvimento da agricultura de consumo, quanto na divulgação da região como local de turismo. Com a participação dos interessados, população, prefeitos, donos de restaurantes, bares, pousadas e hotéis. Ganha a Bahia, com a geração de emprego e renda, ganham os municípios com aumento de divisas e impostos, ganhamos nós, caçadores de recantos perdidos em busca de paz e harmonia.