22 de setembro de 2006

 

O que a mídia quer que acreditemos

1) Que o caso do dossiê é crime;
2) Que o caso do dossiê é irmão gêmeo do Watergate;
3) Que os eleitores do Lula são ignorantes e, por isso precisam se "informar" com a mídia que tudo sabe e detém o monopólio da verdade única;
4) Que a sordidez política concentra-se única e exclusivamente na figura do presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores;
5) Que quem se posiciona de forma contrária ao pensamento da mídia é porque quer defender o indefensável.

PARA REFLETIR E PENSAR:

1) SOBRE SE O CASO DO DOSIÊ É CRIME:

Sobre ser crime ou não: Em entrevista ao Consultor Jurídico, O ministro César A. Rocha, do TSE, que é o do juízo de admissibilidade do pedido de investigação da coligação PSDB/PFL, deixou claro e transparente em resposta a duas questões que lhe foram formuladas:

ConJur - Comprar dossiê é crime?

Cesar Asfor Rocha - Depende da forma com que esse dossiê é utilizado, do desvirtuamento que possa ocorrer. Não vamos falar em dossiê, vamos falar em termos de um elemento de informação. Há ato ilícito se há trucagem, se a informação é colocada num contexto falso. Só o fato de uma pessoa entregar informações sobre circunstâncias verdadeiras e isso ser divulgado não caracteriza crime.

ConJur - Mesmo que seja utilizado na campanha eleitoral?

Cesar Asfor Rocha - Ainda que seja utilizado na campanha, se o fato é verdadeiro e a utilização é feita de forma escorreita, não há crime.

2) SE O CASO DO DOSSIÊS É IRMÃO GÊMEO DO WATERGATE:

Esta comparação esdrúxula teve origem nas páginas do jornal O Globo de ontem, e foram refutadas de forma elucidativa pelo colunista Argemiro Ferreira no jornal Tribuna da imprensa. Infelizmente o que vimos repercutir é o sensacionalismo das organizações Globo, pois hoje o jornal O Sul, aqui de Porto Alegre, reproduz a matéria do jornal carioca.

Então, abaixo, alguns trechos da coluna do Argemiro Ferreira: (para ler a íntegra, clique aqui)"Nem Watergate é o maior escândalo político da História (sequer é o maior dos EUA) e nem há sentido nas supostas semelhanças arroladas ontem em "O Globo", como "inevitáveis", entre aquele caso e o atual no Brasil. Dizer que Nixon foi deposto é asneira (renunciou), mas pior ainda é a má fé do texto. Pois relevantes, num paralelo, são as diferenças, não as "coincidências".

Seria no mínimo razoável que em vez dos prejulgamentos para condenar Lula o jornal ficasse limitado aos fatos. Descobriria que em Watergate o episódio inicial foi espionagem política, mas o mais grave se descobriu depois. O Comitê para a Reeleição do Presidente (CREEP) tinha uma equipe encarregada de espionar - flagrada ao instalar "grampos" no escritório do partido rival, no edifício Watergate...""...Diferença gigantesca mesmo é o comportamento da mídia.

Manchetes diárias proclamam aqui a culpa de Lula e do PT, como se já tivessem sido investigados, julgados e condenados - tudo a menos de duas semanas da eleição. Nos EUA os cinco arrombadores foram indiciados em setembro; e os mandantes James McCord e Gordon Liddy, do CREEP, condenados a 20 de janeiro de 1973..."

"...Até a semana passada "O Globo" e o resto da mídia concentravam-se no "escândalo dos sanguessugas". A descoberta do grave envolvimento do PSDB e do PFL (eram eles os favorecidos em 70% dos casos) teve o efeito mágico de fazer esse assunto sumir - sufocado pelas histórias da suposta venda do dossiê que, ironicamente, parece apontar na direção oposta ao que dizia a mídia..." (íntegra aqui)

3) SOBRE OS ELEITORES DE LULA SEREM UMA TROPA DE IGNORANTES:

Pessoalmente, não me considero ignorante, por mais que a mídia queira que eu acredite nisso.

Leio jornais todas as manhãs, visito sites informativos, escuto rádio e televisão e, principalmente, sou amiga dos livros e dos bons autores. Quererem me rotular de ignorante porque votarei no Lula e no Partido dos Trabalhadores, é um desejo que não passará disso 'desejo'.

Saindo do emocional e indo para o objetivo, que é o que interessa, o Datafolha, em pesquisa realizada ainda nesta semana, mas por enquanto abafada pela imprensa, diz o seguinte: (excertos do texto do colunista Gilberto Dimenstein, publicado ontem, do site Pensata, por incrível e raro que pareça, do sítio da FSP):

"Lula não é candidato dos ignorantes

O Datafolha que acaba de ser divulgado impede que se diga, como vem ocorrendo, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à reeleição, seja o candidato dos desinformados e ignorantes, supostamente menos sensíveis ao tema da corrupção e satisfeitos com os programas sociais.

Segundo a pesquisa, Lula tem 32% de apoio entre os eleitores com ensino superior e Geraldo Alckmin (PSDB), 36%. Ou seja, estão tecnicamente empatados.Não se pode dizer, a partir da pesquisa, que se fôssemos um país mais educado, Lula teria muito mais dificuldade de se reeleger. Essa camada da população é mais antenada, não apenas lê, mas entende as notícias." (ler na íntegra)

4) SOBRE A SORDIDEZ POLÍTICA SER UMA EXCLUSIVIDADE DE LULA E DO PT:

Neste ponto, está evidente a cortina de fumaça que a mídia pretende criar, para que haja rigor no julgamento, condenação e punição, mas que isto deva ser via de mão única, atingindo uma parcela da composição da cena política brasileira, poupando os demais atores escondidos nos bastidores e nos camarins.

Alguém com um mínimo de bom senso e retidão de valores, é capaz de acreditar que os desvios de conduta não existem nos demais partidos?

Por que a imprensa que cobra rigorismo na apuração dos envolvidos no caso dossiê, o que faz muito bem por sinal, não realiza a mesma cobrança sobre o possível envolvimento de José Serra, quando então ministro de FHC, com a máfia das ambulâncias?

Que caminho é este, onde se busca a ética, e se é anticorruptos, mas se deseja que os rigores não sejam iguais para todos? Por acaso é possível ser íntegro pela metade?

Convém agora, ler a nota divulgada ontem pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), a qual representa cerca de vinte milhões de trabalhadores brasileiros:

"Parcialidade escandalosa é menosprezo à opinião pública"

Nota oficial

A CUT condena qualquer tipo de chantagem e exige que todos os fatos relacionados ao chamado dossiê das sanguessugas sejam apurados com isenção, e aqueles que tiverem responsabilidade comprovada no caso, punidos. Isso inclui a revelação de todo o conteúdo do suposto dossiê.

A CUT não aceita que apenas um dos lados dessa questão seja objeto de investigação e debate público, como vem acontecendo nos últimos dias. Afinal, existe ou não o dossiê? Se a resposta for positiva, os poderes instituídos e a imprensa têm o dever de revelá-lo à opinião pública e identificar as irregularidades nele contidas.

Se apenas uma das facetas desse caso tiver exposição pública, ficará configurado no episódio uma tentativa de instalar o caos, com vistas a aventuras golpistas que ameaçam romper as regras democráticas. Acima de tudo, a manutenção dessa parcialidade escandalosa, a poucas semanas das eleições, é um menosprezo à opinião popular, expressa nos altos índices de aprovação do Governo Lula.

Em momentos como esse que vivemos, é importante também que os poderes da República preservem sua independência, em defesa do Estado de Direito, e não se coloquem a serviço de partidos.

A vontade popular é soberana e não pode ser violada sob nenhum pretexto.Direção Executiva da CUT"

5)QUEM PENSA DIFERENTE DA MÍDIA QUER DEFENDER O INDEFENSÁVEL:

Muitos pensam e até verbalizam, que neste momento crítico pelo qual está atravessando a nação, e pela enxurrada de acusações envolvendo o presidente e o seu partido, quem ousar falar algo destoante da grande imprensa, detentora da verdade absoluta, está querendo defender o indefensável.Falo por mim, e acredito, estar falando por alguns milhares, senão milhões de brasileiros, que são cidadãos e que votam, e desfrutam de liberdade de consciência para fazer sua escolha nas urnas.

O que defendo é a soberania do povo. Defendo a vontade popular.Entendo que este jogo político que descamba, na reta final das eleições, para o tumulto, para o sensacionalismo, para o discurso vazio de propostas, criando clima tenso, só ajuda aos oportunistas que, ao pressentirem a derrota iminente, apelam para a sordidez e tentam desconsiderar a voz do povo.

PELA SOBERANIA DO VOTO.
ELEIÇÕES SÃO GANHAS NAS URNAS EM UM PAÍS DEMOCRÁTICO DE DIREITO. NÃO AO GOLPE!
Por Regina Ramão

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