Bahia de Fato

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu reformar a decisão do TRE da Bahia, que determinava o afastamento do prefeito de Vitória da Conquista, José Raimundo Fontes (PT). Por quatro votos contra três, o tribunal encerrou a disputa judicial provocada pelo ex-deputado do PFL, Coriolano Sales, aquele parlamentar que renunciou ao mandato para fugir da cassação por envolvimento no escândalo da Máfia dos Sanguessugas. Para quem tem memória curta, era a máfia que desviava recursos públicos com fraudes na compra de ambulâncias.

Coriolano Sales entrou com a "denúncia" 15 dias após sua derrota eleitoral para José Raimundo Fontes, em 2005. Qual era afinal a "denúncia"? Coriolano acusava o prefeito reeleito de ter realizado a obra do anel rodoviário em plena campanha eleitoral, período vedado pela Justiça. A defesa do prefeito Raimundo Fontes provou na Justiça que a construção era necessária para evitar as mortes que vinham ocorrendo rotineiramente. A verba já existia e não podia ser devolvida.

Coriolano Sales não é flor que se cheire. Seu nome consta da famigerada Lista de Furnas por ter recebido R$ 50 mil - dinheiro ilegal e não contabilizado na campanha eleitoral de 2002. Da Lista de Furnas constavam 156 nomes de parlamentares, a maioria do PSDB e do PFL.

Coriolano Sales é um dos sete deputados federais envolvidos na fraude das ambulâncias descoberta em 2006 pela Operação Sanguessuga, da Polícia Federal. Sales era o campeão das emendas que garantiam recursos do Orçamento da União para licitações viciadas para aquisição de ambulâncias através da Planam. Ele fez emendas no valor total de R$ 1,18 milhão em dez municípios da Bahia. Ficou conhecido como integrante da Lista da Enfermagem. Para não ser cassado, optou por renunciar ao mandato. A Polícia Federal descobriu que Coriolano Sales tinha recebido R$ 172 mil do esquema de propina.

Seu mandato parlamentar foi um desastre. Foi autor do projeto de lei que pretendia extinguir a área de penhores da Caixa Econômica Federal (CEF) e se tornou alvo da campanha nacional "O Brasil precisa da Caixa" deflagrada pelos funcionários da instituição. O projeto enfraquecia a CEF em favor dos bancos privados.

Já o prefeito José Raimundo Fontes, que o TSE garantiu no cargo, foi vice-prefeito de Guilherme Menezes (PT) e assumiu o cargo com a eleição de Menezes, em 2002, a deputado federal. Eles pegaram a prefeitura com uma dívida de R$ 30 milhões, salários atrasados e saúde pública sucateada. Reconstruíram Vitória da Conquista. Receberam prêmios de direitos humanos como "Conquista Criança".

Soube que o governador Jaques Wagner telefonou para José Raimundo Fontes parabenizando pela decisão do TSE. Melhor para a Bahia.