12 de fevereiro de 2011

 

Santa Maria da Vitória me faz lembrar de Clodomir de Morais, o velho comunista

Há poucos dias, o deputado federal Emiliano (PT-BA), em entrevista à Rádio Cultura FM de Santa Maria da Vitória, dizia que uma das prioridades de seu mandato parlamentar seria a defesa dos interesses daquela centenária cidade plantada às margens do rio Corrente, um afluente do rio São Francisco. Distante, muito distante de Salvador, lá no extremo oeste da Bahia, unida por uma ponte a São Felix do Coribe.

O que Santa Maria da Vitória me fez lembrar?

De lá veio o jornalista Jheová de Carvalho, de saudosa memória, que nos anos 1970 me guiou pelos segredos da noite de Salvador. Da tragédia que foi o assassinato do advogado Eugênio Lyra, defensor dos posseiros, em plena luz do dia, e do combate do Jornal da Bahia pela punição dos criminosos. Da incrível história de Kynkas Lisboa Neto, criador da Biblioteca Campesina, nascida, em plena ditadura, com caixotes de maçã servindo de estantes, e hoje, com seus mais de 30 mil volumes, é uma das mais importantes bibliotecas comunitárias do país.

De tanto falar de Santa Maria da Vitória, Emiliano José, escritor, professor, jornalista, e agora deputado federal, me despertou para a leitura de romances geniais, como os do santamarense Osório Alves de Castro (“Porto Calendário”, “Maria fecha a porta pro boi não te pegar”, “Baiano Tietê”).

São os três ambientados no Vale do Rio Corrente, nas barrancas do São Francisco e receberam elogios de Guimarães Rosa. Há quem diga que o extraordinário escritor baiano, pela ousadia da linguagem, antecipou Guimarães Rosa. “Porto Calendário”, inclusive, tem um clima de realismo fantástico, com seus coronéis e personagens das barrancas do rio.

Sobretudo, Santa Maria da Vitória me faz lembrar do sociólogo Clodomir Santos Morais, lendário comunista, contista e romancista, fundador das Ligas Camponesas (com Francisco Julião), que o então deputado estadual Emiliano me apresentou em 2005, numa palestra na UFBA.

Com muita justiça, Clodomir de Morais recebeu das mãos do presidente Lula, em 2008, o Prêmio Direitos Humanos, na categoria Enfrentamento à Pobreza. Ao lado, estava a então ministra Dilma Rousseff.

A história da vida de Clodomir Morais dá um filme épico. Advogado, fundador das Ligas Camponesas, ex-deputado estadual pelo PCB de Pernambuco, com o golpe militar exilou-se e fez carreira na ONU. Fez Doutorado em Sociologia na Alemanha. Escreveu dez livros, entre eles “Dicionário de Reforma Agrária América latina”, com prefácio de Josué de Castro. Em 1963, antes do golpe militar, organizou um movimento de guerrilha em Dianópolis, Goiás.

Clodomir foi o organizador do Congresso Salvação do Nordeste, que acabou por dar origem ao projeto de criação do Banco de Desenvolvimento de Pernambuco. É o criador da Metodologia da Capacitação Massiva, que através de laboratórios organizacionais estimula a organização dos povos na criação de empresas de propriedade social.

Todas as obras raras dos escritores da terra estão no acervo da Biblioteca Campesina, de Santa Maria da Vitória.

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