16 de novembro de 2007

 

Os equívocos da Revista Metrópole e o chumbo de Santo Amaro

Mário Kertész e sua Rádio Metrópole patrocinam uma belíssima revista chamada Metrópole. É uma produção familiar. A Editora é KSZ, o publisher é Mário Kertész, o diretor-executivo é Chico Kertész, no Conselho Editorial está Marcelo Kertész, que também assina o projeto gráfico. Claro, os artigos e matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião do Grupo Metrópole.

Apenas cinco exemplares saíram até o momento. A de número 5 trouxe o secretário de Cultura do Estado da Bahia, Márcio Meirelles, na capa, com o título “Volta pro Vila, velho” e uma frase de apoio nada isenta: “Como secretário, Márcio Meirelles é um grande diretor teatral”. Discordo. Não respeito sequer as opiniões do ex-bêbado João Ubaldo Ribeiro. São apenas frases de efeito debochadas que nada ajudam nem esclarecem. Aninha Franco tem grande espaço. Afinal, deixou de receber dinheiro para seu Teatro. Ah!, este vil metal. A entrevista com Roberto Albergaria é confusa. A confusão mental do entrevistador embola as respostas do entrevistado. Márcio Meirelles está contrariando interesses poderosos. Vai sofrer muito na pele.

Mas, o que eu queria mesmo falar era sobre a matéria da poluição por chumbo em Santo Amaro da Purificação. A matéria assinada por Juliana Cunha tem o mérito de discutir a questão. Mas tem os vícios do velho jornalismo e a insensatez do “novo” jornalismo brasileiro. A repórter desqualifica de maneira rude o secretário da Ciência, Inovação e Tecnologia (Secti), Ildes Ferreira.

Desqualificar pessoas é uma coisa muito fácil. Eu poderia desqualificar facilmente a matéria de Juliana Cunha. Basta ler as bobagens que escreveu. Por exemplo. À página 22 a jornalista explica o que é fase oral do bebê: “aquela fase da infância na qual o neném, tudo que vê, pica na boca”. Pica na boca? Até parece pornografia de quando em vez irradiada pela emissora do patrão.

A jornalista, sem revelar qualquer pesquisa, afirma que os “santamarenses” vêem com desconfiança a proposta do governo estadual de “comercializar” a escória retirada da cidade. E conclui que não seria a primeira vez que ações “desastradas” do governo prejudicariam a população. Equivocadamente, a repórter mistura ações de governos passados, governos comandados por ACM durante décadas, com o atual governo. Não há semelhança nas ações.

Ao longo dos anos, sucessivos governos CARLISTAS, inclusive no tempo da ditadura militar, facilitaram a presença da Peñarroya, Cobrac, Plumbum etc em Santo Amaro. Já a ação do governo Jaques Wagner é em direção oposta. A proposta da empresa Bolland é reprocessar a escória de chumbo acumulada em montanhas hoje encobertas por pastos.

Risco é não aproveitar a oportunidade para remover a fonte original da poluição. Os novos resíduos terão destino certo, não mais expostos à população. A questão da saúde dos trabalhadores e do chumbo nas paredes e ruas é de outra natureza. Não cabe à Bolland resolver. A luta continua.

É dever moral do CRA expedir a licença técnica de implantação da Bolland, tanto quanto dever técnico e de gestão pública. A jornalista erra quando julga que o CRA deu licença mal-intencionada à Bolland. Erra de novo quando afirma que a imprensa nacional denunciou a questão. Julgamento fácil parece ser uma característica do “novo” jornalismo brasileiro e baiano. Toda a divulgação partiu do próprio governo da Bahia e só então ganhou, com muito esforço, as páginas dos jornais nacionais. A repórter não pesquisou direito.

A jornalista dá espaço para a pergunta do professor José Ângelo, da UFBA: Por que o poluidor não é responsabilizado pelo órgão ambiental a executar a recuperação ambiental e promover a compensação pelo dano causado ao meio-ambiente? Ora, essa pergunta deveria ter sido direcionada ao amigo e patrono de Mário Kertész.

Ele, o falecido ACM, que manteve essa gente ganhando dinheiro com extração de chumbo durante décadas. Ademais, órgão ambiental não é Justiça. Essa história se arrasta há décadas pela Justiça. Basta pesquisar. A matéria da jornalista já começa mal: “A 72 quilômetros do nariz do governador...”. Isso é uma grande palhaçada. E o que tem uma matéria tão séria com o fato “de que 11 governadores e um imperador terem feito xixi em Santo Amaro”? Como uma pessoa pode afirmar com tanta facilidade que “o governo Wagner pretende retirar a escória da cidade em um processo polêmico e sorrateiro”? Ora, nunca vi tanta transparência. O próprio governo distribuiu a informação.

Eu posso falar. Desde a década de 1960 acompanho como jornalista o caso da poluição por chumbo em Santo Amaro. Já fiz matérias para o Jornal da Bahia, ajudei a editar o alternativo INVASÃO em plena ditadura com a manchete “Chumbo neles”, em 2005 acompanhei a comitiva dos jornalistas franceses à fábrica, ajudei a elaborar dezenas de discursos do ex-deputado Emiliano José (PT), na Assembléia Legislativa, passei o assunto como pauta para os jornais ao longo dos anos, Já fiz muita reunião com Adailson Moura da Associação das Vítimas Contaminadas por Chumbo, Cádmio, Mercúrio e Outros Elementos Químicos (AVICCA). Eu posso falar. Nunca vi reportagem tão viciada quanto essa da Revista Metrópole.

Quando escrevia estas linhas, soube que o CRA deu a licença para a Bolland. O governo Wagner vai livrar Santo Amaro da montanha de escória de chumbo, origem da poluição ao rio Subaé. Apesar de reportagens caolhas como essa da Revista Metrópole.

Comments:
Sr.
O artigo do Dr. Albergaria naÕ TEM NAda DE equívoco. Trabalhei por 26 anos numauniversidade federal e comprovei tudo o que o Sr. Albergaria relatou e ainda estamos sofrendo e vamos sofrer com os novos projetos do Goverbno, por exemplo o Reuni, do qual o Prof. se refere.
Acho que o Sr. está é fazenmdo confusão, precisamos mesmo dicutir o caos que em muitos setores de nossa sociedade ocorre.
Maria Lucia Di Tullio
 
Olá. Li hoje a revista pela primeira vez e fiquei impressionado com o péssimo jornalismo. Não resisti e escrevi um artigo sobre o fato, gostaria que lesse e comentasse.
 
Vi a proposta da Bolland (e outras tão absurdas quanto) para recuperação da escória de chumbo de Santo Amaro, em palestras dessa empresa no DNPM e em encontro promovido pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação em 25/03/2008, e posso afirmar que o processo proposto por eles é completamente inconsistente e inviável economicamente. E por se tratar de uma empresa que certamente quer ter lucros com o negócio tudo soa, por isso, delirante. Além disso, não estou certo de que remover e tratar tal escória seja o melhor caminho para resolver o problema da contaminação que persiste. Transformar a cidade num canteiro de obras de remoção de quintais e paredes, além de expor mais ainda a população ao chumbo, não vai evitar que a contaminação persista. Isso é como propor remover o câncer generalizado para salvar o doente. Santo amaro precisa sim de uma "quimioterapia". Existem processos para resolver o problema de forma menos traumática (vide a fito-remediação e a adição de estabilizantes) . Um tratamento "in loco" é o mais indicado após (ou não) a retirada provisória da população, especialmente as crianças, que estão neste exato momento sendo contaminadas. Isso mesmo!, retirar as crianças (e os adultos não resistentes a essa saída)> É dever do poder com o poder público municipal e/ou estadual estancar imediatamente essa contaminação e do ministério público cobrar deles). Façam um paralelo com o caso da Fonte Nova; pessoas nesse momento são responsáveis pela contaminação que ocorre neste momento em Santo Amaro, independentemente dos culpados do passado. E finalmente: vamos parar de queimar dinheiro público e encher os bolsos de oportunistas que querem fazer seus pés-de-meia às custas do problemas dos outros (obs,: isso é genérico e não é dirigido à Bolland, quem eu acredito que esteja sendo mal orientada).

Luis Alberto Dantas
Engenheiro de Minas pela UFBA e D.Sc. em Metalurgia Extrativa pela COPPE/UFRJ
ladbarbo@hotmail.com
 
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