21 de outubro de 2007
O silêncio dos cemitérios
Faço minhas as palavras de Zé Dirceu em protesto contra as execuções de criminosos no Rio de Janeiro. Hoje, são eles, amanhã será VOCÊ.
Segue o texto:
Não me conformo e quero protestar contra o silêncio da sociedade diante das cenas e dos fatos exibidos e descritos, em cadeia nacional pelos meios de comunicação, esta semana. Jovens de uma favela do Rio de Janeiro, provavelmente de um grupo criminoso e talvez eles mesmo criminosos, fugindo do cerco policial, perseguidos pelo ar por um helicóptero da PM carioca, desarmados, mas sendo caçados por policiais, como animais, até a morte.
Morte ou assassinato? Nem os animais são mais caçados assim nos Safáris na África. Até mesmo nas guerras existem convenções, como a de Genebra, que classificam como crime de guerra, por exemplo, a execução de pilotos que caem em território inimigo e não reagem, se entregam. Embora o que se vive nas grandes cidades brasileiras não seja exatamente uma guerra institucionalizada, os criminosos não podem ser simplesmente assassinados, como animais, o que não acontece nem nas guerras.
O que significam essas cenas que assistimos? Que a PM do Rio de Janeiro não fará mais prisioneiros, executará a todos? Para onde vamos? O que pretendem as autoridades com isso? Por que esse silêncio no país? Onde estão as entidades de direitos humanos? O governo? As igrejas?
Alguém tem dúvida da inutilidade de tal comportamento das autoridades? Além da barbárie, elas vão se igualar aos criminosos? Vão desrespeitar as leis que juraram obedecer? Vamos voltar aos tempos da ditadura, quando valia tudo contra a “subversão”, tortura, assassinato, desaparecimento, seqüestro, prisão ilegal, escuta ilegal, julgamentos políticos?
A prática da tortura como instrumento para se combater o crime organizado também parece que já está praticamente institucionalizada em muitas das nossas polícias, e não revoltam mais a sociedade. O filme Tropa de Elite, por exemplo, que tem provocado tanto debate e discussão, mostra friamente essa institucionalização da tortura policial, e não se ouviu nenhuma voz de protesto contra isso, o que chocou o próprio roteirista do filme, o ex-capitão do Bope do Rio de Janeiro, Rodrigo Pimentel, que disse em reportagem da revista Brasileiros: “O que mais me surpreende é a reação do público: ninguém se choca com as cenas de tortura policial. Eu não esperava. Sequer tocam no assunto, como se ela não existisse no filme. É um pacto velado da população com a tortura”.
Esses métodos não derrotarão o narcotráfico e a bandidagem, nem darão à sociedade uma sensação de segurança. São geralmente feitos para efeitos midiáticos, vingança ou acerto de contas.
Para combater as quadrilhas e o crime organizado é mais importante o trabalho de inteligência, mudanças no Código Penal que garantam a punição dos criminosos e aperfeiçoamento do sistema carcerário para que haja lugar para todos em condições decentes. Sem falar na importância da presença do Estado nos morros e favelas, com eficientes políticas públicas de educação, saúde, lazer e cultura, principalmente para a juventude, como forma de cortar os laços de dependência e até mesmo gratidão que ligam as comunidades aos chefes do tráfico e que acabam funcionando como um escudo protetor para os bandidos.
Além disso, a tolerância à esse tipo de ação policial é perigosa porque desenvolve uma cultura nefasta. Hoje são possíveis traficantes, amanhã a polícia se sentirá à vontade para fazer o mesmo em qualquer circunstância. O narcotráfico não pode ser pretexto para a violação de direitos humanos, assim como o terrorismo serve de pretexto para os Estados Unidos invadir países pelo mundo afora, afrontando a soberania nacional dessas nações
E mais. É uma ilusão acreditar que assim se combate o crime organizado. Está errado. Mais cedo do que pensam os responsáveis por tal barbárie, as conseqüências surgirão. Todos nós conhecemos, é a atávica máxima do olho por olho, dente por dente, que tanto mal já causou à humanidade. É a banalização da violência.
Não aprendemos.
Fonte: http://www.zedirceu.com.br/
Segue o texto:
Não me conformo e quero protestar contra o silêncio da sociedade diante das cenas e dos fatos exibidos e descritos, em cadeia nacional pelos meios de comunicação, esta semana. Jovens de uma favela do Rio de Janeiro, provavelmente de um grupo criminoso e talvez eles mesmo criminosos, fugindo do cerco policial, perseguidos pelo ar por um helicóptero da PM carioca, desarmados, mas sendo caçados por policiais, como animais, até a morte.
Morte ou assassinato? Nem os animais são mais caçados assim nos Safáris na África. Até mesmo nas guerras existem convenções, como a de Genebra, que classificam como crime de guerra, por exemplo, a execução de pilotos que caem em território inimigo e não reagem, se entregam. Embora o que se vive nas grandes cidades brasileiras não seja exatamente uma guerra institucionalizada, os criminosos não podem ser simplesmente assassinados, como animais, o que não acontece nem nas guerras.
O que significam essas cenas que assistimos? Que a PM do Rio de Janeiro não fará mais prisioneiros, executará a todos? Para onde vamos? O que pretendem as autoridades com isso? Por que esse silêncio no país? Onde estão as entidades de direitos humanos? O governo? As igrejas?
Alguém tem dúvida da inutilidade de tal comportamento das autoridades? Além da barbárie, elas vão se igualar aos criminosos? Vão desrespeitar as leis que juraram obedecer? Vamos voltar aos tempos da ditadura, quando valia tudo contra a “subversão”, tortura, assassinato, desaparecimento, seqüestro, prisão ilegal, escuta ilegal, julgamentos políticos?
A prática da tortura como instrumento para se combater o crime organizado também parece que já está praticamente institucionalizada em muitas das nossas polícias, e não revoltam mais a sociedade. O filme Tropa de Elite, por exemplo, que tem provocado tanto debate e discussão, mostra friamente essa institucionalização da tortura policial, e não se ouviu nenhuma voz de protesto contra isso, o que chocou o próprio roteirista do filme, o ex-capitão do Bope do Rio de Janeiro, Rodrigo Pimentel, que disse em reportagem da revista Brasileiros: “O que mais me surpreende é a reação do público: ninguém se choca com as cenas de tortura policial. Eu não esperava. Sequer tocam no assunto, como se ela não existisse no filme. É um pacto velado da população com a tortura”.
Esses métodos não derrotarão o narcotráfico e a bandidagem, nem darão à sociedade uma sensação de segurança. São geralmente feitos para efeitos midiáticos, vingança ou acerto de contas.
Para combater as quadrilhas e o crime organizado é mais importante o trabalho de inteligência, mudanças no Código Penal que garantam a punição dos criminosos e aperfeiçoamento do sistema carcerário para que haja lugar para todos em condições decentes. Sem falar na importância da presença do Estado nos morros e favelas, com eficientes políticas públicas de educação, saúde, lazer e cultura, principalmente para a juventude, como forma de cortar os laços de dependência e até mesmo gratidão que ligam as comunidades aos chefes do tráfico e que acabam funcionando como um escudo protetor para os bandidos.
Além disso, a tolerância à esse tipo de ação policial é perigosa porque desenvolve uma cultura nefasta. Hoje são possíveis traficantes, amanhã a polícia se sentirá à vontade para fazer o mesmo em qualquer circunstância. O narcotráfico não pode ser pretexto para a violação de direitos humanos, assim como o terrorismo serve de pretexto para os Estados Unidos invadir países pelo mundo afora, afrontando a soberania nacional dessas nações
E mais. É uma ilusão acreditar que assim se combate o crime organizado. Está errado. Mais cedo do que pensam os responsáveis por tal barbárie, as conseqüências surgirão. Todos nós conhecemos, é a atávica máxima do olho por olho, dente por dente, que tanto mal já causou à humanidade. É a banalização da violência.
Não aprendemos.
Fonte: http://www.zedirceu.com.br/