6 de abril de 2009
Dura ou branda: nunca mais
O professor doutor Albino Rubim, professor titular da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e presidente do Conselho Estadual de Cultura da Bahia, publicou no jornal A Tarde (6/4/2009) o seguinte artigo:
“Dura ou branda: nunca mais”
Em tempos em que alguns setores buscam recontar a história do país, com a perigosa distinção entre ditadura e “ditabranda”, nada mais pertinente que o lançamento da nova edição, revista e ampliada, do livro “Dos filhos deste solo – Mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado”, publicado pela Editora da Fundação Perseu Abramo e pela Boitempo Editorial.
O livro tem como autores os jornalistas Carlos Tibúrcio e Nilmário Miranda.
Tibúrcio possui uma longa trajetória na grande mídia e na imprensa alternativa e atualmente é assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República.
Nilmário, além de jornalista, é um militante histórico na área dos direitos humanos, tendo sido ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República entre 2003 e 2005.
Exaustivo e documentado, o livro traça um mapa da repressão política no Brasil. Por certo, ele é um dos trabalhos mais sistemáticos já realizados no País. Com base em depoimentos e documentos, o texto reconstrói, detalhada e meticulosamente, centenas de itinerários de prisões, torturas, desaparecimentos, assassinatos, exílios, desmantelamento de grupos políticos etc. Nas 708 páginas do livro, temos tudo que caracteriza a face brutal e repressiva inerente a toda e qualquer ditadura.
Os sofrimentos descritos no livro e aqueles que afligiram familiares, amigos, colegas das vítimas, bem como a vida prejudicada de toda a sociedade brasileira, com a ampliação das desigualdades socioeconômicas, o empobrecimento cultural, o aumento da dívida pública, a disseminação da violência e a atrofia da política, não autorizam ninguém, com seriedade e honestidade, a falar em “ditabranda”.
O reconhecimento das singularidades da ditadura brasileira não pode servir a uma revisão que despreza sofrimentos individuais e coletivos; esquece crimes hediondos – como a tortura – e macula a história brasileira.
Mesmo a modernização da economia e das comunicações não pode ser lembrada sem considerar que a modernização da economia foi realizada com intenso arrocho salarial na indústria e com muitos assassinatos no campo. E a modernização nas comunicações criou um modelo concentrado e monopolista na mídia eletrônica, com graves prejuízos para a sociedade, a cultura e a política brasileiras. Aliás, a persistência desta herança da ditadura é o maior impedimento ao desenvolvimento das comunicações no Brasil.
Na vital contramão do discurso da “ditabranda”, em tudo sintonizado com os interesses e herdeiros da ditadura, a leitura do livro de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio reaviva nossa memória individual e histórica e nos faz renovar nosso compromisso com os valores democráticos. (Antônio Albino Canelas Rubim).
“Dura ou branda: nunca mais”
Em tempos em que alguns setores buscam recontar a história do país, com a perigosa distinção entre ditadura e “ditabranda”, nada mais pertinente que o lançamento da nova edição, revista e ampliada, do livro “Dos filhos deste solo – Mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado”, publicado pela Editora da Fundação Perseu Abramo e pela Boitempo Editorial.
O livro tem como autores os jornalistas Carlos Tibúrcio e Nilmário Miranda.
Tibúrcio possui uma longa trajetória na grande mídia e na imprensa alternativa e atualmente é assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República.
Nilmário, além de jornalista, é um militante histórico na área dos direitos humanos, tendo sido ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República entre 2003 e 2005.
Exaustivo e documentado, o livro traça um mapa da repressão política no Brasil. Por certo, ele é um dos trabalhos mais sistemáticos já realizados no País. Com base em depoimentos e documentos, o texto reconstrói, detalhada e meticulosamente, centenas de itinerários de prisões, torturas, desaparecimentos, assassinatos, exílios, desmantelamento de grupos políticos etc. Nas 708 páginas do livro, temos tudo que caracteriza a face brutal e repressiva inerente a toda e qualquer ditadura.
Os sofrimentos descritos no livro e aqueles que afligiram familiares, amigos, colegas das vítimas, bem como a vida prejudicada de toda a sociedade brasileira, com a ampliação das desigualdades socioeconômicas, o empobrecimento cultural, o aumento da dívida pública, a disseminação da violência e a atrofia da política, não autorizam ninguém, com seriedade e honestidade, a falar em “ditabranda”.
O reconhecimento das singularidades da ditadura brasileira não pode servir a uma revisão que despreza sofrimentos individuais e coletivos; esquece crimes hediondos – como a tortura – e macula a história brasileira.
Mesmo a modernização da economia e das comunicações não pode ser lembrada sem considerar que a modernização da economia foi realizada com intenso arrocho salarial na indústria e com muitos assassinatos no campo. E a modernização nas comunicações criou um modelo concentrado e monopolista na mídia eletrônica, com graves prejuízos para a sociedade, a cultura e a política brasileiras. Aliás, a persistência desta herança da ditadura é o maior impedimento ao desenvolvimento das comunicações no Brasil.
Na vital contramão do discurso da “ditabranda”, em tudo sintonizado com os interesses e herdeiros da ditadura, a leitura do livro de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio reaviva nossa memória individual e histórica e nos faz renovar nosso compromisso com os valores democráticos. (Antônio Albino Canelas Rubim).