4 de junho de 2011

 

Gilberto Prata, o maldito traidor, morreu e ninguém soube

Pelo Blog do Nilmário fiquei sabendo que Gilberto Prata Soares morreu, no Carnaval de 2010. Morreu tarde. Foi um maldito que traiu seus companheiros da Ação Popular (AP) e provocou a morte de valorosos combatentes. Aos poucos vou enterrando, sem compaixão, os malditos. Cuspi na tumba do coronel Luiz Artur de Carvalho, que era Superintendente da Polícia Federal nos anos 1970 na Bahia. Agora, senti enorme prazer ao saber da morte de Pratinha.

Em 1973, Gilberto Prata Soares, que estava morando em Goiânia, foi preso pela repressão e fez um acordo com os psicopatas de farda. Seu ato de traição provocou o tormento e a morte de José Carlos Novaes da Mata Machado, Gildo Macedo Lacerda e aos “desaparecimentos” de Paulo Stuart Wright, Honestino Guimarães, Humberto Câmara Neto, Fernando Augusto Santa Cruz e Eduardo Collier Filho, ícones e dirigentes da revolucionária Ação Popular, que lutava contra a ditadura militar.

O maldito me procurou em Salvador, em 1973. Eu o recebi em minha casa, na Baixa do Senhor do Bonfim. Eu tinha acabado de cumprir pena na Penitenciária de Linhares (Juiz de Fora - MG), estava legalizado e recomeçando a vida na Bahia. Ele estava morando numa velha pensão na Ladeira da Independência, 54, bem perto do Quartel da Mouraria. De lá, os militares o controlavam. Eu recebi em minha casa o velho companheiro José Carlos da Mata Machado, colega da Faculdade de Direito da UFMG, que era casado com sua irmã Madalena Prata. Estavam em situação difícil, sob cerco da repressão. O maldito entregou o próprio cunhado para a morte.

Eu fui a última pessoa,em Salvador, a ver com vida o companheiro Gildo Macedo Lacerda. Estávamos presos numa espécie de masmorra no Quartel do Barbalho. Eu via quando os psicopatas de farda o arrastavam, com o dedo do pé altamente inflamado, para o refeitório dos oficiais, onde praticavam as sessões de tortura. Eu passava por uma daquelas sessões, em pé, em cima de latinhas cortantes, quando me disseram, no dia 1º de novembro: “O Gildo e o Mata Machado... já era”.

Na capital de Pernambuco, para onde o tinham levado, a manchete do Jornal do Commercio alardeava: “Subversivos da Ação Popular morrem no Recife”. O Estadão publicava: “Polícia no Recife desbarata terror”. Em Belo Horizonte, o jornal Estado de Minas replicava: “Subversivos morreram no Recife”. Na versão imposta aos jornais, eles tinham morrido em tiroteio. O corpo de Gildo Lacerda nunca foi encontrado. O corpo de José Carlos foi entregue ao pai, Edgard Godói da Mata Machado, numa urna lacrada, no dia 15 de novembro de 1973.

O maldito traidor, transformado em agente do CIEX , chegou a José Carlos da Mata Machado por intermédio da própria família. A família não obedeceu à ordem militar. O corpo de José Carlos estava dilacerado, língua e orelhas cortadas, olhos vazados. Foi morto em selvagem tortura. Quem poderia suspeitar que o irmão de Madalena Prata poderia estar a serviço da repressão? Foi assim que ele chegou à minha residência. Ele sabia que eu tinha acolhido o velho companheiro, mesmo não estando mais ligado à Ação Popular.

Terminado o serviço, Gilberto Prata Soares desapareceu de circulação. Dez anos depois, em 1984, ele teve uma crise de depressão e confessou à irmã a mortal traição. O dossiê BRASIL NUNCA MAIS documentou todas as mortes e desaparecimentos. Mais tarde, o livro “DOS FILHOS DESTE SOLO”, de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio documentou a história da traição.

Nunca o perdoei e espero que sua alma, nas profundezas do inferno, nunca descanse em paz!

Comments:
Oldack Miranda eu sou Fernanda Gomes de Matos e conheci o José Carlos da Mata Machado sou do grupo de pessoas que foram presas em 22 de outubro de 1973 aqui no Recife no mesmo local onde ele foi morto por termos conhecido o Zé e a Madalena e sempre me perguntava o que aconteceu com o Gilberto e achei essa nota sua agora e soube de sua morte ia perguntar a Mada hoje mais foi bom não ter feito isso pois são mágoas são para todo o sempre de todos nos.
 
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