9 de abril de 2009
A volta da Teoria Geral de Keynes
A obra “Economia do Desenvolvimento – Teoria e Políticas Keynesianas” (Editora Campus/Elsevier), organizada pelos professores João Sicsú e Carlos Vidotto presta um grande serviço à inteligência. Carlos Vidotto, professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense, assina o ensaio “O espectro de Keynes ronda a América Latina: hipotecas, securitização e crise financeira nos Estados Unidos”. João Sicsú, diretor do IPEA e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, assina o texto “Planejamento estratégico do desenvolvimento e as políticas macroeconômicas”. Ao todo, são 18 autores que se dedicam a John Maynard Keynes. “Após a onda neoliberal que varreu a América Latina nos últimos 25 anos, o que diversos países precisam, inclusive o Brasil, é de inconformismo, rebeldia e projetos de desenvolvimento” avisam eles.
São fascinantes as análises das economias mundial e brasileira sob a ótica de Keynes. Em particular, seduziu-me o ensaio citado acima de João Sicsú. Ele começa com uma citação de Celso Furtado: “Nenhuma questão me obcecou tanto como esta: por que “eles” encontraram o caminho certo, o do desenvolvimento, e nós o errado, o do subdesenvolvimento?”.
SOBRE O NEOLIBERALISMO João Sicsú afirma: “A era neoliberal que predominou nos últimos 25 anos acabou. O Brasil e tantos outros países que adotaram o receituário neoliberal não obtiveram o resultado prometido. Não houve desenvolvimento, não houve melhora significativa na qualidade de vida.. As reformas de inspiração neoliberal desestruturantes do Estado e da sociedade não entregaram o que prometeram. A realidade derrotou o neoliberalismo, mas muitos de seus adeptos repetem suas idéias por falta do que dizer. É a inércia que predomina em momentos de transição. As poderososas entidades multilaterais que foram símbolos e instrumentos do neoliberalismo se encontram falidas, principalmente do ponto de vista de sua reputação, autoridade intelectual e capacidade de intervenção política. Estamos vivendo um vácuo histórico: faltam discursos e projetos. O neoliberalismo acabou e o desenvolvimento não nasceu ainda enquanto realidade social”.
SOBRE OS GASTOS PÚBLICOS João Sicsú afirma: “Os gastos públicos devem ser feitos de modo a atender a todas as necessidades de uma vida individual e social com qualidade. Devem ser realizados para gerar empregos para todos aqueles que desejam trabalhar, mas também devem ser feitos na forma de programas de pagamentos monetários àqueles que estão desalentados para sempre, ou seja, que foram colocados à margem do mercado de trabalho de forma definitiva. Mas do que isso: devem prover a todos desde o básico para a sobrevivência em uma sociedade civilizada – como o aceso a sistemas de saúde e educação sofisticados – até gastos com “alimentos para a alma” dos indivíduos, tais como programas culturais. O gasto público deve ser, em resumo, voltado para garantir qualidade de vida para todos: todos devem ter direito a ter aceso a tudo”.
SOBRE O BRASIL QUE QUEREMOS João Sicsú afirma: “O Brasil que queremos deve funcionar com ampla participação política de sua população, que deve ter a capacidade de decidir desde a posição do jardim na área de lazer do bairro até questões cruciais como o formato do sistema de seguridade social. Deve ser um país tecnologicamente avançado que possa ter uma economia em condições de propiciar rendas com diferenças socialmente justas e trabalho formalizado com garantias e direitos assegurados. Deve ser um país onde a busca pelo pleno emprego se torne uma obsessão (...) deve ter uma política permanente de moradia digna para todos; deve ter um território planejado, inclusive o manejo do meio ambiente. (...) um sistema de seguridade social de máxima qualidade e de aceso universalizado”.
SOBRE GASTOS CORRENTES E CRESCIMENTO João Sicsú afirma: “É importante ressaltar que gastos correntes geram crescimento e empregos. A compra do excesso de cafezinho desperdiçado na repartição pública gera renda e empregos na fábrica de moagem e empacotamento de café. A compra de bicicletas para serem utilizadas por paramédicos que nem sequer foram contratados gera renda e empregos lá na fábrica de bicicletas. Quando uma bolsa-família (programa de transferência de renda) é incorretamente concedida a uma empregada doméstica que ganha salário mínimo (ou mais) gera emprego na quitanda, no supermercado e na fábrica de massas. Eliminar essas distorções é uma ação republicana necessária. Contudo, deve ficar claro que quando o governo faz um gasto corrente, alguém recebe este gasto. Para quem recebe este gasto, ele é renda. Quando esta renda é gasta, gera empregos e mais renda”.
Ao final, você poderia dizer: é a macroeconomia, estúpido.
São fascinantes as análises das economias mundial e brasileira sob a ótica de Keynes. Em particular, seduziu-me o ensaio citado acima de João Sicsú. Ele começa com uma citação de Celso Furtado: “Nenhuma questão me obcecou tanto como esta: por que “eles” encontraram o caminho certo, o do desenvolvimento, e nós o errado, o do subdesenvolvimento?”.
SOBRE O NEOLIBERALISMO João Sicsú afirma: “A era neoliberal que predominou nos últimos 25 anos acabou. O Brasil e tantos outros países que adotaram o receituário neoliberal não obtiveram o resultado prometido. Não houve desenvolvimento, não houve melhora significativa na qualidade de vida.. As reformas de inspiração neoliberal desestruturantes do Estado e da sociedade não entregaram o que prometeram. A realidade derrotou o neoliberalismo, mas muitos de seus adeptos repetem suas idéias por falta do que dizer. É a inércia que predomina em momentos de transição. As poderososas entidades multilaterais que foram símbolos e instrumentos do neoliberalismo se encontram falidas, principalmente do ponto de vista de sua reputação, autoridade intelectual e capacidade de intervenção política. Estamos vivendo um vácuo histórico: faltam discursos e projetos. O neoliberalismo acabou e o desenvolvimento não nasceu ainda enquanto realidade social”.
SOBRE OS GASTOS PÚBLICOS João Sicsú afirma: “Os gastos públicos devem ser feitos de modo a atender a todas as necessidades de uma vida individual e social com qualidade. Devem ser realizados para gerar empregos para todos aqueles que desejam trabalhar, mas também devem ser feitos na forma de programas de pagamentos monetários àqueles que estão desalentados para sempre, ou seja, que foram colocados à margem do mercado de trabalho de forma definitiva. Mas do que isso: devem prover a todos desde o básico para a sobrevivência em uma sociedade civilizada – como o aceso a sistemas de saúde e educação sofisticados – até gastos com “alimentos para a alma” dos indivíduos, tais como programas culturais. O gasto público deve ser, em resumo, voltado para garantir qualidade de vida para todos: todos devem ter direito a ter aceso a tudo”.
SOBRE O BRASIL QUE QUEREMOS João Sicsú afirma: “O Brasil que queremos deve funcionar com ampla participação política de sua população, que deve ter a capacidade de decidir desde a posição do jardim na área de lazer do bairro até questões cruciais como o formato do sistema de seguridade social. Deve ser um país tecnologicamente avançado que possa ter uma economia em condições de propiciar rendas com diferenças socialmente justas e trabalho formalizado com garantias e direitos assegurados. Deve ser um país onde a busca pelo pleno emprego se torne uma obsessão (...) deve ter uma política permanente de moradia digna para todos; deve ter um território planejado, inclusive o manejo do meio ambiente. (...) um sistema de seguridade social de máxima qualidade e de aceso universalizado”.
SOBRE GASTOS CORRENTES E CRESCIMENTO João Sicsú afirma: “É importante ressaltar que gastos correntes geram crescimento e empregos. A compra do excesso de cafezinho desperdiçado na repartição pública gera renda e empregos na fábrica de moagem e empacotamento de café. A compra de bicicletas para serem utilizadas por paramédicos que nem sequer foram contratados gera renda e empregos lá na fábrica de bicicletas. Quando uma bolsa-família (programa de transferência de renda) é incorretamente concedida a uma empregada doméstica que ganha salário mínimo (ou mais) gera emprego na quitanda, no supermercado e na fábrica de massas. Eliminar essas distorções é uma ação republicana necessária. Contudo, deve ficar claro que quando o governo faz um gasto corrente, alguém recebe este gasto. Para quem recebe este gasto, ele é renda. Quando esta renda é gasta, gera empregos e mais renda”.
Ao final, você poderia dizer: é a macroeconomia, estúpido.