6 de março de 2011

 

Revista "Muito" do jornal A Tarde ainda vai virar dissertação de Mestrado

A revista Muito, encartada aos domingos no jornal A Tarde, inevitavelmente vai virar dissertação de Mestrado ou tese de Doutorado. É com certeza o que há de mais contemporâneo e oxigenado em termos editoriais, na forma e no conteúdo. Está anos luz distante do velho jornal. Pela excelência de suas reportagens, consolidou-se junto ao público mais esclarecido que ainda compra jornal. Tem sido recomendada aos alunos por muitos professores de Comunicação. Lembro-me que há pouco tempo (11/2010) foi tema de debate no I Encontro de Comunicação do Vale, realizado no campus da UNEB em Juazeiro.

A revista Muito sempre surpreende seus leitores aos domingos. Guardei um exemplar com reportagem sobre opositores da ditadura militar de 1964, presos durante anos na Penitenciária Lemos Brito, antes de sua demolição, entre eles o hoje deputado federal Emiliano José (PT), o publicitário Carlos Sarno, o economista José Carlos Zanetti e o juiz federal Theodomiro Romeiro dos Santos, único militante condenado à morte pelos psicopatas militares.

Também guardei o exemplar (2010) da entrevista com a antropóloga Débora Diniz, diretora do documentário “Uma história Severina”, que narra a terrível trajetória de uma mulher grávida de um bebê anencéfalo, no Brasil. A antropóloga, que já foi demitida da Universidade Católica de Brasília por defender a causa do aborto, falou do tema pouco antes das eleições de 2010, quando essa grave questão de saúde pública foi achincalhada pela campanha eleitoral irresponsável de José Serra (PSDB).

Quem não se lembra da mulher de Serra, Mônica, bradando pela mídia que Dilma Rousseff era a favor de “matar criancinha?”. Quem não se lembra do silêncio da mídia depois que uma ex-aluna de Mônica Serra divulgou que a professora tinha confidenciado em sala de aula que já havia, ela própria, feito aborto? Hipócrita.

A posição de Débora Diniz sobre o aborto é lúcida. Não é uma questão religiosa ou moral. É uma questão de Direito da mulher e uma grave questão de saúde pública. É matéria de ética privada. As mulheres devem ser protegidas pelo Estado para não abortar e para abortar. Talvez o pior desserviço que a Igreja Católica presta ao Brasil seja carimbar pessoas de “abortistas” e “não abortistas”, uma verdadeira desgraça, comparável à queima de mulheres nas fogueiras da Inquisição. Jornalistas e seus patrões precisam fazer um exame de consciência por estigmatizar mulheres que fizeram, fazem aborto, e silenciam quando estupradas.

Tudo isso que falei foi para chegar à entrevista no exemplar de 27 de fevereiro. O conteúdo mais importante não é a reportagem de capa sobre o “Carnaval, festa de milhões”. O mais importante está na entrevista do médico baiano mastologista Ézio Novais, sobre a evolução do tratamento do câncer de mama que continua sendo a neoplasia que mais mata mulheres no Brasil e no mundo. No Brasil são 50 mil novos casos por ano e que levam 11 mil mulheres à morte. O médico relativiza o autoexame e defende a garantia pelo SUS da mamografia periódica a partir dos 40 anos. O câncer de mama cresce entre mulheres mais jovens. Uma leitura essencial. Também guardei este exemplar.

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