11 de março de 2010

 

Deputado Emiliano (PT-BA) adere à rede de comunicadores em apoio à reforma agrária

Parlamentares, jornalistas, blogueiros e intelectuais que não aceitam o silêncio participam hoje (11/03/2010) de uma reunião no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo com o objetivo de formar uma rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais. Da Bahia, o Manifesto da rede teve a adesão do jornalista e deputado federal Emiliano José (PT). O documento denuncia a ofensiva dos setores conservadores contra a reforma agrária e contra todo movimento que combata a desigualdade e a concentração de renda e terra.

MANIFESTO DE LANÇAMENTO

Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.

Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros - e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.

A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.

Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.

Trata-se de grave distorção.

Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.

No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...

A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.

Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar - nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.

reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.

Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.

Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.

- Por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida?

- Como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?

- Como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?

Assinam: Alcimir do Carmo, Altamiro Borges, Ana Fagundes, André Freire, Antonio Biondi, Antonio Martins, Bia Barbosa, Breno Altman, Conceição Lemos, Cristina Charão, Cristóvão Feil, Danilo Cerqueira Cesar, Dênis de Moraes, Emir Sader, Emiliano José, Gilberto Maringoni, Giuseppe Cocco, Hamilton Octavio de Souza, Henrique Cortez, Igor Fuser, Jerry Alexandre de Oliveira, Joaquim Palhares, João Brant, João Franzin, Jonas Valente, Jorge Pereira Filho, José Arbex Jr., José Augusto Camargo, José Carlos Torves, Ladislau Dowbor, Laurindo Lalo Leal, Filho, Leonardo Sakamoto, Lilian Parise, Lucia Rodrigues, Luiz Carlos Azenha, Márcia Quintanilha, Marco Aurélio Weissheimer, Otavio Nagoya, Paulo Lima, Paulo Zocchi, Raul Pont, Renata Mielli, Renato Rovai, Rita Casaro, Rita Freire, Rodrigo Savazoni, Rodrigo Vianna, Rose Nogueira, Sandra Mariano, Sérgio Gomes, Sérgio Murilo de Andrade, Soraya Misleh, Tatiana Merlino, Terezinha Vicente, Vânia Alves, Venício A. de Lima, Verena Glass, Vito Giannotti, Wagner Nabuco.

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