25 de outubro de 2006
Dia 29, domingo, será o fim da ditadura militar de 64
Em seu blog, Zé Dirceu comenta que no dia 29, domingo, a ditadura militar chega ao fim. Ele se refere ao artigo do filósofo Marcos Nobre, da Unicamp, publicado na Folha de S. Paulo (25), que chama a atenção para este acontecimento importante que é a derrota definitiva da ditadura militar de 1964. “Ditaduras demoram a morrer, mesmo depois que acabam”, afirma Marcos Nobre. Trata-se da morte do PFL, partido político herdeiro dos partidos que sustentaram a ditadura militar e núcleo duro da coalisão que sustentou politicamente os oito anos de FHC. O encolhimento do PFL prenuncia a retomada da aliança de centro-esquerda com o PMDB, herdeiro do partido que resistiu à ditadura militar. Será um novo degrau na redemocratização brasileira.
LEIA O ARTIGO DE MARCOS NOBRE:
Dura de matar
Reproduzido da Folha de São Paulo
Jorge Bornhausen disse que ia se ver livre "dessa raça" nas eleições de 2006, referindo-se em especial ao PT, mas mirando em qualquer coisa que pudesse parecer remotamente de esquerda. E o feitiço não se voltou apenas contra ele e seu partido, mas contra quem que se dizia protegido por santos de toda sorte, como era o caso de ACM na Bahia.
As posições se inverteram de tal maneira que a questão agora é: será que o PFL conseguirá sobreviver como um dos quatro grandes partidos? E o problema não é trivial, já que o modelo instaurado por FHC previa um pólo político de dupla sustentação, com a aliança entre PSDB e PFL, e outro pólo com um PT solitário, se debatendo para encontrar aliados, emparedado contra um PMDB sempre dividido e instável.
No primeiro mandato de Lula, uma aliança com parte do PMDB só se realizou após a crise de 2005. Foi uma aliança ainda episódica, por pura necessidade de sobrevivência. Uma aliança efetiva só se deu durante as eleições.
O segundo mandato de Lula vai montar um pólo político de dupla sustentação, com PT e PMDB, ao mesmo tempo em que vai minar como puder o bloco PSDB-PFL. Será uma estratégia de isolar o quanto possível o PSDB, tarefa facilitada pelo próprio declínio do PFL, que não deverá governar nenhum Estado, apenas o Distrito Federal.
Deve perder até mesmo Roseana Sarney para o PMDB. Teve a maior perda proporcional de bancada na Câmara (quase 20%) e, sem o governo de Estados eleitoralmente importantes, deverá perder mais deputados e prefeitos para outros partidos. Só se mantém forte no Senado porque a Casa tem uma "inércia política" muito grande, com mandatos mais longos e um grande número de ex-governadores.
Em sua série de livros sobre a ditadura militar, Elio Gaspari lembra que o general Golbery era "o feiticeiro". Pode-se discutir a estatura política e a qualidade dos feitiços de cada um dos personagens, mas atribuir a Bornhausen o mesmo título parece apropriado.
Afinal, o PFL nasceu de uma dissidência um pouco menos curta de vistas do partido oficial da ditadura. Teve destino eleitoral e político superior ao seu ninho original. Tanto que passou quase duas décadas se orgulhando de ser o partido com maior capilaridade política do país, atingindo os rincões mais profundos. Tudo isso acabou nestas eleições.
Ditaduras demoram a morrer, mesmo depois que acabam.
O atual encolhimento do PFL é uma das mais importantes e significativas mortes da ditadura militar brasileira.
Jorge Bornhausen vai ter de agüentar bem mais que a "raça petista". Terá de agüentar o resultado de uma eleição democrática que pode fazer com que o PFL venha a se juntar em futuro não tão distante ao time dos pequenos partidos brasileiros.
MARCOS NOBRE é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap
LEIA O ARTIGO DE MARCOS NOBRE:
Dura de matar
Reproduzido da Folha de São Paulo
Jorge Bornhausen disse que ia se ver livre "dessa raça" nas eleições de 2006, referindo-se em especial ao PT, mas mirando em qualquer coisa que pudesse parecer remotamente de esquerda. E o feitiço não se voltou apenas contra ele e seu partido, mas contra quem que se dizia protegido por santos de toda sorte, como era o caso de ACM na Bahia.
As posições se inverteram de tal maneira que a questão agora é: será que o PFL conseguirá sobreviver como um dos quatro grandes partidos? E o problema não é trivial, já que o modelo instaurado por FHC previa um pólo político de dupla sustentação, com a aliança entre PSDB e PFL, e outro pólo com um PT solitário, se debatendo para encontrar aliados, emparedado contra um PMDB sempre dividido e instável.
No primeiro mandato de Lula, uma aliança com parte do PMDB só se realizou após a crise de 2005. Foi uma aliança ainda episódica, por pura necessidade de sobrevivência. Uma aliança efetiva só se deu durante as eleições.
O segundo mandato de Lula vai montar um pólo político de dupla sustentação, com PT e PMDB, ao mesmo tempo em que vai minar como puder o bloco PSDB-PFL. Será uma estratégia de isolar o quanto possível o PSDB, tarefa facilitada pelo próprio declínio do PFL, que não deverá governar nenhum Estado, apenas o Distrito Federal.
Deve perder até mesmo Roseana Sarney para o PMDB. Teve a maior perda proporcional de bancada na Câmara (quase 20%) e, sem o governo de Estados eleitoralmente importantes, deverá perder mais deputados e prefeitos para outros partidos. Só se mantém forte no Senado porque a Casa tem uma "inércia política" muito grande, com mandatos mais longos e um grande número de ex-governadores.
Em sua série de livros sobre a ditadura militar, Elio Gaspari lembra que o general Golbery era "o feiticeiro". Pode-se discutir a estatura política e a qualidade dos feitiços de cada um dos personagens, mas atribuir a Bornhausen o mesmo título parece apropriado.
Afinal, o PFL nasceu de uma dissidência um pouco menos curta de vistas do partido oficial da ditadura. Teve destino eleitoral e político superior ao seu ninho original. Tanto que passou quase duas décadas se orgulhando de ser o partido com maior capilaridade política do país, atingindo os rincões mais profundos. Tudo isso acabou nestas eleições.
Ditaduras demoram a morrer, mesmo depois que acabam.
O atual encolhimento do PFL é uma das mais importantes e significativas mortes da ditadura militar brasileira.
Jorge Bornhausen vai ter de agüentar bem mais que a "raça petista". Terá de agüentar o resultado de uma eleição democrática que pode fazer com que o PFL venha a se juntar em futuro não tão distante ao time dos pequenos partidos brasileiros.
MARCOS NOBRE é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap