12 de outubro de 2010

 

A Folha de S. Paulo e o Valor me levam a reaprender a ler jornal

Não basta saber ler, para ler jornal. Especialmente quando o jornal é do Grupo Folha. Vou explicar. Peguei aleatoriamente uma edição da Folha de S. Paulo e outra do Valor. Nas duas, os textos são tecidos propositalmente para produzir manchetes contra o PT e contra a candidata do PT, Dilma Rousseff. Estamos em plena campanha eleitoral.

Pegue você a edição da Folha de S. Paulo de quinta-feira, 7 de outubro de 2010. Lá na página A6, caderno intitulado Poder, tem a manchete em letras garrafais: “Bandeira de Dilma não cumpre meta”. Aí fiquei curioso. Que bandeira de Dilma é essa que não cumpre meta? A vergonhosa armação literária, assinada por Simone Iglesias, de Brasília, “informava” que o programa “Luz para Todos” levou energia elétrica para 1,8 milhão de pessoas (2004-2008). Para 2009, a meta foi levar energia para mais 1,1 milhão de pessoas. Mas, aí, oh! Restaram 168 mil famílias sem luz. Logo, a manchete: “Bandeira de Dilma não cumpre meta”. É a manipulação grosseira da informação. Bendito programa de Dilma que não cumpriu meta.

A desfaçatez é tamanha, que as informações estão no corpo da reportagem. O programa Luz para Todos foi criado em 2003, quando Dilma Rousseff era ministra das Minas e Energia. A meta era a universalização da energia elétrica até 2015. O governo decidiu acelerar e antecipar a meta para 2008, depois o prazo foi esticado para 2010. E como ficaram 168 mil famílias ainda de fora, a meta foi novamente adiada para 2011. O objetivo da Folha de S. Paulo não é informar sobre o vitorioso programa Luz para Todos, que levou energia para 2,9 milhões de pessoas, o objetivo é produzir uma manchete que relativize o sucesso do programa, em plena campanha eleitoral. É o jornalismo do PIG.

Peguei então, aleatoriamente, uma edição do jornal Valor, do Grupo Folha (segunda-feira, 11 de outubro de 2010). Fui à mesma página A6, caderno Poder. Lá está a manchete, em imensas letras garrafais: “PT incorpora-se às teias familiares do Congresso”. Fiquei curioso. O texto, assinado pelo jornalista Raymundo Costa, explora um estudo do DIAP sobre as “teias familiares, patrimonialistas, nos partidos políticos”. O estudo identifica 18 deputados federais do PMDB com algum tipo de parentesco com líderes políticos. Do DEM identifica 12 parlamentares. Do PP lista 9. Do PR lista 7. Do PSDB outros 7. Do PSB mais 5. Só então identifica 4 deputados do PT com sobrenomes conhecidos na política. Entre os quatro do PT está Zeca Dirceu, filho do Zé Dirceu. E para “ilustrar” a manchete estranha, BINGO, a foto de Zeca do PT.

Estamos em plena campanha eleitoral. A Folha de S. Paulo e o Valor jogaram a vergonha na lata de lixo. Ah! Quem sabe porque resta alguma gota de vergonha na redação do jornalão do PIG, o editor cuida de produzir uma frase de apoio: “Partido elege quatro parentes de políticos à Câmara, mas ainda está longe dos recordistas PMDB e DEM”. Pronto, o jornalão está coberto, mas a manchete antipetista está lá: “PT incorpora-se às teias familiares do Congresso”. Tarefa cumprida.

Depois de 35 anos de imprensa, estou reaprendendo a ler jornal, não basta ser alfabetizado. E o trágico disso tudo é que os jornais das províncias, assinantes da Agência Folha, reproduzem essas barbaridades. É o controle da opinião pública através do PIG.

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