10 de março de 2009

 

Uma igreja que perdeu a razão

Maria Helena Souza, ex-Superintendente de Políticas para as Mulheres, da Prefeitura Municipal de Salvador, em texto publicado no jornal Correio (07/03/09) manifestou seu repúdio ao ato insano do arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, de excomungar a mãe da criança de nove anos, estuprada e engravidada pelo padrasto, além de toda a equipe médica que fez o aborto legal e indicado pelos procedimentos da Medicina. O assunto continua repercutindo em todo o país.

LEIA A POSIÇÃO DE MARIA HELENA:

“Em 1969, uma freira, madre Maurina Borges, foi presa, torturada e violentada sexualmente. A Igreja Católica excomungou o torturador e estuprador, um delegado da cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Passados 40 anos, uma criança de 9 anos engravida de um padrasto que dela abusava sexualmente desde quando contava apenas 6 anos de idade, além disso abusava, não sei quantos anos, de sua irmã que hoje em 14 anos.

Na última quarta-feira, dia 4 de março, a mesma Igreja Católica, através do arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, diante do caso, resolveu excomungar a mãe da menina estuprada, os médicos, toda a equipe que atendeu a vítima e realizou o aborto (de gêmeos) previsto no artigo 128 do Código Penal Brasileiro desde 1940, além das mulheres do movimento feminista de Pernambuco, que acolheram e ajudaram a criança e sua mãe, desde o momento que tomaram conhecimento do lamentável fato. Está excomungada também a Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres e o Reitor da Universidade Federal de Pernambuco, a quem é vinculado o Hospital que atendeu a menina, assegurando rigorosamente o seu direito de interromper a gravidez.

Detalhe importante: o caso de enquadra nas duas únicas possibilidades de aborto legal neste país, ou seja, quando a mãe corre o risco de morrer em decorrência dra gravidez e quando a gestação decorre de estupro. O assunto está sendo tema de reportagens de jornais e revistas em todo o mundo.

Congratulamo-nos com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com hospital que acolheu o caso, o CISAM – Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, em especial com os médicos e demais profissionais que não se deixaram intimidar pelas poderosas pressões da Igreja Católica e não abriram mão de seu dever profissional e compromisso ético e humano.

O caso é um bom exemplo da importância que tem a articulação dos movimentos sociais com a área de saúde, e como são indispensáveis os serviços de atendimento às vítimas de violência sexual para que direitos consagrados sejam respeitados.

Nossa Bahia possui apenas um hospital credenciado para atender mulheres em situação de aborto legal. Há um compromisso do governo do Estado de ampliar para 12 o número dessas unidades hospitalares até o ano de 2010.

Como andam as providências da saúde para que isso aconteça?

A sociedade tem urgência. Finalizando, quem de fato defende a vida? O arcebispo e sua Igreja, ou os profissionais das instituições de saúde e as ativistas feministas?

Eu, particularmente, também optaria pela excomunhão.

Maria Helena Souza, ex-Superintendente de Políticas para as Mulheres de Salvador.

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