15 de abril de 2007

 

Renascimento do jornalismo na Carta Capital

Ao contrário da revista Veja, que se jogou num processo de lento suicídio ao contaminar seu conteúdo com ideologia direitista, a revista Carta Capital melhora a cada dia. O número de 11 de abril, que tem a capa sobre a crise da aviação com a manchete “Os militares reagem ao poder civil” é um bom exemplo. Nele há, em reportagem consistente sobre a educação brasileira, os vários exames de avaliação que mostram de modo diferente a piora no ensino, os planos do governo federal para enfrentar a situação e, na contramão da imprensa que só vê notícia em escândalos e denúncias, casos de escolas em todo o Brasil que se destacaram positivamente. É bom saber que há diretores e professores capazes, que provam que o ensino público e gratuito pode ser muito eficiente.

Sem o ranço ideológico da revista Veja, a reportagem da Carta Capital sobre os avanços e recuos do presidente Lula para desfazer o caos nos aeroportos é brilhante e esclarecedora. Faz-nos ver, em texto sem preconceito e sem ódio, que mais grave que a quebra da hierarquia da parte dos sargentos controladores de vôo é a quebra da hierarquia da parte de generais, brigadeiros e almirantes que não engolem a democracia e o poder civil. Sobretudo, trata o ministro Waldir Pires – figura de rara honradez – como a causa remota da insatisfação dos militares graduados. “Homem íntegro e de reconhecida firmeza, Pires, ao contrário da lenda de ser leniente, tem, aos poucos, tomado as rédeas do setor militar, o que gera insatisfações”.

A Carta Capital brinda seu público com matérias sobre a política de energia do Brasil que desagrada aos EUA no Irã e à Venezuela e Cuba quanto aos biocombustíveis; sobre a política belicista de Israel contra os palestinos; sobre um documentário que Dráuzio Varela colheu em viagem de barco ao rio Negro. Mas, o que mais impressiona, é o resgate do jornalismo com o espaço intitulado Brasiliana. O repórter Phydia de Athayde, em duas páginas, reporta a existência de um relojoeiro em plena rua Augusta com um texto que dá gosto ler. Tão surpreendente quanto saber que no turbilhão paulista há um relojoeiro cercado de flores, samanbaias e orquídeas, que nem relógio usa, é saber que ainda há jornalismo no cemitério midiático Brasil.

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