21 de julho de 2008

 

Cria de ACM, Dantas se projetou na era FHC

Deu na Folha de S. Paulo:
Segunda-feira 21/07/08

Na era Lula, ao ser barrado por Gushiken, banqueiro passou a contratar advogados ligados a petistas para ter acesso ao Planalto. No governo Collor, chegou a ser cogitado como possível ministro e teria participado da reunião que decidiu confisco de cruzados novos.

Daniel Valente Dantas, 53, um baiano que saiu do seu Estado como um empresário modesto, em pouco mais de 20 anos passou por todos os governos federais desde os anos 90 com a marca de arrecadar tanto aliados quanto inimigos de vários partidos.

Dantas chegou ao Planalto ainda no governo José Sarney (1985-1990), pelas mãos do conterrâneo Antonio Carlos Magalhães, do então PFL, morto no ano passado, a quem foi indicado pelo economista Mário Henrique Simonsen.

A proximidade com o poder e o desempenho no mercado de finanças à frente do banco Icatu lhe renderam espaço privilegiado de articulador da política de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O que, mais tarde, lhe garantiu a continuidade dos seus negócios no governo Lula.

Nascido numa família da oligarquia baiana, Dantas começou cedo nos negócios. Aos 17 anos, criou uma fábrica de sacolas com amigos. Passou pelas indústria têxtil e de turismo, foi dono de posto de gasolina e ainda trabalhou na empreiteira Odebrecht como engenheiro, curso pelo qual se graduou na Universidade Federal da Bahia.

No Rio, onde fez mestrado em economia, conheceu Simonsen, por meio de quem se aproximou do PFL de ACM. Depois de fazer uma especialização no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, voltou ao Brasil e passou pelo Bradesco, indo logo em seguida para o banco Icatu.

Já na direção do banco, seus contatos políticos rendiam acesso a dados que o levaram a vencer grandes especuladores do mercado de ações. Quando o governo Fernando Collor (1990-1992) estava para começar, Dantas foi citado como possível ministro, o que não se confirmou. Ele teria participado, a convite de Simonsen, da reunião em que Collor decidiu pelo bloqueio dos cruzados novos. Antes do confisco, fez dinheiro com exportações e investiu em soja e café.

Contatos políticos

Um dos principais economistas do PFL, atual DEM, no qual cresceu graças às boas relações com o grupo de ACM, Dantas fez parte, em 1994, do grupo que analisou o Plano Real criado pelo então ministro Fernando Henrique Cardoso. Foi um dos responsáveis pela análise e montagem do plano econômico do governo PSDB-PFL.

Em 1996, quando o banco Opportunity começa a operar, Dantas já havia se aproximado de Pérsio Arida, ex-presidente do BNDES (1993-1995) e do Banco Central (1995), que se tornou seu sócio no banco. A irmã, Verônica Dantas, expert na área jurídica, foi outra sócia.

O surgimento do Opportunity tem na origem os bons contatos de Dantas com os tucanos: foram seus aliados no partido que o estimularam a entrar no processo de privatizações do sistema Telebrás. Montou o CVC Opportunity, com recursos do Citigroup, e atraiu a Telecom Italia e a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil).

Tanto em suas sociedades quanto nas relações que mantinha com partidos políticos, Dantas sempre se utilizou das divisões internas para conquistar espaço. Foi assim na sua transferência do Bradesco, com o empresário Almeida Braga, para o Icatu. Dentro do PSDB, usou o desentendimento com o senador Tasso Jereissati (CE) para se aproximar de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações.

O grampo telefônico de Mendonça de Barros e André Lara Resende, presidente do BNDES na época da privatização das teles, escancarou a extensão do poder de penetração de Dantas no governo tucano.Em 2004, a Folha revelou que a BrT, do Opportunity, contratou a Kroll para investigar a Telecom Italia. A empresa espionou funcionários do governo Lula, entre eles os ex-ministros Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo) e José Dirceu (Casa Civil) e Cássio Casseb, ex-presidente do Banco do Brasil.

Começaram disputas entre a Telecom Italia e os fundos de pensão com o Opportunity sobre a administração da BrT. Em 2002, um acordo foi anunciado. A Telecom Italia transferiu metade de suas ações com direito a voto na BrT ao Opportunity, para que a Tim (que ela controla) pudesse inaugurar sua rede de telefonia celular. O acordo lhe dava o direito de recomprar as ações.

Em 2003, a Telecom Italia tentou retornar ao bloco de controle da BrT. Foi impedida pelo Opportunity. Contrariada, a Telecom Italia entrou na Justiça. A Folha revelou ainda que o Citigroup tinha conhecimento da espionagem. Em 2005, a Anatel determina a volta da Telecom Italia ao bloco de controle da BrT. Chega a um acordo com o Opportunity e entra em conflito com os fundos, que se aliaram ao Citigroup, pelo controle da Brasil Telecom.

Dantas é abandonado pelo Citigroup, que destituiu o Opportunity como gestor do fundo CVC Opportunity, que controlava BrT, Telemig Celular, Amazônia Celular e o Metrô do Rio. O Citi passa a controlar as empresas telefônicas em parceria com os fundos Previ, Petros, Funcef e outros.

Na era petista, seu modus operandi foi adaptado. Ao encontrar resistência ferrenha de Gushiken, um dos ministros mais próximos de Lula no primeiro mandato e claro defensor dos fundos de pensão, contratou dois advogados com pontes no novo governo: Antonio Carlos de Almeida Castro, amigo de Dirceu, e Roberto Teixeira, compadre de Lula.

O banqueiro também teve o apoio do então diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolatto, e do à época tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Em 2005, a CPI dos Correios revelou que três empresas controladas por Dantas repassaram R$ 150 milhões ao esquema do empresário Marcos Valério - ajudando a sustentar o esquema do mensalão.

Original está na Folha

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?