30 de março de 2013
Barões da mídia sufocam blogosfera de esquerda com ações na Justiça
As
ações judiciais impetradas por veículos de comunicação tradicionais contra
jornalistas, blogueiros e ativistas de rede têm aumentado e ganhado mais
visibilidade nos últimos anos. Essa postura, que fere o direito constitucional
do exercício da livre opinião, será tema do evento “Liberdade de Expressão e
Judicialização da Comunicação – No Dia da Mentira Queremos a Verdade”, que será
realizado no dia 1º de abril, segunda-feira, às 19 horas, no Sindicato dos
Jornalistas Profissionais de Minas Gerais – SJPMG (Av. Álvares Cabral, 400.
Centro). Aberto ao público, o encontro é uma iniciativa do Comitê Mineiro do
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC-MG).
Para
compor a mesa, foram convidados o jornalista e blogueiro Rodrigo Vianna; o
Cientista Político e professor do Departamento de Ciência Política da UFMG,
Juarez Guimarães; e o Conselheiro da OAB/MG, advogado e professor, José Alfredo
Baracho Júnior. O debate será mediado pela jornalista, doutoranda em Ciência
Política e professora da Fumec, Ana Paola Amorim.
Artigos imperdíveis de Emiliano José no site CartaCapital
Há uma campanha moralista em curso e a saída só pode ser a
política, nunca o golpe que leva à ditadura. A lembrança da batalha da rua
Maria Augusta em São Paulo, onde agentes de direita massacraram estudantes,
inclusive com ataques com ácido, nos remete a tempos de chumbo. A luta pelo
aprofundamento da democracia brasileira, pela soberania popular, passa pelo
combate à judicialização da política, onde ministros togados, sem voto popular,
pretendem exercer um poder que agride o equilíbrio entre os três poderes. Estes
mesmo juízes num julgamento de exceção condenaram sem provas o deputado José
Genoíno. O povo brasileiro precisa se organizar contra o golpismo
judicializado.
Todas estas considerações estão presentes em artigos do
jornalista Emiliano José, escritor, ex-preso político, autor de livros críticos
sobre a mídia e ex-deputado federal (PT-BA).
Eis alguns títulos: A Política e o Legislativo; O instinto
da loba e a batalha da Maria Augusta; A judicialização da política; Genoíno: a
sensação noturna da condenação injusta; A mulher que era o general da casa; O
pesadelo do urubu; Instituto Millenium, mídia e as lições da história.
Os artigos estão no site CartaCapitalhttp://www.cartacapital.com.br/?s=Emiliano+Jos%C3%A9&a=Busca
27 de março de 2013
Saudades eternas, padre Renzo
Por Emiliano José*
Publicado no jornal A Tarde
Em 1965, desembarca no Brasil, disposto a encarar as dificuldades dos povos da periferia. Abandonou os confortos do Primeiro Mundo e o fausto da Igreja Católica de Florença para se embrenhar ali pelo território da Fazenda Grande, São Caetano, Bom Juá, Fonte do Capim, em Salvador, onde, então, a miséria era extrema. Missionário, ali pela metade dos anos 70, mergulha na solidariedade aos presos políticos de todo o Brasil. Conhece o terror da ditadura.
Aprofundou o seu cristianismo, mas era outro homem, muito mais aberto a outras visões de mundo. Compreende que homens e mulheres com convicções diferentes das dele podiam dedicar-se aos mesmos ideais de tornar o mundo melhor para todos, e às vezes, como ele mesmo admitia, até com mais dedicação do que muitos cristãos. A tristeza que sentimos hoje não nos abandonará tão cedo.
Publicado no jornal A Tarde
Estava de malas prontas.
Iria a Florença para mostrar a Renzo o documentário que fizemos
sobre ele. Iríamos – junto comigo, estariam Jorge Felippi, parceiro
essencial dessa empreitada, e Bruno, também um entusiasmado participante
do filme. Apressamos tudo, conscientes da gravidade do estado de saúde dele.
Não deu tempo. Morreu às 6 horas de hoje, horário de Florença, aos 87 anos.
O poeta Pedro Tierra que,
como eu, sentiu os rigores dos cárceres da ditadura e também foi beneficiado
pela solidariedade dele , disse hoje que “o anjo de asas invisíveis regressa à
matéria do mundo para oferecer a ele a luz de sua alegria”.
Sem favor nenhum, Renzo
foi um homem especial. Absorveu do cristianismo tudo que ele tem de bom.
Sacerdote desde 1949, logo cedo aproximou-se dos operários fiorentinos, a
maioria dos quais comunista. Foi ali que se deu o que chamava sua primeira
conversão, ao conhecer um universo diferente, que no primeiro momento não o
queria por perto. Ele conquistou os trabalhadores, e foi por eles conquistado.
Em 1965, desembarca no Brasil, disposto a encarar as dificuldades dos povos da periferia. Abandonou os confortos do Primeiro Mundo e o fausto da Igreja Católica de Florença para se embrenhar ali pelo território da Fazenda Grande, São Caetano, Bom Juá, Fonte do Capim, em Salvador, onde, então, a miséria era extrema. Missionário, ali pela metade dos anos 70, mergulha na solidariedade aos presos políticos de todo o Brasil. Conhece o terror da ditadura.
Desenvolve uma pastoral de
fronteira, como o chama frei Betto, ao prefaciar o livro que fiz sobre ele.
Visita todos os presídios políticos do Brasil. Nunca pretendeu converter ninguém,
outra vez defrontando-se com uma maioria de materialistas. Impressionou-se com
as noções de justiça dos presos políticos, com a capacidade deles de manter
acesa a esperança nas duras condições das prisões, e isso depois de terem
sempre enfrentado torturas brutais. Experimenta, então, a sua segunda e mais
importante conversão.
Aprofundou o seu cristianismo, mas era outro homem, muito mais aberto a outras visões de mundo. Compreende que homens e mulheres com convicções diferentes das dele podiam dedicar-se aos mesmos ideais de tornar o mundo melhor para todos, e às vezes, como ele mesmo admitia, até com mais dedicação do que muitos cristãos. A tristeza que sentimos hoje não nos abandonará tão cedo.
Temos certeza de que a
vida dele constitui um exemplo para a humanidade. Exemplo de amor e coragem, de
dedicação aos mais pobres e a todos os perseguidos do mundo, a exemplo do
Cristo no qual se espelhava. Os que combateram a ditadura nunca se esquecerão
dele, tenho certeza disso. Saudades eternas, querido Padre Renzo.
*jornalista e escritor, ex-preso político, ex-deputado federal (PT-BA), autor de As
asas invisíveis do padre Renzo.
Morre Renzo Rossi, o padre que se solidarizou com os presos políticos do Brasil
Padre Renzo morreu em Florença, Itália, segunda-feira
(25/03/2013). Ele chegou ao Brasil em 1965 e se dedicou a criar a Paróquia de
Nossa Senhora de Guadalupe, no bairro Capelinha de São Caetano. Mas, ficou mesmo
conhecido por se solidarizar com os presos políticos da ditadura militar
(1964-1985), fazendo visitas regulares em 14 presídios, com aprovação do
Arcebispo Primaz do Brasil, Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela.
O jornal A Tarde registrou nesta terça-feira (26/03/2013):
“Morre o mensageiro da fé e da luta dos presos políticos”, em reportagem
assinada por Patrícia França. Padre Renzo desempenhou papel importante na defesa
dos presos políticos. Ele chegou a participar ativamente da operação de fuga do
militante Theodomiro Romeiro dos Santos, único a ser condenado a morte pelos
tribunais da ditadura militar. Com o advento da Lei da Anistia, temia-se pela
vida de Theodomiro.
A vida do religioso está documentada na biografia “As asas
invisíveis do Padre Renzo”, da autoria do jornalista, escritor e ex-deputado
federal (PT-BA) Emiliano José, com edição traduzida em italiano pela Editora
Paulus, do Vaticano. Padre Renzo não chegou a ver o documentário produzido por
Jorge Filippi (Produtora Santo Guerreiro, Bahia). A viagem de Emiliano José e
Jorge Filippi estava marcada para 1º de abril próximo.
Ao lado da reportagem de Patrícia França, o jornal A Tarde
publicou artigo de Emiliano José intitulado “Saudades eternas, padre Renzo”. No
texto, ele lembra palavras do poeta Pedro Tierra: “o anjo de asas invisíveis
regressa à matéria do mundo para oferecer a ele a luz de sua alegria”.
A Missa
de Sétimo Dia será rezada na Igreja da Fonte do Capim, um bairro pobre de
Salvador.
24 de março de 2013
Quando ministro da Saúde, Serra negou ajuda à luta dos hansenianos
O PSDB quase me enganou. Eu cheguei a pensar que o Serra
tinha sido um bom ministro da Saúde (1998-2002), nos tempos de FHC presidente.
Que nada. Encontrei outro dia um número antigo, de 2004, da revista Diálogo
Médico e li uma entrevista do cantor Ney Matogrosso. Pouca gente se lembra que ele fez campanha publicitária
em favor dos hansenianos e ex-hansenianos, no popular, leprosos. José Serra
recebeu o cantor, e negou-se a ajudar. “Sai muito caro, não temos interesse”,
disse na cara do artista. Só quando Lula ganhou a eleição (ele tinha se
comprometido pessoalmente) é que os hansenianos foram cuidados, as colônias
desativadas, os internos indenizados.
Leia a entrevista:
- Foi o Ministério da Saúde que o procurou para a campanha
da hanseníase? Perguntou a entrevistadora.
Ney Matogrosso respondeu: Não, a história começou com o Ney Latorraca
que disse, numa entrevista, que quando morresse iria deixar sua herança para os
leprosos e os aidéticos. Existe no Rio de Janeiro um movimento formado por
hansenianos e ex-hansenianos. E o presidente deste movimento pediu para a secretária
localizar o Ney Latorraca. Só que deram o meu telefone.- Confundiram vocês? Ney Matogrosso respondeu: Sempre nos confundem. Na rua me chamam de Ney Latorraca e ele de Ney Matogrosso. E eu respondo como se fosse ele, porque isso não é um problema. O fato é que o Arthur, o presidente, me telefonou e disse: “Ah, eu li sua entrevista. Você não queria fazer um trabalho com a gente?” E eu disse: “Que entrevista, que lepra?. Eu não sei do que você está falando. Eu, como 99% da população, achava que não existia mais. Quando ele começou a falar, fiquei indignado.
- Então você se ofereceu? Ney respondeu: Existe remédio
gratuito disponível em todos os postos de saúde do país. Pelo menos em tese.
Portanto, se uma pessoa chegar lá e não encontrar, pode e tem que reclamar. Aí
eu me coloquei à disposição para levar essas informações para os meios de
comunicação. Comecei a viajar pelo Brasil e vi que a situação é muito grave,
muito feia. Já fui a várias colônias. É um absurdo ver as condições em que
vivem as pessoas nesses lugares. É uma vergonha ver a atuação do governo nesse
assunto. Agora temos a carta de Lula comprometendo-se formalmente com a causa.
Ele conheceu o fundador do movimento, que era um hanseniano.
- Antes o governo tinha se comprometido? Ney Matogrosso
respondeu: Faltava completamente humanidade ao Serra, ministro da Saúde, e à
equipe dele. Eu fui falar com o responsável pelo dinheiro. E o sujeito, na
minha cara, disse” Isso é muito caro e não temos interesse”
- Você falou com o Serra diretamente? “Falei com o Serra
pessoalmente por três vezes. Mas não adiantou. ELE NEM SEQUER ME OLHAVA NOS
OLHOS.
NB – Esta entrevista foi na revista Diálogo Médico, de
dezembro de 2004. Diferentemente do ministro da Saúde José Serra, o governo
Lula encarou o problema. As colônias foram fechadas. Os hansenianos internados
compulsoriamente foram indenizados. Remédios contra a lepra passaram a ser
distribuídos nos postos de saúde. A campanha publicitária de Ney Matogrosso
funcionou. O Movimento dos Hansenianos (Morhan) funciona até hoje. E mais um
mito se desfez. José Serra foi um péssimo ministro da Saúde. Já pensou se tivesse sido eleito presidente?