9 de fevereiro de 2007

 

Terra Magazine entrevista ex-ministro Nilmário Miranda

Com o título “Por que Direitos Humanos”, o jornalista Bob Fernandes publica na revista Terra Magazine entrevista com o ex-ministro dos Direitos Humanos e atual presidente do PT de Minas Gerais, Nilmário Miranda. O dirigente petista revela suas preocupações com a submersão dos direitos humanos logo após o ataque terrorista às torres do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. Afirma que Bush foi derrotado e que o tema está vivo. Em Salvador, para participar dos eventos do PT, ele lançou seu terceiro livro “Por que Direitos Humanos”, prefaciado pelo presidente Lula, mas lamentou que o Brasil continue atrasado em relação aos direitos humanos. Para o dirigente do PT, o Brasil enfrenta uma cultura autoritária, presente nas relações sociais e também nas relações subjetivas e intrafamiliares, que fazem parecer que as desigualdades sejam “normais”.

LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:

"Por Que Direitos humanos"
Sexta, 9 de fevereiro de 2007, 08h08

Terra Magazine - Bob Fernandes

Às vésperas do Seminário Internacional dos partidos de esquerda e das comemorações dos 27 anos do PT, em Salvador, o presidente do partido em Minas Gerais e ex-Secretário Nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, lançou o livro "Por que Direitos Humanos".

Em entrevista a Terra Magazine, o dirigente fala sobre a questão exposta em "Por Que Direitos Humanos". Para Nilmário o tema "parecia submerso" desde o ataque de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York:

- O presidente Bush foi derrotado (..), os EUA recuaram da violência em Abu Ghraib, cederam em Guantánamo, na Espanha Zapatero venceu Aznar, que levara a Espanha à guerra, da mesma forma que na Itália Prodi derrotou Berlusconi e retirou as tropas da Itália, assim como Zapatero na Espanha(...) O tema está vivo, e move, mesmo quando parece não estar.

O livro tem prefácio do presidente Lula, que estará hoje à noite no jantar no hotel Othon, em Salvador.

O dirigente petista lembra dos problemas que enfrentou na Secretaria Especial de Direitos Humanos e, apesar de comemorar avanços brasileiros na área, lamenta que o país ainda esteja muito atrasado:

- Temos que enfrentar a cultura autoritária presente nas relações sociais, mas também nas relações subjetivas e intrafamiliares.

Leia os principais trechos da entrevista:

Terra Magazine - Por que o livro "Por Que Direitos Humanos¿?

Nilmário Miranda - No ano passado eu estava preocupado porque os direitos humanos sumiram do cenário face à questão internacional. Depois do ataque às torres, da invasão ao Iraque, os Estados Unidos, que sempre, de uma forma ou outra, tiveram um papel importante na questão dos direitos humanos, deixaram o tema de lado e, pior, também a Inglaterra, Espanha, Itália, países que se incorporaram na guerra ao Iraque.

Qual o resultado prático disso?
A ONU foi perdendo o seu papel e nós começamos a viver retrocessos, como os da ação dos americanos na base de Guantánamo, com tortura, recusa de fornecer o nome de presos, com a não-aceitação do Tribunal Penal Internacional, com bases secretas da Otan na Europa, com as torturas em Abu Ghraib...

Isso no plano internacional. E no Brasil?

Em 2005, no auge da grave crise ético-política, por cinco meses a Secretaria dos Direitos Humanos perdeu o status ministerial, o que foi restabelecido depois, em novembro. O presidente Lula teve sensibilidade para restabelecer a posição da Secretaria.
Perdeu esse status por quê? Porque em meio à crise setores do governo decidiram-se por um choque de gestão, cortes etc. e a Secretaria foi atingida.

Que setores do governo?

Esse é um assunto ultrapassado, prefiro não comentar... (Nota da Redação: A proposta de choque de gestão partiu e foi executada por decisão do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci). Dentro do governo e na sociedade, houve uma reação e a Secretaria retomou o status ministerial.

E quem dentro do governo se posicionou a favor?

Os ministro Dilma Roussef, Luiz Dulci, Celso Amorim, entre muitos outros. A reação foi muito grande.

Como falar de direitos humanos a uma população assombrada pela violência, ainda que saibamos que essa pergunta só cabe por conta da incompreensão e estigmatização do que sejam direitos humanos? Escrevi esse livro inclusive por causa desse contexto. Não se pode falar em paz, segurança coletiva, desenvolvimento sustentável, se não existirem direitos humanos. Há 60 anos essa discussão ganhou e ocupou todas as partes do mundo...

Ainda que isso tantas vezes não seja percebido... ...Mas fica fácil de perceber quando se olha para poucos anos atrás e para o que acontece hoje no mundo.

Qual é o link?

Encontrei, em março de 2003, o Sérgio Vieira de Mello, o então secretário-geral da ONU Kofi Annan, e o Sérgio estava deprimido. O Iraque havia sido invadido, boa parte da Europa apoiava a invasão...

E o que mudou?

Passados quatro anos, o presidente Bush foi derrotado pelos democratas e a opinião pública condenou a guerra no Iraque, os EUA recuaram da violência em Abu Ghraib, cederam em Guantánamo, na Espanha Zapatero venceu Aznar, que levara a Espanha à guerra, da mesma forma que na Itália Prodi derrotou Berlusconi e retirou as tropas da Itália, assim como Zapatero na Espanha. São apenas alguns exemplos de como o tema "direitos humanos" está vivo, e move, mesmo quando parece não estar.

Bem, mas resta a questão do chavão que contrapõe a violência do crime aos direitos humanos... Há que agir em dois níveis, e essa ação já começou. A política nacional para a juventude, que está no início, atende já 8 milhões de jovens que deixaram a escola prematuramente, sem escolarização e sem perspectiva.

Atende como?

Em programas como o ProJovem, ProUni, Escola de Fábrica, Gente Jovem...É pouco, mas 8 milhões de jovens já é um bom começo. Nós temos que discutir também e implementar a massificação da cultura, do lazer, do entretenimento.

Mas, do ponto de vista prático...

Do ponto de vista prático já se sabe que uma das formas do PCC agir é dois jovens montarem numa moto e atirarem uma bomba incendiária num ônibus, ou num policial, ou num bombeiro, temos que chegar a esses jovens.

Onde está o mal maior?

Temos que enfrentar a cultura autoritária presente nas relações sociais, mas também nas relações subjetivas e intrafamiliares, que fazem parecer que as desigualdades, as enormes diferenças, entre homem e mulher, por exemplo, são normais. Temos que mudar a mentalidade de que crianças não são seres, são miniaturas, assim como a de que negros e índios são subraça, deficientes são párias...

Exemplifique algo que a sociedade não enfrenta.

O castigo físico nas crianças, que é disseminado, assim como o abuso sexual contra crianças, que é um fenômeno familiar, dentro das famílias. Tivemos nesses anos muitos avanços, mas agora decisivo é enfrentar essa cultura.

Terra Magazine
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1400176-EI6578,00.html

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