23 de dezembro de 2012
E agora, aonde vamos?
“Et
maintenant, on va où?” É o título original do DVD pirata que o “distribuidor”
- que ocupa o ponto de venda praticamente nas escadas de meu restaurante comida
a quilo - me sugeriu para o fim de semana. Nunca meus R$ 2,50 foram tão bem
empregados. O filme, de Nadine Labaki,
conta a história de um vilarejo perdido nas montanhas do Líbano, isolado por
minas terrestres. Com uma população
formada por mulçumanos e cristãos, as mulheres se unem para proteger suas
famílias da guerra, violência e sofrimento. Belíssima, a abertura com a marcha
das mulheres vestidas de preto, em direção ao cemitério.
As mulheres inventam todo tipo de estratégias para impedir
que maridos e filhos se enfrentem no lugarejo. Elas brigam com seus homens e
criam muita confusão e gritaria para abafar o noticiário sobre a guerra no único
aparelho de TV existente. Chegam a desafiar tabus, convidando um grupo de
dançarinas ucranianas para visitar a vila, organizam uma festa com pães e bolos
recheados de haxixe e aproveitam a “viagem” dos filhos e maridos para enterrar
as armas na madrugada.
Quando uma morte trágica ocorre, uma mãe chega a esconder o
corpo do filho para não acirrar as animosidades. E diante da necessidade de
providenciar o enterro, elas partem para uma estratégia definitiva e radical:
as cristãs viram mulçumanas, e as mulçumanas viram cristãs, neutralizando a
intolerância religiosa. Quando o féretro com o corpo do rapaz morto chega perto
do cemitério, os homens que carregam o caixão param desorientados e se viram
para as mulheres com uma indagação, diante do cemitério dividido entre a parte
cristã e a parte muçulmana: E agora, aonde vamos?
Só não concordei com a classificação do filme em comédia,
drama. Acho que é pura poesia.
O distribuidor de DVD pirata subiu em meu conceito.