28 de setembro de 2012
Joaci Goes comenta a importância da candidatura de Waldir Pires a vereador por Salvador
Joaci Goes, empresário, ex-deputado federal, escritor e fundador da Tribuna da Bahia no artigo "O vereador Waldir Pires" comenta sobre o grande interesse popular despertado pela candidatura Waldir Pires a vereador da capital baiana. Normalmente, a carreira política começa pela vereança, mas, Waldir Pires, depois de ocupar os mais altos cargos da República, escolheu a Câmara Municipal para encerrar sua carreira. É muito instigante. E desperta também muitos ciúmes entre os políticos menores. Descartem-se necessidade financeira e busca de notoriedade. Waldir Pires do alto de seus 85 anos não precisa disso. Ele deseja, "no outono da vida", como gosta de dizer, contribuir para o fortalecimento da política, da grande política, servindo ao povo da Bahia. Um grande exemplo de vida. Essa é uma leitura para pessoas inteligentes.
LEIA O TEXTO NA ÍNTEGRA:
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Por Joaci Goes – empresário e ex-deputado federal
É improvável que
surja, ao longo das eleições municipais do ano corrente, em todo o país, algum
fato capaz de rivalizar com o interesse popular despertado pela candidatura de
Waldir Pires a vereador de Salvador. A novidade consiste na surpreendente
disposição de alguém, no apogeu da maturidade, com um dos mais ricos
currículos, construído a partir da segunda metade do último século, concorrer a
um posto normalmente encarado como marco inicial da carreira política.
É natural e
previsível, portanto, que a instigante decisão de Waldir Pires continue a ser
objeto, em lares e bares, de inúmeras suposições que buscam desvendar a
motivação básica que lastreia sua heterodoxa e até certo ponto inédita
iniciativa, em nossa história, na medida em que não se conhece precedente de
alguém com o seu peso que haja se habilitado a posto tão modesto,
comparativamente às dimensões do seu prestigioso nome. Otávio Mangabeira, o
mais ilustre dos edis soteropolitanos, chegou à vereança aos 26 anos, não
valendo como precedente.
É verdade que, em
várias capitais do Brasil, políticos de peso como César Maia, no Rio, Arthur
Virgílio, em Manaus, e Felix Mendonça, em Salvador, anunciam a disposição de
concorrer à edilidade. Nenhum deles, porém, exerceu tantos cargos como os que
conferem a Waldir Pires tão marcante singularidade biográfica na vida política
nacional, inclusive uma acirrada disputa pela indicação do seu nome como
candidato a presidente da República.
É verdade, também,
que a Câmara de Salvador é revestida do prestígio de ser a mais antiga das
casas parlamentares do Brasil, não sendo difícil prever o quanto a presença ali
de Waldir Pires poderá contribuir para a elevação de sua credibilidade. Não são
poucos entre os mais qualificados observadores da cena política brasileira os
que pensam que Waldir teria sido eleito se tivesse concorrido, em lugar de
Ulysses Guimarães, nas eleições de 1989.
Descartem-se, de
plano, algumas especulações. Necessidade financeira não é. Dono de uma das mais
longas carreiras políticas, Waldir, certamente, conta com a renda de uma
aposentadoria que atende plenamente as exigências da vida modesta de que nunca
se afastou, nem mesmo quando exerceu elevadas funções na vida pública, de que é
prova o padrão espartano que adotou em sua passagem pelo governo da Bahia. A
busca de notoriedade, tampouco. Aclamado por onde passe, chovem convites, de
toda parte, para proferir palestras e receber homenagens.
O mais provável é que
Waldir Pires se enquadre no categórico imperativo kantiano segundo o qual “o
homem jamais se libertará da paixão política ou religiosa”. No seu caso, por
formação pessoal, autoelaborada, desde a mais tenra juventude, a política corre
em suas veias, é da essência do seu ser. Um verdadeiro Karma.
É verdade que, pela
tradição dos povos, o Senado seja o abrigo derradeiro dos que acumularam
experiência e sabedoria, a serviço da comunidade. Em três diferentes momentos,
porém, esse merecido prêmio lhe foi negado. No primeiro, em 1982, o perverso
sistema eleitoral da vinculação dos votos, concebido pela ditadura para
assegurar maioria no Congresso, impediu sua eleição, como a de Roberto Santos,
para governador.
No segundo, em 2002,
sua eleição foi roubada, a bico de pena, pelo guante das forças malvadas que
dominavam o estado. Na terceira e mais recente ocasião, em 2010, o seu partido,
o PT, o preteriu, em favor de políticos mais jovens, deixando inconformada a
grande legião dos seus seguidores.
A pregação da
política com P maiúsculo é a marca que torna o fascinante e oracular discurso
de Waldir Pires o mais aplaudido do Brasil. Há quem sustente, por isso, que se
parlamentarista fosse o nosso sistema, ninguém rivalizaria com ele no exercício
da presidência da República.
Se essas premissas
forem verdadeiras, não será Waldir que estará sendo julgado nas próximas eleições
municipais. Será a maturidade política do povo de Salvador que estará se
habilitando ao julgamento pela história. Será um episódio único de identidade
entre qualidade e quantidade, a ser aferida pelo número de sufrágios que
receber.
Publicado originalmente na Tribuna da Bahia. Coluna Ponto de
Vista. Fonte: Blog do Gusmão.