16 de março de 2013
Por que os tucanos não podem voltar a governar o Brasil
A volta do PSDB ao poder significa o
retorno dos corruptos que privatizaram empresas estatais brasileiras e
receberam miliardárias propinas através dos paraísos fiscais do Caribe. Todo o
esquema que internalizou propinas para financiar o tucanato está hoje
fartamente comprovado, com documentos oficiais obtidos em juntas comerciais,
cartórios, Ministério Público e Justiça. As investigações encontraram o rastro
de Verônica Serra, filha do Serra, do marido dela, Alexandre Bourgeois, de
Ricardo Sérgio de Oliveira, eminência parda das privatizações e ex-tesoureiro
de Serra e do empresário Gregório Marin Preciado. O país não suportaria outro
mega assalto aos cofres públicos.
Este período ficou conhecido como a Era das
Privatizações, sob o comando do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A
ponta do iceberg emergiu no final dos anos 80, com investigações de jornalistas
da sucursal paulista de O Globo. Eles descobriram que as transações eram
feitas, pelo ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, Ricardo
Sérgio de Oliveira, através das Ilhas Britânicas, paraíso fiscal no Caribe. O
ex-tesoureiro das campanhas eleitorais de Serra e FHC controlava a empresa
offshore Andover, sediada em Road Town, capital das Ilhas Britânicas. A
offshore injetava dinheiro “de fora” em outra empresa de sua propriedade em São
Paulo, a Westchester. Tratava-se de uma operação clássica de internação de
dinheiro, no popular, lavagem.
Por este caminho, o dinheiro das
milionárias propinas das privatizações entrava no Brasil por meio de sucessivos
aumentos de capital da empresa situada no Brasil. Tais valores eram
integralizados pela empresa caribenha. À primeira vista, parecia investimento de
uma empresa estrangeira no país, mas, deixaram o rastro de uma fraude: o
ex-tesoureiro de Serra assinava como dono nas duas pontas, na offshore do
Caribe e na empresa em São Paulo. O mesmo sistema usado por Jorgina de Freitas,
que ganhou notoriedade por fraudar a Previdência Social em mais de R$ 1 bilhão.
O genro de José Serra, empresário Alexandre
Bourgeois, na negociata das privatizações das teles, utilizou esquema igual.
Ele abriu no mesmo paraíso fiscal duas offshores: a Vex Capital e a Iconexa
Inc., ambas operando no mesmo escritório de Ricardo Sérgio nas Ilhas Virgens
Britânicas, no Citco Building. A reportagem não foi publicada porque Serra se
entendeu com Aécio Neves e a imprensa mineira e paulista. Mas, está tudo
comprovado com documentos oficiais.
As negociatas foram chamadas pelo
ex-economista do Banco Mundial, Prêmio Nobel de Economia (2001), Joseph
Stiglitz, de “briberization” e não “privatization”. “Bribery” é o crime de
oferecer, dar, receber ou solicitar qualquer bem ou valor para influenciar as
decisões de qualquer funcionário público. A raiz da palavra – bribe – significa
coisa roubada, um jargão de ladrões desde os anos 1500. No Brasil, o esquema
ficou conhecido como “propinização”, até que Élio Gaspari inventou a feliz expressão
“privataria”, juntando privatização com pirataria.
Atualmente, o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (COAF), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, já
sabe de tudo. Há pelo menos 38 paraísos fiscais sediados em ilhas. Os valores
transitam por empresas offshore (fora da costa). Além da isenção de impostos,
estes centros financeiros permitem manter o verdadeiro dono do dinheiro na
clandestinidade, através da portabilidade de títulos de propriedade. No
submundo da lavagem de dinheiro as offshores são chamadas de empresas-ônibus,
porque enviam e trazem dinheiro do exterior. As empresas são identificadas
apenas por uma caixa postal.
Nos últimos anos, a pressão dos países
integrantes do G20 cresceu, por conta da movimentação de dinheiro das chamadas
“minas de sangue” de Serra Leoa, África Ocidental; por causa do dinheiro
movimentado por governantes corruptos e pelo financiamento do terrorismo. A
pressão aumentou mais ainda depois do lançamento dos dois aviões contra as torres
gêmeas do World Trade Center.
No Brasil, as mudanças nas regras pegaram
figurões de calças nas mãos. O juiz Nicolau dos Santos Neto desviou R$ 169
milhões da construção do prédio do TRT; Salvatore Cacciola, depois que o banco
Marka quebrou, movimentou R$ R$ 20 milhões nas Bahamas; o banqueiro Daniel
Dantas, do Opportunity Fund operou R$ 19,4 milhões nas Ilhas Cayman;Paulo Maluf
depositou dinheiro na Ilha de Jersey, no Canal da Mancha. Em 2003, a “Máfia dos
Fiscais” do Rio de Janeiro remeteu US$ 33,6 milhões para a Suiça, dinheiro dos
cofres públicos do governo Antony Garotinho.
No caso do repatriamento das propinas das
privatizações tucanas, quem ensinou o caminho do Citco, em Road Town, Ilhas
Virgens Britânicas, foi o ex-tesoureiro das campanhas de José Serra e de FHC,
Ricardo Sérgio de Oliveira, artesão dos consórcios que disputaram as estatais
brasileiras.
Escritório especializado em abrir, acolher
e operar offshores, o Citco é representado nos estados Unidos por David Eric
Spencer, um advogado norte-americano casado com brasileira, fluente em
português, que trabalhou com Ricardo Sérgio no Citibank. Rumaram para o Citco
Verônica Serra, seu marido Alexandre Bourgeois, o assessor de Ricardo Sérgio no
Banco do Brasil e seu braço direito na PREVI, João Bosco Madeiro da Costa.
Todos enriqueceram pós-privataria. São proprietários de empresas no Brasil e no
exterior, possuem gordas contas bancárias, moram em mansões e são proprietários
de terras.
Em 2004, apareceu mais dinheiro da propina
das privatizações tucanas. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do
Banco do Estado do Paraná, encerrou os trabalhos. Deu em pizza. Ainda assim a
revista IstoÉ conseguiu apurar as movimentações financeiras do ex-caixa de
campanha eleitoral de Serra e FHC. Um documento prova um depósito de US$ 410
mil da offshore Infinity Trading em favor da Franton Interprise no MTB Bank, de
Nova York.
O homem atrás da Franton é Ricardo Sérgio
de Oliveira. Depois se descobriu que o homem escondido atrás da Infinity
Trading é o empresário Carlos Jereissati, dono do grupo La Fonte, irmão do
ex-senador tucano Tasso Jereissati (PSDB/CE). Ou seja, o ex-tesoureiro das
campanhas do PSDB recebeu propina de Jereissati, um dos vencedores do leilão da
privatização da Telebrás. Documentos do Ministério da Fazenda provam que
Jereissati é o dono da Infinity Trading. A Infinity, de Jereissati, transferiu
para a Franton, de Ricardo Sérgio, dois depósitos: um, no valor de US$ 246.137,
e outro no valor de US$ 164.085. A Infinity foi aberta pelo grupo Jereissati
nas Ilhas Cayman.
Ricardo Sérgio foi apresentado a José Serra
em 1990. Virou tesoureiro da campanha de Serra a deputado federal, posição que
desempenharia também na campanha de Serra ao Senado em 1994. Para FHC, arrecadou
dinheiro nas campanhas presidenciais de 1994 e 1998. Sob FHC, o tesoureiro das
campanhas tucanas passou a manusear quantias espetaculares. E muito mais depois
que Serra o indicou para dirigir a área internacional do Banco do Brasil. Ele
articulou a sucção de recursos dos fundos de pensão estatais Previ e Petros
para a ciranda das privatizações. Neste esquema, o dinheiro público financiava
a alienação de empresas públicas. Leiloadas as estatais, a gratidão
expressava-se nas campanhas eleitorais do PSDB.
Dois livros são fundamentais para entender
como se deu a “privatização” tucana: “A privataria tucana”, de Amaury Ribeiro
Júnior e “O Brasil privatizado” de Aloysio Biondi. Eles são fonte deste texto.
Você votaria nessa gente do PSDB para a presidência
da República?