9 de maio de 2007

 

Vamos deixar de falsidades: o Grupo Folha fez parte da repressão da ditadura. Eu não fiquei de luto por ninguém. Cai foi na farra.

Beatriz Kushnir é autora do livro "Cães de guarda – Jornalistas e censores: do AI-5 à Constituição de 1988", lançado pela Editora Boitempo em 2004, a partir de sua tese de doutorado defendida na Unicamp.

O livro causou desconforto em muitas redações, pois demonstrou que nem todos os jornalistas resistiam à ditadura militar [1964-1985].

“Houve jornalistas que colaboraram, os que resistiram e os que se opuseram. Não é verdade que todos colaboraram, mas nem todos combateram a ditadura”, disse Beatriz, contradizendo a fama de arautos da democracia que muitos órgãos de imprensa vêm cultivando desde os anos 80.

“A Folha da Tarde, do Grupo Folha [dirigido pelo auto-intitulado publisher Octavio Frias de Oliveira, recentemente falecido e oh!!! Homenageado por tantos], por exemplo, tinha policiais ligados à repressão que trabalhavam como repórteres.

Ela era conhecida como o ‘Diário Oficial da Oban’ (Operação Bandeirantes) e ‘jornal de maior TIRAGEM do País’, pela quantidade de TIRAS”, afirmou Beatriz.

Para quem não sabe, a Oban foi uma operação policial-militar financiada por civis, empresários e executivos de direita, profissionais liberais endinheirados e intelectuais da repressão. Foi responsável pela dizimação física de dezenas de militantes que lutavam pela democracia no Brasil, entre os anos de 1968 e 1972, especialmente.

Quem lembrou isso foi o blog Diário Gauche (http://diariogauche.zip.net/).

É duro ser presidente do Brasil. O presidente Lula se viu na obrigação de decretar luto oficial por três dias, em memória do Publisher Octavio Frias de Oliveira.

Não sou presidente, não sou deputado e nem candidato a nada, não preciso fazer média com a mídia. Portanto, não me incluí nos três dias de luto oficial. Cai foi na farra.

FOLHA, BOLETIM DA TORTURA

Mino Carta, que sabe das coisas, escreveu no editorial “A Semana” da revista Carta Capital (9/5/07):

Enxergo três (erros de Octavio Frias), muito claros. Primeiro, a parceria com Carlos Caldeira Filho. (...)

“A ligação de Caldeira com os ditos falcões da ditadura é notória e lança uma sombra sobre a orientação da empresa e dos seus veículos no decorrer da época mais aguda da repressão, da tortura e da censura.

A Folha, aliás, nunca foi censurada e só veio a ser submetida a pressões quando, em 1977, o colunista Lourenço Diaféria escreveu um texto considerado injurioso pelos militares, ao dizer que a espada do monumento eqüestre do Duque de Caxias estava oxidada. Era metáfora, e os generais, por incrível que pareça, perceberam.

Em compensação, a Folha da Tarde por longuíssimo tempo foi uma espécie de boletim do Dops, DOI-Codi e Cia. O segundo erro foi aceitar as pressões do general Hugo Abreu e tomar o partido do general Sílvio Frota no atormentado enredo da sucessão presidencial do ditador de plantão Ernesto Geisel.

O terceiro foi também conseqüência dessas pressões, a demissão de Claudio Abramo, a 17 de setembro de 1977, 25 dias antes da queda de Frota do Ministério do Exército”.

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