22 de julho de 2008
Memorial presta homenagem a baiano que morreu na luta armada
O ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, inaugurou (18/07/08), em Osasco (Grande São Paulo) o Memorial em homenagem a José Campos Barreto, João Domingues da Silva (ambos do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco) e Dorival Ferreira (do Sindicato da Construção Civil de Osasco). Eles eram operários e militantes de organizações de esquerda, mortos durante a ditadura. A solenidade faz parte do projeto "Direito à Memória e à Verdade", promovido pelo Governo Lula. A homenagem foi realizada em parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos e a Prefeitura de Osasco.
O Memorial foi construído em parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos e prefeitura de Osasco e integrou a extensa programação da semana “1968 – Memórias de uma História de Luta”, que celebra os 40 anos da greve que mobilizou 12 mil trabalhadores de algumas das principais fábricas da cidade, em 1968. Entrou para a história como “Greve de Osasco”. O movimento tinha como objetivo combater a ditadura militar e melhorar as condições de vida dos trabalhadores. A história dessa luta foi revivida em uma semana de debates e comemorações.
QUEM É JOSÉ CAMPOS BARRETO
Boa parte do desfecho trágico da luta de José Campos Barreto foi contada no livro "Lamarca, o Capitão da Guerrilha" da autoria dos jornalistas Emiliano José e Oldack Miranda. José Campos Barreto foi assassinado em 17 de setembro de 1971, em Pintada, localidade rural do município de Ipupiara, nas proximidades de Brotas de Macaúbas, junto com Carlos Lamarca, o capitão do exército brasileiro que se engajou na luta armada contra o regime militar.
Mais velho dos sete filhos de José de Araújo Campos Barreto e Adelaide Campos Barreto, ainda muito jovem foi enviado a um seminário em garanhuns, Pernambuco, onde ficou por quatro anos. Aos 13 anos já discutia política. Em 1963 decidiu não mais voltar ao seminário. Em 1964, mudou-se para São Paulo e serviu o exército no ano seguinte, no Quartel de Quitaúna. Estudou em Osasco, no Colégio estadual e na Escola Normal Antônio Raposo Tavares, tornando-se presidente do Círculo estudantil Osasquense. trabalhou com operário e destacou-se como importante liderança no Sindicato dos Metalúrgico de Osasco, em 1968.
Na Cobrasma, protagonizou um de seus mais conhecidos feitos: quando a fábrica foi cercada, durante a greve de 1968, de cima de um vagão, discursou aos soldados, explicando as razões do movimento. Chegou a paralisar a tropa por um momento. De posse de uma tocha acesa, ameaçou explodir o tanque de combustível da fábrica. A tropa hesitou e muitos operários conseguiram escapar da polícia. Cerca de 400 foram detidos. Barreto sofreu espancamentos já no ato da prisão. Permaneceu 98 dias entre os cárceres do DEIC e do DOPS, até ser libertado por força de um habeas-corpus. Em 1969, militando na VPR voltou ao sertão baiano. Depois deslocou-se para o Rio de Janeiro e voltou à Bahia, onde passou a militar no MR-8. Com a chegada de Lamarca ao Estado, foi designado para acompanhá-lo e com ele ficou até a morte. Lamarca e Barreto foram mortos por agentes do DOI-CODI da 6ª Região Militar, chefiados pelo general Nilton de Albuquerque Cerqueira.
Seus restos foram levados para Brotas de Macaúbas e jogados no campo de futebol. Os agentes comemoraram, dando rajadas para o alto, gritando vitória e chutando os cadáveres. Depois, os corpos foram colocados em um helicóptero e transportados para Salvador. O livro "Dos Filhos deste Solo", da autoria do ex-ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, em parceria com o jornalista Carlos Tibúrcio, registra à página 415 que José Campos Barreto foi enterrado no cemitério Campo Santo, em Salvador, segundo o Atestado de Óbito assinado pelo legista Dr Charles Pittex.
O press-release distribuído pela Assessoria de Comunicação da SEDH contém algumas imprecisões. O blog de Zé Dirceu reproduz a informação da SEDH com os mesmos erros. O principal deles é informar que o corpo de José Campos Barreto nunca foi encontrado. O Decreto 2.318, assinado por Fernando Henrique Cardoso em 5 de setembro de 1997, indenizou quatro irmãos da família Campos Barreto ( Olival, Ana, Olderico e Edival)pelo assassinato de José Campos Barreto com o valor de R$ 124.110,00. Os irmãos também foram indenizados pela morte de Otoniel Campos barreto (também assassinado na operação de cerco ao capital Carlos Lamarca) com o valor de R$ 137.220,00. Foi o reconhecimento oficial da responsabilidade do estado na morte dos militantes políticos de oposição.
MILITANTES MORTOS NA TORTURA
Os militantes da VAR-Palmares, João Domingues da Silva e Fernando Borges de Paula Ferreira foram interceptados por policiais civis por volta da meia noite do dia 29 de julho de 1969, na avenida Pacaembu, em São Paulo. Na versão oficial, os policiais suspeitaram do veículo utilizado por ambos. Fernando teria morrido imediatamente e João Domingues, apesar de gravemente ferido, conseguiu escapar, refugiando-se na casa de uma irmã, em Osasco, onde foi preso no mesmo dia.
Filho de Eliza Joaquina Maria da Silva e Antônio José da Silva, o operário João Domingues tinha sido, ao lado de seu irmão Roque Aparecido da Silva, um dos líderes da greve realizada em Osasco (SP) pelos trabalhadores metalúrgicos, em julho de 1968, passando a ser constantemente ameaçado de prisão e morte. Nascido em Sertanópolis (PR), desde os 10 anos, ajudava o pai no trabalho com o gado, onde viviam, em Jataizinho (PR). Aos 12 anos, trabalhava no matadouro de Ibiporã (PR) e, aos 13, em Osasco, num açougue. Militou nas organizações de esquerda Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e VAR-Palmares.
Ao ser preso na casa da irmã, foi levado para o Hospital das Clínicas, onde os médicos submeteram-no a uma delicada cirurgia. Mesmo correndo risco de vida, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) transportaram-no para o Hospital Geral do Exército, onde iniciaram um processo de interrogatório e torturas que culminou com sua morte, no dia 23 de setembro.
Filho de Alvina Ferreira e Domingos Antonio Ferreira, nascido em Osasco (SP), Dorival Ferreira era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Operário, era filiado ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Osasco e Região – do qual foi candidato à presidência em 1965. Casado, pai de seis filhos, Dorival morreu aos 38 anos, após ser preso pelos agentes do DOI-CODI/SP. Na noite de 2 de abril de 1970, agentes de segurança invadiram sua casa, aos tiros, em Osasco. A versão oficial alegou que ele morreu em tiroteio.
As provas que contrariam a versão oficial vieram do Instituto Médico Legal (IML), da perícia técnica e do DOPS. Nas declarações do pai de Dorival, prestadas ao delegado do Deops Edsel Magnotti, no dia 2 de junho, consta que ao chegar na casa do filho só encontrou policiais que lhe disseram que Dorival tinha sido preso, sem informar para onde fora levado. Também veio do DOPS uma ficha de Dorival, com data de 30 de abril de 1970, informando que ele morreu em 3 de abril do mesmo ano, isto é, no dia seguinte à sua prisão.
O Memorial foi construído em parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos e prefeitura de Osasco e integrou a extensa programação da semana “1968 – Memórias de uma História de Luta”, que celebra os 40 anos da greve que mobilizou 12 mil trabalhadores de algumas das principais fábricas da cidade, em 1968. Entrou para a história como “Greve de Osasco”. O movimento tinha como objetivo combater a ditadura militar e melhorar as condições de vida dos trabalhadores. A história dessa luta foi revivida em uma semana de debates e comemorações.
QUEM É JOSÉ CAMPOS BARRETO
Boa parte do desfecho trágico da luta de José Campos Barreto foi contada no livro "Lamarca, o Capitão da Guerrilha" da autoria dos jornalistas Emiliano José e Oldack Miranda. José Campos Barreto foi assassinado em 17 de setembro de 1971, em Pintada, localidade rural do município de Ipupiara, nas proximidades de Brotas de Macaúbas, junto com Carlos Lamarca, o capitão do exército brasileiro que se engajou na luta armada contra o regime militar.
Mais velho dos sete filhos de José de Araújo Campos Barreto e Adelaide Campos Barreto, ainda muito jovem foi enviado a um seminário em garanhuns, Pernambuco, onde ficou por quatro anos. Aos 13 anos já discutia política. Em 1963 decidiu não mais voltar ao seminário. Em 1964, mudou-se para São Paulo e serviu o exército no ano seguinte, no Quartel de Quitaúna. Estudou em Osasco, no Colégio estadual e na Escola Normal Antônio Raposo Tavares, tornando-se presidente do Círculo estudantil Osasquense. trabalhou com operário e destacou-se como importante liderança no Sindicato dos Metalúrgico de Osasco, em 1968.
Na Cobrasma, protagonizou um de seus mais conhecidos feitos: quando a fábrica foi cercada, durante a greve de 1968, de cima de um vagão, discursou aos soldados, explicando as razões do movimento. Chegou a paralisar a tropa por um momento. De posse de uma tocha acesa, ameaçou explodir o tanque de combustível da fábrica. A tropa hesitou e muitos operários conseguiram escapar da polícia. Cerca de 400 foram detidos. Barreto sofreu espancamentos já no ato da prisão. Permaneceu 98 dias entre os cárceres do DEIC e do DOPS, até ser libertado por força de um habeas-corpus. Em 1969, militando na VPR voltou ao sertão baiano. Depois deslocou-se para o Rio de Janeiro e voltou à Bahia, onde passou a militar no MR-8. Com a chegada de Lamarca ao Estado, foi designado para acompanhá-lo e com ele ficou até a morte. Lamarca e Barreto foram mortos por agentes do DOI-CODI da 6ª Região Militar, chefiados pelo general Nilton de Albuquerque Cerqueira.
Seus restos foram levados para Brotas de Macaúbas e jogados no campo de futebol. Os agentes comemoraram, dando rajadas para o alto, gritando vitória e chutando os cadáveres. Depois, os corpos foram colocados em um helicóptero e transportados para Salvador. O livro "Dos Filhos deste Solo", da autoria do ex-ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, em parceria com o jornalista Carlos Tibúrcio, registra à página 415 que José Campos Barreto foi enterrado no cemitério Campo Santo, em Salvador, segundo o Atestado de Óbito assinado pelo legista Dr Charles Pittex.
O press-release distribuído pela Assessoria de Comunicação da SEDH contém algumas imprecisões. O blog de Zé Dirceu reproduz a informação da SEDH com os mesmos erros. O principal deles é informar que o corpo de José Campos Barreto nunca foi encontrado. O Decreto 2.318, assinado por Fernando Henrique Cardoso em 5 de setembro de 1997, indenizou quatro irmãos da família Campos Barreto ( Olival, Ana, Olderico e Edival)pelo assassinato de José Campos Barreto com o valor de R$ 124.110,00. Os irmãos também foram indenizados pela morte de Otoniel Campos barreto (também assassinado na operação de cerco ao capital Carlos Lamarca) com o valor de R$ 137.220,00. Foi o reconhecimento oficial da responsabilidade do estado na morte dos militantes políticos de oposição.
MILITANTES MORTOS NA TORTURA
Os militantes da VAR-Palmares, João Domingues da Silva e Fernando Borges de Paula Ferreira foram interceptados por policiais civis por volta da meia noite do dia 29 de julho de 1969, na avenida Pacaembu, em São Paulo. Na versão oficial, os policiais suspeitaram do veículo utilizado por ambos. Fernando teria morrido imediatamente e João Domingues, apesar de gravemente ferido, conseguiu escapar, refugiando-se na casa de uma irmã, em Osasco, onde foi preso no mesmo dia.
Filho de Eliza Joaquina Maria da Silva e Antônio José da Silva, o operário João Domingues tinha sido, ao lado de seu irmão Roque Aparecido da Silva, um dos líderes da greve realizada em Osasco (SP) pelos trabalhadores metalúrgicos, em julho de 1968, passando a ser constantemente ameaçado de prisão e morte. Nascido em Sertanópolis (PR), desde os 10 anos, ajudava o pai no trabalho com o gado, onde viviam, em Jataizinho (PR). Aos 12 anos, trabalhava no matadouro de Ibiporã (PR) e, aos 13, em Osasco, num açougue. Militou nas organizações de esquerda Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e VAR-Palmares.
Ao ser preso na casa da irmã, foi levado para o Hospital das Clínicas, onde os médicos submeteram-no a uma delicada cirurgia. Mesmo correndo risco de vida, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) transportaram-no para o Hospital Geral do Exército, onde iniciaram um processo de interrogatório e torturas que culminou com sua morte, no dia 23 de setembro.
Filho de Alvina Ferreira e Domingos Antonio Ferreira, nascido em Osasco (SP), Dorival Ferreira era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Operário, era filiado ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Osasco e Região – do qual foi candidato à presidência em 1965. Casado, pai de seis filhos, Dorival morreu aos 38 anos, após ser preso pelos agentes do DOI-CODI/SP. Na noite de 2 de abril de 1970, agentes de segurança invadiram sua casa, aos tiros, em Osasco. A versão oficial alegou que ele morreu em tiroteio.
As provas que contrariam a versão oficial vieram do Instituto Médico Legal (IML), da perícia técnica e do DOPS. Nas declarações do pai de Dorival, prestadas ao delegado do Deops Edsel Magnotti, no dia 2 de junho, consta que ao chegar na casa do filho só encontrou policiais que lhe disseram que Dorival tinha sido preso, sem informar para onde fora levado. Também veio do DOPS uma ficha de Dorival, com data de 30 de abril de 1970, informando que ele morreu em 3 de abril do mesmo ano, isto é, no dia seguinte à sua prisão.
Comments:
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Muito bom, aqui sempre me sinto em acréscimo pelas informações fidedignas. Excelente o esclarecimento, honra a memória dos que tombaram na luta por um Brasil melhor, outro mundo possível.
Emiliano José e Oldack Miranda, em "Lamarca, o Capitão da Guerrilha", continuarão a ser referência essencial daquele período de tantas injustiças e tambem de grandezas de uma geração tão generosa.
Abraço
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Emiliano José e Oldack Miranda, em "Lamarca, o Capitão da Guerrilha", continuarão a ser referência essencial daquele período de tantas injustiças e tambem de grandezas de uma geração tão generosa.
Abraço
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