24 de abril de 2013

 

Pastor Átila Brandão presta queixa-crime contra jornalista Emiliano José

 Acusado de ser torturador, como oficial da PM, em 1971, e sentindo-se caluniado, o pastor Átila Brandão, bispo da Igreja Batista Caminho das Árvores, entrou com queixa-crime, no Juizado Especial Criminal, de Salvador, contra o jornalista e escritor Emiliano José, que publicou reportagem no jornal A Tarde (11/02/2013) intitulada “A premonição de Yaiá”. O religioso ignora a condição de jornalista do autor e concentra sua argumentação na condição de suplente de deputado federal, que não tem foro especial que um mandato parlamentar garantiria. O Sindicato dos Jornalistas (Sinjorba) publicou nota de protesto  (23/04) contra a ameaça à liberdade de expressão.

A queixa-crime reproduz o depoimento de D. Maria Helena Helena Rocha Afonso, documentado por gravações, conhecida como D. Yaiá, mãe do hoje professor de História Renato Afonso, que confirmou todas as acusações de tortura. O depoimento do professor Renato Afonso foi publicado no site da revista CartaCapital com o título “Corpo amputado querendo se recompor”, em que ele narra em detalhes as torturas infligidas por Átila Brandão e denunciadas por D. Yaiá, no Quartel da Polícia Militar dos Dendezeiros, em Salvador.
Não por coincidência, o ex-preso político Renato Afonso, à época militante do Partido Comunista Brasileiro revolucionário (PCBR), em 1968, era estudante da Faculdade de Direito da UFBA. Ele participou do movimento para expulsar da universidade oficiais da PM, que agiram como espiões, entre eles Átila Brandão de Oliveira. Os estudantes acusavam os oficiais de espancar alunos durante os conflitos de rua com a polícia. Os fatos estão detalhadamente registrados em documentos encontrados pelo Grupo Tortura Nunca Mais no SNI.

Em 1970, o então militante foi preso no Rio de Janeiro, chegando a sofrer, no centro de tortura da rua Barão de Mesquita, uma simulação de fuzilamento. Salvo por interferência do arcebispo Eugênio Sales, a pedido da família, Renato Afonso foi transferido para Salvador, ficando preso no Quartel da Polícia Militar dos Dendezeiros. Foi aí que voltou a se defrontar com o oficial Átila Brandão e sua equipe de torturadores. Sofreu espancamentos e estava dependurado no pau-de-arara quando D. Yaiá apareceu fazendo barulho. O advogado Jaime Guimarães foi avisado e as torturas cessaram. O oficial PM Átila Brandão soltou palavrões e se retirou. Renato Afonso cumpriu pena na Penitenciária Lemos de Brito.

NOTA DE PROTESTO E REPÚDIO DO SINDICATO DOS JORNALISTAS DA BAHIA

A Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia – Sinjorba vem a público manifestar seu repúdio e protesto contra ação penal por crime de calúnia impetrada pelo pastor e advogado Átila Brandão de Oliveira contra o jornalista e suplente de deputado federal Emiliano José da Silva Filho que, em sua prática profissional publicou em 11/02/2013, o artigo no Jornal A Tarde, “Premonições de Yaiá” e, no site da Carta Capital, a matéria “Corpo amputado querendo se recompor”.
O assunto tratado nas publicações foram torturas sofridas no Rio de Janeiro e na Bahia pelo professor de História Renato Afonso de Carvalho durante a repressão militar de triste lembrança na vida do Brasil. Em ambos os trabalhos jornalísticos, Emiliano José exerceu sua função de reportar os fatos, com base nos depoimentos da vítima das torturas e de sua falecida mãe, Maria Helena Rocha Afonso de Carvalho, dona Yaiá.
Num momento fundamental de pleno exercício dos direitos democráticos no Brasil, no qual o funcionamento da Comissão da Verdade procura trazer a público os fatos reais e nominar os autores dos crimes praticados naquele período plúmbeo, é inadmissível que a liberdade de imprensa sofra este tipo de ataque. Mesmo na falta da Lei de Imprensa que regule estes questionamentos, os que se consideram ofendidos por peças jornalisticas podem e devem buscar o direito de resposta, explicando à sociedade, com os argumentos que dispuser, a sua versão dos fatos.
Recorrer ao Código Penal Brasileiro, em fase de revisão, destoa dos novos rumos exigidos pela sociedade brasileira e se configura numa ameaça de censura ao livre trabalho de apuração da imprensa. O Sinjorba, também amordaçado no período militar não poderia tolerar tal fato e vai prestar todo o apoio ao colega através de sua assessoria jurídica na tramitação deste caso e da ação dos diretores da entidade na ampla divulgação deste lamentável episódio.

Salvador, 19/04/2013.
Marjorie Moura
Presidente do Sinjorba

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